Escatologia à brasileira...
Você pode chorar de pena, aliás peninha, pelo que vou
declarar: NÃO AGÜENTO MAIS A CARA DO GIANNECHINI SORRINDO encostado numa
parede, de braços cruzados, cabelo recuperado, olhando para mim com aquela
figura de esplancnocrânio. Puta merda! Que é que eu tenho a ver com esse cara??
O que ele apresentou até hoje para figurar na mídia e ser esfregado diariamente
em nossas fuças? Além de o cara integrar o “olimpo” das bestas, nada nele ou
dele me interessa, e não sei por que tenho de vê-lo TODO SANTO DIA! Tem dó, sô!
Na verdade, nem sei o que o cabra faz; só sei que é ator global e fiquei
sabendo do auê em torno do câncer linfático enfrentado por ele, deu pena etc.
Mas daí a ser obrigado a ver o tipo sorrindo onde quer que eu vá, isso é
invasão de privacidade, pois até em bunda de cachorro de rua tá o cara lá
sorrindo... Não é mesmo, ô meu? Enter.
Outra escatologia: você deve estar observando o crescimento
desordenado daquelas máquinas sonoras de cariz teratológico, aqueles carros de
passeio com sistema de som ultrapoderoso que andam pelas ruas despejando algo
assemelhado a música mas que de música tem muito pouco ou nada. Dentro do
carro, normalmente só o motorista, normalmente adolescente, normalmente magro,
freqüentemente de boné, atual símbolo da estupidez consagrada. E passa aquilo
despejando som deletério, a concretização do que se passa dentro do tipo
assemelhado a um ser humano. Se isso é curtição, é do tipo autodestrutivo. O
“mano” dado a essa “atividade”, na verdade, é sempre um tremendo malaco,
daquele modelito que desenvolveu uma atrofia das pernas e uma hipertrofia da
caixa torácica no sentido vertical, triplicando o número de costelas. Ele ataca
os ambientes impondo sua presença insuportável para seres ainda dotados de senso
de equilíbrio. Uma das intenções “lúdicas” dessa prática, por exemplo – vejam
só – é disparar, sob o potente som de graves, alarmes de outros carros por onde
o veículo emissor de sonoridade agressiva, que podemos chamar também de
caganeira sonora, passe. Isso é de lei para eles, abalar tudo através do
percurso aleatório que esses zumbis realizam. Enter.
E que tal jogar fora sua TV? Pra que serve ela? Ajuda você
em quê? A nhanhar melhor depois de ver as obtusas produzidas emanando
progesterona em novelas deformadoras e que devem espicaçar desejos escusos nos
casais que vivem juntos sonhos separados que não podem revelar de modo nenhum
um ao outro? Será que o do pirulito olha pra sua boneca doméstica viva com
outros olhos depois de ver as tipas da TV exalando provocação em tudo? E será
que encontra entusiasmo pensando nas atrizes enquanto nhanha com a fixa? E a
fixa? Será que se lubrifica melhor quando fornece o xibio pensando no...
Giannechini (vá... agora até cabe botar o cara em foco)? E tem a coisa de
bundas e coxas e mamás e periquitas esfregados na fuça do otário 24 horas por
dia, seja em anúncio de cerveja, seja em programas de Gugus, por exemplo (não
me ocorre mais nada além desse idiota vazio, não vejo TV há uns dez anos...)?
Que acha você? É isso aí? Ou é algo diverso, do tipo: “Ligo diariamente a TV
para me informar da realidade e para aumentar minha capacidade intelectual e
minha cultura”? Pode ser? “Você decide”, glosando aquilo que já foi nome de
programa global, parece, apresentado por um daqueles tipos sempre meio absurdos
que mostram as coisas de pé, terno e gravata, falando sem saber onde enfiar –
ou como gesticular com – as patas superiores. Você nem deve lembrar, porque
isso é coisa para passar por dentro de sua cabeça e sair sem deixar vestígio, o
que funciona é apenas ocupar o aparelho que Deus inventou para que você
pensasse, mas isso de pensar deve lhe enfadar... e a TV é feita para isso. Pra
você desligar seu maldito cérebro, essa bosta que só lhe dá problemas e dores
de cabeça... Não é por aí? Ah!, aposto dez fardos de Bohemia em você preferir
mil vezes desativar sua “máquina de pensar” a fazê-la funcionar... Enter.
É isso: os antípodas se atraem. Assim como comeres, por
exemplo, assim será sua defecação. Ou em outras palavras: sua comida e seu cocô
são diretamente complementares. Tem aditivos, como as cornetadas nada olorosas,
que saem por baixo, e as eructadas, normalmente não odorizadas, e essas duas
adições ao que podemos chamar de percurso pelo “canal mestre” de que falou
Cervantes em sua La Gitanilla costumam causar quequequés, o que, no frigir dos
ovos, as torna positivas. No mínimo, desopilantes, o que já ajuda bastante em
meio a essa escatologia real que é o Brasil atual. E fica visto que, embora
olimpizadas pela exposição glamurosa – para os otários, óbvio – de Giannechinis,
Galisteus e quejandos na teleca, as cacatuas não escapam: o cocô é uma
instituição irrevogável. Por mais douradas que sejam as antas globais, nada as
livra da sentada humilhante para solene apresentação diária de croquetes
fumegantes e, claro, pestilentos, mefíticos, catinguentos. Não há como estrelizar
a cagada e também não há como incorporá-la às cenas das novelas estúpidas tão
bem ambientadas pela Globo para a imbecilização geral. Tenho até uma proposta pra
você: quando estiver assistindo, como “bicho de feno e canga”, a alguma cena,
seja de amor, seja o que for, pense em cocô. Croquetes, bombons, toletes,
cabritadas, despejadas líquidas, troços (ô) morenos, pálidos, esverdeados ou
cor de café, pense naqueles versos de banheiro público: “Neste lugar solitário
/toda vaidade se apaga/ Todo covarde faz força,/ todo valente se caga”. Ou, com
mais imaginação: “Marmiteiro! Trabalhador! Bom amigo! Bom irmão!/ Ao cagar não
faça força/ pra descer o toletão!, pois podem cair as tripas!/ Cague calmo,
garotão!”. Poesia escatológica? Pois, seja o que for, acho melhor que todo um
capítulo de qualquer novela das nove na Globo... Enter final.
Essa última citação poética figurava na parte interna da
porta do banheiro da EMI Odeon da Rio Branco. Jamais esqueci, até porque isso
me causou muita hilaridade saudável. Quando eu enfrentava as gravações lá, e se
tinha de ir ao banheiro, sempre saía dele melhor do que quando entrara. E chega
por hoje. Minha cachimônia já deu o que tinha de dar por agora. Vamos pra rua
peitar a ditadura! E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, meu!
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