quinta-feira, 12 de março de 2009

Manoel e o drama da menina de nove anos

Frederico Mendonça de Oliveira

A história sacudiu o país, todo mundo falou nela, especialmente a galera da mídia. Nesses momentos aflora para todos por onde anda a cuca dos brasileiros. Em relação ao assunto falaram o Arcebispo de Recife e Olinda, o “presidente” Lula, articulistas de pensamento treinado, e a rafaméia que é a classe média brasileira, toda ela entupida de TV a ponto de o pódice fazer bico, palrou suas “convicções” primárias e superficiais entre a novela das oito e o Big Brother, se é que palrou. Segundo ele tem observado no perfil desses objetos vestidos qual micos de circo, trata-se de uma multitudinária legião de cérebros de frango de granja, e ele certificou-se disso ao observar nessa “gente” o cinismo, a obtusidade trêfega e assumida, a irresponsabilidade álacre, os maus instintos manifestados como virtudes, e essa amostragem se deu a partir do episódio da pracita, em que os tão cordiais vizinhos e moradores do mesmo bairro se mostraram estúpidos, boçais, amesquinhados, grosseiros, criminosos, de cariz teratológico ostentado como sendo normalidade. Então Manoel imagina o que ocorre quimicamente nas cachimônias dessas bestas e dá de ombros. Que fazer com alimárias que se “pensam” gente? Enter.
Bem, o caso da menina. Primeiro, ninguém foi fundo, mas isso está assim por agora. Um dia... Sabe-se lá, mas vai uma pergunta: aos nove anos essa menina já poderia engravidar? Isso não foi veiculado. Mas pode, segundo ele apurou. Trata-se de gente com amadurecimento precoce, puberdade antecipada, desnível hormonal. Não é uma coisa comum, mas ocorre. Muito bem. Mas tem outra coisa: quem está certo na questão da realização do aborto? Os que o apoiaram e realizaram ou os que, brandindo os preceitos católicos, como o tal arcebispo, condenaram o aborto, chegando a rolar excomunhão? Manoel considera a lei divina, e vê que a coisa é completamente outra. Ninguém falou no verdadeiro princípio divino, o carma, e nas implicações desse evento, coisa que só acontece de acordo com o plano evolutivo de cada criatura. Enter.
Cansado de vivenciar o triunfo e mesmo o endeusamento da mediocridade, Manoel se compadece do atraso absurdo em que a maioria da população brasileira está mergulhada. Berra de um lado o sistema da mídia aproveitando a aberração que vende jornal e telejornal; de outro lado, berra o estamento católico ainda querendo se arrogar direito de intervir num rebanho de há muito desgarrado de qualquer coisa concreta em termos de religião, que só é vagamente conhecida e seguida de forma vã; de outro lado ainda, berram seres abestalhados pela mídia, os midiotas, brandindo visões “pessoais” quando não passam de minúsculas engrenagens de um sistema prostituidor. E ninguém tem qualquer sombra de razão em nada: os objetos vestidos mugem, relincham, balem, regougam, blateram, silvam, guincham, uivam, ganem, cada um de acordo com o animal que traz dentro de si. E a verdade – pra variar! – passa batida, enquanto os amalucados midiotas se agitam num anti-estético frenesi causado por um fato digamos... inusitado. Enter.
Pois Manoel se refugia em suas águas profundas e considera a realidade. O fato de uma criança sofrer sob a conduta de um psicopata não a faz inocente em relação ao que sofreu. Ou Deus permitiria algo que não tem uma causa justa? “Se queres entender por que sofres, pensa no que andaste fazendo nas outras vidas, ó pá!”. E a paz de Deus logo nos visita... Isso não isenta os culpados de serem punidos. E não isenta a menina de ser socorrida, sendo o aborto admissível pelo fato de livrar a infeliz de carregar uma gravidez aos nove anos e parir gêmeos. O que, para essa “civilização” que integramos, valerá como evitar um desconforto muito grande incluindo risco de vida. Ou de morte, como queiram os que agora adotaram essa variante, que inverte o sinal de uma tradição de séculos. Enter final.
Bem, a menina está aí. Viveu até hoje um pesadelo, e isso não terá sido em vão para seu processo de aperfeiçoamento e não teria ocorrido se não houvesse dívida passada, e nessa mesma dimensão. E o algoz estará a ferros, correndo o risco de ser “justiçado” na prisão pelos companheiros de cárcere. Porque, fora isso, dificilmente haverá qualquer sentido no que correr judicialmente, porque a instituição Justiça está desgraçadamente em ruínas. “Nihil humanum a me alienum puto”, considera intimamente Manoel, e ele traduz o latinório: nada do que é humano me é estranho. E vamos a uma gelada, ao lado da amada Maria, ouvindo... Think of One, com o Marsalis Quintet, E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!