sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Rocinha, Brasília, o que invadir?

Frederico Mendonça de Oliveira

Você terá visto que tanques das Forças Armadas e o cacete invadiram a favela da Rocinha. Não sei como você reagiu, se com entusiasmo, descrédito, se com esperança de ser isso um passo rumo a peitar o banditismo e socorrer a legião de miseráveis pendurada nas encostas dos morros cariocas – e do desmantelamento do tráfico no Rio, se isso é pensável nesses dias incertos. Se você fez até um churra com os amigos pra festejar, não convém a leitura destas linhas. Se, ao contrário, você pensa como aquela mulher entrevistada pela “Grobo” e que criticou com palavras incisivas e serenas a invasão como coisa prejudicial, já que o poder instalado nos morros fornece suporte social – grana, benefícios, ajuda em tratamentos de saúde e até educação para a criançada – aos favelados, aí temos um dedo de prosa a bater. Você já viveu em morro ou em comunidade ligada a favela qualquer? Bem, eu já; e posso dizer que a realidade por lá é completamente diversa da que você poderia imaginar. E já podemos denunciar: essa invasão é patacoada: visa outros objetivos. E à população do asfalto se impõe mais essa empulhação, pra manter o poder inamovível dos Sarney e dos cartolas e barões de todos os estamentos de poder. Você deve intuir: a população favelada é cética para com essa pantomima, todos sabem que isso só vai piorar as coisas. Enter.
A sempre abjeta revista Veja – aquela que, ao contrário de Deus, escreve torto por linhas certas – estampou em foto de capa, quando da invasão pirotécnica do Complexo do Alemão, um membro do BOPE ou algo semelhante, sei lá, em trajes de enfrentamento, portando fuzil e com a cara cagada de preto, e tendo à altura da pelve um texto inacreditável: “ O dia em que o Brasil venceu o crime”. Bem, já somos palhaços de longa data, isso é velho. Mas um texto de capa estúpido assim já é um tripúdio sobre nossos sofridos anos acumulados de frustrações intermináveis. Que Brasil venceu que crime, moleques safados?? Todos sabemos que isso é encenação ridícula, que nenhum exército e muito menos o Exército extirparia o cancro em que se converteu a população favelada no Rio! Aquilo é um fato consolidado, uma realidade imutável, e, claro, o crescimento dessa máquina monumental é inevitável! Então vem a Veja com essa molecagem chula aproveitando o vácuo deixado pelo sucesso daquela Tropa de Elite, filme que não passa de degustação de pus, do miasma social que temos de suportar enojados e já de todo descrentes. Favelas não são nem serão algo historicamente aceitável como padrão de saúde social: são uma degenerescência horrenda, um submundo atroz, algo entre purgatório e inferno explodindo no tecido social como um horror irregenerável e irregressível. Enter.
Pois os comentários sobre a “invasão da Rocinha”, farsa que só convence os mais trouxas entre os trouxas, são de lucidez contundente. Um adolescente morador nestas montanhas e já atento aos fatos envolvendo esse enfrentamento fajuto lembrou que “não é a favela da Rocinha que o Exército e as forças da tão discutível legalidade têm que cercar: é a Praça dos Três Poderes, o maior antro de bandidos existente no Brasil”. Quem proferiu essa fala orça pelos 15, e ela causou caloroso consenso, reação intensa entre a rapaziada presente. Basta ver o livro Honoráveis Bandidos, “que conta a história do surgimento, enriquecimento e tomada do poder regional pela família Sarney, no Maranhão, e o controle do Senado pelo patriarca que virou presidente da República por acidente e beneficiou amigos e parentes”. E ainda nos envergonhamos de pagar, com o suor de nossa labuta a cada dia mais incerta, 14º e 15º salários para esses sevandijas, cafres assumidos, sudras depravados, enquanto esses mesmos traidores sonham com extinguir o 13º do trabalhador honesto. E o povo, passivo – muito diferente de ser pacífico –, não tem condição real de mobilizar milhões contra a corrupção. Mobilizar é coisa para certa minoria oculta e infiltrada no poder desde os primórdios da História. Vimos, vemos e veremos paradas gays reunindo milhões, o mesmo ocorrendo com os evangélicos. Mas a sociedade civil se manifestar por si é algo que só veremos se as chamadas forças ocultas resolverem tomar para si a tarefa – e aí o galinheiro estará sendo comandado pela raposa... Enter.
Volta e meia alguém fala que era preciso fechar esse Congresso e dar o poder aos militares. De novo? Bem, vá, admitamos considerar e debater. Que seja: mas que subam ao poder outros militares que não os Médicis, Geisels, Figueiredos e Golberis da vida. Que seja: mas que não tomem o poder militares a soldo do capital internacional intervencionista. Que seja: mas que os militares que assumirem o poder tratem de pegar essa cambada do colarinho branco e não hesitem em pôr essa corja a ferros, com penas compatíveis com o estrago que eles causaram. Que seja: mas que façam o que Brizola prometeu fazer caso chegasse à Presidência: “A primeira medida, na primeira manhã de meu governo, será tomar uma atitude contra esse grupo”, referindo-se à Rede Globo. Que seja: mas que todas as reformas urgentes ao País sejam imediatamente implementadas, livrando o trabalhador do inferno de sustentar a matilha dos poderosos e fazendo dele o protagonista do verdadeiro crescimento nacional. Bem, isso parece um sonho, um devaneio, uma “viagi”, como diria o “ex-presidente”, porque não subirão ao poder os nacionalistas autênticos JAMAIS! Os agentes do Império – leia-se: os assassinos econômicos e os chacais, vide “Let’s Make Money no YouTube – estão aí a postos para que isso jamais ocorra. Você duvida? Vamos apostar nossos patrimônios? O meu é uma merreca; e o seu? Apostamos? Enter final.
Então é isso: se é pra pegar bandido, cerque-se Brasília. Todo o Brasil sabe disso e sonha é com isso. Você duvida? Eu, não. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té a próxima, babes!
Ah!, você sabe: estamos censurados desde 11/04/08. São 2183 dias sob abjeta mordaça. E repetimos as palavras do ministro Carlos Aires de Brito: “NÃO HÁ NO BRASIL NORMA OU LEI QUE CHANCELE PODER DE CENSURA À MAGISTRATURA”.