quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Vamos desperdiçar água, estafermos!

Frederico Mendonça de Oliveira

Ah!, que visão maravilhosamente estética a cena de mulheres aguando passeio! Nosso dia ganha tanta força quando vemos as mulheres de classe média desse Brasil moreno de mangueira na mão – e com ar diligente, religioso, muito atentas ao que estão fazendo! – empurrando lixo com o jato d’água durante no mínimo uns 20 minutos de terapia compensatória! Algumas até se curvam, para mostrar quão atenciosas conseguem ser em tão nobre tarefa! Quando são empregadinhas de mente vazia fazendo isso, ficamos apenas sacando; mas quando são as madames de verdade, ah!, aí emociona fundo! Especialmente quando essas senhoras tão zelosas se paramentam para esse gesto de grande valor e utilidade para este Brasil moreno e cabocro! Enter.
A vestimenta ideal para essa prática de saneamento básico doméstico tem coisas interessantes. Vamos lá: uma bermuda e uma camiseta do tipo regata bem cavada vão muito bem para esse esporte nacional urbano. Especialmente se uma bermuda azul pavão e uma camiseta amarelo gema de ovo. Para incrementar mais ainda, a madame pode chegar a causar suspiros em portadores de bons níveis de testosterona se puser um par de botas de borracha brancas, daquelas usadas em frigoríficos e açougues. Agora, se a madame quiser causar ereções e deixar os transeuntes em estado de distúrbio hormonal generalizado, basta fazer como algumas delas mais ousadas: basta aguar passeio de bermuda azul pavão ou cobalto, camiseta amarelo gema de ovo ou limão shocking, botas de borracha brancas e... com bobs nos cabelos, especialmente aqueles de uns oito centímetros de diâmetro. Jovens fogosos ou jovens adultos maduros seguramente vão arriscar uma bela sessão de adoração a Onan tendo na cabeça a imagem dessas – por que não dizer? – deusas do asfalto urbano! Enter.
Pois mesmo diante dessa maravilha perturbadora não só de nossos sentidos estéticos, mas até para nossos hormônios, há quem arranje um jeito de criar problemas para essas aparições celestiais. Primeiro, vêm os sempre desagradáveis ambientalistas, esses neuróticos que vêem problemas ecológicos em tudo: eles ficam gritando que a água potável no praneta vai acabar,.que é um crime desperdiçar água tratada para tarefas sem qualquer utilidade, essas maluquices todas. Ora, o Brasil tem água pra dar e vender! Isso aqui não é Europa nem, mais especialmente, Holanda, não! Aqui temos água até o fim dos tempos, temos rios, fontes, aqüíferos do tamanho de vários países da Europa somados! É água pra não acabar mais! Então, pra que essa besteira de ficar aí gritando que a água vai acabar e que as próximas guerras não ser justamente por causa dela? Vê se pode?! A água do Brasil acabar? E ainda garantirem, esses neuróticos do Green Peace, que a melhor perspectiva para o fim da água é em 2025?! Malucos!! Pirados! É isso: maluco é o que não falta nesse praneta e nesse Brasil abestalhado! Mas, fazer o quê? O jeito é ir levando e deixar os cães ladrando enquanto passa a linda caravana de aguadeiras de passeio, lindamente curvadas sobre o efeito mágico do jato, aquela cena tão comovente e luxuriante! Isso é cultura e arte, viu, ô Gil? Enter.
E tem os que puxam brasa até pro Freud, aquele maluco, pra engrossar a besteirada: falam de “compensação do complexo de castração”, aquela história de a menina ver que o menino ou o pai têm pênis, e aí ficam com um complexo de não ter uma coisa pendurada bem ali também e de, em vez disso, terem uma simples e humilde fenda. Os caras têm uma imaginação prodigiosa, pode crer! Então, pra justificar a visão de que aguar passeio é crime, eles inventam que essas mulheres estão fazendo da mangueira um falo imaginário, e se compensam ejaculando e urinando copiosamente com ele, empunhando-o gloriosamente por longos minutos, que seria o que elas pretendem seja o tempo ideal para penetrarem uma vulva imaginária ejaculando abundantemente – ou mijando solenemente para que esse mundo estúpido as contemple se realizando. Pode ser mais imaginativo, isso? Bem, tem cabeça pra tudo nesse diabo de Brasil maluco. Basta ver as legiões de milhares de sirigaitas que coincham como leitoas sendo torturadas diante de duplas de sujeitos de violão na mão, chapéu de texano, fivelão incrementado e botinas cheias de adereços metálicos e firulas de diversos tipos de couro. Basta ver os leitores da revista Caras, especialmente considerando que as fotos dos eventos são o que há de mais brega e sem nenhum glamour... Enter final.
Bem, os caras não têm conserto. Ficam imprecando e blasfemando contra nossas lindas deusas aguadoras de passeio, vai ver que têm é uma inveja profunda, na verdade queriam ser é como elas, sem nada pendurado, mas nasceram com esse “estorvo”... Hem?? Hem?? Vai ver que esses caras são umas meninas disfarçadas, que vieram ao mundo com outros sentimentos, e ficam admoestando as deusas da água, que parecem encarnações de lindas estátuas gregas, isto é: tudo não passa de intriga baseada em inveja! Precisamos erigir uma estátua em cada cidade deste Brasil mofino, ops!, moreno, em homenagem às aguadoras de passeio, que mantêm em dia a libido nacional mostrando parte de suas coxas sugestivas de delícias e ombros luzidios ao sol da manhã, e que serão até símbolos de erotismo se se permitem usar bobs, que as fazem tão desejáveis pela intimidade que revelam nas ruas! Já pensaram em como seria divino fazer amor com uma coroa jovem cheia de bobs na cabeça? Hem??!! Heeemm???!!! Bem, chega de machucar os corações com cenas tão eróticas. A gente se encontra na Grobo. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té a próxima visão delas, queridos!