Frederico Mendonça de Oliveira
Bar Bossa Nueva, Vila Madalena, São Paulo, 13 de agosto de 2008. Só faltava ser sexta-feira... Começando a “festejar” 40 anos de uma carreira que engordou contas bancárias de fariseus a serviço de multinacionais da canção e que me valeu apenas menções em dicionários especializados em música e registros vários mundo afora e na internet, eis-me tocando com um grande amigo, o brilhante pianista Osmar Barutti, e com músicos outros, como eu desconhecidos do grande público. Osmar é exceção: aparece naquele hoje infame programa do Jô toda noite, mas não enverga o traje das celebridades filistinas que se julgam olímpicas porque ungidas pelos globalizadores. Aos outros cabe a obscuridade dos zé-ninguém, mas em essência, sensibilidade e conhecimento destoam do triste amontoado humano que deambula a esmo e entope os espaços sociais, espaços, na verdade, socioterminais... Bem, tocamos pra gente grande, isto é, pra nós mesmos. Os presentes até piraram de ver, pois é para eles impressionante contemplar as maluquices que fazemos com os instrumentos, mas o teor musical não é assimilado por NINGUÉM exceto, no caso daquela noite 13/08, pelos ilustres presentes Zé Rodrix e Tavito, meus velhos companheiros do hoje usurpado Som Imaginário, mas eles entenderam tudo unicamente porque são músicos também. Ninguém fora músicos assimila nada, porque o abismo entre a música e o público de hoje é irreparável. A desmusicalização do Brasil é incurável, irreversível, assim também a dessocialização e a desidentificação nacional. E nos resta prosseguir, em nome de Deus. Enter.
Puxa!, que paragrafão! Tive de reler! E temos de tirar o chapéu para os globalizadores, porque conseguiram habilmente, com precisão de relojoeiros suíços, transformar preciosidade social em merda pura. Quem conheceu o Brasil de Villa Lobos, Ary Barroso e Tom Jobim não valorizava nem mesmo Chico Buarque e quejandos da MPB, porque na verdade para estes a música era já TOTALMENTE RELATIVA, o que os condena sumariamente diante do tribunal da música. A MPB, ou emepebê, foi tarefa de multinacionais, ou coisa de globalizadores, com a participação de colaboracionistas como os já citados emepebistas, e aí é que a vaca Brasil foi pro brejo. A canção de hoje, desgraça liderada pela patética Ivete Sangalo, paradigma da ignorância sorridente premiada pelo sistema, e por figuras sinistras como Daniel, Leonardo, as duplas do miserabilizante e cancerígeno breganejo e por DJs e tantas outras deformidades que animam o oceano dos ímpios e da miséria sonora, é matéria em plena decomposição. O ambiente que cerca essa prática regressiva e destrutiva rima totalmente com outro ajuntamento, para o que reservo o parágrafo conclusivo desta sessão de avaliação do que sofremos nestes tempos pré-apocalípticos já escatológicos, e nos dois sentidos conhecidos. Enter final.
Entro na loja de 1,99 para comprar sacos de terra vegetal para minhas plantas – aqui dizem ‘prantas” – e eis-me integrando, como um extraterrestre, o gado humano global. A ralé vivendo o consumo, eis a maior ironia de todos os tempos! Não podendo se desfazer dos fedelhos para “ir consumir”, os bugres fazem da loja um pandemônio, seguramente a reedição do palácio de Satã, de Milton. Os fedelhos berram e fazem birra porque também querem consumir porcarias, e seus rústicos pais e mães, rudes e toscos, não se importam com o caos que produzem, para eles coisa normalíssima. Os seres abissais entopem os corredores entre prateleiras de quinquilharias e bugigangas enquanto seus rebentos berram e choram alto. A “música” de fundo não poderia ser outra: “dupras” de breganejo emitindo ganidos e gemidos lancinantes. Pensar em Deus numa hora destas é até risco. Só resta fugir em busca de ar... E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té mais, babes!