sexta-feira, 29 de maio de 2009

Manoel e o orangotango que gravou CD

Frederico Mendonça de Oliveira

Saiu a notícia, captada por Manoel, que passeava rapidamente os olhos pelas “notícias” estampadas na mídia, para ele, uma “mérdia”: “Orangotango de zoológico alemão grava primeiro CD”. Saiu isso no G1. A reportagem é da revista alemã Der Spiegel, que está longe de descer às profundezas tenebrosas de uma Veja, mas que também é arrolhada como garrafa de vinho argentino. Spiegel em alemão é espelho, mas a revista só espelha a superfície enganosa dos fatos. Assim ordena a central oculta de controle da mídia mundial. Mas essa de o orangósio gravar foi fina. E sai exatamente uma semana depois de o Zé Rodrix desistir de prosseguir nesse mundo cruel. Pois é. Primeiro CD? Então poderão vir outros... Bem, vamos em frente. O nome do bicho é Ujian (isso lembra a Manoel o nome de um filho de um brasileiro que mora em Brasília e não sabe de nada que ocorre a sua volta), e ele aprendeu a assoviar. Um chucrute que levou seu filho ao zoológico ouviu o bicho assoviando e correu a sua casa, voltando munido de um gravador digital. Captou quatro horas de assovios do antropóide e providenciou a gravação de um CD em que o pongídeo emite seus silvos melódicos sobre fundo musical providenciado por um músico desconhecido lá. Poderiam botar de fundo A Morte de Isolda, com a Berliner regida pelo Karajan... Bem, ’tá. O CD será vendido no próprio zoo, e o dinheiro arrecadado será usado para ampliar e melhorar as dependências onde o “homem da floresta” (eis o significado da palavra orangotango, do malaio; pois Manoel, a julgar por vocábulos lindos como camundongo, marimbondo, bunda, julgava tratar-se também de palavra do idioma quimbundo, de Angola) está alojado na instituição. Enter.
Bem, o bicho aprendeu a assoviar, coisa que papagaios no Brasil sempre fizeram, especialmente depois do aparecimento das mulatas, lá pro século XVIII. Seguramente aprenderam isso ao ver aquelas nádegas magníficas rebolando pelas ruas e dependências das casas senhoriais onde as atraentes mestiças de afrodescendentes com brancos safados exibiam sua exuberância. Bunda é do quimbundo ‘mbunda”, que significa quadris, nádegas. “Mas os papagaios já assoviam desde séculos”, considera Manoel, “mesmo não podendo contrair lábios, e apesar da poderosa bicanca de crassirrostro”. Já pelas fotos de Ujian, os lábios são imensos e flexíveis (“Lembram certo traidor ignóbil que ocupou a presidência deste país desgraçado”, pensa Manoel, “mas os lábios de Ujian não são tão monstruosos”), facilitando a proeza. “Muito bem, muito bem. Mas esse assunto merece mais profundidade”, pondera nosso herói. Enter.
Pois é. Desde o fim da era da MPB orangotangóides gravam CDs por aqui. Aliás, desde muito antes. A notícia não ganhou grande repercussão nem boa acolhida por aqui pelo fato de ser considerada uma ameaça a certos pongídeos vestidos e emissores de horrendos guais e que o fazem diante de multidões de seres que agem como pongídeos de saias em auditórios onde reina o mal. Esses seres, que normalmente andam a dois, com nomes fazendo combinações a partir da semelhança de origem ou de tacanhez álacre, também amealham e enchem suas burras em locais assemelhados a zoológicos, repletos de quadrúpedes que aprenderam a andar sobre os quartos traseiros. E acaba que vivem em mansões, no que Ujian aparentemente fica pra trás, porque vive literalmente em jaula, diferente da jaula metafórica em que estão confinados – sem se aperceberem disso – seus concorrentes brasileiros na canção. Enter.
Pois outros seres com características de pongídeos, só que sem uma gota da dignidade e a pureza destes, se espalham pelo Planalto Central e pelas esferas de poder nesta Pindorama. “Pensando bem”, rumina Manoel, “pongídeos são desprovidos de cauda, mas são habilíssimos arborícolas. O Ruy Castro comentou que os seres de hoje voltaram às árvores, metáfora dele para o emburrecimento generalizado, especialmente no que respeita a música. Outros comentam que os mesmos seres só não voltam às copas do arvoredo porque perderam o rabo. Pois bem: pongídeos não precisam de rabo pra circular com total desenvoltura de galho em galho”. “O mais interessante”, conjetura Manoel, “é que árvores não são o forte em Brasília, mas os pongídeos de terno e gravata andam pendurados em florestas de galhos imensos de corrupção. São a maior praga já encontrada na triste história desse lugar desgraçado desde que Cabral bateu aqui com sua frota contaminada pelos inimigos da Humanidade”. Enter final.
Bem, Manoel apenas tratou de realizar um exercício de humor um tanto plúmbeo, considerando que seu coração bate forte e crístico tanto pelos animais como pelos pecadores. E reconsidera a palavra de seu verdadeiro ídolo, Jeshua ben Joseph, o Kristos dos gregos e o Cristo para os homens de alma limpa: “Não vim para os justos, mas para os pecadores”. Indignado com a degenerescência que vai corrompendo o planeta, não só a Pindorama, nosso herói reconsidera até o horror que deverá ser o que anda passando o tal do Sérgio Paranhos Fleury lá do outro lado, e o que vai ele aturar quando reencarnar. Fleury veio à baila porque Manoel soube da missa pelos 30 anos da morte do policial, que, entre outras muitas vítimas, mandou para o beleléu Lamarca e Zezinho no interior da Bahia em meados de 1972. “Pobre desgraçado!”, considera Manoel: “Quem sabe, esse infeliz não sabia absolutamente o que fazia?!, e achava que estava mesmo livrando o país da ação do inimigo...”, e eis Manoel já tentado a abrir uma latinha geladézima, pedindo em brinde, sob o olhar doce de Maria, piedade para pongídeos, seus assemelhados vestidos e mesmo para os equivocados quanto ao que seja o bem e o mal... E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Manoel, mídia, imprensa e uma perda

Frederico Mendonça de Oliveira

Manoel falará sobre valores de mídia e imprensa, mas antes tem de fazer um registro que está abalando meio mundo na área da música popular no Brasil. Nosso herói acorda às sete da manhã neste 22 de maio, depois de completar 64 dia 20 passado, e chapa com a notícia em sua caixa postal. Tavito, ex-Som Imaginário ao lado de Fredera, Wagner, Luís Alves, Robertinho Silva e Zé Rodrix, mandou para todos da banda e adjacentes a notícia do inesperado e até inacreditável falecimento deste último, o mais regrado da turma, dotado de uma compleição invejável e de uma vitalidade até inquietante. Vendia saúde e fortaleza, estava rijo e flexível para abestalhar qualquer garoto, trabalhava com um gás sem igual, andava escrevendo obras alentadas e de desanimar qualquer um tal o tamanho, andava de anos pra cá às voltas de novo com Sá e Guarabyra e fazendo shows especiais e muito concorridos com seu mais próximo irmão Imaginário, Tavito. “Puta merda!”, exclama consigo Manoel, tomado de uma perplexidade um tanto marcada por um toque de bronca: “Como é que um cara tão regrado e forte pode morrer dessa maneira??”. Pois é. Conversando com Tavito logo pela manhã e encontrando este meio que em choque, ficou nosso herói sabendo que a coisa foi uma sucessão de bobagens. Segundo Tavito, Zé andava às voltas com caminhadas, ginásticas e outras merdas. Vendia saúde e disposição, era um trator. De repente, já quase na madrugada desta sexta, sofreu uma violenta queda de pressão, sem mais nem menos. Entrou em pânico, sofreu náusea aguda e se engasgou com o vômito, aspirando parte dele. O coração parou, e... um abraço a todos os que ficam. Era uma vez um criador de roques rurais. Enter.
Quando de uma tentativa de empresários, apoiados por uma companhia estrangeira de cerveja, no sentido de reapresentar o Som Imaginário naquela de 30 anos depois, coisa de revival de pop tupiniquim, Robertinho Silva, o baterista, informou que o então glamurizado Wagner Tiso tinha feito objeções quanto a se apresentar junto com o grupo em condições de igualdade, por estar em outro patamar de prestígio. O Zé Rodrix, conversando com o Fredera a respeito dessa cretinice, comentou: “Podemos nos apresentar sim, todos! O Wagner na dele, pode até botar um praticável bem mais alto, sai tudo numa boa. Todos estarão lá. Sem beijo na boca, claro!”. Manoel, sabedor dessas e outras, queda agora abestalhado tentando absorver a espantosa saída deste homem de sete instrumentos, uma usina viva de produção e de inquietação. “Adeus, Zé! Agora, só lá do outro lado poderemos ver se reunir o Som Imaginário, que passa a ficar imaginário MESMO. Até a possibilidade de reunir a ala digamos literária do grupo, os que escrevem livros – Fredera, Tavito e Zé – se esfuma ‘como a brancura da espuma’”, ruge interiormente Manoel. Enter.
E aí Manoel passa os olhos pelos noticiários e verifica o quão estúpido é alguém se basear em mídia e imprensa. Sobre a morte do Zé saiu no Google um filmeco mostrando aquela locutora morena com cara de semi-overdose de paz, autocontrole e gentileza sempre levemente sorridente e que noticia morte ou nascimento com a mesmíssima fisionomia afivelada. Até que a notícia estava limpa, embora vazia, como de hábito. Pois no decorrer do videozinho noticioso encaixaram um clipe da Elis cantando Casa no Campo, parceria do Zé com o Tavito. Elis aparece secundando vaca e bezerro e canta a canção. O clipe é de uma burrice total, uma vez que as imagens estão em absoluto descompasso com os versos, que falam em “Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim/ Eu quero o silêncio das línguas cansadas”, nada de curral embostalhado e com vacas e camarada se deslocando meio céleres. A falta de critério é fato, mas a obtusidade preside tudo de forma patológica: por trás da produção de TV – o clipe seria da Globo, claro – existe sempre a presença aguda da santa ignorância. Será que os caras que bolaram o clipe não entendem de ritmo em relação a texto/imagens? “Casa no Campo é EM TUDO uma proposta de reflexão e de imobilismo como posição assumida contra o agir pelo agir na mão do Sistema!”, considera Manoel meio puto de ter esses momentos de impacto que obrigam a uma dura autocrítica permeados por burrice midiática... Enter final.
Pois prosseguem, mudando de pato pra marreco, as investidas dos globalizadores contra a Venezuela, centrando as cacetadas sujas no líder Chávez, que os jornalistas e suas matérias reles a serviço dos amos capitalistas chegam ao cúmulo de associar ao programa humorístico de décadas na TV. Tivesse o “presidente” apedeuta e pinguço um milésimo da dignidade e da postura de estadista de Chávez e o Brasil estaria peitando essa corja de monstros que nos devasta de fora pra dentro e de dentro pra dentro. Lendo uma Bundas de setembro de 99, Manoel se estarreceu com matérias sobre devastação ambiental no Brasil APOIADA pelo poder público, sem contar, claro, a devastação no plano político, pois estava presidente o traidor monstruoso e abjeto FHC, sobre quem a revista cai de pau direto e de todas as formas, até calcando na deformidade... deformidade... – deixa pra lá – que todos conhecemos. Já se vão dez anos, tempo em que a Venezuela cresce como país e como comunidade humana, enquanto nós despencamos pelo mais imundo abismo institucional e social de todos os tempos – mas as cacatuas da imprensa do Sistema têm de atacar Chávez, que além de estadista é um Homem, não um boneco dos globalizadores vivendo de porres e gafes no desfrute de uma presidência não só escandalosamente não exercida, mas cinicamente explorada diante de um país e de um povo agonizantes. “Tomem vergonha nas fuças, lacaios do poder devastador! Vocês são tão reles que preparam a desgraça de seus filhos, degenerados!”, eructa grosso Manoel. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Manoel e a loucura da imprensa mundial

Frederico Mendonça de Oliveira

Um tanto abestalhado em relação a tudo relacionado com notícia e imprensa, com a mídia em geral, conjunto de forças que, sabemos, é rigorosamente controlado por uma intangível minoria que controla a Humanidade desde tempos imemoriais, Manoel procura se inteirar dessa história que hoje circula num jeito “vai ou fica”, naquele estilo que Gonzaguinha (alguém lembra dele?) classificava como “Pra não ser, é; pra ser, não é”. Então a gripe suína tem sido notícia, mas assim: aparece aqui e ali, inicialmente com destaque, às vezes num canto de página, às vezes trazendo estudos e análises, depoimentos e enquetes. Às vezes aparece meio que ameaçando, mais pra alertando, no que informa óbitos alhures, além-fronteiras (Manoel justifica: “Uso este hífen porque existe ‘além-mundo’, a vida para outra dimensão, além da morte, e a situação gramatical é similar). “Mas, na verdade, se as estatísticas informam que a gripe H1N1, essa porcaria que todo mundo pega, mata de 250 a 500 mil por ano, que diferença pode fazer essa porcaria suína, que nos brinda com um adjunto adnominal que remete a porcos, e que vem matando tão pouco e tão menos que a influenza comum?”, questiona nosso herói. Enter.
Folheando a Folha on-line – perdoem o humor surrealista de nosso cultíssimo Manoel –, eis que ele topa com um questionário abordando a questão da gripe suína e recheado de saídas que não são saídas, mas enigmas, coisas do tipo: “Que posso fazer se aparecerem sintomas da gripe suína?”, e a resposta é: “Aja como se fosse gripe comum e comunique seu médico”. Porra, então essa titica não tem periculosidade nenhuma! E aí a coisa evolui para o quesito mais essencial, e dele saímos jumento, depois de nele entrarmos burro: “O que é a gripe suína?”, pergunta o boneco, e a Folha responde: “É uma doença respiratória causada pelo vírus da influenza A, chamado de H1N1. Ele é diferente do H1N1 totalmente humano que circula nos últimos anos, por conter material genético dos vírus humanos, de aves e suínos, incluindo elementos de vírus suínos da Europa e da Ásia.”. Ótimo, diz Manoel. E prossegue lendo: “A gripe tem cura?”, pergunta o boneco, ao que a Folha responde lindamente: “Tem tratamento.” Enter.
“Tem cura ou não tem, cacete?”, pergunta-se Manoel, e prossegue futucando: “Esse tratamento leva a alguma possibilidade de cura? Ou o paciente fica gripado suinamente pra sempre, como um aidético sob controle? Qual doença, aliás, não tem tratamento, levando ou não a uma cura? E os sintomas, quais são? Incluem uma tendência irrefreável e mesmo irresistível de emitir coinchos ou grunhidos na passagem da fase de incubação para o afloramento? Ou começa a querer emitir ‘óinks’ sempre que alguma pessoa assoma à porta de seu aposento?”, conjetura Manoel contemplando sua Maria toda curvas, toda graça lusitana, toda eficiência, e que lhe traz um delicioso capuccino enquanto ele se aprofunda nessa indagação. Ele não tem o impulso de grunhir, embora envolvido com estudar essa pinóia suína: apenas passa-lhe um frisson pelo vaso da concepção (o meridiano que começa entre os primeiros incisivos da mandíbula e desce pelo centro do tórax até a genitália) e sua mão se dirige automaticamente para os volumosos e formosos glúteos que o abateram à primeira vista. “Love at first sight!”, relembra Manoel aquele momento em que divisou atarantado as redondezas esculturais e abundantes de Maria, diante do que ele capitulou para sempre. Enter.
“Imprensa é uma merda em qualquer sentido ou padrão!”, fala para si Manoel, despertando do rápido devaneio que Maria lhe impôs com sua dela beleza de deusa. “Até porque, em qualquer parte do mundo, é proibido falar sobre determinado assunto, um tabu imposto por certo povo à Humanidade, o que põe em cheque a credibilidade de qualquer publicação. E, por se ver ludibriado pela reportagem da Folha sobre essa gripe fajuta, e depois de sacar que o Tamiflu, remédio específico para a gripe suína fornecido pelos EUA, já está sendo adquirido em grande escala no mundo inteiro, abarrotando de dólares, bilhões e mais bilhões, a trilionária indústria farmacêutica (em que se insere aquele sinistro Donald Humsfeld com seu lobby e sua sociedade na indústria que produz esse mesmo Tamiflu) que explora o mundo e especialmente os povos deficientes economicamente, Manoel desvia o olhar desse assunto estúpido. E dá de cara com outra notícia em que se manifesta a patológica parcialidade da imprensa, no Brasil muito bem exemplificada na Folha dos Frias, no Estadão dos Mesquita e, claro, no O Globo dos Marinho, além da Veja dos Civita etc. Em destaque, Hugo Chávez, o líder venezuelano. E, adivinha Manoel, “vem merda!”. Claro... Enter final.
Os ratos e/ou invertebrados da imprensa brasileira, seguidos de seus lacaios e bonecos, têm orientação das editorias para meter o pau no líder Chávez, e fica definido que ninguém pode se opor à orientação editorial monolitizada. Manoel observa que NENHUM JORNAL BRASILEIRO fala bem de nada que Chávez faça. Só se vê o líder sendo tachado de ditador, criticado de todas as formas, ridicularizado por ser sério e comprometido com o ideal bolivariano. Se fechou a Globo de lá, é condenado aqui sob a pecha de antidemocrático por ter “tolhido a liberdade de imprensa”. Ora, moluscos! A que liberdade de imprensa vocês aludem, hipócritas cínicos? Por acaso é possível emitir algum tipo de manifestação fora do que está RIGOROSAMENTE definido como sendo o permitido pelas editorias e pelos patrocinadores?? Por acaso alguém pode transgredir os rigidíssimos códigos que amordaçam a “imprensa” brasileira, impostores?? Pois ficamos assim: na próxima renovação do blog, Manoel vai abordar a Venezuela e o que fazem contra ela aqui, e todos os riscos que se avolumam a partir da sórdida política brasileira no cenário latino. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Manoel e as reações de ira santa na mídia

Frederico Mendonça de Oliveira

Foi com grande estupefação que nosso herói recebeu pela internet a cena que envolveu o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo, e o ministro-chefe da casa, Gilmar Mendes. Estupefação seguida de gáudio, de regozijo, uma vez que presenciou um poderoso golpe sobre a poderosa blindagem com que o sistema protege sua máquina hoje quase que absolutamente degenerada e cancerificada. Espetacular: um ministro afro-descendente, em rasgo de autenticidade que deveria estar comprimida em seu coração e doendo há tempos, peitou duramente o bonitão cara pálida cheio de pose e empáfia. Seguro da postura deformada do ministro-chefe, nosso novo herói, diante dos olhos maravilhados de todos os brasileiros conscientes que puderam verificar o episódio, lançou sua negritude santa sobre o infiel, mandando-lhe de cara às ventas a advertência: “Sua Excelência não está falando com seus capangas de Mato Grosso”, explodindo logo de cara uma denúncia como granada arrasadora. Que poderia o poderoso cheio de capangas argumentar diante de tal denúncia? Pois não ficou por aí: seguro de sua posição, como enxadrista que armou bem seu ataque e mete um garfo de cavalo contra rei e dama, de que resultará a perda da segunda, Joaquim Barbosa avançou: “O senhor tem de ir à rua, ministro!”, ao que o empavonado chefão da corte tentou redarguir: “Eu estou na rua, senhor ministro!” –, e o santamente irado Joaquim Barbosa, impetuoso, retrucou: “O senhor está na mídia, Excelência! O senhor está na mídia!”. Enter.
Tal confronto causou mal estar entre os ministros presentes, havendo até uma voz circunstante solicitando o encerramento da sessão, voz da “turma do deixa disso” – intervindo para que tudo prossiga exatamente como está, não é mesmo, ô burocrata amestrado? Pois a merda explodiu no ventilador, pois a TV Justiça colheu as imagens do bate-boca e isso, não se sabe por iniciativa de que espírito pérvio, foi parar no You Tube, e lá se foi a vaca do bonitão ministro-chefe pro brejo, alçando à aprovação e ao triunfo público a figura do revoltoso ministro Joaquim Barbosa, que chegou a acusar Gilmar Mendes de forma contundente: “Vossa Excelência está destruindo a imagem e a credibilidade do Judiciário brasileiro!”, e foi possível verificar, na expressão do chefão fernandista, a consciência da derrota a ele imposta por um afro-descendente cheio de razão e de dignidade. Também ficou expressa através da atitude desencadeada entre os outros membros da corte a constatação de uma saia justa jamais vivida na casa, não se sabe se reduto das soluções extremas da Justiça ou se mais um estamento, um espaço de poder ordinário, onde o sistema conclui o que interessa ao poder e em absoluto distanciamento dos anseios do povo que trabalha pra pagar aquela dispendiosíssima corte. Quem quiser ver o arranca-rabo, basta digitar o nome do ministro revoltoso, Joaquim Barbosa, na janela de pesquisa do You Tube. Dali sairão várias imagens, todas elas mostrando um ministro-chefe cheio de empáfia sendo acossado por alguém que não teme denunciá-lo perante a opinião pública. “Genial! Genial!”, exclama nosso aguerrido Manoel diante das imagens, e Maria percebe no cantinho do olho dele despontarem lágrimas, de alegria e emoção, claro: ela conhece o seu gado... Enter.
Pois não bastando a mijada no ministro-chefe eis que Manoel recebeu,via internet, outra manifestação de sublevação diante do descalabro que assola esse Brasil nada lindo nem nada trigueiro – isso de lindo e trigueiro eram manifestações de amor dos tempos do nacionalismo. Eis que um jornalista da Globo, Luís Carlos Prates, da RBS de Santa Catarina, resolveu perder as estribeiras no programa que faz ao vivo na emissora. Falava sobre a putaria que cerca a questão de uso e abuso de passagens aéreas pelos senadores. Último escândalo envolvendo o Senado, que aliás coleciona uma caudal deles, esse indecente e obsceno trem da alegria envolvendo senadores, afins e quejandos. O comentarista solta os cachorros na cambada, perde as estribeiras de pura indignação, explodindo como sonham explodir os quase duzentos milhões de brasileiros a que só se oferecem ou impõem humilhações, pisoteios e dificuldades a cada dia maiores. Manoel olha perplexo para o sujeito bufando e espumando de raiva, até perdendo a lucidez no que fala que o povo devia fazer isso ou aquilo, esquecendo que povo não faz nada, apenas obedece a lideranças, que normalmente não estão a favor dele, povo, só fazem manejá-lo. E, ademais, levar Brasília para os cafundós do Planalto Central visa justamente estabelecer o hiato, o divórcio geográfico entre povo e poder, de tal maneira que se criou um Olimpo intangível para pobres mortais como nós. Como chegar ao bunker do poder e marchar sobre ele? Cobrindo mais de mil ou mais quilômetros? Pois é, por mais que o nosso Luís Carlos Prates esteja com razão até a medula, não passa de uma utopia infantil querer que a macacada sem rabo globotomizada reaja de alguma forma. Pobres coitados! Só fazem aturar o cabresto e a cangalha para dar vidão de marajás e nababos a um punhado de engravatados completamente alheios ao que seja Brasil, pátria ou – para estes – porcarias parecidas. Enter final.
Mas valeu o desabafo, mostrou que alguém da mídia ainda solta os cachorros arriscando seu empreguinho, seu rico empreguinho. Vejam bem: Manoel já considerava isso impossível, desde quando soube das sanções impostas pelo sistema ao comentarista Cajuru, que denunciou ocorrência de privilégio para amigos do Aécio em jogo especial no Mineirão; quando soube que Salete Lemos, comentarista de Economia do Jornal da Record, denunciou e criticou duramente condutas de poderosos que ferem o cidadão comum; desde quando verificou o cerceamento aos comentários do Jabor. Então ficamos do mesmíssimo tamanho ou menores, mas as manifestações isoladas de indignação vão se fazendo ver por essa Pindorama ultrajada afora. “Coisas do sistema”, pensa Manoel. “Um dia vou escrever sobre essa coisa de sistema!, cogita nosso herói. A gente fica no aguardo. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

Para ver o jornalista José Carlos Prates soltando a cachorrada, basta acessar o link
http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=59705&channel=47