sexta-feira, 25 de junho de 2010

Manoel, vuvuzelas e apedeutismo

Frederico Mendonça de Oliveira

Lá vai Manoel pelas ruas do arraial nestes dias de Copa, e a zoeira que eventualmente se manifesta põe nosso herói de sobreaviso: “Bestas excitadas parecem perigosas!”, reflete. Passando pelos pontos onde telões exibem essa porcariada de futebol globalizado, Manoel verifica: até de longe é possível ouvir aquele zumbido que lembraria um enxame de mangangás, ou mamangavas, aqueles abelhões pretos solitários que fazem a polinização do maracujá, entre outras tarefas benéficas. Lamentavelmente, não são apídeos os responsáveis pelo som de enxame, mas as tais de vuvuzelas, que nesta Copa alcançaram outro valor no comportamento das torcidas. Do meio desse som assemelhado ao dos agigantados e nigérrimos apídeos, emerge a fala roufenha e mesmo cavernal do Galvão, um pobre coitado bobalhão que vive a fantasia de ser o locutor esportivo top da Globo. E tome ensopado de vuvuzelas com Galvão, enquanto rola planeta afora uma rejeição maciça ao locutor concomitantemente a uma verdadeira consagração da bizarra vuvuzela. A raiz vuvu significa “soprar” ou “pôr a boca em algo” (êpa!), e o sufixo zela denota “objeto comprido e oblongo”. Já se usava essa titica de há muito em terras tupiniquins, mas era só um espírito de fazer zoeira, esporro. Teve até uma turma que comprou milhares dessas porcarias para distribuir aos que entravam no Maracanã, lá pra 1981, para assistir ao show do Sinatra. Não colou: ninguém soprou aquelas tubas durante o show, mas muitos as receberam de graça, e as levaram consigo para zoar alhures. Agora, as cornetas esporrentas viraram vuvuzelas, e essa Copa de retrancas renhidas, pouca criatividade e resultados mirrados se arrasta ao som delas, mostrando um avanço da irracionalidade compatível com a destruição que mundialmente avança contra a música, basta considerar que não se pode mais ligar um rádio receptor, pois através dele só se difunde lixo. Enter.
Lixo, lixo e mais lixo. O mundo está virando lixo. Não só o lixo que bóia no Pacífico e alcança extensão maior que Minas, São Paulo e Goiás somados, mas também o dos Executivos corrompidos e postos no comando de Estados esvaziados; dos Judiciários completamente viciados – se o STF não exige rigor na prática judiciária, que esperar de quê? Ele nem precisaria existir se exigisse rigor... –, vide o desalento dos advogados, vide a máxima que descreve a Justiça hodierna: “Antes, peituda e vendada; hoje, peitada e vendida” (referindo-se a Têmis, deusa da Justiça); dos Legislativos abarrotados de picaretas legislando em causa própria, mamando montanhas de dinheiro em salários, benefícios, cartões funcionais e, claro, vivendo de praticar o que mais rende: corrupção, desvios, mamatas, panamás, propinas, e até chegando a registrar motosserramentos de desafetos por parte de parlamentares, vide Hildebrando Pascoal. Que, milagre dos milagres!, pagou por seus crimes!..., coisa pra lá de rara nesse país-cloaca. E agora o CQC mostra aquele escândalo de “parlamentares” – não passam de salafrários e escroques assumidos, calhordas, pilantras, moleques, sacripantas, biltres, degenerados convictos! – que assinaram a favor de incluir uma garrafa de cachaça no que seria a cesta básica do brasileiro. Questionados pela repórter Mônica Iozzi, do CQC, quase todos queimaram no golpe e alguns partiram pra violência verbal e mesmo física. Um deles, o deputado José Tático, do PTB de Goiás, além de tratar a repórter com rispidez, depois se saiu com um “sua bunda”, quando já dentro do elevador. A Mônica, que não ostenta um popó avantajado, levou essa. Depois, tendo sido abordados os deputados Eduardo Valverde (PT – RO), Felix Mendonça (DEM), Lupércio Ramos (PMDB – AM), João Dado (PDT – SP) – que se negou a assinar a inclusão da cachaça na cesta básica e ainda pagou uma, de que é de lei ler antes de assinar, dando lição de retidão – e finalmente Nelson Trad (PMDB – MS), um terceiraidade iracundo e truculento, que agrediu fisicamente a repórter e o cinegrafista, e assim se registrou mais um documento que revela que tipo de gente ocupa o Legislativo sob o pretexto de representar os interesses do povo que a elegeu. Enter.
E Manoel contempla tudo isso enquanto rola Brasil x Portugal, um jogo em que a bola parece quadrada, porque rola mas não se define nada, só jogo duro, feio e violência pra lá de estranha. Maria prossegue alheia ao Brasil conflagrado em torcida estúpida, mobilização irracional que pretende uma vitória que nada nos trará senão um caneco e mais retrocesso social na caudal dessa titica. “Ó Maria, tu precisas ver quanta porcariada nessa peleja! Nossos patrícios estão imbuídos de travar os brasileiros, não lhes dão espaço, embora também não tenham até agora feito nenhuma finalização considerável. Mas o Galvão tá lá, dizendo que Portugal se fecha (é) na defesa – ele não aprende, se é que se tocaria disso – e o Português vai indo pro penico, tendo principalmente a TV como detratora do idioma”. E Maria, a custo se desconcentrando para atender à fala de seu apaixonado marido, crava nele seus olhos ainda banhados do texto que ela ataca na raça. Bastou olhar, já está respondido. Maria nada vê senão coisas sérias e belas, radicalmente decidida a destoar do auê generalizado. E Manoel surta de insights sobre essa conjuntura em que parece que todos somos empurrados para o abismo da História. Enter final.
“O idioma é um retrato da alma social do homem, ó minha linda. O homem que fala com sinceridade e que preserva o linguajar é o homem que vê o social e trata de edificá-lo. Quem depreda o idioma depreda a si mesmo e ao social a reboque. E essa alteração ortográfica atende à depredação de conteúdos, ó linda. Veja que agora se excluem acentos nos ditongos abertos, e os que virão terão dúvidas em saber se alguma ideia pode ser bonita ou feia. Por que empobrecer o que era correto para lançar uma generalização que iguala sons diversos? Porque o acento é incômodo, pode ‘cansar’ a beleza dos emergentes (em quantidade, claro) proletários que vão transformando nossa língua num caos semântico e gramatical?”, considera nosso heroi, cujo interesse no Brasil foi transformado em sonho de cidadania, sonho frustrado a cada minuto, cada hora, cada dia – e assim por diante. E Manoel relembra Oswald de Andrade, que anteviu a depredação do idioma através da explosão demográfica dos desvalidos do conhecimento: “Pra dizer milho, dizem mio; pra dizerem melhor, dizem mió;/ pra dizerem telhado dizem teiado/ E vão construindo telhados”. E o poeta previu também a proletarização que nos transforma hoje numa potência da estupidez e da corrupção, tudo isso apimentado pela barbárie que avança como câncer, generalizando a desagregação humana, política e social. Enquanto isso, uma imensa quadrilha sorve o néctar que seria do povo, e a este é destinada a massamorda, a decadência, a deterioração galopante. “Deu zero a zero, ó Maria, Portugal barrou a seleção de Dunga, e daqui pra frente só aumenta o risco a cada partida”. Sob estouros de foguetes burros, Maria toca o almoço e se mantém pairando acima dessas cretinices. Manoel só contempla. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Manoel e a oligofrenia solta na Copa

Frederico Mendonça de Oliveira

Amedrontado com a movimentação que antecedeu nas ruas a estréia da seleção brasileira na Copa 2010, Manoel volta pra casa como que aturdido, abestalhado, contristado. De seu refúgio ouvem-se os ruídos de antegozo pela estréia da seleção globalizada, provindos do centro e mesmo do próprio bairro, hoje transformado em periferia de classe média e que chafurda em obtusão perversa por intervenção de poderes maléficos, promovendo a estupidez e o sadismo e deformando mentes de crianças como que por esporte persecutório. “Estarão todos completamente desatinados, ó Maria?? Foi para isso que trabalharam gerações e gerações de pensadores e lutadores, durante séculos sonhando o êxito da Civilização??”, e Maria, embananada com seus estudos universitários e de gato deitado por sobre papéis espalhados na mesa, tacitamente responde em afirmação, o semblante alvo e aveludado carregado de compreensão sobre a degenerescência desencadeada nas ruas, nas casas, nos bares, tudo tresandando a caos, tudo feissimamente descerrando a face de Baphomet e a índole putrefaciente de Belzebu. “Serão energúmenos assumidos, daqueles que beijam as mãos deformadas de seus algozes? Serão bestas asselvajadas e mugentes, que agora identificam suas vozes com as das cornetas de repente batizadas de vuvuzelas? Serão oligóides felizes com a manifestação de suas deficiências, que neste momento são absolutamente bem vindas para consolidar o primitivismo atroz que vai assolando o Brasil e o mundo em benefício dos objetivos do Império??”, questiona-se Manoel ouvindo a manifestação bestial da torcida brasileira percorrendo as ruas do arraial no afã de alcançar um estado adrenalínico e gerador de um transe que, para esses seres, é indicativo de felicidade. “Que fazer, Deus??? Eles são muitos!!!”. Enter.
Acabrunhado, nosso herói hesita entre fazer como sua Maria, que se desliga totalmente da azáfama dos possuídos e mergulha em suas tarefas, ou se retar e aturar assistir a essa patacoada para realmente poder dimensionar racionalmente a miséria estabelecida. Pois ele opta pela segunda idéia, num rasgo de fibra lusitana: “Pois vou ver o que tanto endeusam esses desordeiros de merda: quero ver a cara dessa tão desconhecida seleção, quero ver se merecem algum apreço, alguma admiração. Que sejam endeusados por imbecilidade coletivizada, isto são outros quinhentos. Quero ter munição para expor meu posicionamento diante dos que dele necessitam!”, decide nosso herói, mesmo que sabendo que se impõe uma contrafação. Para tanto, resolve assistir ao primeiro tempo do jogo na velha TV há muito esquecida no quarto de hóspedes, mas toma o cuidado de não abrir o som, para ter opinião própria sobre os elementos reais do enfrentamento. E para não ouvir a voz e as falas do Galvão, que ninguém é obrigado a se martirizar. E nosso herói desliza furtivamente para o quarto de hóspedes enquanto Maria prossegue mergulhada em silêncio imponente sobre os compêndios, tendo a presença do bichano sobre apostilas como fator emoliente e decorativo. Enter.
E lá está a pinóia rolando. Aquilo de sempre, aqueles seres correndo atrás da bola, um já abobalhado espetáculo, porque confinado dentro de interesses completamente outros que não o esporte em si. E lá está Manoel observando o correcorre multimilionário, sacando atentamente os conteúdos, e a seleção brasileira de mercenários vai mostrando as carantonhas de seus componentes, enquanto closes das faces norte-coreanas revelam outra cultura, outra humanidade, outros valores. Mas aí ocorre uma surpresa: nosso herói constata que a Coréia do Norte apresenta um esquema defensivo coeso e impenetrável, e que os “atretas” tupiniquins correm pelo campo como baratas tontas, sem objetivo ofensivo e sem esquema racional de penetração. “A cara do Dunga...”, pensa consigo Manoel. E o primeiro tempo se escoa num futebol chué, em que os aguerridos coreanos defendem com garbo e elegância a meta de seu país amado, e os “brasileiros” se arrastam em campo sem objetivo, perdidos, dispersos, sem qualquer coesão. Nada de gols. A alegria vai tomando conta de Manoel, que aproveita o intervalo do jogo ainda zerado e va à copa onde sua Maria permanece encornada nos estudos, prepara um café cheiroso, toma um copinho dele e interrompe sua amada com uma alegre consideração sobre a partida: “Putz, os coreanos correm como o diabo!, são muito engraçados nos gestos e parecem muito educados!”. Maria ouve e escuta, levantando o mitológico semblante, pesado da concentração interrompida, mas abrindo um doce sorriso, não se sabe se por se divertir com ver Manoel se divertindo, se porque também no fundo nutre um desejo ardente de ver essa seleção de mercenários mandada de volta para seus países de origem – porque parece que só um volta pro Brasil... e Manoel escapole para o ateliê lá embaixo, para aviar uns materiais em que se empenha para a construção de um objeto-escultura em pau-brasil. Logo verifica o recomeço da partida e sobe para ver a sequência, mas o gol dos “brasileiros” o contraria profundamente, e ele percebe que as jogadas individuais começam a puxar uma coesão do ataque verde-e-amarelo, e então tudo passa a não interessar mais. Enter.
E deu no que deu. Mas vale relatar que nosso herói, lá pras tantas, faltando pouco para terminar a partida, religou a máquina de bestificar e deu de cara, depois de estar bem acomodado constatando triste o avanço “brasileiro”, assistiu ao lindo gol dos coreanos, e Maria acorreu esbaforida e assustadamente sorridente com ver a festa de Manoel pelo gol inesperado E eis o casal unido em alegria vendo que o pobre do Júlio César, tido como o melhor goleiro da Copa, foi vazado logo na primeira partida, e logo por um reles coreinha, e vendo que a carantonha de desapontamento do caricato Dunga ocupou a tela em oposição ao semblante inteligente, sereno e alegre do técnico da seleção da Coréia nacionalista – não a da Coréia do Sul, reduto descarado do Império, covil de lacaios dos Conquistadores do Mundo, país títere que tenta envolver sua irmã do norte no episódio de afundamento daquela corveta duvidosa, que Fidel denunciou como isca suja para detonar um conflito que pode levantar uma bela grana pra turma que vive de vender armas. Enter final.
“Uma derrotinha com sabor de grande vitória, ó Maria! Esse doisaum é apenas um tênue começo de uma derrocada iminente, haja fé nisso! Quem diria que a Coréia do Norte, que tem como esporte verdadeiro não aceitar a pressão do Império e que figura lado a lado com os países que sabem o que querem, ainda teria tempo hábil para preparar uma seleção séria e competitiva! Uma seleção até humilde na postura, sem qualquer pompa ou empáfia, e que logo de cara já desafinou o coro dos energúmenos boçais que gritam por uma vitória de uma seleção de mercenários como a do
Brasil, convenhamos!, é uma beleza!”. E Manoel e Maria voltam para suas tarefas, agora com o alento de uma graça, a de ver que a máscara da estupidez afixada nas fuças das legiões de seres burrificados ameaça cair, e feio! E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Manoel, a Copa e o Irã

Frederico Mendonça de Oliveira

“Ó Maria: parece que eu não tenho o discernimento amadurecido como os outros, que concordam com tudo, aceitam tudo e dormem como suídeos, roncando e peidando esquecidos do mundo e da vida! Por que terei eu de ser diferente dos que cultivam hemorróidas de tanto manter o bufante na cadeira, no sofá, no banco do automóvel, por que terei eu de me perguntar sobre a real importância da Copa do Mundo para o Brasil e sobre os verdadeiros conteúdos envolvendo a sanção da ONU contra o Irã? Poderia eu alterar algum dos rumos da Humanidade pelo fato de me manter ligado nos fatos e nos factóides, resistindo a me tornar um agnus sistemi no jeito que os Conquistadores pensam ser os cristãos? E de que me adianta ser cristão se o demônio é o atual governador geral do planeta e não deixa qualquer brecha para qualquer atitude saneadora?”. Enter.
Maria considera a fala de Manoel enquanto com um olho estuda textos pedagógicos e com outro enxerga no éter as imagens construídas pela digressão filosófica de seu apaixonado marido. Gato no colo ronronando sob afago suave da dona, outra mão mantendo o livro aberto, Maria, desde agora também nossa heroína, vê desfilarem diante de seus olhos a imagem respeitabilíssima do presidente do Irã, que considerou algo para ser jogado no lixo o posicionamento da central de acoxambramento dos desmandos e atos infames dos Conquistadores do Mundo, vulgarmente chamada de ONU. E Manoel lê em voz alta para sua amada o texto da Folha que reporta a pendenga entre o sempre ignóbil tio Sam e o Islã: “Ouça bem, ó Maria: ‘O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, manifestou apoio à posição de seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, sobre as novas sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU ao Irã, e as rejeitou porque, segundo ambos, não valem um centavo’. E tu acreditas na posição política desse Obama, que já subiu as escadarias da Casa Branca fantasiado de títere dos senhores do mundo? Pois tem mais: o Chávez, homem e estadista de verdade, rebateu positivamente daqui as palavras do colega: ‘Disse-o bem, caramba! Não valem um centavo!, declarou Chávez, principal aliado de Teerã na América do Sul, após a confirmação das novas sanções impostas à República Islâmica nesta quarta-feira’ –, diga-se de passagem, sem medo de errar, sanções de opressores, de corsários, de genocidas, de bárbaros!”, completa Manoel, bufando de entusiasmo político, e Maria se contamina desse teor, semblante tomado de alegria serena e elegantemente contida. Enter.
Na TV, a bagunça intervencionista de sempre: misturam esse impasse com Copa do Mundo e com assuntos completamente irrelevantes para nossas vidas. Tem modelos anoréxicas desfilando parecendo umas loucas de pedra cobertas de panos esdrúxulos e ridículos; tem artistas nuas, seminuas e sorridentes enchendo linguiça nos espaços que seriam dedicados a coisas construtivas; tem páginas inteiras de anúncios exibindo uns seres estranhos, que a gente não vê por aí, e tome carrões vários, mil modelos sendo enfiados goela abaixo dos viciados em consumo, tem importados e supermarcas glamurizadas não como objetos nem mesmo sonhos de consumo, mas como divindades a serem alcançadas; e tem titica, titica, titica, e nada muda nada, mas tudo é articulado para parecer que algo acontece. É que tudo é feito para que tudo continue na mesma, sempre. E o pobre Brasil se enfeita estupidamente de bandeiras e bandeirolas, ninguém está envolvido senão pelo marketing da competição, completamente manipulada e contaminada de componentes espúrios, e a turma só pensa em escapar um pouco da mesmice massacrante de um cotidiano perverso e vazio de perspectivas para se agarrar ao obaoba da Copa tentando se refugiar na alienação e na busca atarantada e azumbizada de algum sentido nesta vida. Na verdade, existe um abismo incomensurável entre a seleção como elenco e a torcida “brasileira” como tal. Mas a turma insiste em balir, mugir e zurrar, para não perder a inserção nessa besteirada, que, para eles, esses deserdados de cultura, de instrução, de identidade, de nação, de país e de pátria, mantém acesa a chama da “vida”. “Que vida é essa, ó pá??”, considera Manoel contemplando essa massamorda pra otários. Enter.
Pois as coisas não são mais as mesmas. Manoel retrocede no tempo: “Quando me lembro, ó Maria, de que eu era menino de 13 anos, e o Brasil disputava a Copa de 1958, extasiando o mundo com um futebol arte até hoje inexcedível, e que a partir de certo momento todos começaram a se empolgar com o Brasil lá no Porto, e que isso virou febre e que todos acorreram às ruas quando da conquista do campeonato, e que a população inteira do Porto se juntou diante dos aparelhos de rádio nos bares para torcer pela pátria irmã na final contra a Suécia, me arrepiam todos os pelos dos pés à cabeça! Naquele tempo os jogadores eram gente envolvida com valores nacionais, eram brasileiros de coração, não eram bonecos globais, gente mercenarizada, então era o país representado por seus filhos legítimos, que jogavam com amor e alegria!”, exulta um Manoel emocionado com as lembranças que de sua infância irrompem agora, e que seriam, junto com a descoberta de Tom Jobim e João Gilberto, os pais da Bossa Nova, que desabrochou no mesmo ano de 1958, os dois motivos que fizeram dele um portuguès apaixonado pela Terra das Palmeiras. Enter final.
“E hoje vemos uma mobilização falsa, postiça, uma patacoada em que não só os brasileiros, mas também o pessoal da Santa Terrinha, boceja de desinteresse ante uma apenas manifestação artificial de entusiasmo e envolvimento. Tanto mais distantes estão os brasileiros do que seria sentimento nacional, tanto maior é a presença surrealista da “bandeira” nesses festejos falseados! Enquanto isso, cresce a conspiração para o golpe contra o Irã, e todos estão bovinizados com essa Copa fajuta, todos se preferem otarizados, mal conseguindo sequer sorrir de forma legítima, torcer de forma sincera, apenas tudo são reflexos de um passado perdido e que não voltará jamais, minha linda!”, desabafa Manoel para sua deusa, que o acolhe com um misto e amor e compaixão, certa de que jamais encontrará amor assim, como ela verificou nos versos de Saint James Infirmary: “But you’ll never find a sweet man like me!”, e Maria abraça seu marido apaixonado, dos olhos de quem descem duas lágrimas furtivas. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Manoel se abestalha com Gaza

Frederico Mendonça de Oliveira

“Ó Maria, tu viste o que fizeram com os barcos de ajuda humanitária que tentavam chegar a Gaza?? Um comando israelense atacou a frota e matou um tanto de civis desarmados, uns falam em nove, outros em 19. Onde vai parar essa desgraceira de horrores no Oriente Médio?”, exclama interrogativamente Manoel para sua linda Maria, afundada em suas pesquisas de faculdade. “O mundo inteiro está abestalhado e indignado com tamanha monstruosidade, e olhe que isso ocorreu em águas internacionais! Estaremos chegando ao despedaçamento final?”, vocifera Manoel ao ver as notícias e reações generalizadas de repúdio a uma agressão de tal dimensão, e contra um grupo que participava de uma iniciativa humanitária, como TODA a imprensa mostrava. Mesmo perdido no Arraial das Bagas, nas montanhas do Sul de Minas, nosso herói acompanha o que rola pelo mundo e sonha com a cessação da barbaridade no Oriente Médio. Enter.
“Bem, a Humanidade está sendo transformada em algo muito feio, o contrário que um dia pensáramos que seria. Estão todos burrificados, alienados, coisificados, todos viraram zumbis, tudo parece irreal, basta ver do que é capaz uma vizinhança antes pacata no que se conflagra em defesa de uma idéia espúria lançada por um aventureiro do setor white neckband... de uma hora para outra caem as máscaras, e nos vemos diante de seres perversos, primários, assemelhados a primatas de porrete na mão, seres desalmados e grosseiros, tirânicos, cegos de ódio, e tudo isso estava oculto em sorrisos de cordialidade durante anos... e ninguém de bons instintos imaginaria o que aqueles sorrisos tinham de falsidade e maus instintos ocultos!”, cogita Manoel consigo, para não interromper a profunda concentração de sua amada. “O que os israelenses praticaram contra o comboio foi simplesmente ódio, um ódio profundo e milenar, que cheira a massacres! E esse mesmo ódio aflora de seres ignaros, boçais, que posam de gente evoluída mas que não passa de um bando de andróides falantes – e falam como o rabo deles, embora haja alguns glúteos contempláveis nesse meio corrompido, mas esses glúteos não salvam a fala de suas portadoras – e de uma legião de aspirantes às benesses da corrupção!”, e Manoel pára pra contemplar o gato que incomoda Maria subindo no laptop em que ela escreve, e ela não se aborrece, até se diverte e aproveita para confraternizar com o lindo bichano. Enter.
E eis que o assunto do ataque covarde e criminoso, aliás hediondo, não sai da mídia desde o início da semana, e a igreja católica não aborda, nesse Corpus Christi, a monstruosidade daqueles que negam o Cristo. Aliás, a Igreja não se posicionou contra 1917, mesmo tendo sido massacrados milhares de sacerdotes católicos quando da ascensão do bolchevismo. A negação de Deus e da família, a implantação de um materialismo que pretendeu vencer a Natureza, a violência de Estado nos negros tempos de Stálin, o massacre de mais de 100 milhões de não simpatizantes desde 1917 até hoje, o massacre, quando da instalação do regime bolchevista, de quase sete mil sacerdotes, de 6.776 professores, de 8.500 médicos, de 54.850 oficiais do Exército, de 260 mil soldados, de 150 mil oficiais da polícia, de 48 mil gendarmes, de 355 mil intelectuais, de 198 mil trabalhadores, de 915 mil camponeses, tudo isso foi inexplicavelmente ignorado pela Igreja, deixando livre o caminho para o avanço do regime mais estúpido desde que a Humanidade superou a era das invasões de bárbaros. Afinal, o que significa o Vaticano com toda a sua opulência? Nada, pelo visto, a não ser a opulência em si, e um grande desejo de viver desfrutando da glória decadente da Igreja Católica Apostólica Romana, e quanto ao resto, como disse o Brasa alçado a Rei na ditadura tupiniquim, “que tudo mais vá pro inferno!”... Enter.
“Ó Manoel, vê se me ajudas aqui com este gato!”, solicita Maria entre risadas divertidas enquanto o bichano fica tentando dar bofetõezinhos nos dedos dela, que tentam escrever no teclado do laptop. O lindo gato vai a contragosto para o colo de nosso herói, enquanto Maria se diverte relatando o que o gato estava aprontando. Sabedor das coisas de seu félix, Manoel o atrai para dentro de uma caixa de papelão e o faz envolver-se com um bastão atravessado no teto da caixa até o chão desta, e eis o lindo animal às voltas com o bastão, e Maria ainda sorrindo volta a seu estudo, e Manoel vai dar uma olhada nos noticiários eletrônicos, e eis que logo ele depara com loucuras novas sobre o horror de Gaza, e fica perplexo com verificar que a estupidez de Lula já ganha espaço para gozação desrespeitosa na mídia internacional, e eis nosso herói suspirando de ver o Brasil agora transformado em alvo de achincalhe no Oriente Médio, na Alemanha, no Oriente Médio. A lógica do discurso cretino de nosso “representante” despertou a consciência sobre o ridículo que é um imbecil ser presidente de uma nação que já assombrou com a Bossa Nova, o Cinema Novo, com nossa literatura e nossas artes plásticas, até com nosso futebol, contemporâneo da Bossa Nova, pois fomos campeões do mundo em 1958, ano de lançamento de Chega de Saudade. E Lula mal sabe disso, é um ignorantaço de carteirinha, um grosseirão sem modos à mesa, um ébrio sem freio, um apedeuta exibido e sem compostura, um tipo histriônico esquecido pelo etil de sua responsabilidade de pelo menos ser figurativo sem tentar figurar. Enter.
E aí a coisa fedeu. Manoel admite serem absolutamente procedentes as sacanagens sobre esse caipiraço que não se enxerga, e abre um vídeo em que aparecem israelenses fingindo entrevistar o “presidente Lula”, e disso decorre um verdadeiro ultraje a nossa dignidade, e o pior é que TEM COMPLETO FUNDAMENTO. A tristeza é ver quanto trabalho tivemos em nossas vidas, quanto trabalho estão tendo nossos irmãos brasileiros dignos e como tudo isso vira bosta, como disseram Rita Lee e Moacir Franco, quando justamente o partido que se dizia dos trabalhadores assume o poder e transforma o País num caldeirão de um Hulk, com aquela cara patética sorrindo pra nós! “Pela primeira vez na vida concordo de cabo a rabo com israelenses”, rosna surdamente nosso herói, que chama sua Maria para que ela constate o ultraje presente no vídeo dos eleitos. Ficam ambos abestalhados diante do pesado achincalhe, conscientes de que nada pode contestar o que está mostrado, e que pela primeira vez se faz justiça a este bufão metido entre chefes de Estado e querendo se meter em assuntos de gravidade que ele nem sonha alcançar. Enter final.
“E o Obama, que não passa de um Lula refinado, como considerou milha linda, dizendo que ‘Lula é o cara’! Ora, querem saber de uma coisa?? Vou tomar uma atitude verdadeiramente eficaz!” E, sob o olhar ensolarado de sua Maria, que sorri toda, Manoel abre a geladeira e tira uma garrafa branca (de tão gelada) de cerveja, e a palavra final é: “Fazer o qüê, ó Maria??”, e a paz de sempre brilha no lar de nosso herói, agora aplacado pelo pão líquido que nos faz ficar ricos só de destampar a garrafa e deitar o líquido na taça. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

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