Frederico Mendonça de Oliveira
Manoel não é tipo para se entregar a depressões dessas que acometem os midiotas, seres que vivem com o rabo na poltrona entregando sua vida às novelas estúpidas e estupidificantes da TV. “Depressão é o cacete!”, rosna ele considerando sua real diferença em relação a esses maricas ou pacóvios que se vergam a essa doença da moda. “Porra, se um sujeito se entrega aos meios de comunicação deformadores e abdica de crescimento intelectual, cultural, artístico e espiritual, é óbvio que sua natureza vai reagir: qual é o resultado possível da ingestão sistemática, diuturna e insistente de um veneno em doses de horas diárias até cavalares? Alguma reação indesejável, senão a morte mesmo!”, reflete nosso herói enquanto rola em seu Gradiente 78 um Romeu e Julieta executado pela Berliner com regência de Herbert von Karajan. “Não é um Furtwangler regendo a Vienner, mas dá pro gasto”, pensa consigo Manoel, que anda a cada dia mais abestalhado com tanta maluquice no arraialito e principalmente na pracita ao lado de sua casa. Ele e sua Maria Garcia até pararam de ir cuidar do jardim da casa, para não topar com os arraialeiros ignaros e insensíveis que agora andam se reunindo ao lado de sua casa até para bater bola, estabelecendo um centro de diversões estúpidas ilegal e completamente irreverente, o que bem mostra o grau de boçalidade desses seres transformados em objetos vestidos, aliás ridiculamente vestidos... Enter.
Pela manhã, os putinhos se esbaldam gritando como loucos varridos, como psicopatazinhos a caminho de um futuro nada promissor, sem contar que a degenerescência social já faz desses infelizezinhos vítimas obrigatórias de um porvir de horrores. Mais ainda, a que destino podem aspirar esses pobres fedelhos se têm pais envolvidos com corrupção, sadismo, perseguição covarde e imunda contra um homem decente como o morador atingido pela obra maluca? Desde cedo, o exemplo que esses pobres infelizes recebem é o dos desvios morais assumidos... Pois tem horas em que os pafúncios, marocas e peruas se reúnem em folguedos achamboados, e rola até futebos sênior, vejam só!... e desenha-se na mente de Manoel a imagem de um cacique que aparece na capa da Caros Amigos, no exemplar em que a revista estampou um artigo do punho de nosso herói. A imagem do índio, com roupas urbanas ridículas, relógio de quartzo, sandálias havaianas, curiosissimamente é um espelho dos arraialeiros que circulam pelas ruas da cidade, figuras decadentes, que até lembram a menção de Caetano a respeito da gentuça que desfila sua feiúra pela esquina de Ipiranga com São João... Enter.
Nossa gente vai pelo caminho da completa perdição. As autoridades aboletadas nos três poderes hoje só fazem lutar por conquistar ou se manter no poder, o resto é puro fingimento, cinismo!! E a imprensa, essa merda viva a que chamam de quarto poder, está a soldo e a serviço do sistema e só denuncia alguma irregularidade quando ela explodiu e perdeu o controle de seus autores, causando comoção popular. O caso do tal morador perseguido é típico: o jornaleco do arraial, que quando não é tendencioso é omisso, estampou em primeira página matéria policial mostrando o protesto inofensivo do morador – ele jogou óleo queimado nos bancos da pracita em portesto contra a arruaça da madrugada anterior, quando “jovens” jogaram futebol com garrafas vazias de pet das três e meia da manhã até raiar o dia, naturalmente para dar vazão a seus instintos não descarregados no baile de onde vieram – como se fosse crime, como se o gajo tivesse matado o pároco da matriz e estuprado as freiras do Colégio de Maria. Que se pode esperar de uma “sociedade” com valores tão estraçalhados? Horror, claro, e o remédio é se enfurnar em casa e evitar até VER isso que ainda chamam de PESSOAS! Enter final.
Onagros, bugres, que são esses seres que agora, às 21h25 deverão estar pendurados na novela das oito, babando, já preparando os puns resultantes da fermentação do jantar burro que engolem com a deselegância de bárbaros, mal mastigando os alimentos, fazendo da faca uma pá para empurrar a comida pra cima do garfo, antebraços colados à quina da mesa provocando cifose? E depois da novela tem big bróder, depois tem o sono com roncos e peidos sonoros e sulfídricos, e no dia seguinte sai o toco moreno para navegar no vaso e descer cano abaixo, resultado artístico do jantar burro com que se cevam para manter viva uma burrice sesquipedal e arrogante... Ah, mas eles têm carro, roupas de marca, viajam, têm eletrodomésticos e móveis caros, tudo aparelhando uma existência absolutamente corrompida e esmagada pela ociosidade mental e espiritual e pela vida obediente ao sistema! “Bem, é manter distância dessa récua, para evitar coices!”, considera Manoel, dando uma golada feliz na loura e recebendo Maria nos braços. E viva Santo Expedito! Oremos. Ciao, babes!