sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Manoel e a anunciada prisão de Tiririca

Frederico Mendonça de Oliveira

“Não há mais sentido em nada nesse Brasil, ó Maria! Será que nós é que estamos amalucados e o Brasil está em perfeito estado de saúde mental?? Agora o promotor Maurício Lopes, segundo a Folha, ‘pediu à Justiça que o deputado eleito Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o Tiririca, seja condenado a cinco anos de prisão. Essa é a pena máxima para o crime de falsidade ideológica, do qual o humorista é acusado.’, diz a notícia. Não existe muito a duvidar nessa história de o Tiririca ser candidato: foi um golpe bem tramado por espertalhões, uma armação que tentou antes outros nomes conhecidos, como o Dráuzio Varela e uma certa Sabrina Sato, que dizem ser ‘apresentadora’ – cá pra nós, ó linda, apresentadora de quê?? –, e que acabou encontrando o Tiririca, e ele topou a aventura de cara, seguramente porque palhaçada é seu feitio e sua função nesta vida”, expõe Manoel a sua amada, que dobra roupas cheirosas que ela acabou de tirar do varal lá embaixo, com religiosidade total. A reportagem ainda aponta aspectos que seriam sustentação técnica para o pedido de prisão: “Segundo o promotor, Tiririca entregou à Justiça Eleitoral declarações falsas sobre sua alfabetização e a propriedade de bens. A lei prevê que a punição no caso pode ir de um a cinco anos de prisão. ‘Pedi a condenação na pena máxima tendo em vista a repercussão social do crime e a natureza da falsificação, que foi feita para produzir uma fraude eleitoral de rumorosa consequência jurídica e social’, afirmou Lopes”, segundo a mesma Folha. A colunista Mônica Bérgamo também aborda a coisa, pendendo para o lado do palhaço: “Ainda às voltas com acusações de que não saberia escrever e por isso não poderia assumir o cargo de deputado federal, o palhaço Tiririca teve parecer favorável da Justiça Eleitoral para a aprovação de suas contas de campanha”, diz a pregoeira dos ricos da Paulicéia e do Brasil, quiçá do mundo. Em outro momento, cai no saco o que se segue: “A atuação do promotor no caso já levou a Corregedoria do Ministério Público a abrir uma investigação para apurar eventuais excessos dele na busca por uma condenação do humorista”. Enter.
“Enquanto isso, ó Maria, o crime avança no nosso saudoso Rio de nossos primeiros vagidos de amor. Os revoltosos – que o sistema chama de bandidos – estão provando por A mais B que não há mais o que os detenha, que estão de tal forma integrados e inerentes ao tecido social que não há mais possibilidade histórica de extirpá-los. Eles são o pecado essencial do sistema se manifestando de forma irrefreável. Para exterminar essa manifestação, seria necessário exterminar a origem dela, e a origem dela é o próprio corpo social... que se deixou cooptar pela malignidade do capitalismo brasileiro e carioca em especial, e agora temos um terrível corpo social duplo indissociável, como gêmeos toracópagos dotados de um só coração. Se se tentar livrar um do outro, os dois morrem, porque o coração é único... E tudo isso nos leva a perguntar o que Pilatos perguntou: ‘Quid est veritas?’, na verdade contendo, isto, o sentido oculto da percepção da decadência iminente do império romano. Mas para nós aqui, ó linda, fica a coisa na superfície mesmo. É que o chamado Congresso congrega NADA: congrega mesmo é uma caterva de desconhecidos que em nada representam o povo que os guindou a tal condição. ‘Onde está a verdade?’ Esta inversão de valores revela o erro, a malignidade presente na gênese do processo político-social, e do que decorre a sociedade entrar em processo de autofagia e de conflagração. Células em confronto mortal, em suma, quando deveria ser o oposto!”, considera Manoel chapado com o paroxismo que explode no Rio e que brevemente acabará tomando todo o território nacional como nova instituição viva. Enter.
Toca o pianista John Bunch na Jazz Radio (www.jazzradio.com) com seu trio, uma linda balada, I’ll Get By, um requinte só. Enquanto isso, no Rio, a guerra se agrava. Manoel considera fatos e conteúdos: “A população até já considera que chacinar os revoltosos – na verdade, excluídos, não propriamente marginais, mas, sim, marginalizados –, seja solução. Mas não é: é desespero de causa, e isso não traz solução. O erro vem de longe, e não há como retomar o começo e repensar o rumo, corrigindo o desvio que gerou essa desgraça toda. Aliás, isso começou a se agravar estupidamente concomitantemente à entrada da Globo no ar. Alguns lúcidos dirão que a violência se desenhou, gestou e nasceu nos anos da ditadura. Certo, mas não se pode esquecer que a Globo entrou no ar no verão de 1964/1965, e agiu contra a população de forma imensamente mais destrutiva que 20 ditaduras militares... As ditaduras do Chile e na Argentina mataram horrores, mas os dois países não despencaram em valores sociais como nós, porque lá não teve Globo, não teve a destruição institucional que esse horror televisivo detonou aqui. A explosão populacional e a deseducação intervencional chegando à piada da boçalização teratogênica via TV não poderiam ter chegado senão a essa atual desgraça, uma conjuntura em que os opostos estão caoticamente abraçados numa dança mortal e trágica!”, fala Manoel depois de constatar que a ação policial e militar deixam cair a máscara. E Maria, depois de organizadas todas as roupas, intervém. Enter final.
“Pois isso vai dar em mais derramamento de sangue, vai gerar um círculo vicioso em que o lado chamado criminoso estará cumprindo é o papel que deveria ter sido desempenhado pela chamada boa sociedade. Hoje estamos à mercê de quem? Estamos desarmados, de joelhos! As instituições foram desmanteladas todas, o marginalizado está em sua condição de opositor do regime e está armado – e ataca pra valer. E nós? Adubamos isso com nossa omissão e aceitação do cinismo desse sistema comandado por pulhas, sudras, canalhas, patifes, vilões, seja qual for a colocação política deles, que pululam nos três poderes e em tudo que cerca essa arquitetura infernal??? Somos cínicos, cagões ou pusilânimes? Cínicos são os que só almejam benefícios; cagões, os que se defecam só de pensar em assumir qualquer responsabilidade; pusilânimes, os que preferem apodrecer confortavelmente com carrão na garagem e inserção social através de planos e mais planos. Seria isso uma estrutura LEGAL???”, indaga Maria com olhos ardentes de indignação. Enter final.
“O que nos resta é a mais cínica de todas as decisões, mas é a única alternativa: ficar na moita em casa, quietos, rezando para que o ódio social não nos atinja. A corrupção já nos alvejou, mas isso acaba saindo na urina, porque lidar com pulhas à distância é suportável e superável. Mas o cinismo, em certas horas, é a saída digna, por mais paradoxal que pareça. O Brasil já era, o mundo já era. Não poderemos reverter isso. É ter fé em Deus e que venha o que vier: juntos enfrentaremos qualquer coisa”, conclui Manoel sob o olhar concentrado de sua Maria. “A nós nos resta o nosso amor e Deus, filho!”, conclui Maria. E o mundo lá fora vira apenas um pesadelo, e a paz inunda o espaço em que manda o Cristo. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té a próxima, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás, mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 932 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 483 dias também na mordaça...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Manoel e “A Corte dos Padrinhos”

Frederico Mendonça de Oliveira

“Veja aqui, ó Maria, o que saiu na tal da Veja: sob o título de ‘A Corte dos Padrinhos’, tendo como subtítulo ‘A nova corregedora do Conselho Nacional de Justiça diz que é comum a troca de favores entre magistrados e políticos’, e ainda mostrando pequeno detalhe com os dizeres ‘PROMISCUIDADE – Eliana Calmon: Para ascender na carreira, o juiz precisa dos políticos. E eles cobram a conta’, a revista dos ricos da Pindorama mostra as entranhas da atual Justiça, é de estarrecer! Estaria chegando o Armagedon??” pergunta-se Manoel, abestalhado com tamanha explicitação de desvalores. Comecemos por dar uma olhada na abordagem da matéria. Enter.
“A ministra Eliana Calmon é conhecida no mundo jurídico por chamar as coisas pelo que elas são. Há onze anos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana já se envolveu em brigas ferozes com colegas – a mais recente delas com o então presidente Cesar Asfor Rocha. Recém empossada no cargo de corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a ministra passa a deter, pelos próximos dois anos, a missão de fiscalizar o desempenho de juízes de todo o país. A tarefa será árdua. Criado oficialmente em 2004, o CNJ nasceu sob críticas dos juízes, que rejeitavam a ideia de ser submetidos a um órgão de controle externo. Nos últimos dois anos, o conselho abriu mais de 100 processos para investigar magistrados e afastou 34. Em entrevista a VEJA, Eliana Calmon mostra o porquê de sua fama. Ela diz que o Judiciário está contaminado pela politicagem miúda, o que faz com que juízes produzam decisões sob medida para atender aos interesses dos políticos, que, por sua vez, são os patrocinadores das indicações dos ministros.” Sob o impacto de tal reportagem, Manoel não pode deixar de considerar que o Brasil da cracolândia e do mensalão de repente pode dar sinais de regeneração de seus tecidos corrompidos. E apresenta para sua sempre atenta e absorvente Maria o teor da matéria da revista – que ele jamais lê senão quando é necessário executar varreduras abrangentes na imprensa sobre algum assunto que entra em cadeia. Esta Veja apareceu por acaso – ou “por acaso”, que nosso herói não é nada cego... Enter.
“Eis a bomba, quase inacreditável: a corregedora solta os pitbulls, ó linda: respondendo a uma pergunta do repórter Rodrigo Rangel, sobre terem pipocado tantas denúncias de corrupção no Judiciário, ela disparou: ‘Durante anos, ninguém tomou conta dos juízes, pouco se fiscalizou. A corrupção começa embaixo. Não é incomum um desembargador corrupto usar o juiz de primeira instância como escudo para suas ações. Ele telefona para o juiz e lhe pede uma liminar, um habeas corpus ou uma sentença. Os juízes que se sujeitam a isso são candidatos naturais a futuras promoções. Os que se negam a fazer esse tipo de coisa, os corretos, ficam onde estão.’ Então quer dizer que... bem, deixemos que fale Eliana Calmon. ‘O ideal seria que as promoções acontecessem por mérito. Hoje é a política que define o preenchimento de vagas nos tribunais superiores. Os piores magistrados terminam sendo os mais louvados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo do Judiciário’. Com mil meirinhos, ó Maria, onde estamos???”, pergunta Manoel entre estupefato e boquiaberto, a pólvora da elucidação fedendo no ar. Enter.
“Indagada sobre os tribunais superiores, para os quais o presidente da República é que nomeia, olhe o que ela solta: ‘Estamos falando de outra questão muito séria. É como o braço político se infiltra no Judiciário. Recentemente, para atender a um pedido político, o STJ chegou à conclusão de que denúncia anônima não pode ser considerada pelo tribunal (O ministro Cesar Asfor Rocha se bateu com ela nessa questão, veremos a seguir). É uma tese equivocada, que serve muito bem a interesses políticos. O STJ chegou à conclusão de que denúncia anônima não pode ser considerada pelo tribunal. De fato, uma simples carta apócrifa não deve valer. Mas, se a Polícia Federal recebe a denúncia, investiga e vê que é verdade, e a investigação chega com todas as provas, você vai desconsiderar? Isso não tem cabimento. A denúncia anônima só vale se o denunciado é traficante? Há uma mistura e uma intimidade indecente com o poder”. E Eliana Calmon prossegue: ‘Para ascender na carreira, o juiz precisa dos políticos. Nos tribunais superiores, o critério é única e exclusivamente político’. É de doer, ó linda!”, murmura Manoel, acabrunhado. Enter.
A reportagem/entrevista prossegue, e a corregedora revela ter sido promovida pela via política SIM, mas se negando sempre a agir sob pressões e conchavos. E garante que jamais teve nenhuma cobrança pesando sobre ela, mostrando que vira bicho se isso acontecer – e que, por isso, não acontece. Mas lá veio mais chumbo: avaliando a conduta dos magistrados, ela enche a boca para criticar duramente a vaidade e a empáfia que dominam a classe: “Nós, magistrados, temos a tendência a ficar prepotentes e vaidosos. Isso faz com que o juiz se ache um super-homem decidindo a vida alheia. Nossa roupa tem renda, botão, cinturão, fivela, uma mangona, uma camisa por dentro com gola de ponta virada. Não pode. Essas togas, essas vestes talares, essa prática de entrar no recinto de julgamento) em fila indiana, tudo isso faz com que a gente fique cada vez mais inflado. Precisamos ter cuidado para ter práticas de humildade dentro do Judiciário. É preciso acabar com essa doença que é a ‘juizite’”. Enter.
“O já citado Cesar Asfor Rocha é candidato a vaga no Supremo. Segundo consta, minha linda, ele estaria contra haver, na raiz de um processo que tenha passado por investigações e caudaloso levantamento de provas, uma denúncia anônima. Eliana e ele discordaram, e ela vê nisso vestígio de aliança política na atitude dele. Na verdade, onde quer que se trabalhe ou viva hoje, topamos com deformidades as mais gritantes. Veja o caso de nosso amigo Fox, um paladino da legalidade neste arraial sofrendo perseguições covardes e até criminosas, porque se colocou de forma serena mas intransigente pelo cumprimento da lei. É nojento vermos os próprios cidadãos exercendo discriminação, constrangimento e agressões de toda sorte contra um cidadão UNICAMENTE PORQUE ELE CUMPRIU SEU DEVER DE CIDADÃO!!!, ó linda!, e isso é Brasil, mas isso também é mundo, e o Cristo sabia disso!...”, conclui Manoel ressabiado. Enter final.
Maria acaba que fala: “Parece que temos mais uma mulher para mudar o rumo das coisas na Pindorama, ó Manoel... mas não é bem isso: existem as Erenices por aí. Eliana Calmon é apenas infensa a corrupção. Existem outros, e oremos para que mais e mais vão chegando os libertadores. Eles são do Cristo!...”, encerra Maria com o gato embolotado em seu colo, sob o olhar enternecido de um Manoel esperançoso. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás, mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 925 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 476 dias também na mordaça...
Postado por Frederico Mendonça de Oliveira - Fredera

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Manoel considera a Justiça e a “Justiça”

Frederico Mendonça de Oliveira

“Veja, ó Maria, que patacoada vai aflorando nos anais (êpa!) do poder constituído na Pindorama: as autoridades que deveriam zelar pelo rigor da aplicação da lei em todos os âmbitos, especialmente se são eles os autores de delitos, querem ser protegidos se flagrados cometendo esses mesmos delitos, o que dá à lei duas caras, e isso é simplesmente o escancaramento do estabelecimento de dois pesos e duas medidas no corpo da Justiça. Bem que muitos gritam que a lei é feita para os ricos, o que, a ser verdade, definitivamente não nos contempla, huahuahuá!!!”, e nosso herói, tomado de humor vertical logo na manhã da quinta-feira passada, quando viu a manchete do JB Online, come suas bananas depois de jogar outras para os sabiás, sanhaços, cambacicas, bem-te-vis, gaturamos e saíras que acorrem ao telhado da edícola para se alimentar da ração a eles carinhosamente destinada. Manoel e Maria têm o consolo de serem visitados por essas maravilhas aladas de Deus diariamente, enquanto que em torno de sua casa bestas aliciadas pela alucinação do poder pululam em festim diário da boçalidade. “Pois veja que notícia nos mandam nas fuças logo de manhã, minha linda: ‘Punição maior para juízes empaca na Câmara - Ana Paula Siqueira, de Brasília - Embora tenha sido aprovada por unanimidade pelo plenário do Senado, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê a demissão – e não a aposentadoria antecipada – de juízes que cometerem faltas graves recebeu parecer contrário na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, ontem, um dia depois que o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, Mozart Valadares, visitou o presidente da CCJ, o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS). O parecer, no entanto, não significa o fim da linha para a PEC.
Em seu relatório, Padilha considera a proposta inconstitucional por violar a vitaliciedade dos membros da magistratura. O relator argumenta que os direitos constitucionais garantem independência ao julgador. Segundo ele, acabar com a garantia da vitaliciedade abrirá perigoso precedente para que os juízes não alinhados com a cúpula dos tribunais possam ser excluídos injustamente da magistratura.’, e Manoel, depois de ler esta fala tão estranha para sua atenta Maria, diverte-se com o emaranhado de maracutaias e imperfeições que enfeitam o cotidiano de nosso deletério poder constituído. “Só falta dizerem que querem dispor de toda a blindagem possível para que sejam intocáveis, desfrutando de um rol de benefícios e favorecimentos, isso é o que aflora dessa fala desse Padilha, pelo menos para o alcance de meu pobre bestunto!, e ainda querem brecar o Tiririca!”, dispara nosso herói, enojado com a desfaçatez de entidades doentias que pululam em Câmaras e quejandos. Enter.
Mas não fica por aí a bronca santa de nosso herói. Um amigo de arraial próximo, aliás provecto jazzista e atento observador da bosta brasilis, mandou esta pérola que tem como protagonista o excelso e divinal ex-presidente do Supremo, Gilmar Mendes: “Protógenes é condenado por crimes na Operação Satiagraha: pela primeira vez na história do Judiciário brasileiro, o distinto público tem notícia de uma decisão da Justiça Federal, primeiro no PIG (Partido da Imprensa Golpista). Trata-se de uma delirante decisão (figura nisso o nome Ali Mazlun) que condenou o ínclito delegado Protógenes Queiroz a atender a vítimas de queimaduras. A delirante decisão condenou o ínclito delegado por forjar provas, espionar presidente da República e assumir o controle da ABIN com o intento mediático de se eleger deputado federal. O delírio tem um objetivo explícito de impedir que o ínclito delegado se diplome deputado federal e possa subir à tribuna para ler o que ainda não se conhece da Operação Satiagraha. A decisão delirante foi tomada por um conhecido juiz federal que se livrou de boa por causa de uma decisão suprema do ex-Supremo Presidente Supremo do Supremo Tribunal Federal. Aquele que maculou irremediavelmente a imagem do Judiciário brasileiro ao conceder em 48 horas dois Habeas Corpus ao passador de bola apanhado no ato de passar bola Daniel Dantas. Impedir que Protógenes Queiroz assuma a cadeira de deputado federal é o sonho de consumo do Daniel Dantas. Que agora, por coincidência, é o que pretende a delirante decisão publicada no Conjur, também conhecido como Estadão. Daniel Dantas continua solto. E o ínclito delegado vai ter que pensar queimaduras. Viva o Brasil!”. “Que tal, ó Maria?? Condenam o delegado que agiu contra a bandidagem e mantêm a liberdade para o notório salafra... não lhe parece algo parecido com a experiência pessoal de cada um de nós, ó linda?”, brinca Manoel diante de tão inspiradora constatação. E nosso herói logo bota pra funcionar sua bem treinada cachimônia, voltando à carga. Enter.
“Tu lembras do Protógenes, ó minha deusa? Pois bem. Quando da prisão do Paulo Maluf, anos atrás, um fotógrafo captou um flagrante da chegada da Blaser da PF, dentro da qual se viam, em primeiro plano, o motorista e o acompanhante deste. Ao fundo, ensombrecido, o rosto patético de Paulo Maluf, que ocupava o banco traseiro. Essa foto saiu em manchete de primeira página da Folha. Detalhe: o cara ao lado do motorista ostentava um boné, que tinha escrito na parte frontal, simplesmente ‘ISRAEL ARMY’. Ora porra, com mil engravatados: esse boné era apenas enfeite? Seria algum brinde que o cara exibia por esporte, por exercício de humor (negro, por sinal)? E quem seria o cara? Estaria mesmo a serviço de Israel ou apenas se dava o direito de brincar com a verdade ao usar tal boné em missão oficial? Pois veja, ó linda: anos depois, lendo uma porcaria de matéria sobre o escândalo envolvendo o filho do Tuma (parece que secretário de Justiça, coisa por aí), um que parece um cachaço, dei de cara com uma foto de um sujeito envolvido no curuquerê com o tal Tuminha, e que me pareceu MUITO FAMILIAR. Na legenda, o nome dele, veja só: Protógens Queiroz. Pensei, pensei, não matei a charada. E o dia foi indo, até que veio o estalo: ERA AQUELE DO BONÉ NA BLASER EM QUE LEVAVAM O MALUF!!! Que bosta é essa? Que cipoal emaranhado está virando o poder!” Enter final.
“Agora o mesmo Protógenes é eleito deputado federal no vácuo do Tiririca, é condenado não se sabe por que vestal (Houaiss, 2-2) do Olimpo das Divindades do Paço de Radamanto da Pindorama, e o banqueiro envolvido com sujeira braba está aí, soltinho da silva, com aquele semblante de foca distraída, foca fazendo cara de paisagem ártica. E ficamos sem saber onde entra – e por que diabos – aquele boné com aqueles dizeres ‘Israel Army’ enfiado na cuca do Protógenes naquele dia em que Maluf ingressou em curta temporada de algemas e sol nascendo quadrado”, conclui nosso herói, enquanto Maria prossegue com um olho no peixe, outro no gato, afundada em seus estudos com que a Federal a rouba de seu amado. E viva Santo Expedito! Oremos. Té pra semana, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás, mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 918 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 469 dias também na mordaça...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Manoel, Maria e o caso de amor na escola do Rio

Frederico Mendonça de Oliveira

“Veja esta, ó Maria: a professora carioca levava a namoradinha de 13 anos pro motel e rolava coisa real entre as duas. Uma outra menina de mesma idade esteve nesses encontros algumas vezes, mas jura não ter participado nem ter sido alvo de qualquer interesse da professora. ‘Só olhava’, segundo ela. Bem, e agora? Vem a polícia salvar a moralidade da ‘pátria’ e são acionadas as autoridades e instituições, incluindo programas sensacionalistas de débeis mentais explorando essa titica... e daí? Até onde esse relacionamento pode produzir danos reais à sociedade ou a pessoas?”, pergunta Manoel a sua atenta Maria, mulher de alto quilate, que avalia a questão a partir de sua consciência do universo da mulher. “Eis aí uma questão para sérios estudos, ó Manoel. A meu ver, não é caso de polícia, porque a menina está aí tranquila e manifestando sua posição de forma serena e plena de convicção. Ela diz amar a professora, e isso é digno de consideração. A propósito, sai um cafezinho aí? Faço eu?”, pergunta Maria com olhar aquilino engendrando avaliações para o aprofundamento que já começa sobre um trelelê de imprensa nestes dias de lixo. Enter.
Café perfumando a copa, Maria abre: “Vamos à investigação. Veja o que diz a menina: ‘(Menor diz amar professora) A menor X., de 13 anos, afirmou que ama a professora de Matemática Cristiane Teixeira Maciel Barreiras, de 33 anos, e que vai esperar até que ela seja solta’. Bem, isso cria uma linha de avaliação. Uma pessoa, por ser menor, não tem sentimentos? E prossegue amando quem a estupra e corrompe, como acusam os mantenedores da moralidade pública? ‘Eu continuo amando ela (sic), não vou deixar de amar pelas coisas que estão acontecendo e, se for preciso, espero até ela sair da cadeia — disse a garota’. Caraco, ó Manoel, meu coração de mulher enxerga o sentimento real dessa menina! Pelo menos por agora, enquanto não balançam, digamos, a médio prazo, por pressões diversas, a estrutura emocional da menina. Além disso, não se trata de um episódio, de um fato isolado, em que uma pessoa experimentada em seduzir conduz uma adolescente inexperiente a um episódio inesperado, marcado por confusão e imprevisibilidade, coisas combinadas a espírito de aventura e transgressão de convenções estáticas, tudo típico de juventude. Enfim, não foi um incidente fortuito, algo inopinado: as duas vinham se relacionando desde maio, ou seja, tem ESTABILIDADE NA RELAÇÃO, são no mínimo cinco meses de affair! Isso tem de ser levado em conta! A firmeza da menor desmonta o espírito dos acusadores, que a querem indefesa sob a ação de um monstro deformador!... Pensando bem – e aliás pensar bem é o que mais fazemos, e o que menos fazem os brasileiros hoje, quiçá os terráqueos em sua maioria –, essa menina de 13 anos pode ser muito mais madura emocional e sexualmente do que toda essa matilha de hipócritas ladrando pela moral pública!”, fala a linda Maria com olhar ardente, sob a indignação ainda viva de ter visto um âncora, aliás notório tipo desprezível, em programa sensacionalista de TV em que acusa a professora Cristiane de crime hediondo. Enter.
A professora, segundo notícias esparsas, foi presa em flagrante, na quarta-feira, indiciada por estupro de vulnerável e corrupção de menores. Estupro de vulnerável é uma figura penal recente, de 2009, e seu texto diz: “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”. A pena cominada para o caso é reclusão, de oito a 15 anos. Maria e Manoel se entreolham entre abismados e indignados, pois fica bem claro que a lei passa a presumir questões, sendo já em seu texto um pré-julgamento! Antes da promulgação dessa lei, a realidade era outra, como se segue: “No Direito Penal brasileiro, estupro de vulnerável é um tipo penal criado com a lei 12015 de agosto de 2009, que substituiu o antigo artigo 224 do Código Penal, que por sua vez tratava da presunção de violência. Com o novo crime, a presunção de violência passa a ser, em tese, absoluta, e não mais relativa. Enter.
“Ora, pois! Então o sentimento da menina é completamente invalidado! A Justiça, portanto, neste caso, se apodera dos conteúdos que envolvem a menina, que é, aparentemente, pelo menos, muito mais madura e lúcida que a desses guardiães da moralidade pública!...”, comenta sorridente Manoel, vendo também nos olhos vivos de sua amada a percepção da patacoada. “Pois bem!”, ataca Maria: “Esses guardiães – prefiro guardiães a guardiões; parece menos grosseiro – da moral e dos costumes não piam diante da podridão a que TODA A SOCIEDADE, SEM LIMITE DE IDADE, tem acesso através da internet. Todos podem ver tudo que quiserem, sem qualquer medida preventiva. Crianças têm, também, na TV aberta, a mais virulenta campanha diária de exibição de violência e sexo, e essas maravilhas, que brandem essa lei 12015 em defesa de uma menor mais convicta de sua posição do que eles, ficam aí arrotando, bostejando e peidando leis e padrões enquanto a menina sofre com o afastamento e com o que fazem com sua amada. Estranho, isso: parece que o que move a mãe é um tipo de ciúme, e o que move os guardiães é uma grande insegurança... e, quem sabe, bem no meio deles, rola pedofilia direto e reto, como acontecia anos atrás com aquele cônsul de Israel no Rio, pedófilo de nome Arie Scherr, que a polícia tratou de livrar de qualquer encrenca mesmo estando tudo comprovado por fotos, filmes e material em computadores... Os menores aliciados por esse cônsul não tiveram ninguém por eles. Essa lei, ó Manoel, não vigorava ainda, deve ser isso...”, fala Maria com olhar mordaz, quase sorrindo mas mantendo a linha que é seu estilo nobre de compostura fidalga lá de Torres Vedras. Enter final.
“Pensando bem, ó Manoel, é um belo romance. Esta menina deve ser daquelas como a da piada, em que uma preocupada mãe chega pra filha de 13 anos e fala; ‘Minha filha, precisamos ter uma conversa sobre sexo’; ao que a filha pergunta: ‘O que você quer saber, mãe?’. Parece que é o que acontece nesse caso: a menina deve ter maturidade muito maior que a da mãe... e deve viver com a professora uma relação muito mais real, consistente e profunda que a que presenciou entre os pais. Conheço um caso em que meninas da vizinhança, pelos dez anos, faziam verdadeiras surubas, entre bonecas e panelinhas e fogõezinhos de brinquedo... e os guardiães não enxergam isso?? Não, isso não é caso de polícia!”, encerra Maria sob o olhar feliz de Manoel e a chegada sinuosa do gato. “Vai chegar a hora em que ninguém mais vai entender é porra nenhuma!!”, exclama nosso herói sob o olhar filosófico de sua Maria, já de gato ao colo. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar que estamos sob censura desde 11/04/08, e que a restrição já vai totalizando 911 dias. Abraço pra turma do Estadão, que também atura isso há 462 dias...