sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Contrastes dentro do horror mundial
Frederico Mendonça de Oliveira
O Maluco Beleza meio que ’tava certo: diante desse mundo, o negócio é seguir a máxima anarcodemonista de Aleister Crowley: “Faze o que tu queres, pois é tudo da ‘lei’”. Quando o cara estava em ascensão, tempo em que eu tocava com ele pra me manter vivo naqueles tempos negros de Médici e Geisel, ele me veio com essa descoberta. Falava nisso a toda hora. E acredito que já tivesse começado a cheirar cocaína e beber. Pra mim parecia uma bela besteira: “Vou fazer o que eu quero, e os home me pegam, pô! Que lei é essa? Eu, hem!”, pensava com meus parcos botões, acho que o único o do cós da calça. Bem, a idéia do Crowley é buscar o prazer total, meter bronca nas drogas e sexo, cair de cabeça no rock, por aí e daí pra frente. Raul estava lançando aquela merda chamada Sociedade Alternativa. Daí a sair tocando aquele roquinho chato pelos palcos foi um pulo, e era um ossário, não um osso do ofício. Enter.
Bem, hoje ninguém tem discernimento pra abordar isso, apenas o pessoal ainda lúcido, só uma meia dúzia pode engolir e digerir o assunto. E ele sai quase integralmente pelo fiofó, porque no trajeto intestinal passa direto, por não ter conteúdos pra serem assimilados. Raul, afinal de contas, fez seu autorretrato naquela canção primária e chata, “Maluco Beleza”, modelo de composição nos moldes da classe C dos porões da CBS em que ele trabalhou como produtor. Padrão Odair José, Paulo Sérgio e quejandos, aquelas mulas transformadas em ídolos de milhões de maluquinhas paridas por um sistema já envenenado desde 1950 pelos programas ao vivo em emissoras de rádio, com as “macacas de auditório” (royalties para Nestor de Holanda) que os freqüentavam como fiéis devotas. Tom Jobim, naquele 1973 em que Raul se saiu com Ouro de Tolo, gravava Matita Perê, obra prima, enquanto o então guitarrista aqui dava suporte de rock pro baiano roqueiro. E a CIA despejava cocaína sobre nós, pra desviar a juventude de qualquer iniciativa séria. Assim fizeram nos EUA com a New Left, movimento de jovens organizados em fins dos anos 1960 para começar a peitar o stablishment. E a difusão da droga deu certo!... e aqui também. Enfim, eis que podemos dizer que o mundo católico europeu-americano foi transformado nisso: o mundo da TV, do automóvel, da matéria, do cartão de crédito, dos engarrafamentos, dos apagões, das festas rave, das balas perdidas, da economia das drogas, da corrupção, da não representatividade política, da heresia como filosofia moral e do pragmatismo amoral como estilo de vida, do desregramento crescente, do alcoolismo flagelando geral a partir da puberdade, da ação militar contra países árabes, da destruição da Natureza, das grandes fantasias em que essas coisas todas encontram apoio. Desde a II Guerra, passando por Hiroshima e Nagasaki, depois a Coréia, depois o Vietnã, depois o que já vivemos como coisa atual, tudo é suporte para a consolidação do governo central sobre o planeta. E teve a farsa do homem na Lua, e tem a farsa da propaganda por assim dizer “norte-americana” sobre tudo, submetendo os povos a mentiras estúpidas, e teve a farsa do WTC – ou você pode provar que bateu avião no Pentágono, que caiu avião em Shanksville e que aquelas implosões do 11/9 foram acidentais? – pra justificar a invasão do Afeganistão, enfim: o mundo vai de mal a pior, e isso é processo irreversível, é câncer generalizado. Não é à toa que nessa merda de Brasil imperem a corrupção, a miséria, o crime, sob os “acordes” dos braganejos multiplicados como coelhos em duplas miseráveis e sob nomes impronunciáveis como Michel Teló, Adriane Galisteu, Ivete Sangalo, Luan Santana, Sandy e outros membros da fauna dos obtusos famosos. O demônio tá aí... Enter.
E aí, pra feder mais ainda, vem o diretor Sam Bacile – nome tido como falso, normal no mundo do cinema – com o filme “A inocência dos muçulmanos”. Ele “se autoproclama judeu americano”, segundo a matéria na Tribuna da Internet. No mesmo site: “O produtor é um pastor, Terry Jones, que, recentemente, provocou confusão ao queimar exemplares do Corão. O filme, segundo Becile, custou cinco milhões de dólares, e teria sido bancado por integrantes da comunidade judaica americana”. Bem, os inimigos dos árabes são os judeus, até um vereador de arraial sabe disso. O peixeiro do Mercado Municipal do Arraial das Bagas, por exemplo, afirma isso e prova por A mais B, basta você dar ouvidos. Assustado – ou exultante – com o que o filmeco provocou no mundo árabe, o diretor sumiu. “Ele fugiu. Por telefone, de um destino ignorado, falou com a agência de notícias Associated Press. Disse que o islamismo é o ‘câncer do mundo’, e atribuiu o sangue que correu na Líbia à ‘falta de segurança’ no consulado americano”. Se não óbvio, parece obrigatório, pois lembra Pearl Harbour, lembra também os filmes que empurraram os EUA para a II Guerra: Casablanca, I Married a Nazi, Men Hunt, O Grande Ditador e outras porcarias. Enter final.
Morou? Pois pense: essa provocação, dando seqüência a outra, quando o pastor Terry Jones queimou o Alcorão – e de um outro que fez um desenho da cabeça de Maomé como sendo uma bomba com estopim aceso –, parece isca lançada no mundo árabe. E parece que colou. O Zé Simão diria que a isca era um quibe... com anzol dentro. E o embaixador americano Christopher Stevens foi pro beleléu, gancho para merda maior, e Israel pode se animar a agir... Piorou pro Irã também, um dos países árabes com maior grau de religiosidade islâmica. Logo veremos a fuça impassível e “serena” do William Waac (é isso?) ou do Bonner sério dando a notícia de ataque americano por lá. Líbia, por exemplo. “A predadora política externa americana no Oriente Médio está na raiz dos acontecimentos no Egito e na Líbia. Enquanto ela não mudar, bombas, infelizmente, explodirão numa quantidade cada vez maior”. O filme é provocação, supostamente financiada pela comunidade judaica norte-americana, como dito. Durma com essa, bem. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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