Frederico Mendonça de Oliveira
A cretinice e o infantilismo são marcas dos brasileiros, e
curiosamente isso vem sempre do Rio de Janeiro. Basta lembrar do fusca dos
meados de 1970, que aumentou suas lanternas traseiras mais uma vez – já
ocorrera um aumento na década anterior –, e que a cariocada apelidou de “fafá
de belém”, associando as lanternas aos grandiosos seios da linda cantora
belenense. Não curti essa, achei idiota, boba, pobre como humor. Mas vá. Ficou
assim. E outras tantas coisas foram criadas com esse espírito jocoso pobre,
marcando o espírito submisso e por vezes meio obtuso do humor carioca. O
próprio “orelhão” já mostra esse exercício fazendo o inusitado virar óbvio como
por encanto. Chamar prato fundo de “maracanã”, café de “chá de urubu” são
outras forçações de barra, estas atribuídas ao território da malandragem. Deste
setor veio uma fina: apelidaram bicicleta de “camelo”, por associar o guidom e
o selim às duas corcovas do incrível animal. Em Sampa, era “magrela”. E por aí
vai essa besteirada que mostra que o brasileiro, especialmente o carioca, curte
uma de bobalhão. Mas enquanto ficamos nessas bobagens o nível ainda não é
realmente incomodativo. O pior é quando ignorantes cunham termos que mais ou
menos revelam a irracionalidade dos que ousam mexer no idioma. E vamos a isso.
Enter.
A história do “sambódromo”, por exemplo. Mal escolhida a
palavra, e parece que o inventor dessa besteira foi o tão admirável Darcy
Ribeiro. Dado a festas de arromba, já corria pelos meios iniciados em drogas e
erva que o cara era turbinado em comprimidos: tomava “marcharré” (sedativo,
sonífero, hipnótico) pra dormir e “rebite” (excitante, estimulante, empurrão, ligante)
ao acordar pra trabalhar. A obra foi besta, eleitoreira, para organizar a
industrialização do samba das escolas dando-lhe um espaço exclusivo, em lugar
de fechar avenida para desfiles. O Niemeyer deu o toque de besteira ao espaço,
localizado na antiga rua Marquês de Sapucaí, colocando uma espécie de monumento
que logo foi associado à marca do McDonald’s, estigmatizando mais um monstrengo
do arquiteto comuna riquíssimo e sem qualquer ligação com povo e trabalhadores.
Na realidade, mais uma titica à carioca, revelando um imediatismo rotulatório
meio entre o burro e o brega. Coisa de poviléu assumidamente inculto. E que, a
julgar pelo “progresso” da estupidez assumida, tem garantido seu triunfo a
curto prazo, para que sejamos levados a nos esquecer de tudo que é progressivo
e mergulhemos de cabeça em tudo que é regressivo. A vírgula entre sujeito e
predicado, comparável a uma barata morta em sua salada, vai ganhando força como
regra imposta pela degenerescência, e aí está o Brasil: um inferno em franca
expansão. “Daqui DOIS anos (fodam-se as preposições, isso são preocupações de
maricas, pura frescura) estaremos recebendo as cartilhas petistas do idioma
grunhês, que já se consolida a todo vapor através da comunicação entre os
zumbis. Uga! Enter.
Caia de bunda ou de costas, você que ainda tem alguma esperança
na regeneração e reativamento das instituições, incluindo o idioma: temos agora
uma nova palavra, aliás indecente, obscena, carregada de energia deletéria: a
palavra é... “cadeirante”. Uma derivação absurda e típica da mente dos
energúmenos que compõem a quase totalidade da população desse hospício
tropical. Não se sabe qual foi o débil mental ou o vândalo – isso tem cara de
coisa de petista... – que inseriu esse conteúdo fecal no idioma, e que agora é
proferido até com certa dose criminosa de orgulho. Delinqüência intelectual
pura e simples, revelando que o sistema glandular do idioma virou esgoto a céu
aberto. Você já deve ter sacado isso: o brasileiro é um salafrário assumido, um
patife por cultura, um criminoso por escolha. Daí tamanha degenerescência
tomando conta irrefreavelmente do social. Veja só: todos os termos com sufixo
“nte”, que é uma forma nominal de gerúndio por mostrar ação constante, derivam
de verbos. Pedinte, de pedir; estudante, de estudar; mendicante, de mendigar.
Tem até “meliante”, que não deriva de verbo em português por ser palavra
espanhola, mas que no idioma de origem deriva de “meliar”, verbo, significando “fazer
mal”. Morô? Pois bem: caso existisse o verbo “cadeirar”, significaria o quê?
Viver com o toba colado no assento por escolha – sedentarismo – ou por carma –
deficiência ou quejandos –, talvez viver dando cadeiradas alhures... Bem, não
existe o verbo “cadeirar” consignado em nenhum dicionário. Então o que vem a
ser essa merda de cadeirante? O cara que está preso a uma cadeira de rodas? Se
palavras que terminam em “nte” revelam atividade e mesmo condição, têm de vir
de verbos... e significar ATIVIDADE. O cara preso a uma cadeira de rodas
pratica andar de cadeira de rodas? Ora, canalhas depravadores do idioma, dá
nojo ver o espírito degenerado que conduz suas vidas e suas “idéias”, monstrinhos!
Vão estudar ao invés de serem “poltronantes” diante dos débeis mentais que
através da telinha submetem vocês a esse estado mórbido de estupidez por preferência,
de autodestruição irracional e febril! As entidades do mal estão no comando
desse país-cloaca, desse chiqueiro de almas errantes sem perspectiva ou
objetivo qualquer! Enter final.
Então eis: o Brasil é o país dos “poltronantes” babando
diante de “ignorantes”, por isso terão inventado essa forma imoral,
“cadeirante”. Se virmos um idiota sobre um skate, ele será um “esqueitante”? E
sobre uma “bicicreta”, será um “bicicretante”? Existe o “pedante”, do italiano
“pedante”, “aquele que trabalha minuciosamente; aquele que imita servilmente os
clássicos em sua escrita”. Essa palavra não deriva de verbo, é substantivo,
como instante. Mas, se acrescentarmos
um “i”, fica “peidante”, indivíduo emissor de peidos, e daí deriva de um verbo,
“peidar”. Pode. E assim o idioma afunda um pouco mais na merda total,
estabelecendo um statu quo digno de asco, algo dantesco, atroz, imundo,
desprezível. Isso é o Brasil, meu. Mas melhorou: no arraial onde me acoito
vários ônibus foram adaptados para cadeirantes, com elevadorzinho e o escambau.
Pergunta: será que cadeirantes, quando içados, são peidantes? E viva Santo
Expedito! Oremos. Bye, babes!
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