Frederico Mendonça de Oliveira
Manoel se espanta diante do que seu amigo músico enfrenta. É um verdadeiro calvário, um enredo de vida capaz de inspirar um filme pungente e inesquecível. O mais inacreditável nisso é a completa indiferença do amigo para com a adversidade, as traições e perseguições que ele sofre, o completo descaso com que é tratado no arraial, o ódio que certos arraialeiros deformados e invejosos lhe devotam religiosamente, sem contar o vexame a que é submetido pelos filhos da ex-mulher, uma criatura viciada na deformidade de caráter, aliás traço de toda a família dessa infeliz. Sabendo o que vai no coração do amigo - a bondade, o amor ao trabalho e à pesquisa ininterrupta nas áreas da arte e da cultura, o aprofundamento no estudo da política, a devoção para com a lucidez e a ética, a paixão pela música em todos os sentidos, a intransigência para com a putrefação imposta às instituições em geral - tudo faz deste homem um verdadeiro herói da resistência, e um espírito realmente heróico não se preocupa com reconhecimento: apenas cumpre com seu dever de não vacilar na vigilância dos cânones sagrados da vida para não se deixar entorpecer jamais sob a enxurrada de merda a que todos somos submetidos diuturnamente. Enter.
Defecando e deambulando para esse inferno que o cerca e tenta submetê-lo ininterruptamente, o amigo de Manoel mostra uma fibra de titã e não se preocupa senão com tocar suas tarefas. E ultimamente estourou um escândalo envolvendo um inimigo desse amigo-irmão: um músico de meia tigela – que “se consagrou” neste país desgraçado através de astúcias e penetrações frutos de manipulações em meios corrompidos e cooptação de imbecis aboletados na máquina na música e do poder –, colega (do tipo daqueles que temos de tapar o nariz quando lidando com o tipo) de 40 anos atrás, na verdade um baita capadócio que mais se assemelha a um verdureiro ou a um vendedor de quinquilharias, deformou fatos envolvendo o nome do amigo. Já falamos disso aqui. Mas o importante são os desdobramentos aparentemente insignificantes disso, mas que revelam na verdade o grau de imundície desse arraial e dessa família que parece mais um bando de sicários e malfeitores disfarçados em seres comuns. E que desdobramentos seriam esses? Enter.
“O pior deles é o fato de os filhos de meu amigo IGNORAREM SOLENEMENTE o que fazem de perversidade explícita contra o pai. E vale revelar que sou testemunha das violências e perseguição cruel e odiosa que o pai sofreu nestes 25 anos de Arraial das Bagas, enquanto se sacrificou duramente pelos mesmos filhos que hoje continuam a lhe cuspir na cara!”, vocifera indignado Manoel, vendo esse espetáculo de desumanidade movido contra um homem "que é uma lenda dentro e fora do Brasil e cujo nome acende felicidade e encantamento em todos os rostos dos que sabem o que é música de verdade!!" Pois em conversa com o amigo dia desses Manoel ouviu dele uma colocação que lhe causou espanto e uma curiosa alegria: “Querido, se sou reconhecido na Holanda, hoje foco do mais importante jazz no planeta; se sou reconhecido nos mais brabos meios musicais norte-americanos e europeus; se meu disco é procurado no mundo inteiro como algo absolutamente ímpar realizado no campo da música instrumental brasileira; se o ‘maestro do século XX’, Gil Evans, me considerou ‘padrão de composição contemporânea brasileira’, como é que você vai querer que eu seja tratado aqui nestas montanhas? E se sou reconhecido em locais onde reina a lucidez e o culto à beleza, como posso vir a ser reconhecido aqui nestas montanhas bárbaras?”, e Manoel parou para pensar na curiosa dialética enfrentada por este amigo interessado apenas em prosseguir estudando e estudando, fazendo de sua vida uma busca quase febril de aperfeiçoamento, e contando para isso unicamente com o amor e o reconhecimento de sua linda mulher e de alguns raros amigos locais e de muitos amigos Brasil e mundo afora. Enter final.
E Manoel, encantado com a resistência lúcida do amigo, discursa animado para sua linda Maria: “Mefistófeles, Baphomet e Belfegor mais Belzebu e Babalon lutam para desviar os caminhos de meu amigo e destruí-lo, mas o amor dele pelo Cristo é de tal forma sólido e transparente que, mesmo sendo os demônios o que sabemos que são, não ganham uma dele, somente lhe dão um trabalho do cacete! E ele usa isso para crescer mais e mais, firme no leme de sua embarcação que singra mares revoltos a caminho de uma real conquista nesta existência. E, se os filhos a quem ele devotou 25 anos de devoção profunda renunciando a si próprio para viver a crueza torpe desse arraial hoje estão a serviço do ‘outro lado’ (e Manoel se benze discretamente), o amigo entrega tudo a Deus lembrando, em conversa comigo e com Maria, Mateus 13, a parábola do semeador e seu significado oculto para os infiéis. Puta merda, que cara mais gentil, Maria querida!!!” E o que mais espanta Manoel é que quando gente como Sá e Guarabyra, Marcinho Borges, Lô Borges, Nelsinho Angelo, Belchior, Gilberto Gil e outros vêm ao arraial fazer show, sempre têm palavras sinceras e ardentes de elogio e homenagens para o amigo, que fica lá quieto no seu canto e ainda permite que um filho que o desrespeita há anos esteja a seu lado para que recaiam também sobre ele as honras concedidas ao pai... E viva Santo Expedito! Oremos. Até pra semana, babes!
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