sábado, 1 de junho de 2013

“Cadeirante”, sambódromo e boçalidades que tais



Frederico Mendonça de Oliveira

A cretinice e o infantilismo são marcas dos brasileiros, e curiosamente isso vem sempre do Rio de Janeiro. Basta lembrar do fusca dos meados de 1970, que aumentou suas lanternas traseiras mais uma vez – já ocorrera um aumento na década anterior –, e que a cariocada apelidou de “fafá de belém”, associando as lanternas aos grandiosos seios da linda cantora belenense. Não curti essa, achei idiota, boba, pobre como humor. Mas vá. Ficou assim. E outras tantas coisas foram criadas com esse espírito jocoso pobre, marcando o espírito submisso e por vezes meio obtuso do humor carioca. O próprio “orelhão” já mostra esse exercício fazendo o inusitado virar óbvio como por encanto. Chamar prato fundo de “maracanã”, café de “chá de urubu” são outras forçações de barra, estas atribuídas ao território da malandragem. Deste setor veio uma fina: apelidaram bicicleta de “camelo”, por associar o guidom e o selim às duas corcovas do incrível animal. Em Sampa, era “magrela”. E por aí vai essa besteirada que mostra que o brasileiro, especialmente o carioca, curte uma de bobalhão. Mas enquanto ficamos nessas bobagens o nível ainda não é realmente incomodativo. O pior é quando ignorantes cunham termos que mais ou menos revelam a irracionalidade dos que ousam mexer no idioma. E vamos a isso. Enter.
A história do “sambódromo”, por exemplo. Mal escolhida a palavra, e parece que o inventor dessa besteira foi o tão admirável Darcy Ribeiro. Dado a festas de arromba, já corria pelos meios iniciados em drogas e erva que o cara era turbinado em comprimidos: tomava “marcharré” (sedativo, sonífero, hipnótico) pra dormir e “rebite” (excitante, estimulante, empurrão, ligante) ao acordar pra trabalhar. A obra foi besta, eleitoreira, para organizar a industrialização do samba das escolas dando-lhe um espaço exclusivo, em lugar de fechar avenida para desfiles. O Niemeyer deu o toque de besteira ao espaço, localizado na antiga rua Marquês de Sapucaí, colocando uma espécie de monumento que logo foi associado à marca do McDonald’s, estigmatizando mais um monstrengo do arquiteto comuna riquíssimo e sem qualquer ligação com povo e trabalhadores. Na realidade, mais uma titica à carioca, revelando um imediatismo rotulatório meio entre o burro e o brega. Coisa de poviléu assumidamente inculto. E que, a julgar pelo “progresso” da estupidez assumida, tem garantido seu triunfo a curto prazo, para que sejamos levados a nos esquecer de tudo que é progressivo e mergulhemos de cabeça em tudo que é regressivo. A vírgula entre sujeito e predicado, comparável a uma barata morta em sua salada, vai ganhando força como regra imposta pela degenerescência, e aí está o Brasil: um inferno em franca expansão. “Daqui DOIS anos (fodam-se as preposições, isso são preocupações de maricas, pura frescura) estaremos recebendo as cartilhas petistas do idioma grunhês, que já se consolida a todo vapor através da comunicação entre os zumbis. Uga! Enter.
Caia de bunda ou de costas, você que ainda tem alguma esperança na regeneração e reativamento das instituições, incluindo o idioma: temos agora uma nova palavra, aliás indecente, obscena, carregada de energia deletéria: a palavra é... “cadeirante”. Uma derivação absurda e típica da mente dos energúmenos que compõem a quase totalidade da população desse hospício tropical. Não se sabe qual foi o débil mental ou o vândalo – isso tem cara de coisa de petista... – que inseriu esse conteúdo fecal no idioma, e que agora é proferido até com certa dose criminosa de orgulho. Delinqüência intelectual pura e simples, revelando que o sistema glandular do idioma virou esgoto a céu aberto. Você já deve ter sacado isso: o brasileiro é um salafrário assumido, um patife por cultura, um criminoso por escolha. Daí tamanha degenerescência tomando conta irrefreavelmente do social. Veja só: todos os termos com sufixo “nte”, que é uma forma nominal de gerúndio por mostrar ação constante, derivam de verbos. Pedinte, de pedir; estudante, de estudar; mendicante, de mendigar. Tem até “meliante”, que não deriva de verbo em português por ser palavra espanhola, mas que no idioma de origem deriva de “meliar”, verbo, significando “fazer mal”. Morô? Pois bem: caso existisse o verbo “cadeirar”, significaria o quê? Viver com o toba colado no assento por escolha – sedentarismo – ou por carma – deficiência ou quejandos –, talvez viver dando cadeiradas alhures... Bem, não existe o verbo “cadeirar” consignado em nenhum dicionário. Então o que vem a ser essa merda de cadeirante? O cara que está preso a uma cadeira de rodas? Se palavras que terminam em “nte” revelam atividade e mesmo condição, têm de vir de verbos... e significar ATIVIDADE. O cara preso a uma cadeira de rodas pratica andar de cadeira de rodas? Ora, canalhas depravadores do idioma, dá nojo ver o espírito degenerado que conduz suas vidas e suas “idéias”, monstrinhos! Vão estudar ao invés de serem “poltronantes” diante dos débeis mentais que através da telinha submetem vocês a esse estado mórbido de estupidez por preferência, de autodestruição irracional e febril! As entidades do mal estão no comando desse país-cloaca, desse chiqueiro de almas errantes sem perspectiva ou objetivo qualquer! Enter final.
Então eis: o Brasil é o país dos “poltronantes” babando diante de “ignorantes”, por isso terão inventado essa forma imoral, “cadeirante”. Se virmos um idiota sobre um skate, ele será um “esqueitante”? E sobre uma “bicicreta”, será um “bicicretante”? Existe o “pedante”, do italiano “pedante”, “aquele que trabalha minuciosamente; aquele que imita servilmente os clássicos em sua escrita”. Essa palavra não deriva de verbo, é substantivo, como instante. Mas, se acrescentarmos um “i”, fica “peidante”, indivíduo emissor de peidos, e daí deriva de um verbo, “peidar”. Pode. E assim o idioma afunda um pouco mais na merda total, estabelecendo um statu quo digno de asco, algo dantesco, atroz, imundo, desprezível. Isso é o Brasil, meu. Mas melhorou: no arraial onde me acoito vários ônibus foram adaptados para cadeirantes, com elevadorzinho e o escambau. Pergunta: será que cadeirantes, quando içados, são peidantes? E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

André Mehmari, gênio brasileiro do piano, é escorraçado de graça

  •   Régis Tadeu denuncia selvageria de jovens contra pianista que ousou tocar Ernesto Nazaré para público de Michel Teló... e na mira do autor entram os que dormem enquanto seus filhos chafurdam na degenerescência e na violência gratuita

     

     

    Ignorância e falta de educação são as marcas de uma geração de adolescentes

    Caso você não o conheça, vou apresentá-lo. André Mehmari é um dos maiores pianistas do Brasil atualmente, um músico/arranjador/compositor/multiinstrumentista que tem como principal qualidade, além de sua técnica primorosa, o trânsito fácil e livre que consegue estabelecer entre os universos da música erudita e da música popular brasileira e o jazz. Ele chegou a vencer um Prêmio Visa de MPB Instrumental e vários concursos de composição erudita, já tocou ao lado de grandes cantoras como Ná Ozzetti e Mônica Salmaso, e tem seis discos lançados, todos excelentes. Você pode assistir abaixo dois exemplos desta competência instrumental:
    Bem, feitas as apresentações, vamos ao motivo que me levou a escrever a respeito dele hoje, mais precisamente, a uma terrível experiência pela qual ele passou e que dá bem a medida dos tempos em que vivemos hoje. Peço permissão para colocar abaixo o texto que ele escreveu em sua página no Facebook. Leia com atenção, por favor...
    “Há uns dias participei como
    Bem, feitas as apresentações, vamos ao motivo que me levou a escrever a respeito dele hoje, mais precisamente, a uma terrível experiência pela qual ele passou e que dá bem a medida dos tempos em que vivemos hoje. Peço permissão para colocar abaixo o texto que ele escreveu em sua página no Facebook. Leia com atenção, por favor...
    “Há uns dias participei como convidado especial de um projeto musical educacional, para jovens de escolas públicas, de 10 a 12 anos, aqui perto de São Paulo. Levaram uma ótima banda, fizeram um roteiro bem bolado e caprichado com atores de primeira, e na segunda parte, a pedido da produção, entrei no palco, feliz da vida para falar de (Ernesto) Nazareth e anunciar as canções que se seguiriam.

    Ao som de berros e injustificáveis vaias irracionais, ouvi toda sorte de grosseria: ‘sai daí, filho da puta!’ ‘Vai tomar no ...!’, Vai se f....!’
    Fiquei um tanto cabisbaixo, mas segui quase firme. Com muito orgulho, falei um pouco desta música. Acompanhado por um supermúsico amigo - o percussionista e compositor Caito Marcondes -, toquei desconcentrado e ainda estupefato uma suíte de maxixes ‘nazarethianos’ abraçando uma ária de opera. É, eu queria falar para eles desta coisa bonita da Musica, de não ter fronteiras, a não ser na cabeça de medíocres e preconceituosos.
    Mas a fronteira ali estava tão antes de qualquer pensamento, de qualquer diálogo. Tudo tão aquém de qualquer desenvolvimento, que abaixei a cabeça e levei mecanicamente a apresentação até o final, acreditando que se tocasse para um único par de ouvidos férteis naquela plateia de 600 jovens pessoas já teria valido meu esforço, minha confiança na vida.
    Sei bem que educação é sempre desafio e que o Brasil encontra-se muito longe de ter estrutura e pessoal adequado.
    Meu apelo aqui fica para os pais, que acreditam que a educação de um filho se dá na escola. Ela se dá principalmente em casa, neste nível fundamental da formação do caráter de um ser humano. Não coloquem filhos no mundo se não estão aptos e dispostos a dar uma formação cuidadosa e apaixonada a estes novos seres.
    E estou farto deste discurso politicamente ‘soft-new-age-correto’ e praticamente inefetivo, de aceitar tudo e botar panos quentes em tudo que um jovem faz e diz. Acredito que ele tem consciência de seus atos e cabe aos mais experientes apontar problemas, olhar esta turma como nossos semelhantes que, em poucos anos, estarão ocupando importantes cargos e funções.
    Educação é invariavelmente feita com amor e dedicação e estas são responsabilidades primordiais dos pais, depois da escola e da experiência. De qualquer maneira agradeço a oportunidade de tocar para aqueles jovens, mesmo tendo sofrido agressões que me ofenderam. Sei que aqueles que ouviram saberão me agradecer no futuro. E estarei plenamente recompensado e tranquilo!”
    Quem acompanha o que escrevo neste honrado espaço sabe bem o que penso a respeito desta molecada nos dias atuais. Para quem não sabe, vou repetir numa boa: salvo raríssimas exceções, toda uma geração de adolescentes brasileiros se transformou em uma manada de asnos!
    É isto mesmo o que você acabou de ler. Sem tintas douradas ou palavras suaves. A realidade nua e crua é exatamente esta. Quem é pai ou mãe sabe exatamente o que quero dizer. Nos dias atuais, professores se transformaram em seres com nervos em frangalhos, com o espírito esgotado e abalado por terem que lidar com pequenos bucéfalos, precocemente empurrados para a vala da ignorância por causa do meio em que vivem, seja a família, os amigos e até mesmo a própria escola.
    Meninos e meninas são capazes de sugar o bom humor de quem quer que seja, tão rapidamente quanto as palavras ásperas, os gritos e a violência verbal que emanam de suas bocas sujas e cérebros já necrosados. Conversando com professores, a opinião é unânime: sala de aula é hoje um lugar onde reina a insanidade. Capacidade de cognição e momentos de sensibilidade por parte destes adolescentes é visto como um autêntico milagre de natureza divina.
    E quero deixar claro: isto não tem nada a ver com classe social e poder aquisitivo! Há uma horda de adolescentes cretinos milionários, ricos, pobres e miseráveis. A burrice e a falta de educação não fazem distinção.
    O que aconteceu com o talentoso pianista André Mehmari em um teatro municipal de Campinas, mais precisamente no bairro da Vila Industrial, é sintomático da total falta de educação e bons modos de toda uma geração. Basta dar uma olhada no meu perfil do Twitter para ver a quantidade de ofensas pesadas – e que se multiplicam como moscas – toda vez que escrevo a respeito de ídolos musicais desta garotada sem cérebro. Palavrões cabeludíssimos escritos por meninas que sequer tiveram a sua primeira menstruação e meninos que nem conhecem o significado do termo “punheta”. Dá vontade de fazer vasectomia no dia seguinte...
    Infelizmente, a escola não é mais capaz de propiciar aquela camada de civilização que complementava a educação familiar. Basta ver a quantidade de vídeos que inundam o You Tube com cenas de violência contra professores, colegas de classe e funcionários para sacar que toda uma geração de jovens já encara o seu semelhante como um rival, um adversário a ser derrotado de qualquer maneira, nem que seja preciso ir armado para as aulas. O fato de nenhum destes pequeninos monstros não reconhecer a autoridade no ambiente escolar é o retrato inequívoco da falta de autoridade dentro de casa. Não reconhecer isto é negar a existência de qualquer parâmetro de civilidade.
    E há outro problema, tão sério quanto este: a superficialidade imediatista que vê sendo imposta a todos nós diariamente pelos meios de comunicação. Em um País que teoricamente prima pela “diversidade”, cada vez mais somos esbofeteados por estratégias de marketing desenfreadas, que tentam nos obrigar a tomar a cerveja “X”, vestir a roupa “Y” e comprar o carro “Z” para que ninguém se sinta... diferente! É o fim da picada!
    Precisamos acabar com este papo de que “povo não gosta de cultura e arte”, que vem nivelando a programação das emissoras de TV e rádio a níveis abaixo do rasteiro. Temos que acabar com esta conversa de que “tudo é arte”, disseminada por pseudointelectuais de padaria, que defendem a ideia de que as classes menos favorecidas intelectualmente produzam a sua própria “cultura” e deixem de olhar para o passado ou para outras vertentes de informação e conhecimento. Para estes palhaços com pinta de sociólogos da PUC, tudo bem que isto resulte nos “Naldos”, “Lek Leks” e “quadradinhos de oito” da vida, pois é “cultura de um povo”. Cultura uma ova!
    Ah, o nome do tal projeto do qual André participava chama-se Ouvir Para Crescer. Que ironia nauseante, não?
    Saiba mais »de Ignorância e falta de educação são as marcas de uma geração de adolescentes