terça-feira, 11 de junho de 2013

Escatologia à brasileira...



Escatologia à brasileira...

Você pode chorar de pena, aliás peninha, pelo que vou declarar: NÃO AGÜENTO MAIS A CARA DO GIANNECHINI SORRINDO encostado numa parede, de braços cruzados, cabelo recuperado, olhando para mim com aquela figura de esplancnocrânio. Puta merda! Que é que eu tenho a ver com esse cara?? O que ele apresentou até hoje para figurar na mídia e ser esfregado diariamente em nossas fuças? Além de o cara integrar o “olimpo” das bestas, nada nele ou dele me interessa, e não sei por que tenho de vê-lo TODO SANTO DIA! Tem dó, sô! Na verdade, nem sei o que o cabra faz; só sei que é ator global e fiquei sabendo do auê em torno do câncer linfático enfrentado por ele, deu pena etc. Mas daí a ser obrigado a ver o tipo sorrindo onde quer que eu vá, isso é invasão de privacidade, pois até em bunda de cachorro de rua tá o cara lá sorrindo... Não é mesmo, ô meu? Enter.    
Outra escatologia: você deve estar observando o crescimento desordenado daquelas máquinas sonoras de cariz teratológico, aqueles carros de passeio com sistema de som ultrapoderoso que andam pelas ruas despejando algo assemelhado a música mas que de música tem muito pouco ou nada. Dentro do carro, normalmente só o motorista, normalmente adolescente, normalmente magro, freqüentemente de boné, atual símbolo da estupidez consagrada. E passa aquilo despejando som deletério, a concretização do que se passa dentro do tipo assemelhado a um ser humano. Se isso é curtição, é do tipo autodestrutivo. O “mano” dado a essa “atividade”, na verdade, é sempre um tremendo malaco, daquele modelito que desenvolveu uma atrofia das pernas e uma hipertrofia da caixa torácica no sentido vertical, triplicando o número de costelas. Ele ataca os ambientes impondo sua presença insuportável para seres ainda dotados de senso de equilíbrio. Uma das intenções “lúdicas” dessa prática, por exemplo – vejam só – é disparar, sob o potente som de graves, alarmes de outros carros por onde o veículo emissor de sonoridade agressiva, que podemos chamar também de caganeira sonora, passe. Isso é de lei para eles, abalar tudo através do percurso aleatório que esses zumbis realizam. Enter.
E que tal jogar fora sua TV? Pra que serve ela? Ajuda você em quê? A nhanhar melhor depois de ver as obtusas produzidas emanando progesterona em novelas deformadoras e que devem espicaçar desejos escusos nos casais que vivem juntos sonhos separados que não podem revelar de modo nenhum um ao outro? Será que o do pirulito olha pra sua boneca doméstica viva com outros olhos depois de ver as tipas da TV exalando provocação em tudo? E será que encontra entusiasmo pensando nas atrizes enquanto nhanha com a fixa? E a fixa? Será que se lubrifica melhor quando fornece o xibio pensando no... Giannechini (vá... agora até cabe botar o cara em foco)? E tem a coisa de bundas e coxas e mamás e periquitas esfregados na fuça do otário 24 horas por dia, seja em anúncio de cerveja, seja em programas de Gugus, por exemplo (não me ocorre mais nada além desse idiota vazio, não vejo TV há uns dez anos...)? Que acha você? É isso aí? Ou é algo diverso, do tipo: “Ligo diariamente a TV para me informar da realidade e para aumentar minha capacidade intelectual e minha cultura”? Pode ser? “Você decide”, glosando aquilo que já foi nome de programa global, parece, apresentado por um daqueles tipos sempre meio absurdos que mostram as coisas de pé, terno e gravata, falando sem saber onde enfiar – ou como gesticular com – as patas superiores. Você nem deve lembrar, porque isso é coisa para passar por dentro de sua cabeça e sair sem deixar vestígio, o que funciona é apenas ocupar o aparelho que Deus inventou para que você pensasse, mas isso de pensar deve lhe enfadar... e a TV é feita para isso. Pra você desligar seu maldito cérebro, essa bosta que só lhe dá problemas e dores de cabeça... Não é por aí? Ah!, aposto dez fardos de Bohemia em você preferir mil vezes desativar sua “máquina de pensar” a fazê-la funcionar... Enter.
É isso: os antípodas se atraem. Assim como comeres, por exemplo, assim será sua defecação. Ou em outras palavras: sua comida e seu cocô são diretamente complementares. Tem aditivos, como as cornetadas nada olorosas, que saem por baixo, e as eructadas, normalmente não odorizadas, e essas duas adições ao que podemos chamar de percurso pelo “canal mestre” de que falou Cervantes em sua La Gitanilla costumam causar quequequés, o que, no frigir dos ovos, as torna positivas. No mínimo, desopilantes, o que já ajuda bastante em meio a essa escatologia real que é o Brasil atual. E fica visto que, embora olimpizadas pela exposição glamurosa – para os otários, óbvio – de Giannechinis, Galisteus e quejandos na teleca, as cacatuas não escapam: o cocô é uma instituição irrevogável. Por mais douradas que sejam as antas globais, nada as livra da sentada humilhante para solene apresentação diária de croquetes fumegantes e, claro, pestilentos, mefíticos, catinguentos. Não há como estrelizar a cagada e também não há como incorporá-la às cenas das novelas estúpidas tão bem ambientadas pela Globo para a imbecilização geral. Tenho até uma proposta pra você: quando estiver assistindo, como “bicho de feno e canga”, a alguma cena, seja de amor, seja o que for, pense em cocô. Croquetes, bombons, toletes, cabritadas, despejadas líquidas, troços (ô) morenos, pálidos, esverdeados ou cor de café, pense naqueles versos de banheiro público: “Neste lugar solitário /toda vaidade se apaga/ Todo covarde faz força,/ todo valente se caga”. Ou, com mais imaginação: “Marmiteiro! Trabalhador! Bom amigo! Bom irmão!/ Ao cagar não faça força/ pra descer o toletão!, pois podem cair as tripas!/ Cague calmo, garotão!”. Poesia escatológica? Pois, seja o que for, acho melhor que todo um capítulo de qualquer novela das nove na Globo... Enter final.
Essa última citação poética figurava na parte interna da porta do banheiro da EMI Odeon da Rio Branco. Jamais esqueci, até porque isso me causou muita hilaridade saudável. Quando eu enfrentava as gravações lá, e se tinha de ir ao banheiro, sempre saía dele melhor do que quando entrara. E chega por hoje. Minha cachimônia já deu o que tinha de dar por agora. Vamos pra rua peitar a ditadura! E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, meu!