Frederico Mendonça de Oliveira
“Ó Maria, tu viste o que fizeram com os barcos de ajuda humanitária que tentavam chegar a Gaza?? Um comando israelense atacou a frota e matou um tanto de civis desarmados, uns falam em nove, outros em 19. Onde vai parar essa desgraceira de horrores no Oriente Médio?”, exclama interrogativamente Manoel para sua linda Maria, afundada em suas pesquisas de faculdade. “O mundo inteiro está abestalhado e indignado com tamanha monstruosidade, e olhe que isso ocorreu em águas internacionais! Estaremos chegando ao despedaçamento final?”, vocifera Manoel ao ver as notícias e reações generalizadas de repúdio a uma agressão de tal dimensão, e contra um grupo que participava de uma iniciativa humanitária, como TODA a imprensa mostrava. Mesmo perdido no Arraial das Bagas, nas montanhas do Sul de Minas, nosso herói acompanha o que rola pelo mundo e sonha com a cessação da barbaridade no Oriente Médio. Enter.
“Bem, a Humanidade está sendo transformada em algo muito feio, o contrário que um dia pensáramos que seria. Estão todos burrificados, alienados, coisificados, todos viraram zumbis, tudo parece irreal, basta ver do que é capaz uma vizinhança antes pacata no que se conflagra em defesa de uma idéia espúria lançada por um aventureiro do setor white neckband... de uma hora para outra caem as máscaras, e nos vemos diante de seres perversos, primários, assemelhados a primatas de porrete na mão, seres desalmados e grosseiros, tirânicos, cegos de ódio, e tudo isso estava oculto em sorrisos de cordialidade durante anos... e ninguém de bons instintos imaginaria o que aqueles sorrisos tinham de falsidade e maus instintos ocultos!”, cogita Manoel consigo, para não interromper a profunda concentração de sua amada. “O que os israelenses praticaram contra o comboio foi simplesmente ódio, um ódio profundo e milenar, que cheira a massacres! E esse mesmo ódio aflora de seres ignaros, boçais, que posam de gente evoluída mas que não passa de um bando de andróides falantes – e falam como o rabo deles, embora haja alguns glúteos contempláveis nesse meio corrompido, mas esses glúteos não salvam a fala de suas portadoras – e de uma legião de aspirantes às benesses da corrupção!”, e Manoel pára pra contemplar o gato que incomoda Maria subindo no laptop em que ela escreve, e ela não se aborrece, até se diverte e aproveita para confraternizar com o lindo bichano. Enter.
E eis que o assunto do ataque covarde e criminoso, aliás hediondo, não sai da mídia desde o início da semana, e a igreja católica não aborda, nesse Corpus Christi, a monstruosidade daqueles que negam o Cristo. Aliás, a Igreja não se posicionou contra 1917, mesmo tendo sido massacrados milhares de sacerdotes católicos quando da ascensão do bolchevismo. A negação de Deus e da família, a implantação de um materialismo que pretendeu vencer a Natureza, a violência de Estado nos negros tempos de Stálin, o massacre de mais de 100 milhões de não simpatizantes desde 1917 até hoje, o massacre, quando da instalação do regime bolchevista, de quase sete mil sacerdotes, de 6.776 professores, de 8.500 médicos, de 54.850 oficiais do Exército, de 260 mil soldados, de 150 mil oficiais da polícia, de 48 mil gendarmes, de 355 mil intelectuais, de 198 mil trabalhadores, de 915 mil camponeses, tudo isso foi inexplicavelmente ignorado pela Igreja, deixando livre o caminho para o avanço do regime mais estúpido desde que a Humanidade superou a era das invasões de bárbaros. Afinal, o que significa o Vaticano com toda a sua opulência? Nada, pelo visto, a não ser a opulência em si, e um grande desejo de viver desfrutando da glória decadente da Igreja Católica Apostólica Romana, e quanto ao resto, como disse o Brasa alçado a Rei na ditadura tupiniquim, “que tudo mais vá pro inferno!”... Enter.
“Ó Manoel, vê se me ajudas aqui com este gato!”, solicita Maria entre risadas divertidas enquanto o bichano fica tentando dar bofetõezinhos nos dedos dela, que tentam escrever no teclado do laptop. O lindo gato vai a contragosto para o colo de nosso herói, enquanto Maria se diverte relatando o que o gato estava aprontando. Sabedor das coisas de seu félix, Manoel o atrai para dentro de uma caixa de papelão e o faz envolver-se com um bastão atravessado no teto da caixa até o chão desta, e eis o lindo animal às voltas com o bastão, e Maria ainda sorrindo volta a seu estudo, e Manoel vai dar uma olhada nos noticiários eletrônicos, e eis que logo ele depara com loucuras novas sobre o horror de Gaza, e fica perplexo com verificar que a estupidez de Lula já ganha espaço para gozação desrespeitosa na mídia internacional, e eis nosso herói suspirando de ver o Brasil agora transformado em alvo de achincalhe no Oriente Médio, na Alemanha, no Oriente Médio. A lógica do discurso cretino de nosso “representante” despertou a consciência sobre o ridículo que é um imbecil ser presidente de uma nação que já assombrou com a Bossa Nova, o Cinema Novo, com nossa literatura e nossas artes plásticas, até com nosso futebol, contemporâneo da Bossa Nova, pois fomos campeões do mundo em 1958, ano de lançamento de Chega de Saudade. E Lula mal sabe disso, é um ignorantaço de carteirinha, um grosseirão sem modos à mesa, um ébrio sem freio, um apedeuta exibido e sem compostura, um tipo histriônico esquecido pelo etil de sua responsabilidade de pelo menos ser figurativo sem tentar figurar. Enter.
E aí a coisa fedeu. Manoel admite serem absolutamente procedentes as sacanagens sobre esse caipiraço que não se enxerga, e abre um vídeo em que aparecem israelenses fingindo entrevistar o “presidente Lula”, e disso decorre um verdadeiro ultraje a nossa dignidade, e o pior é que TEM COMPLETO FUNDAMENTO. A tristeza é ver quanto trabalho tivemos em nossas vidas, quanto trabalho estão tendo nossos irmãos brasileiros dignos e como tudo isso vira bosta, como disseram Rita Lee e Moacir Franco, quando justamente o partido que se dizia dos trabalhadores assume o poder e transforma o País num caldeirão de um Hulk, com aquela cara patética sorrindo pra nós! “Pela primeira vez na vida concordo de cabo a rabo com israelenses”, rosna surdamente nosso herói, que chama sua Maria para que ela constate o ultraje presente no vídeo dos eleitos. Ficam ambos abestalhados diante do pesado achincalhe, conscientes de que nada pode contestar o que está mostrado, e que pela primeira vez se faz justiça a este bufão metido entre chefes de Estado e querendo se meter em assuntos de gravidade que ele nem sonha alcançar. Enter final.
“E o Obama, que não passa de um Lula refinado, como considerou milha linda, dizendo que ‘Lula é o cara’! Ora, querem saber de uma coisa?? Vou tomar uma atitude verdadeiramente eficaz!” E, sob o olhar ensolarado de sua Maria, que sorri toda, Manoel abre a geladeira e tira uma garrafa branca (de tão gelada) de cerveja, e a palavra final é: “Fazer o qüê, ó Maria??”, e a paz de sempre brilha no lar de nosso herói, agora aplacado pelo pão líquido que nos faz ficar ricos só de destampar a garrafa e deitar o líquido na taça. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar que estamos sob censura desde 11/04/08, a restrição já vai totalizando 787 dias. Abraço pra turma do Estadão, que também atura isso há 308 dias...