terça-feira, 20 de julho de 2010

Manoel e “o velho que odeia crianças”

Frederico Mendonça de Oliveira

“Ó Maria: começo a acreditar que o fim começou, e um estopim disso é este arraial infeliz!”, revela Manoel depois de saber o que a vizinhança de seu amigo músico vem fazendo há quase três anos contra ele. “Eu sei, nós sabemos, do ódio social explodindo no Rio, por isso viemos para estas montanhas afastadas; mas nunca pensei presenciar aqui um ódio maior e pior!! Se no Rio a transgressão chegou ao que chegou, pelo menos existe o argumento da existência crescente de morros e do tráfico, dois pilares da desgraça instituída na outrora Cidade Maravilhosa. Mas aqui??!! E isso partindo de autoridades, de moradores de classe média, esse ódio contra um cidadão que apenas questionou uma obra irregular, sem tomar nenhuma atitude senão denunciar na imprensa um ilícito público envolvendo todas as autoridades do arraial?? Caraça, ó Maria!, isso é uma horrenda manifestação de índole deformada coletiva!! Os que perseguem nosso amigo deveriam agradecer a ele por ter tido a decência de agir como cidadão em defesa da lei, mas fazem o oposto: movem perseguição cruel, perversa, agem como um bando de hienas atacando um homem pacato e ordeiro, movem ódio patológico, ódio apaixonado, ardente, perseguem por prazer, por malignidade de espírito, agem como fariseus sem entranhas!!!”, desabafa Manoel com sua amada Maria, que o ouve atenta e contristada. Enter.
“Pois é, ó Maria: das poucas vezes que estive na casa de nosso querido amigo verifiquei a existência de uma campanha doentia e, a meu ver, letal. A figura central dessa monstruosidade tentará, no entender de todos que acompanham perplexos o desenrolar da quase demência, levar nosso amigo à loucura ou a cometer alguma insanidade. Pois mesmo pondo a mão no fogo por ele, estou temeroso, porque a mobilização é sem trégua, um inferno que não tem hora, é de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, e rola de tudo, desde tentativa de agressão por parte de um policial até o cara ter sua casa bombardeada a tijoladas por um vizinho, parece que sob efeito de crack, tamanho o teor de ódio que o cara, sem mais nem menos, sem motivo qualquer, manifestou quando do episódio. Nosso amigo deixou as marcas dessa agressão lá, justo como quando acabou o ataque. E é assim: quando lá estive presenciei de tudo, de gente jogando futebol na área a encontros de adolescentes bebendo e se drogando em orgias e arruaças; de senhoras fazendo piquenique enquanto crianças se esbaldam em gritarias e algazarra a babás e mães fofocando e levando crianças a provocar nosso pobre e indefeso amigo, tudo ocorrendo ininterruptamente; de estranhos sentados nos bancos e todos fixando a casa do amigo a moradores – poucos, não chegam a cinco – do entorno administrando 'a praça', garantindo a invasão do espaço reservado a preservação ambiental e transformando-o em local de chacrinha e alimentando litígio, direto. Além disso, as autoridades do arraial responsáveis pelo ilícito ainda mandam para o local varredores que impedem o crescimento de vegetação que não a já existente, e é realizada varrição na área, que tem muito espaço de terra batida, o que configura crime ambiental explícito. Já viste algo assim, ó Maria??”, conclui Manoel, indignado, revoltado, incrédulo. Maria balança positivamente a cabeça, a face tomada pela perplexidade. Enter.
Pois o crime não fica por aí, segundo avalia nosso herói: “Ó Maria, se os adultos de mente deformada e carregados de frustração e ódio resolvem mover perseguição a um indivíduo que destoou da corrupção generalizada, seguramente agindo, esses infelizes, para dar vazão a instintos bestiais que ocultam por conveniência ou covardia, isso é uma coisa! Mas levar crianças a odiar e perseguir um cidadão pacato e ordeiro, incutindo nelas o germe do ódio, da covardia, da injustiça e da corrupção moral, isso é infernal, é demoníaco. E que pode ele fazer? Foi impedido de tudo, desde falar na Câmara denunciando a irregularidade que mancha a história do arraial até poder chegar a qualquer instância de poder ou denunciar publicamente a monstruosidade! A vizinhança tem dois moradores vigilantes para, em qualquer eventualidade ou oportunidade, abrir fogo sobre o pobre, e isso já rompeu de muito tempo a barreira da imoralidade e da crueldade, já se constitui de sadismo ignóbil, já virou uma perseguição mortal, já virou uma causa odiosa de extermínio. E de onde vem tudo isso? Seria espontânea a obsessão com que os envolvidos na perseguição se utilizam do espaço para a prática de uma delinquência apoiada senão instruída por autoridades? Na verdade, quem começou a usar crianças para esse fim abjeto hoje está oculto na história, tendo passado a bola para seus cruéis e desumanos sequazes, a quem parece causar prazer indizível fazer funcionar à risca tão hediondo projeto! Enter.
E Manoel relata novidades no enfrentamento do amigo. “Estava eu lá ontem à noite, minha linda, quando uns dez molecotes de classe média, acompanhados e conduzidos por uma senhora de seus quase 60 e outra mais jovem, se instalaram sob a porta da cozinha do amigo, alguns sobre uma árvore que permite a visão interna do quintal, e ficaram promovendo gritarias furiosas, algazarra insuportável de provocação, e quando olhei por sobre o muro e eles perceberam meu rosto entre os vasos, ouvi dizerem “Olha lá o velho que odeia criança!”, isto sob o olhar complacente da coroa que os comandava. Além de nojento, asqueroso, vil, isso é criminoso, e pode-se perceber perfeitamente a orquestração e o maestro por trás do horror. Se isso se compara a um relógio, 'tem de haver o relojoeiro', como considerou Voltaire... e o relógio funciona como o relojoeiro quiser, ó linda!” Enter final.
“Meu amigo parte por alguns dias para um evento na capital onde será homenageado por seu real valor, e tudo isso fica aqui, incubado, gerando enzimas letais e sintonias deletérias para os que movem tal desgraceira. E ele é de uma serenidade inacreditável, impressionante. Mesmo ferido, mesmo com ferida aberta e sangrando, não perde sua paz interior, e ainda manifesta preocupação quanto ao futuro tenebroso que espera essas crianças infelizes. Segundo um amigo dele, 'o crack é destino bem provável aos que desde cedo são envolvidos em ilicitudes e ações escusas, de delinquência'. E ele teme pelo que virá, porque tudo isso piora o mundo e gera infelicidade e crime. E, porque vive em harmonia com seu talento e sua obra tanto artística como humana, ei-lo triste pelo que espera essas iscas de um projeto criminoso pelo qual ninguém se responsabiliza. E, pior: não afasta a hipótese de um dia vir a ser assassinado, para satisfazer a sanha de quem dele quer se vingar a qualquer preço. É um quadro entre formidável e aterrador. E ele apenas tem pena desses deformados, homens e mulheres não só sem amor no coração, mas que se empenham em semear ventos! E usando crianças como instrumentos para liberar sua bestialidade. Vai ver, essa gente não goza. Reich explicaria...”, conclui nosso herói com tristeza. E viva Santo Expedito! Oremos. Inté, babes!

Ah! Vale lembrar que estamos sob censura desde 11/04/08, a restrição já vai totalizando 816 dias. Abraço pra turma do Estadão, que também atura isso há 357 dias...