quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Manoel, a pizza e a vizinhança deformada

Frederico Mendonça de Oliveira

Por algum tempo, e impelido pelo fato de nutrir asco profundo pela imagem repulsiva de José Sarney, Manoel andou seguindo os jornalões on-line pra ver se esse refinado delinquente engravatado ia mesmo começar a amargar seu ostracismo sob pesado e justificadíssimo opróbrio e mergulho em desgraça pessoal e política. Pois as coisas foram esquentando contra o biltre, deu-se o episódio de um desembargador impor censura ao Estado de São Paulo impedindo o jornal de prosseguir denunciando o filho do sujeito, também encalacrado em falcatruas homéricas, e eis que veio a virada. Depois de o Estadão fixar em primeira página uma imagem reunindo o tal desembargador mais duas mulheres, mais um qualquer lá, mais o Sarney e mais aquele senador trêfego do caso dos bois e da secretária que depois posou nua pra Playboy, o peralta descarado Renan Calheiros, o jogo virou. Aliás, que turma! Só Sarney e Calheiros têm broncas metidas em corrupção que somadas dariam mais de 500 anos de prisão! E ficam aí, posando sorridentes para a macacada trabalhadora que lhes sustenta o vidão e recebe de volta nas fuças os escândalos de um processo político de corrupção que já virou o estado de coisas político irreversível no Brasil. Parece até que a turma gosta disso... Pois eis que, depois de mais de semana acompanhando o agravamento da situação do bigode mais escroto de nossa história – tanto que inspirou a figura de Justo Veríssimo, aquele político louco idealizado por Chico Anísio –, eis que, depois do apoio do governo ao corrupto e além da censura imposta ao Estadão, rolou o pior: inacreditavelmente desapareceu dos jornalões o assunto Sarney, e Manoel ficou a ver navios! Pizza!!! “Só mesmo no Brasil!! Só mesmo nesta terrinha terminal!!!”, bufa e resfolega Manoel em surto de indignação! Enter.
“Pois não mais me verão tentando acompanhar qualquer assunto político em jornais de merda!”, impreca nosso herói, desligando o computador e indo ter com sua linda Maria, a quem relatou a constatação e que de pronto respondeu: “Pois é por isso que você não me vê mais interessada em nada de política, e nem só no Brasil! Acabou-se tudo! Tudo! Só nos resta vivermos cada um para si e um para o outro, o resto acabou-se!”, ao que Manoel sente grande emoção estética, vendo a linda fisionomia de santa indignação de sua Maria... e nosso herói pensa em sua arte, que não tem mais público, em sua cultura tão apaixonadamente adquirida e que hoje é absolutamente imprestável em meio a essa miséria mental que reina aqui e alhures, e só lhe passa pela cabeça uma atitude a tomar: uma cerveja bem gelada para aplacar sua indignação, enquanto Maria prossegue cuidando religiosamente do lar, com cuidado mitológico para com cada detalhe, com carinho e dedicação que só se encontra na mais refinada literatura. As formas lindas ganham mais beleza ainda nessa atividade... Enter.
Pois para engrossar a tremenda sopa de sapos que nosso herói vai engolindo, eis que a vizinhança, histérica para com o novo espaço de lazer criminosamente criado no bairro por uma autoridade da linha Sarney e Renan, e que aliás promoveu prevaricação, deformação, corrupção, litígio e desordem pública sendo regiamente pago para justamente agir em defesa da justiça, resolveu promover também o estado de desobediência civil praticando ostensivamente a perturbação do sossego no entorno da obra maligna. E Manoel só pode contemplar com nojo e engulhos os desgraçados filhos menores desses imbecis deformados assumidos. É que, para hostilizar o morador que peitou a obra com base na lei, os vizinhos que se derretem com adular a otoridade corrupta usam os filhos, aliás até crianças que engatinham, para constranger e sacanear DIARIAMENTE o morador. Teve uma louca varrida que, vendo chegar a sua casa o morador resistente, virou para seu filho, de menos de dois anos, e ficou dizendo: “Grita! Faz barulho!”, e ficou repetindo isso para o pobre desgraçado, aliás projeto de delinquente, porque desde cedo sendo incentivado pela própria “mãe” a praticar desordem! “Um dia, quando este infeliz abraçar o crime e a corrupção, ou quando esbofetear a estúpida que o pariu, ela seguramente se perguntará: ‘Onde será que eu errei pra sofrer isso?’”... Enter final.
E Manoel, que não liga TV senão pra raramente ver um vôlei quando rola a Liga, recebe um telefonema de um amigo que o informa de um fato bizarro: a Marginal Tietê, em São Paulo, está parada e engarrafada em quilômetros por conta de um caminhão de caixas de fósforos que pegou fogo. “Pois é”, pensa nosso herói, “fogo assim só nos corações meu e de Maria, e enquanto as mães deformam seus filhos desgraçados nesse espaço criminoso, o amor entre nós ferve! As bestas se depravando e nós nos amando! Vão pro diabo, alimárias! E viva Santo Expedito! Oremos. Bye!