sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Pra não dizer que não falei de...

Frederico Mendonça de Oliveira

...flores. É, também falo dessas coisas, que passam desapercebidas de tantos seres neste mundo. Beaudelaire escreveu “As Flores do Mal”, que não li, mas o título se fixa com facilidade. Parece que ele falou das papoulas do ópio, que são mortais, mas deixo para ele ou para quem quiser o trabalho de ler sobre algo que só nos destruirá se for usado por nós. As flores que me interessam são as do bem, as rosas, as orquídeas, mesmo as margaridas e as simplórias mas tão alegres tagetes, por aí. Também me interessam as flores que brotam das notas de Bach nos prelúdios para cravo nos lindos adágios do Cravo Bem Temperado. Epa!, estou bancando o intelectual, falando de coisas que os que se deliciam com flores do mal podem considerar maluquice de eruditóide! Enter.
Quando tenho de sair da toca, onde me refugio deste mundo a cada dia mais medonho e horrendo, sou obrigado a ouvir as flores sonoras do mal. Onde quer que haja comércio, lá está uma caixa de som despejando “sucessos”. Agora temos flores do mal até na feira, onde se instalaram caixas de som tocando obscenidades e gratuidades ao âmbito da estupidez para “animar” os que compram e vendem hortaliças, secos e molhados e tudo mais. As letras do “sertanejo” da programação desta detestadíssima e até detestabilíssima “rádio feira” são tétricas, coisas como “só qué coisá”, referência a uma personagem mulher que apresenta furor uterino. E tome falar de festa que tem muita “muié”, “as muié”, e volto pra casa com essa escatologia zoando na cabeça, e ela só passa quando ponho pra rodar algo sonoramente digno, construtivo, saudável. É terrível considerarmos que o mal avança a galope, e o bem se encolhe em seu canto mais e mais, cada dia mais, com medo, com vergonha, com imenso espanto. Enter.
Os objetos ambulantes e vestidos do sistema se engalfinham nessa massamorda social em decomposição e causam medo. Sim, porque eles dão continuidade, como mensageiros irracionais, a toda a deformidade imposta pelos globalizadores, e ai de quem levantar a voz contra todo esse horror. Uma amiga bancária se queixava, outro dia, de ter de passar todo o expediente ouvindo uma maldita caixa de som da loja em frente, sempre em liqüidação e sempre projetando som miserável de “sucesso” na rua. Pois agora parece lei: todas as lojas – maneira de dizer, claro – estão pondo essas desgraças na porta, e temos de suportar conviver com isso, e sem reclamar. Se reclamamos, lá vêm aqueles olhares de espanto estampados em semblantes asininos, como se estivéssemos revelando que encoxamos a própria mãe no tanque ou que batemos nela com porrete por causa da mistura. O que essas criaturas defendem? A desgraça que adotam contra si e que querem ver difundida mais e mais? O que será desses seres que praticam um suicídio que lhes é proposto pelos globalizadores através dos “meios de comunicação”? Virarão zumbis sem referência da vida, de si e de Deus? Enter.
É, tudo se encaminha para uma calamidade atroz. Os elefantes se afastaram com sábia antecedência do local onde ia rolar o tsunami. Aqui, os humanóides do sistema se apresentam ávidos para o abate mental, moral e espiritual. Só resta orar por eles, que são a esmagadora maioria nesse cenário cataclísmico. Não, não devemos chorar sob o cobertor, isso é para fracos. Devemos peitar isso, e basta, para tanto, refletir sobre a própria lucidez resistente e seguir de cabeça erguida por entre a multidão mesmerizada pelas forças das trevas, flores do mal. Enter final.
Flores, sim, comecei falando delas. Estou com lindas orquídeas sapatinho no xaxim. A despeito da demência instalada em torno, elas florescem e embelezam, e gostam do jazz que estudo sempre; senão, murchariam. E encerro com uma fala especial: “bem aventurados os bêbados, porque verão a Deus duas vezes”. Significa dizer que é bom estar fora do que é considerado normal. “Publicam viam ne ambules”, isto é, não ande por onde anda o vulgo. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té pra semana, babes!