Frederico Mendonça de Oliveira
Certa vez o presidente de Portugal – Manoel considera ter sido Craveiro Lopes – foi visitar a Inglaterra. Era lá pra 1955, por aí. Bem, o protocolo manda que qualquer presidente que visite Londres desfile ao lado da rainha de carruagem pelas ruas principais de Londres, e que seja passada em revista a guarda de honra do palácio de Buckingham. Pois iam os dois naquela pantomima ridícula, o presidente acenando para o povo nas ruas e a rainha fazendo seu tipo sempre empetecada com chapéu combinando com aquelas roupas sempre sem qualquer graça, e os belos bretões puxando a carruagem no maior garbo. Um deles, depois de um relincho indicativo de dor nas tripas, emitiu um estrondoso peido, na verdade um prodígio de potência, aliás questão de muita valia em se tratando de gostos de portugueses. Pois falando um português refinado típico de aristocratas, eis que a rainha, constrangida com o estrondoso fato – ou flato, como queiram –, falou para o presidente: “Oh!!!, senhor presidente! Que vergonha! Mas tem certas coisas que não podemos evitar, não é mesmo?” – ao que Craveiro teria respondido: “Oh!, majestade! Não se preocupe! Eu até pensei que tivesse sido o cavalo!’. E prosseguiu o passeio protocolar. Enter.
“Essa mania de mostrar os portugueses como sendo burros tem uma grande vantagem”, reflete Manoel: “Mostra que a suposta burrice não passa de um senso de humor que povos como os brasileiros não sonham ter!” E Manoel tem grandes chances de estar com a razão. Ou você não riu de imaginar, primeiro, a sinuca em que ficou a rainha frente ao equívoco?; segundo, ela imaginar que o presidente acreditasse que ela fosse capaz de emitir tamanho estrondo com seu esfíncter real; terceiro, o presidente estar mesmo falando sério, como certo de que sua majestade pudesse peidar tão poderosamente. Assim, uma gafe inevitável se transforma em uma situação hilariante, o que mostra que o senso de humor dos portugueses é imbatível. Pois não ficamos por aí: outro portuga entra num elevador onde já se encontra, descendo, um casal. Tão logo entra, o portuga emite um sonoro flato. O homem, indignado, esbraveja com o peidão: “Como é que o senhor faz isso na frente da minha mulher???”, ao que o portuga responde, sereno e educado: “Oh!, me desculpe! Eu não sabia que era a vez dela!”. Como podem ver, haja presença de espírito, criatividade, senão malícia pronta combinada a grande senso de humor. Enter.
E quem não libera suas ventosidades, sejam traquitos inodoros de donzela virgem, sejam bombas de cinquentões pançudos, sejam apitinhos assoviados fininho de noiva no altar no momento de benzer as alianças? Se não soltarmos os puns, eles retornam para dentro do tubo intestinal e complicam o fluxo peristáltico, disso podendo advir prisão de ventre! Mas que é sempre uma situação inusitada a emissão de peidos, lá isso é verdade. De uma feita, Manoel caminhava subindo a ladeira que leva a seu bairro. Como bom cervejeiro, costuma ter turbulências intestinais, que podem ocorrer na condição de diarréia ou de forte flatulência. “Vou peidar”, pensou Manoel, que julgava ser o único a caminhar por aquela lombada acima. Mas seu anjo da guarda fez que ele por precaução olhasse para trás, e eis que a meio metro dele vinha uma donzela com seu caminhar silenciado pelo solado de borracha do tênis. A bomba, que já estava na boca do canhão, teve de ser reprimida, e Manoel se livrou de um tremendo vexame, pois não é dado a aliviar com estampido seus intestinos diante de moças. Mesmo que seja muito diferente de uma moça educada, não importa. Importa é ELE ser educado e cavalheiro. Suando frio de ter detido um fluxo gasoso do tamanho de um pet de 600 ml, Manoel ganhou distância da sirigaita até poder se livrar da pressão, que ficou em ponto de dinamite bem no portal do fiofó contraído. Enter.
E não é raro o negócio de ele ter de se levantar do leito conjugal pela manhã já saída para ir liberar suas flatulências longe da câmara conjugal. O diabo é que quase sempre, apertado pela pressão de saída desesperada dos gases, tem de andar vários passos até sair do quarto, fechar a porta e ganhar uma distância segura para soltar os cachorros. Pois no que percorre tal estirão, eis que o flato volta às entranhas do cólon descendente, e eis Manoel perdido na casa com o vento acochado de novo nas tripas. E no que volta ao quarto e se deita, lá vem o sacana de novo pra boca do roscofe, e lá sai ele de novo. O que ele ignora é o quanto sua amada Maria se diverte de vê-lo evadir-se do leito em respeito a ela, e como se diverte ela mais ainda quando ouve os tiros de artilharia pesada que ressoam pela casa, e Manoel pensando que está a salvo de ser ouvido. Cruel, isso, muito cruel. Mas que seja. Fazer o quê? Enter.
Pois Manoel ficou intrigado com saber de um cirurgião seu amicíssimo que peida-se muito em salas de cirurgia. Pobre do paciente! Mal saberá ele que, sedado, andou aspirando gases mefíticos sulfídricos enquanto lhe metiam o bisturi! “Covardia!”, pensa Manoel acabrunhado. E mais ainda ficam esquisitas as coisas quando ele imagina a quantidade de puns que os congressistas emitem em plenário, especialmente porque vivem em banquetes e bocas livres, em farras em motéis que produzem fermentações obrigatórias, e tal consideração leva Manoel a indagar sobre o porquê de o peido ser tão mágico. O anúncio da Luftal é admirável...O pum também. Já os políticos... Enter final.
Tão encafifado ficou nosso herói com tais reflexões que resolveu ir ao dicionário consultar sobre a etimologia da palavra peido, e qual não foi sua surpresa ao verificar, no Houaiss, que não se trata de palavra onomatopéica, mas de verbete proveniente do latim, peditum, significando “traque, ventosidade”. E Manoel queda conjeturando sobre se o papa, em missa solene no Vaticano, não libera seus gases por baixo enquanto seus latinórios saem pelo orifício oposto em louvação a Deus. E se não seria admirável espargir um gás pelo recinto religioso que produzisse um azul no ar em reação com o gás sulfídrico. “Puta merda! A atmosfera interior da ingreja ficaria cheia de nuvens azuis, inclusive lá pro altar!” E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!