quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ei, Aldo! Cadê você? E o Brasil?

Frederico Mendonça de Oliveira, Fredera

Pois é. O Aldo Rebelo era líder do "governo" na Câmara, coisa assim, todos os dias mostrava o bigodão e o nariz torto na telinha, sempre se pronunciava e tal. Desde a eclosão do escândalo do mensalão foi saindo de fininho, entrou o tal do Chinaglia (diz-se Quinálhia, mas as capivaras vestidas preferem a pronúncia estúpida que é ler como está escrito) com aquela cara de raposa véia e, de repente,... que fim levou o Aldo? A impressão que dá é que ele saiu fora pra não sobrar titica pra cima dele, ou terá saído porque sacou que isso aí não tem mais jeito de forma nenhuma. Talvez tenha saído de fininho ou de grossinho porque percebeu que a língua portuguesa, pela preservação da qual andou se batendo, aliás dando a impressão de pregador no deserto, porque a contrapelo da Globo, está de há muito no brejo. Deve ter considerado que nada mais detém a marcha dos conquistadores do planeta, e que o Brasil não vai mais se manter país mesmo que bata uma consciência geral vinda do cosmo: estamos literalmente desarmados e com nossa consistência social cancerificada, sem contar que o esquema invisível – para as mentes obtusas, maioria esmagadora – de dominação é pra lá de eficiente, o que nos torna um organismo e um corpo social em estado terminal, um Estado agonizante, desenganado. Enter.
A corrupção deslavada e desenfreada não se deve, certamente, senão à "consciência" -- não seria melhor "convicção", menos ético? – generalizada entre os "parlamentares" de que não temos qualquer perspectiva de conserto, qualquer alternativa para o câncer que nos envolve quase que totalmente. Em Cuba, em 1974, a Clarice Blomquist me dizia: "Seu país está perdido: é o salve-se quem puder!". Então vemos os engravatados chafurdando na orgia miserável da locupletação e na suruba do poder e admitimos que o fazem porque já não existe para eles senão o "farinha pouca, meu pirão primeiro", agravado pelo "lei de murici, cada um trata de si". É o "salve-se quem puder", vaticínio de Clarice Blomquist e voz geral entre a cubanada. Que nos resta senão contemplar o desmoronamento, como no samba de Adoniran: "Pegamos todas' nossas coisas/ e fumos pro meio da rua/ apreciar a demolição"? Enter.
Então é isso. 'Tá. 'Tá mesmo? Será mesmo isso? Não tem remédio? E, voltando: o Aldo, cadê? Tirou o time? Virou as costas pro puteiro de que falou Cazuza? Ou botou o rabo entre as pernas e saiu de cena atemorizado com essa podridão que se explicita mas que não gera atitudes ou medidas saneadoras? Será que se mudou para os cantos do palco ou se refugiou nos bastidores, temeroso com o que explode no proscênio? Será que ele considerou que já amealhou o bastante e que o melhor é montar uma empresa de consultoria pra viver numa boa e a salvo de "merdas no ventilador" a torto e a direito? Possível. Vejam bem que um homem que teve a relevância que ele teve na primeira gestão petista e que vivia nas primeiras páginas da imprensa torpe dos jornalões e na telinha quase todo dia não pode desaparecer assim, sumir, azular, depois de tanto vender a imagem de bom mocismo e de alma limpa no meio daquele inferno... E pode ser que fosse mesmo intocável, impoluto, lídimo, ilibado, mesmo que misturado àquela vara e sujeito a comer do mesmo farelo dos que em torno dele se regalam fossando no dinheiro público e roncando e grunhindo, os bunodontes engravatados que assolam o Congresso desde Sarney, a partir do fatídico 1985. Na verdade, para observadores eventuais, desde Severino Cavalcante, paradigma do amoralismo e do primarismo político pragmático brasileiro contemporâneo, Aldo começou a se desmaterializar. Enter.
Já participei com ele de dois importantes encontros, lado a lado em mesas de debatedores e de palestrantes. A primeira vez em 1983, quando se reuniu em São Paulo toda a classe de instrumentistas para peitar o gângster Wilson Sândoli, que presidia a Ordem dos Músicos de São Paulo e o Sindicato dos Músicos também de São Paulo. Esse homem era e ainda é da máfia, e permanece ocupando os dois cargos lá. Eu e Aldo, mais o Almir Pazianotto, o Dalmo Dallari e outros dois esperamos em vão: o mafioso não compareceu. Óbvio. De outra, em 1997, estivemos lado a lado na mesa de palestra de encerramento da Semana Internacional de Direitos Humanos em Países Lusófonos – que falam o idioma de Camões. Depois da sessão, conversamos por uns minutos e cada um foi pro seu canto, mas ele me passou todos os seus endereços e pediu que o procurasse, coisa que não fiz até hoje, por estar em outras missões. Mas vou caçar o cara só pra saber que que houve, cadê ele. Não tenho nada a solicitar nem a propor, mas de repente fico a par de alguma... até porque sou blogueiro e preciso de material. E tem outra: o que ele faz eu entendo muito bem; ele, ao contrário, não pesca nada do que eu faço. De qualquer forma, me parece um cara bom e sério. Saberemos o que aconteceu com ele, pelo menos. Enter final.
A saída de cena do Aldo é mau sinal. Não é rato abandonando navio, é mais um dos bons que tira o time porque vai ficando tudo obsceno demais!... Quanto ao Brasil, navio que faz água em grande escala, só nos resta tentar sobreviver ao naufrágio. Não há o que inverta o que nos acomete. Destino dantesco esse nosso, submetidos a irresponsáveis álacres e a pulhas sem vergonha nas fuças, e vendo tudo o que sonhamos acabar nesse fracasso histórico simplesmente deprimente e irreversível. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té a próxima, babes!
Pickles
Inauguramos aqui esta seção em homenagem ao pessoal do antigo jornal O Pasquim. É uma seção de curtas sobre os fatos chocantes dos míseros dias que vivemos.
& - A CEMIG arrota ser a “melhor energia do país. Mentira criminosa: no sul de Minas tem picos e desligadas de energia simplesmente todo dia. Quedas de fase é a toda hora, queimando computadores a torto e a direito. Entra-se na justiça – rararará! – e já existe uma jurisprudência preparada: perdem-se as máquinas, tempo, dinheiro com advogado, e nada. Na próxima descemos o pau com toda a força! Bye!