sexta-feira, 22 de maio de 2009

Manoel, mídia, imprensa e uma perda

Frederico Mendonça de Oliveira

Manoel falará sobre valores de mídia e imprensa, mas antes tem de fazer um registro que está abalando meio mundo na área da música popular no Brasil. Nosso herói acorda às sete da manhã neste 22 de maio, depois de completar 64 dia 20 passado, e chapa com a notícia em sua caixa postal. Tavito, ex-Som Imaginário ao lado de Fredera, Wagner, Luís Alves, Robertinho Silva e Zé Rodrix, mandou para todos da banda e adjacentes a notícia do inesperado e até inacreditável falecimento deste último, o mais regrado da turma, dotado de uma compleição invejável e de uma vitalidade até inquietante. Vendia saúde e fortaleza, estava rijo e flexível para abestalhar qualquer garoto, trabalhava com um gás sem igual, andava escrevendo obras alentadas e de desanimar qualquer um tal o tamanho, andava de anos pra cá às voltas de novo com Sá e Guarabyra e fazendo shows especiais e muito concorridos com seu mais próximo irmão Imaginário, Tavito. “Puta merda!”, exclama consigo Manoel, tomado de uma perplexidade um tanto marcada por um toque de bronca: “Como é que um cara tão regrado e forte pode morrer dessa maneira??”. Pois é. Conversando com Tavito logo pela manhã e encontrando este meio que em choque, ficou nosso herói sabendo que a coisa foi uma sucessão de bobagens. Segundo Tavito, Zé andava às voltas com caminhadas, ginásticas e outras merdas. Vendia saúde e disposição, era um trator. De repente, já quase na madrugada desta sexta, sofreu uma violenta queda de pressão, sem mais nem menos. Entrou em pânico, sofreu náusea aguda e se engasgou com o vômito, aspirando parte dele. O coração parou, e... um abraço a todos os que ficam. Era uma vez um criador de roques rurais. Enter.
Quando de uma tentativa de empresários, apoiados por uma companhia estrangeira de cerveja, no sentido de reapresentar o Som Imaginário naquela de 30 anos depois, coisa de revival de pop tupiniquim, Robertinho Silva, o baterista, informou que o então glamurizado Wagner Tiso tinha feito objeções quanto a se apresentar junto com o grupo em condições de igualdade, por estar em outro patamar de prestígio. O Zé Rodrix, conversando com o Fredera a respeito dessa cretinice, comentou: “Podemos nos apresentar sim, todos! O Wagner na dele, pode até botar um praticável bem mais alto, sai tudo numa boa. Todos estarão lá. Sem beijo na boca, claro!”. Manoel, sabedor dessas e outras, queda agora abestalhado tentando absorver a espantosa saída deste homem de sete instrumentos, uma usina viva de produção e de inquietação. “Adeus, Zé! Agora, só lá do outro lado poderemos ver se reunir o Som Imaginário, que passa a ficar imaginário MESMO. Até a possibilidade de reunir a ala digamos literária do grupo, os que escrevem livros – Fredera, Tavito e Zé – se esfuma ‘como a brancura da espuma’”, ruge interiormente Manoel. Enter.
E aí Manoel passa os olhos pelos noticiários e verifica o quão estúpido é alguém se basear em mídia e imprensa. Sobre a morte do Zé saiu no Google um filmeco mostrando aquela locutora morena com cara de semi-overdose de paz, autocontrole e gentileza sempre levemente sorridente e que noticia morte ou nascimento com a mesmíssima fisionomia afivelada. Até que a notícia estava limpa, embora vazia, como de hábito. Pois no decorrer do videozinho noticioso encaixaram um clipe da Elis cantando Casa no Campo, parceria do Zé com o Tavito. Elis aparece secundando vaca e bezerro e canta a canção. O clipe é de uma burrice total, uma vez que as imagens estão em absoluto descompasso com os versos, que falam em “Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim/ Eu quero o silêncio das línguas cansadas”, nada de curral embostalhado e com vacas e camarada se deslocando meio céleres. A falta de critério é fato, mas a obtusidade preside tudo de forma patológica: por trás da produção de TV – o clipe seria da Globo, claro – existe sempre a presença aguda da santa ignorância. Será que os caras que bolaram o clipe não entendem de ritmo em relação a texto/imagens? “Casa no Campo é EM TUDO uma proposta de reflexão e de imobilismo como posição assumida contra o agir pelo agir na mão do Sistema!”, considera Manoel meio puto de ter esses momentos de impacto que obrigam a uma dura autocrítica permeados por burrice midiática... Enter final.
Pois prosseguem, mudando de pato pra marreco, as investidas dos globalizadores contra a Venezuela, centrando as cacetadas sujas no líder Chávez, que os jornalistas e suas matérias reles a serviço dos amos capitalistas chegam ao cúmulo de associar ao programa humorístico de décadas na TV. Tivesse o “presidente” apedeuta e pinguço um milésimo da dignidade e da postura de estadista de Chávez e o Brasil estaria peitando essa corja de monstros que nos devasta de fora pra dentro e de dentro pra dentro. Lendo uma Bundas de setembro de 99, Manoel se estarreceu com matérias sobre devastação ambiental no Brasil APOIADA pelo poder público, sem contar, claro, a devastação no plano político, pois estava presidente o traidor monstruoso e abjeto FHC, sobre quem a revista cai de pau direto e de todas as formas, até calcando na deformidade... deformidade... – deixa pra lá – que todos conhecemos. Já se vão dez anos, tempo em que a Venezuela cresce como país e como comunidade humana, enquanto nós despencamos pelo mais imundo abismo institucional e social de todos os tempos – mas as cacatuas da imprensa do Sistema têm de atacar Chávez, que além de estadista é um Homem, não um boneco dos globalizadores vivendo de porres e gafes no desfrute de uma presidência não só escandalosamente não exercida, mas cinicamente explorada diante de um país e de um povo agonizantes. “Tomem vergonha nas fuças, lacaios do poder devastador! Vocês são tão reles que preparam a desgraça de seus filhos, degenerados!”, eructa grosso Manoel. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!