sexta-feira, 26 de junho de 2009

Manoel, a morte do Michael e a perversão instituída

Frederico Mendonça de Oliveira

Manoel recebeu uma mensagem de um amigo comentando a morte de Michael Jackson. O amigo dizia que era para comemorar a morte de um pervertido em vários sentidos, mas especialmente pelo fato de ele ser um traidor da raça. Maneira de dizer desse amigo: coração de ouro que é, na verdade está é consternado com tanta feiúra que cercou o pobre ídolo do capitalismo selvagem. Tirando essa histeria de fazer cavalo de batalha por causa de “racismo” e “homofobia”, coisas que andam fazendo a Humanidade se ressentir da própria história, e que na verdade não vai mudar o rumo da sempre independente evolução cósmica, queiram os homens o que quiserem, Manoel se penaliza em considerar quão infeliz foi esse garoto, que morre aos 50 triste, deformado em quase todos os sentidos, cheio de rombos em sua aura – sabe-se lá o que rolou ainda além do que pudemos saber – e agora produzindo lucros astronômicos com sua morte sabe-se lá por quê. Enter.
Jackson foi o paradigma da trapaça capitalista em termos do universo pop – excetuando-se o fato de que dançava como poucos e cantava como um diabo. Era artista de verdade, mas operou no território da ilusão, materializando esse desvio no que se desfez de sua pigmentação pra ficar corderrosa, mais parecendo um ser de borracha. O nariz afilado por plástica destoava da boca, e ele parecia um pinóquio rosé. Também se via desde cedo o desvio de personalidade: ridiculamente ostentando ainda criança um pelame brequipau e cantando com inflexão piegas mais parecendo uma menina manhosa e chata, já dava sinais de ser uma criatura defasada de si. Compensou isso com a magnífica dança que Thriller sintetizou como patrimônio do artista e com cantar de forma eletrizante, com domínio de voz típico de prodígios da raça. Enter.
Mas... que raça? Esse papo de raça é um saco. Primeiro, a discussão sobre superioridade racial, que vem dos primórdios dessa maluquice chamada Humanidade. Uns se dizem escolhidos de Deus – o que faria de Deus um insensato, o que é impensável e oposto ao que Seu filho pregou: “O Pai ama a todos igualmente, todos são iguais perante Deus”, o que Lhe valeu uma crucificação –, outros vivem neste éon aturando discriminação até através da mitologia grega, em que a imperícia de Faetonte comandando a carruagem de Apolo o fez, descontrolado, dar um rasante sobre a África e queimar a pele de seus habitantes. Pelo visto, vamos ter que processar a mitologia por prática de racismo, essa babaquice irreal e histérica. Também teremos de processar Lamartine Babo por sua marchinha “O Teu Cabelo não Nega”, que todos de todos os matizes epidérmicos cantaram emocionados e felizes; vamos ter de processar Ary Barroso por sua “Nega do cabelo duro”, delícia de samba que jamais depreciou ninguém. E essa fantasia neurótica de tentar mudar o conteúdo real e espontâneo em relação a raças e condições de tendência sexual não passa de expediente promovido por uma minoria carregada de ódio nas células para deformar os fatos e dar passagem a outra fantasia, esta genocida, que vem embutida nessa farsa pra lá de safada. “Se não ficassem falando toda hora nisso, enchendo o saco de todos, chamando a atenção do mundo para assuntos que sempre foram irrelevantes para a maioria, estaria tudo do mesmo jeito, talvez até muito melhor!”, considera Manoel, estressado por tanta jeremiada e tanta bateção em ferro frio. Enter.
Pois lá se foi Michael Jackson para o imaterial, e a gentuça obtusa, legião de centenas de milhões nesse mundo estupidificado, vai lá reverenciar um “deus”, um ídolo, um ícone, um... embuste! Uma “instituição” da fantasia obscurantista do materialismo viciógeno, uma hipertrofia em tudo nociva para os valores reais que a Humanidade deveria cultuar. Morto, Michael Jackson voltará ao pó como corpo e enfrentará o limbo como espírito, e do lado de lá não haverá Neverland nenhuma, haverá é a verdade pura. Seguramente ele terá de passar bom tempo se desfazendo dessa desgraceira toda por lá, para, depois de despojado dessa coiseira, desse lixo que o matou, voltar como um jazzista que não será reconhecido em toda a sua vida, mesmo que genial e até inigualável em sua tarefa. Talvez volte para ser enfermeiro ou lixeiro, mesmo tendo dentro de si uma gigantesca riqueza. Talvez volte como mendigo, para compensar, pela Lei, o fato de ter vivido tamanha hipertrofia nesta vida. A compensação é necessária, para equilíbrio do Universo. “Então é isso”, conjetura Manoel: “Tanta grandeza aqui obriga a um retorno em pequenez. É como disse Madame Blavatsky: ‘Não te enojes de tocar a capa de um mendigo, pois na próxima existência ela poderá estar sobre seus ombros’”. Enter final.
E lá está a procissão de “fiéis” ao ídolo dos bobocas, ao boneco rosado, ao infeliz que se drogava com fármacos, gostava de coisas condenáveis pela mesma sociedade que o ejetou ao triunfo desmesurado e que fez de seus reais talentos, cantar e dançar, a atividade menos vivida por ele. Daí talvez ele chamar sua mansão de “terra do nunca”, porque seus reais talentos foram impedidos pelo mito que ele virou. “Mito de merda!”, comenta consigo Manoel: “A grande maioria que o cultuou não sabia exatamente por que cultuava, e os verdadeiros talentos do cara eram o que realmente menos se consumia. Prova de que havia uma grande defasagem, uma grande assintonia, ou arritmia, ou descompasso, ou desarmonia na vida desse cara, um infeliz!”. Agora é aturar mídia faturando em cima da morte do ídolo, depois virão revelações bombásticas, depois o esquecimento. “Mas que o cara cantava e dançava como um semideus, isso até lá em Portugal, que curte mais é um fado, se sabia. O mais importante é que parece que o mundo ficou mais leve...”, cogita Manoel, cofiando bigodes imaginários, reflexos de ancestrais lusos movidos a vinho e bacalhau. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!