Frederico Mendonça de Oliveira
Maria, no que realiza suas tarefas paralelas às de Manoel, envolvida afetiva e profissionalmente com ele, descobriu um barato a respeito de um jornalista que denunciou falcatruas no Pará e passou a ser perseguido por juiz e coisas nesse nível. Chapada com a semelhança da perseguição em relação ao que ocorre no arraialito, onde um morador que denunciou crime de prevaricação envolvendo os três poderes municipais e mais o Ministério Público, sem esquecer que a canalhice contou com a participação do pasquim local, uma “publicação” safada que os ligados no arraial chamam de “nada consta” ou de “nada a declarar” (só falta esses invertebrados publicarem receita de bolo de fubá na página de capa), Maria enviou de seu reduto de trabalho o link para Manoel. E Manoel resolveu dar notícia disso a quem interessar possa. Abaixo, detalhes dos fatos sórdidos. Enter.
“Lúcio Flávio Pinto talvez seja hoje o jornalista mais respeitado e destemido da Região Norte. Ele é o solitário redator do Jornal Pessoal, empreitada independente, que não aceita anúncios, tem tiragem quinzenal de 2 mil exemplares. Há 17 anos, os representantes da família Marinho no Pará (O Liberal) perseguem-no de forma implacável. Ronaldo Maiorana, um dos donos do Grupo Liberal já emboscou Lúcio por trás, num restaurante, e espancou-o com a ajuda de dois capangas da Polícia Militar. Agora, um juiz do Pará condenou Lúcio Flávio a pagar 30 mil reais aos irmãos Maiorana.”. “Puta que pariu!”, considera Manoel: “O jornalista leva pau do sujeito e de mais dois PMs e é obrigado a pagar por ter apanhado??”, e prossegue estudando a coisa, que é avaliada por outro jornalista: “Há 17 anos, os representantes paraenses da corja comandada pela família Marinho perseguem-no de forma implacável. Ronaldo Maiorana, dono (junto com seu irmão, Romulo Maiorana Jr.) do Grupo Liberal, afiliado à Rede Globo de Televisão, emboscou Lúcio por trás, num restaurante, e espancou-o com a ajuda de dois capangas da Polícia Militar, contratados nas suas horas vagas e depois promovidos na corporação. O espancamento, crime de covardia inominável, só rendeu a Maiorana a condenação a doar algumas cestas básicas”. “Caraça!,”, exclama nosso herói, “aqui neste arraialito no Sul de Minas acontece algo muito similar com o cara que peitou a prevaricação praticada pelos poderes locais! Se o denunciante, que cumpriu seu papel de cidadão, tivesse aberto seu portão num belo sábado de março, teria sido preso e espancado por um delegado que foi provocá-lo em sua porta! A sorte é que o cara foi precavido, não abrindo o portão!”, e eis que se redesenha no Arraial das Bagas um desenrolar de fatos em quase todos os detalhes congruente com a saga de Lúcio Flávio Pinto: ambos são jornalistas, denunciam crimes de poderosos, têm jornal sem comerciais, praticamente pagam para publicar suas tarefas jornalísticas, são perseguidos por juízes inescrupulosos e vitimados pela máquina da Justiça por não concordarem com corrupção; e ambos, de vítimas, passam a réus, mostrando que “nefte paíf”, como diz o refocilante primeiro mandatário algo suídeo algo histriônico desta desgraçada terra de ninguém, o mal triunfa como que pavimentando o caminho para o despedaçamento final, para o armagedon, para o combate entre as montanhas, para o apocalipse. Basta contemplar as carantonhas dos que detêm o poder atualmente para nelas entrever os seres malignos encarregados de levar a cabo o cataclismo final. E basta ouvir um nome como Sarney ou ver a hedionda imagem deste arquiprofissional da corrupção para sentir na alma a frequência, a vibração das regiões inferiores e tenebrosas que nos ameaçam a paz e a correção. Enter.
E Manoel prossegue aprofundando o material enviado por sua amada Maria (e pensa nela com ternura, evocando suas formas roliças e generosas): “Alguns meses depois da agressão, Lúcio foi convidado pelo jornalista Maurizio Chierici a escrever um artigo para um livro a ser publicado na Itália. O texto, eminentemente jornalístico, relatava as origens do grupo Liberal. Em determinado momento, dentro de um contexto bem mais amplo, ele fez referência às atividades de Maiorana pai no contrabando, prática bem comum, aliás, na Região Norte na época. Como se pode depreender da leitura do artigo, nada ali tinha cunho calunioso, posto que – uma vez processado, Lúcio anexou aos autos toda a documentação que provava a veracidade do que afirmava”. Manoel se ajeita na cadeira, abestalhado com a semelhança dos dois casos: “Porra!, o cara aqui também foi processado por calúnia, e a defesa dele reduziu a merda a ação movida pelo juiz, e este se esquiva das devastadoras defesas que o desmascaram escandalosamente manipulando seus colegas e manobrando no sentido de engavetar o processo para evitar uma prescrição! É monstruoso!”, Manoel quase cai com cadeira e tudo quando verifica a semelhança das censuras impostas a ambos, a Lúcio Flávio no Pará e ao morador perseguido no Arraial das Bagas “O juiz também me proibiu”, comenta Lúcio Flávio, “de utilizar em meu jornal ‘qualquer expressão agressiva, injuriosa, difamatória e caluniosa contra a memória do extinto pai dos requerentes e contra a pessoa destes’. Também terei que publicar a carta que os irmãos Maiorana me enviarem, no exercício do direito de resposta. Se não cumprir a determinação, pagarei multa de R$ 30 mil e incorrerei em crime de desobediência”. Enter final.
“Prosseguiremos nessa avaliação, mesmo que isso me custe uma fermentação sulfídrica das boas, com direito a copiosas caganeiras!”, decide Manoel, considerando a necessidade imperiosa de passar adiante a denúncia da cancerificação dos poderes nesse país reduzido a porca miséria. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!