sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Manoel considera a Justiça e a “Justiça”

Frederico Mendonça de Oliveira

“Veja, ó Maria, que patacoada vai aflorando nos anais (êpa!) do poder constituído na Pindorama: as autoridades que deveriam zelar pelo rigor da aplicação da lei em todos os âmbitos, especialmente se são eles os autores de delitos, querem ser protegidos se flagrados cometendo esses mesmos delitos, o que dá à lei duas caras, e isso é simplesmente o escancaramento do estabelecimento de dois pesos e duas medidas no corpo da Justiça. Bem que muitos gritam que a lei é feita para os ricos, o que, a ser verdade, definitivamente não nos contempla, huahuahuá!!!”, e nosso herói, tomado de humor vertical logo na manhã da quinta-feira passada, quando viu a manchete do JB Online, come suas bananas depois de jogar outras para os sabiás, sanhaços, cambacicas, bem-te-vis, gaturamos e saíras que acorrem ao telhado da edícola para se alimentar da ração a eles carinhosamente destinada. Manoel e Maria têm o consolo de serem visitados por essas maravilhas aladas de Deus diariamente, enquanto que em torno de sua casa bestas aliciadas pela alucinação do poder pululam em festim diário da boçalidade. “Pois veja que notícia nos mandam nas fuças logo de manhã, minha linda: ‘Punição maior para juízes empaca na Câmara - Ana Paula Siqueira, de Brasília - Embora tenha sido aprovada por unanimidade pelo plenário do Senado, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê a demissão – e não a aposentadoria antecipada – de juízes que cometerem faltas graves recebeu parecer contrário na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, ontem, um dia depois que o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, Mozart Valadares, visitou o presidente da CCJ, o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS). O parecer, no entanto, não significa o fim da linha para a PEC.
Em seu relatório, Padilha considera a proposta inconstitucional por violar a vitaliciedade dos membros da magistratura. O relator argumenta que os direitos constitucionais garantem independência ao julgador. Segundo ele, acabar com a garantia da vitaliciedade abrirá perigoso precedente para que os juízes não alinhados com a cúpula dos tribunais possam ser excluídos injustamente da magistratura.’, e Manoel, depois de ler esta fala tão estranha para sua atenta Maria, diverte-se com o emaranhado de maracutaias e imperfeições que enfeitam o cotidiano de nosso deletério poder constituído. “Só falta dizerem que querem dispor de toda a blindagem possível para que sejam intocáveis, desfrutando de um rol de benefícios e favorecimentos, isso é o que aflora dessa fala desse Padilha, pelo menos para o alcance de meu pobre bestunto!, e ainda querem brecar o Tiririca!”, dispara nosso herói, enojado com a desfaçatez de entidades doentias que pululam em Câmaras e quejandos. Enter.
Mas não fica por aí a bronca santa de nosso herói. Um amigo de arraial próximo, aliás provecto jazzista e atento observador da bosta brasilis, mandou esta pérola que tem como protagonista o excelso e divinal ex-presidente do Supremo, Gilmar Mendes: “Protógenes é condenado por crimes na Operação Satiagraha: pela primeira vez na história do Judiciário brasileiro, o distinto público tem notícia de uma decisão da Justiça Federal, primeiro no PIG (Partido da Imprensa Golpista). Trata-se de uma delirante decisão (figura nisso o nome Ali Mazlun) que condenou o ínclito delegado Protógenes Queiroz a atender a vítimas de queimaduras. A delirante decisão condenou o ínclito delegado por forjar provas, espionar presidente da República e assumir o controle da ABIN com o intento mediático de se eleger deputado federal. O delírio tem um objetivo explícito de impedir que o ínclito delegado se diplome deputado federal e possa subir à tribuna para ler o que ainda não se conhece da Operação Satiagraha. A decisão delirante foi tomada por um conhecido juiz federal que se livrou de boa por causa de uma decisão suprema do ex-Supremo Presidente Supremo do Supremo Tribunal Federal. Aquele que maculou irremediavelmente a imagem do Judiciário brasileiro ao conceder em 48 horas dois Habeas Corpus ao passador de bola apanhado no ato de passar bola Daniel Dantas. Impedir que Protógenes Queiroz assuma a cadeira de deputado federal é o sonho de consumo do Daniel Dantas. Que agora, por coincidência, é o que pretende a delirante decisão publicada no Conjur, também conhecido como Estadão. Daniel Dantas continua solto. E o ínclito delegado vai ter que pensar queimaduras. Viva o Brasil!”. “Que tal, ó Maria?? Condenam o delegado que agiu contra a bandidagem e mantêm a liberdade para o notório salafra... não lhe parece algo parecido com a experiência pessoal de cada um de nós, ó linda?”, brinca Manoel diante de tão inspiradora constatação. E nosso herói logo bota pra funcionar sua bem treinada cachimônia, voltando à carga. Enter.
“Tu lembras do Protógenes, ó minha deusa? Pois bem. Quando da prisão do Paulo Maluf, anos atrás, um fotógrafo captou um flagrante da chegada da Blaser da PF, dentro da qual se viam, em primeiro plano, o motorista e o acompanhante deste. Ao fundo, ensombrecido, o rosto patético de Paulo Maluf, que ocupava o banco traseiro. Essa foto saiu em manchete de primeira página da Folha. Detalhe: o cara ao lado do motorista ostentava um boné, que tinha escrito na parte frontal, simplesmente ‘ISRAEL ARMY’. Ora porra, com mil engravatados: esse boné era apenas enfeite? Seria algum brinde que o cara exibia por esporte, por exercício de humor (negro, por sinal)? E quem seria o cara? Estaria mesmo a serviço de Israel ou apenas se dava o direito de brincar com a verdade ao usar tal boné em missão oficial? Pois veja, ó linda: anos depois, lendo uma porcaria de matéria sobre o escândalo envolvendo o filho do Tuma (parece que secretário de Justiça, coisa por aí), um que parece um cachaço, dei de cara com uma foto de um sujeito envolvido no curuquerê com o tal Tuminha, e que me pareceu MUITO FAMILIAR. Na legenda, o nome dele, veja só: Protógens Queiroz. Pensei, pensei, não matei a charada. E o dia foi indo, até que veio o estalo: ERA AQUELE DO BONÉ NA BLASER EM QUE LEVAVAM O MALUF!!! Que bosta é essa? Que cipoal emaranhado está virando o poder!” Enter final.
“Agora o mesmo Protógenes é eleito deputado federal no vácuo do Tiririca, é condenado não se sabe por que vestal (Houaiss, 2-2) do Olimpo das Divindades do Paço de Radamanto da Pindorama, e o banqueiro envolvido com sujeira braba está aí, soltinho da silva, com aquele semblante de foca distraída, foca fazendo cara de paisagem ártica. E ficamos sem saber onde entra – e por que diabos – aquele boné com aqueles dizeres ‘Israel Army’ enfiado na cuca do Protógenes naquele dia em que Maluf ingressou em curta temporada de algemas e sol nascendo quadrado”, conclui nosso herói, enquanto Maria prossegue com um olho no peixe, outro no gato, afundada em seus estudos com que a Federal a rouba de seu amado. E viva Santo Expedito! Oremos. Té pra semana, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás, mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 918 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 469 dias também na mordaça...