quinta-feira, 29 de julho de 2010

Manoel, palmadas e pátrio poder

Frederico Mendonça de Oliveira

“Ó Maria, a que ponto chegaremos?? Agora vem essa história de pais não poderem mais dar palmadas em filhos?? Quem está impondo isso, e com que direito se penetra na vida da família interferindo no pátrio poder através de lei ou do diabo que seja???”, questiona Manoel em proposta de debate familiar com sua linda Maria, que sorri com certa amargura diante do disparate que se agiganta na vida do arraial, do estado e do País, quiçá do mundo. “Veja bem, ó linda, eu apanhei como boi ladrão, e era mesmo meio que um boi ladrão! Se por um lado minha mãe teve algum sossego porque vivi distante da molecada de rua, aquele monte de ignorantes insensíveis e grosseiros, por outro fiz das minhas – e que criança não faz? – e levei dela muita pancada, quase sempre muito mais do que merecia. Mas sempre entendi que isso era a vida em família, e as surras que levei não me mataram, não aleijaram nem me tiraram de meu rumo! Hoje sou o que fiz de mim, e minha mãe, se errou, não me desencaminhou. Ela dizia que ‘pé de galinha não mata pinto’, e eis-me aqui inteirito!”. Maria teve mais amor com os filhos que a mãe de Manoel, mas os tempos já eram outros. Manoel, por sua vez, só bateu num filho uma vez, e foi só um tapa de revolta no ombro de um filho que dera uma paulada na cabeça do irmão. E eis que a questão cai na boca do povo e isso dessa intervenção no seio da família gera alguma resistência no grosso da população ligada no assunto. “Quanta loucura, ó Maria! Quem serão os que farão vigorar a ‘lei antitapa’, quem serão os guardiães da integridade da infância neste país estraçalhado??”, pergunta-se divertido e em voz alta, nosso herói, enquanto Maria adianta o almoço, que já se faz desejável pelos aromas da cozinha-amor da deusa de nosso herói. E o dia já vai em sol a pino, e a lucidez vai sendo trabalhada no reduto do casal. Enter.
“A maioria dos brasileiros já apanhou dos pais, já bateu nos filhos e é contra o projeto de lei do governo federal que proíbe palmadas, beliscões e castigos físicos em crianças, conforme pesquisa feita pelo Datafolha, publicada nesta segunda-feira (26)”, estampou a Folha, e o ceticismo de Manoel ganha ares de ironia ferina, sob o olhar aquilino de Maria. “Se esses engravatados que brandem o ridículo Estatuto da Criança e do Adolescente tivessem um mínimo de integridade, se esquivariam desse mico, envergonhados com o painel de horror que avassala a infância e a adolescência no Brasil! Se houvesse um mínimo de respeito por crianças e jovens no mafuá da Pindorama, a Xuxa e quejandos não teriam deformado gerações, e a Globo e a TV aberta não teriam agido soltas devastando mentes como fizeram! Como coibir suposta violência no seio da família se esse mesmo seio é invadido por um verdadeiro horror diariamente, uma programação destinada a público infantojuvenil que agride fundo pela violência que exibe, e, pior, pela violência que inocula nas mentes em formação! Quem são esses ‘legisladores’, que parece não enxergarem a tragédia social que esmaga as crianças os jovens de hoje e ficam aí com essa escrotidão abaitolada de regular até o ânimo de pais no direito de aplicação do corretivo?”, argumenta brilhantemente nosso herói, enquanto Maria conduz os aromas que precedem o almoço. Enter.
No passado remoto, a coisa familiar era rigorosa, feia, havia até o direito de pais matarem filhos que nascessem com defeito. Havia a coisa de vender os filhos, de submetê-los aos interesses e necessidades da família. “Com o evoluir dos costumes, o rigor da jurisdição paterna foi pouco a pouco arrefecendo. E, a partir do século II, se vislumbrou substituir a atrocidade por piedade. E o filius famílias passou a gozar de relativa autonomia como a participação nos comícios (ius suffragii)”. Se a pretendida civilização desaguou em barbárie, que é o que vivemos hoje, por que perder tempo cuidando de um aspecto ínfimo na vida coletiva e social enquanto graves e irremediáveis mazelas se agigantam devastando crianças e jovens? “E a mortalidade infantil, por que esses sudras não a proíbem nesse país-lugar?? E o envolvimento de crianças e adolescentes com o tráfico e com o crime organizado, não será isso passível de proibição? E os pais que ignoram e/ou abandonam seus filhos negando-lhes assistência e amor e deixando-os a critério de Deus ou do diabo, será justo que fiquem aí lampeiros enquanto os que se preocupam com usar normal e adequadamente a autoridade encartando castigos físicos passam a ser enquadrados por ‘prática de violência’?? Que sentido teria o ditado Qui parcit virga odit filium, que significa: ‘os que moderam na vara (de marmelo, digamos, como no passado não remoto) odeiam os filhos’, é por aí; e que dizer das equivalentes expressões em inglês, “Who spareth the rod hateth his child” ou “Spare de rod and spoil the child”, que mostram os mesmos valores? Tudo isso é cascata? E os animais, nossos irmãos mais atrasados, não sabem instintivamente educar seus filhotes incluindo corretivos físicos?”, e nosso herói lembra um boletim com o título “Como criar um delinquente”, com onze regras sobre como desencaminhar os filhos através de educação demasiadamente concessiva. E lembra de David Mills (Brad Pitt) discutindo com William Sommerset (Morgan Freeman) e dizendo: “Bater é mais fácil que educar”, naqueles momentos decisivos de Seven. Enter.
“Porra, isso é simplista, valeu apenas naquele contexto, dentro daquele papo, depois da pancadaria que foi a perseguição a Johnattan Doe (Kevin Spacey), o serial killer daquele filmaço. Procede sob alguns ângulos, é furado sob outros. Mas a questão é simples tanto quanto absurda: a vigência da proibição vai alterar o quê? A relação intrafamiliar entre pais e filhos? Pois de que adianta isso a partir de considerarmos que muito maior agressão ou violência é o desamor e o massacre televisivo que há décadas esmaga crianças e adolescentes? Desde aquele remoto He Man ainda nos anos 70 até os monstruosos filmes de animação japoneses de hoje, com super heróis enfrentando monstros e arquibandidos fantasiosos, só se vê violência e teratologia imposta às novas gerações, e isso pode. Ora, cínicos cretinos, vão tentar fazer com que seus filhos não ingressem na cultura da corrupção, cafres!”, e Manoel se depura desse enfrentamento social, filosófico e político quando vê chegada a hora de sentar à mesa e degustar o almoço, ao qual ele ainda conseguiu acrescentar uma costela de vaca na pressão, para incrementar a sentada sagrada do casal à mesa do almoço. Enter final.
“Bem, não poderíamos deixar de citar as palavras do ‘presidente’ a respeito dessa titica, ele é incorrigível: ‘Beliscão do(ó)i pra cacete!’. Fala de capadócio, de bugre. Mas é de lei ouvirmos mais essa, delineia o quadro que se nos apresenta, essa patacoada de preocupação com uma caganifância enquanto o país mergulha na treva da violência irrefreável e da corrupção endêmica. A lei virou um acessório praticamente inútil, só funcionando como tal burocraticamente, e praticamente divorciada em tudo da Justiça. Vamos nos mudar para Pasárgada, ó Maria, ou para o Nepal, o Nepal de que falou meu amigo Fox em 1970!”. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

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terça-feira, 20 de julho de 2010

Manoel e “o velho que odeia crianças”

Frederico Mendonça de Oliveira

“Ó Maria: começo a acreditar que o fim começou, e um estopim disso é este arraial infeliz!”, revela Manoel depois de saber o que a vizinhança de seu amigo músico vem fazendo há quase três anos contra ele. “Eu sei, nós sabemos, do ódio social explodindo no Rio, por isso viemos para estas montanhas afastadas; mas nunca pensei presenciar aqui um ódio maior e pior!! Se no Rio a transgressão chegou ao que chegou, pelo menos existe o argumento da existência crescente de morros e do tráfico, dois pilares da desgraça instituída na outrora Cidade Maravilhosa. Mas aqui??!! E isso partindo de autoridades, de moradores de classe média, esse ódio contra um cidadão que apenas questionou uma obra irregular, sem tomar nenhuma atitude senão denunciar na imprensa um ilícito público envolvendo todas as autoridades do arraial?? Caraça, ó Maria!, isso é uma horrenda manifestação de índole deformada coletiva!! Os que perseguem nosso amigo deveriam agradecer a ele por ter tido a decência de agir como cidadão em defesa da lei, mas fazem o oposto: movem perseguição cruel, perversa, agem como um bando de hienas atacando um homem pacato e ordeiro, movem ódio patológico, ódio apaixonado, ardente, perseguem por prazer, por malignidade de espírito, agem como fariseus sem entranhas!!!”, desabafa Manoel com sua amada Maria, que o ouve atenta e contristada. Enter.
“Pois é, ó Maria: das poucas vezes que estive na casa de nosso querido amigo verifiquei a existência de uma campanha doentia e, a meu ver, letal. A figura central dessa monstruosidade tentará, no entender de todos que acompanham perplexos o desenrolar da quase demência, levar nosso amigo à loucura ou a cometer alguma insanidade. Pois mesmo pondo a mão no fogo por ele, estou temeroso, porque a mobilização é sem trégua, um inferno que não tem hora, é de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, e rola de tudo, desde tentativa de agressão por parte de um policial até o cara ter sua casa bombardeada a tijoladas por um vizinho, parece que sob efeito de crack, tamanho o teor de ódio que o cara, sem mais nem menos, sem motivo qualquer, manifestou quando do episódio. Nosso amigo deixou as marcas dessa agressão lá, justo como quando acabou o ataque. E é assim: quando lá estive presenciei de tudo, de gente jogando futebol na área a encontros de adolescentes bebendo e se drogando em orgias e arruaças; de senhoras fazendo piquenique enquanto crianças se esbaldam em gritarias e algazarra a babás e mães fofocando e levando crianças a provocar nosso pobre e indefeso amigo, tudo ocorrendo ininterruptamente; de estranhos sentados nos bancos e todos fixando a casa do amigo a moradores – poucos, não chegam a cinco – do entorno administrando 'a praça', garantindo a invasão do espaço reservado a preservação ambiental e transformando-o em local de chacrinha e alimentando litígio, direto. Além disso, as autoridades do arraial responsáveis pelo ilícito ainda mandam para o local varredores que impedem o crescimento de vegetação que não a já existente, e é realizada varrição na área, que tem muito espaço de terra batida, o que configura crime ambiental explícito. Já viste algo assim, ó Maria??”, conclui Manoel, indignado, revoltado, incrédulo. Maria balança positivamente a cabeça, a face tomada pela perplexidade. Enter.
Pois o crime não fica por aí, segundo avalia nosso herói: “Ó Maria, se os adultos de mente deformada e carregados de frustração e ódio resolvem mover perseguição a um indivíduo que destoou da corrupção generalizada, seguramente agindo, esses infelizes, para dar vazão a instintos bestiais que ocultam por conveniência ou covardia, isso é uma coisa! Mas levar crianças a odiar e perseguir um cidadão pacato e ordeiro, incutindo nelas o germe do ódio, da covardia, da injustiça e da corrupção moral, isso é infernal, é demoníaco. E que pode ele fazer? Foi impedido de tudo, desde falar na Câmara denunciando a irregularidade que mancha a história do arraial até poder chegar a qualquer instância de poder ou denunciar publicamente a monstruosidade! A vizinhança tem dois moradores vigilantes para, em qualquer eventualidade ou oportunidade, abrir fogo sobre o pobre, e isso já rompeu de muito tempo a barreira da imoralidade e da crueldade, já se constitui de sadismo ignóbil, já virou uma perseguição mortal, já virou uma causa odiosa de extermínio. E de onde vem tudo isso? Seria espontânea a obsessão com que os envolvidos na perseguição se utilizam do espaço para a prática de uma delinquência apoiada senão instruída por autoridades? Na verdade, quem começou a usar crianças para esse fim abjeto hoje está oculto na história, tendo passado a bola para seus cruéis e desumanos sequazes, a quem parece causar prazer indizível fazer funcionar à risca tão hediondo projeto! Enter.
E Manoel relata novidades no enfrentamento do amigo. “Estava eu lá ontem à noite, minha linda, quando uns dez molecotes de classe média, acompanhados e conduzidos por uma senhora de seus quase 60 e outra mais jovem, se instalaram sob a porta da cozinha do amigo, alguns sobre uma árvore que permite a visão interna do quintal, e ficaram promovendo gritarias furiosas, algazarra insuportável de provocação, e quando olhei por sobre o muro e eles perceberam meu rosto entre os vasos, ouvi dizerem “Olha lá o velho que odeia criança!”, isto sob o olhar complacente da coroa que os comandava. Além de nojento, asqueroso, vil, isso é criminoso, e pode-se perceber perfeitamente a orquestração e o maestro por trás do horror. Se isso se compara a um relógio, 'tem de haver o relojoeiro', como considerou Voltaire... e o relógio funciona como o relojoeiro quiser, ó linda!” Enter final.
“Meu amigo parte por alguns dias para um evento na capital onde será homenageado por seu real valor, e tudo isso fica aqui, incubado, gerando enzimas letais e sintonias deletérias para os que movem tal desgraceira. E ele é de uma serenidade inacreditável, impressionante. Mesmo ferido, mesmo com ferida aberta e sangrando, não perde sua paz interior, e ainda manifesta preocupação quanto ao futuro tenebroso que espera essas crianças infelizes. Segundo um amigo dele, 'o crack é destino bem provável aos que desde cedo são envolvidos em ilicitudes e ações escusas, de delinquência'. E ele teme pelo que virá, porque tudo isso piora o mundo e gera infelicidade e crime. E, porque vive em harmonia com seu talento e sua obra tanto artística como humana, ei-lo triste pelo que espera essas iscas de um projeto criminoso pelo qual ninguém se responsabiliza. E, pior: não afasta a hipótese de um dia vir a ser assassinado, para satisfazer a sanha de quem dele quer se vingar a qualquer preço. É um quadro entre formidável e aterrador. E ele apenas tem pena desses deformados, homens e mulheres não só sem amor no coração, mas que se empenham em semear ventos! E usando crianças como instrumentos para liberar sua bestialidade. Vai ver, essa gente não goza. Reich explicaria...”, conclui nosso herói com tristeza. E viva Santo Expedito! Oremos. Inté, babes!

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Manoel e a imprensa internacional amestrada

Frederico Mendonça de Oliveira

“Que coisa é essa de embaixador de Cristo? Cristo não precisa de embaixador. Cristo está no povo e nos que lutamos pela justiça e libertação dos humildes", declarou Hugo Chávez, um dos presidentes mais aclamados por seu povo nos dias de hoje, comprovadamente aceito porque eleito e reeleito de forma espetacular ao longo de dez anos, inclusive obtendo vitória atrás de vitória sob artilharia pesada do Império. Também sobrevivendo a uma tentativa de golpe de Estado para defenestrá-lo, de que saiu vitorioso e reempossado pelo povo. E, desta tentativa intervencionista participou, também, quem? Justamente a Igreja Católica, instituição perante a qual Chávez mais uma vez se encrespa, a partir de fatos recentes na Venezuela envolvendo o cardeal Jorge Urosa. Diz um dos jornais de nossa esculhambada Pindorama: “O Executivo, o governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e mais representantes e outros poderes públicos vêm criticando a cúpula eclesiástica nos últimos dias depois de o cardeal Jorge Urosa, arcebispo de Caracas, ter denunciado que o presidente está conduzindo o país ao socialismo marxista”. Bem, se editores nesta cloaca brasilis bostejam essas notícias redutivas e cretinas na essência, muito no estilo da geral porcariada que se publica diariamente e que se transforma em montanhas de papel inútil e poluente, senão destrutivo, isso não quer dizer que deva ser levado a sério, nem sequer lido. Um cardeal declarar essa asneira significa apenas estar do lado do Império. As bestas daqui ainda dividem o mundo entre capitalistas e comunistas, e nada sabem quanto a tal divisão e quanto ao que falam, porque não sabem o que pensam – aliás, nem sabem mais o que significa pensar. Enter.
Chávez é estadista, o que significa estar envolvido com o corpo vivo de seu país. A globalização é um monstro de um milhão de braços, e Chávez não se mistura com essa merda, que não passa de uma forma de unificar a vítima para o golpe internacional que se agiganta, movido pelos mesmos que arrasaram o Paraguay, que arrasam o Brasil, o Peru e querem sob seu tacão simplesmente todo o planeta. O “ideal chavista” não é chavista, é bolivariano. No Brasil, uns dez seres – se muito! – que trabalham em jornais podem saber o que significa isso. Terão ouvido falar, terão lido por aí, não terão a menor idéia disso, tratarão sempre de fazer a matéria como o editor manda, e só. O mais importante é que Chávez não tem qualquer projeto de socialismo marxista. “Socialismo marxista é coisa do século passado, ó linda!”, brada Manoel um tanto emputecido: “Existe uma gama imensa de socialismos, desde o marxista até o socialismo nacionalista alemão, estes dois em radical oposição! Mas, dentre todos, o nacional socialismo alemão terá sido um dos poucos que fixaram no Estado sua essência de força e objetivo. Chávez quer a Venezuela venezuelana, um estado vivo, não soviética, tampouco marxista. E tenho comigo, pelo que trabalhei revisando copioso material sobre a Venezuela chavista, que Marx lá não tem o menor prestígio, linda!”, considera Manoel para sua Maria, que incrementa um tremendo feijão bolinha com suã. Enter.
E o que a imprensa no Brizêu diz (ou seria excreta?), por exemplo, sobre o líder bolivariano, é somente uma cantilena estúrdia de canalhices dignas dos chefões mafiosos das elites que exploram criminosamente o Brasil, canalhices essas estampadas numa imprensa completamente manietada e agrilhoada pelo capital do Império. “É somente dominação, ó Maria, somente um instrumento para manter a intervenção em marcha, enquanto os brasileiros prosseguem escravos e zumbis, incapazes de entrar em sua própria vida e História!”, comenta Manoel com sua amada depois de uma verdadeira maratona para localizar algo concreto nos webjornais sobre o assunto. Enter.
“Veja só, Maria. Abri o JBonline e eis que na página de capa aparece, na “blusa”, a cara do Chávez em plano quase de detalhe, para deformar sua fisionomia, foto encimada por uma manchete: “Chávez diz que o papa não é embaixador de Cristo na Terra”. Eles tentam com isso, dando essa bofetada nos cristãos otários de araque, incompatibilizar Chávez com o conformismo estúpido daqueles que penduram corrente e crucifixo no pescoço mas agem como fariseus safados 24 horas por dia. Como esses seres vivem de convenções, para não ter de dar trabalho e canseira ao cérebro, de repente assumem de cara um preconceito para com o estadista venezuelano. “Conheci gente, ó Maria, que dava nome de Osama ou Sadam a cães rotweiller ou pitbull, veja que feijoada de cego é a cabeça dessa macacada, cabeças mais para penicos, convenhamos!” Enter.
“E lá vai a coisa se deteriorando, como está nos planos do Império, ó Maria!”, considera Manoel. “A força do capital dos inimigos da Humanidade tem poder mais que suficiente para causar graves problemas econômicos ao programa libertador de Chávez. Quem nega isso é ‘deles’. Ou é uma besta, simplesmente. E, para engrenar a etapa definitiva de crescimento real no país, Chávez precisa sanar o atraso contido em bolsões acometidos de vícios históricos, isto é, conseguir emancipar setores atrasados já há séculos incrustados no corpo do Estado. Os agentes do Império estão lá, infiltrados, operando para radicalizar não só o atraso através de ações intervencionistas como também para tratar de sublevar essa gente ainda pouco politizada contra a política de emancipação chavista. É aquilo, minha linda: especuladores dessa mesma laia tiraram o trigo do mercado para produzir a ‘revolução francesa’, foi tudo um golpe: os agentes articuladores estavam por trás do pano!, e detonaram a reviravolta, e veio a ‘viúva’, a guilhotina que eliminou cabeças que obstavam a ação dos globalizadores de então!”, considera Manoel, já de olho nas panelas fumegantes que Maria submete aos devidos fogos, altos ou baixos, para sair um almoço no jeito. Enter final.
“Feijão bolinha com suã, arroz ao alho, batatinha salsa, jiló ao bacon, um ensopadinho de carne moída com repolho e cenoura a palito, isto é um pecado, ó linda!”, avalia Manoel prelibando o almoço (não, não vem do árabe, mas do latim admordere) cujo aroma já toma a casa toda. E nosso herói ainda considera, mesmo que já com apetite espicaçado, a verdade sobre a imprensa amestrada do Império: “Se Chávez é ou não caudilho, sabemos dizer; mas a macacada, hoje vivendo que estamos a epidemia dos humanóides, a macacada não sabe. Para eles, o que os jornais disserem é a verdade: deu na TV, é fato, é verídico. Então a imprensa é ação criminosa diariamente: vivemos o assalto constante da escamoteação de fatos pela quadrilha do Império infiltrada em tudo, mas muitíssimo ativa na imprensa. Eles são nojentos! E veja que no Brasil eles somam apenas 0,08 por cento da população... mas corrompem e mesmo mandam EM TUDO! E é deles que vem a difamação contra Chávez!... Pois que vão em frente: Deus espera. E vamos à comezaina, linda!”, conclui Manoel. E viva Santo Expedito! Oremos. Té pra semana, queridos!

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Manoel e a imprensa desvirtuada

Frederico Mendonça de Oliveira

Leitor diário de webjornais, onde busca apenas subtextos ocultos nos fatos jogados no dia-a-dia do arraial, do estado, do País e do planeta, Manoel anda atarantado: “Ó Maria, em dois dias, em duas sentadas rápidas para checar os jornais online, descobri simplesmente uns 20 erros, entre uso incorreto de vírgulas, crase, preposições, formulações equivocadas e por aí afora. Uma vergonha, minha linda, uma vergonha!”, e assim nosso herói constata uma nova ferida na avançada deterioração social: um colapso idiomático, reflexo inevitável de um colapso social já plenamente vivido por todos, embora devidamente escamoteado e controlado em benefício dos que disso consciente e mesmo dolosamente amealham. “Se é um crime, tem de haver o criminoso, e a pergunta, minha caríssima, é: ‘A quem isso beneficia?’, pois qualquer crime tem uma intenção de alguém, implícita ou explicitada. Tu deves lembrar, linda, de quando aquele Jean Ziegler, de ‘A Suíça lava mais branco’, declarou em visita a esta Pindorama que ‘Fome no Brasil é genocídio’, ou não te lembras disso? Pois é: tem quem lucre com essa fome imposta, com finalidade definida!, e a depredação do idioma é coisa nessa mesma linha, com pequena diferença de forma!”, e Maria aquiesce em silêncio, levemente confirmando com movimento discreto de sua cabeça divinal. E o casal queda em silenciosa conjetura, contemplando no éter o cenário de depredação que se abate sobre todos nessa conjuntura pré-apocalíptica. Enter.
“Parecem-me, linda, no que observo os sudras e zumbis que deambulam palrando aqui no arraial e mesmo alhures, que os mineiros subvertem o idioma através do uso corrompido da preposição, isso é mais que visível, é diário, doi (ó), machuca nossos ouvidos e nossos espíritos. Eles dizem que ‘Ele é apaixonado nela’, ‘Fui no cinema’, ‘Chegou no segundo andar’ e uma infinidade de coisas que tais. Quanto a pronomes oblíquos, é outro desastre feio: ‘Chama EU’, ‘Traz pra EU’, por aí afora, direto. Só falta agora ser oficializado o uso do verbo VIM, de tal forma se consolidou a preguiça estúpida de falar corretamente associada a um estranho desejo de enveredar pela decadência assumida, traços de doença social grave nesta Brazuca terminal: não demora, aparecerá um PODE VIM em jornais on-line, mesmo em edições impressas. A regência verbal vai despencando, já de há muito saiu do botequim, da birosca, do barbeiro, e ei-la descendo aos meandros do puteiro, às ruas onde se rodam bolsinhas, sendo estuprada nas bocas de morros, eis o idioma sendo pisoteado pela indigência que avança como câncer galopante!”, discursa algo inflamado nosso herói ao divisar a estética da periferia e da proletarização generalizadas para onde quer que se vá. Enter.
Pois quando de uma incursão em bairro de periferia para uma consulta técnica a um violeiro reconhecido até nas estranjas – mas que aqui enfrenta uma perversa indigência –, Manoel constatou mais um detalhe aterrador: tendo diante de si, estando em ponto elevado, uma vista ampla dos bairros de periferia e vendo os prédios do centro emergindo disso ao fundo, veio um desagradável insight. Ele verificou de repente que o centro, que há menos de 30 anos era ainda a cidade propriamente dita, está hoje envolvido por todos os lados por um descomunal oceano de bairros onde prolifera em explosão irracional uma nova população proletária. E esse centro hoje é uma ilhota asfixiada perigosamente por esse imenso oceano... que tende a se duplicar, triplicar. Advirá disso uma deformação urbana e social em que todas as instituições serão substituídas por uma nova lei, da selva, do cão, e eis engendrado e já em funcionamento um horrendo caos. E o amigo que acompanhava nosso herói nessa empresa, um músico médico de mente privilegiada e sensibilidade rara, lembrou a conversa que teve com um policial, que disse muito claramente que a polícia está apenas cumprindo as obrigações que pode cumprir, mas nem de longe pode fazer frente à criminalização no seio da pobreza, que avança a mil. “Em cada quarteirão”, lembrou o policial, “existe um ponto de drogas; no mínimo, um. Como fazer frente a isso? Estamos em completa e irremediável desvantagem!”. E esse amigo de Manoel, que em plantões enfrenta atender às numerosas vítimas desse estado de coisas, gente esfaqueada, baleada, espancada, conclui, em tom desiludido: “É, meu amigo, já era, tudo!...”. Enter.
E tudo se aquece e movimenta sob a conflagração do caso do goleiro Bruno, que incendeia noticiários e alimenta conversas e fantasias várias, como se de repente todos gritassem por justiça e sonhassem com uma solução drástica e implacável para o caso, tudo alimentando as fantasias compensatórias de milhões de frustrados, e Manoel mais uma vez tem de se posicionar, para estar em dia com os fatos limpos, livres de sensacionalismo ou deformações: “Estamos diante de mais uma horrenda manifestação de bestialidade humana. As cenas que podemos ver ou as que podemos imaginar são imagens de uma barbárie que temos a nosso redor em estado latente, e isso pode ser desencadeado de repente, sem qualquer aviso, ó Maria. Basta vermos o que passou e passa nosso querido Fox, um músico, intelectual provecto, um ser inofensivo e que anda dentro da lei, sob a sanha dos que apoiam (ó) corrupção e usam unhas e dentes para figurar no rol de amigos dos poderosos corruptos do arraial..., e por pouco não sofremos monstruosidades como as praticadas nesse caso Bruno, ficou no quase: casa do amigo bombardeada por tijoladas por um vizinho em surto de overdose de crack; delegado vindo tentar agredir o Fox no portão deste; constrangimentos, agressões verbais, calúnias, injúrias, perseguição judicial, quem diria que um dia pudesse aflorar tanta deformidade e que estivesse tudo isso incubado na alma desses aparentemente inofensivos vizinhos? E veja que Fox era amigo, camaradíssimo de toda essa gente doente, gente hipócrita, covarde, uns ignorantes de maus bofes!, tinha a todos em alta conta e respeito, e agora explode esse tumor e espalha pus e miasmas pra todos os lados, transformando um espaço, antes tão pacato, em área sob litígio e onde impera a prepotência e o ódio dos degenerados!!... E não se pode acusar Fox de ser um otário, por ter posto fé nessa gentuça!... Enter final.
E eis o Bruno entregue à polícia, e toda a torcida rubro-negra envergonhada pela revelação de tão atroz espírito oculto na figura de um ídolo, e lá aparecem, misturados a curiosos, torcedores de clubes rivais envergando camisas de seus clubes, é o caos. “Estamos á beira do abismo, ó Maria! A decomposição do tecido social vai a mil. Realmente duvido de rolar aquele golpe de Estado internacional tão prometido por eles...”. E viva Santo Expedito! Oremos. Té pra semana, babes!

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Manoel, vuvuzelas e agruras de dias finais

Frederico Mendonça de Oliveira

Embasbacado com ver seu amigo músico penar sob perseguição odiosa de fanáticos ligados a esquema radical mafioso com teores olfativos a pão de queijo (é como se diz em Portugal: “tem um cheiro a peido”), Manoel conversa com ele sobre a perspectiva de ambos deixarem o arraial onde se abrigam da guerra civil tupiniquim há mais de duas décadas. Ambos deixaram o Rio, onde uma novidade ganhava os noticiários: balas perdidas. O amigo de Manoel, músico desencantado e à época iniciante numa carreira de artes plásticas – setor artístico também logo bombardeado pela involução social brasileira naqueles últimos tempos do ciclo militar –, ainda vinha de mala e cuia para o Arraial das Bagas com alguma esperança numa atividade que ele ativaria nestas montanhas inóspitas. Tentava também salvar um casamento, dedicando-se com ardor aos filhos, um já com um ano, outro a caminho, no ventre materno. Mas tudo se revelou acerbo. E toda a tarefa do amigo no arraial foi envenenada com dose cavalar, instilados o veneno e a peçonha de todas as maneiras, entre botes de surucucu e doses furtivas de anidrido arsenioso. Figurado, tudo isso, claro, mas os efeitos são bastante próximos se fosse real a ação de veneno e peçonha de verdade. Enter.
Pois o amigo de nosso herói vive mesmo uma realidade braba: reconhecido até mundialmente, enfrenta, por outro lado, uma condição de artista sempre oculto, procurado febrilmente por especialistas mas penando uma obscuridade perversa – por assim dizer: ele nem está aí para ser ou não reconhecido por leigos e patetas – à qual volta as costas com sereno desinteresse. Entre seus pares músicos, só encontrou, com raras exceções, imbecis ignaros e inescrupulosos, gente com mente oscilando entre valores de frango de granja a jogadores de futebol. E, na maioria, completamente estupidificados pela manipulação dos títeres do meio musical. Alçado, depois de lançar o mais festejado e premiado disco solo da história da música instrumental brasileira, disco aliás recebido com louvor como “padrão de composição contemporânea brasileira” por gente como Gil Evans e registrado nos mais importantes centros de estudo no planeta, ei-lo massacrado pela horda de sequazes do maior concorrente, um cafre metido a galã mas de modos assemelhados aos dos mais rebaixados cafajestes. Hoje, senhor de um conhecimento refinado e de grande alcance, iniciado nos teores do Conhecimento, ei-lo estudando sua guitarra com ardor, preparando um disco de despedida para deixar registrado seu trabalho para estudantes e estudiosos, mas apenas isso. Quanto a todo o resto, tirando sua amizade e troca fraterna com o Manoel &e Maria, encontra em sua amada Alfa e nos gatos do casal uma forma de resistir à estupidez vuvuzelânica desses dias incertos como uma jabolani. Enter.
E lá se foi tudo por água abaixo, apenas resistindo, de seus filhos, o carinho de suas filhas, uma de cada casamento (quarto e quinto), estando o mais velho afastado pra São Paulo e tendo os outros dois aderido à máfia dos arraialeiros dedicados a uma religião perigosa, a do fascínio artístico do guru do poviléu dessas montanhas associado à política permissiva em relação a comportamento em todos os sentidos. “Esses montanheses obtusos pensam que degenerescência abissal de costumes é evolução, ó Maria! Eles verão a Sodoma que os espera e que irá tragá-los sob a erupção de uma fúria dos elementos!”, comenta Manoel enojado com a traição asquerosa movida por uma camarilha em que se vê figurando até um atual Brutus entre os que apunhalam seu pai. “Que esperar disso tudo, ó minha linda? Só resta enfrentar todo e qualquer sofrimento com honestidade, porque são dívidas que se vão queimando no processo cármico! Mas estamos com nosso amigo, como Laocoonte, que não se entregou às serpentes enviadas por Minerva na praia diante da bem fortificada Ílion, quando da oferta do cavalo. ‘Timeos danaos et dona ferentes!’, dardejou Laocoonte diante do imenso cavalo de pau, isto é: ‘Temo até os presentes, quando vêem dos gregos!’. Pois é isso: que ele possa dever, é claro que deve, senão a cobrança não se faria tão certeira; mas se somos amigos dele, é porque já o fomos outrora, e lutaremos com ele contra esse carma, é assim que se evolui. Se nos entregamos é porque concordamos com nossos erros passados. E não concordamos, ó minha linda!!”. Maria considera com seriedade essas palavras, para muitos indecifráveis, mas para ela claras como a água do riacho, tão limpinha, que dá pro fundo ver... e vai caindo a tarde no arraial, e mais uma noite ameaça estas montanhas tão pecaminosas e tão distantes da palavra do Cristo! Enter.
“Ó amigo, amanhã temos mais uma patacoada verde e amarela! A seleção da Holanda vai espetando o caricato e precavido, mas perigoso, Dunga. Alguém até disse que a seleção brasileira é perigosa como cobra venenosa. Vamos ver se a seleção laranja mata a cobra com um pau firme. É um enigma, claro, mas pode ser um jogo de algum sabor em meio a tanta chutação de bola sem sentido desde que começou essa gororoba futebolística!”, comenta Manoel com seu amigo sempre concentrado, sempre de “olho no seu inimigo”, que ele sabe espreitar de cada frincha que se apresente revelando sua presença. O amigo não se envolve com futebol, que ele acha algo chato de há muito, mas solta uma consideração: “Bem, vamos ver se aparece alguma coisa bonita em campo, já que fora dele só vemos essa minoria barulhenta de bobos alegres se alcoolizando no desejo ardente de uma vitória que em nada lhes pertence... e, Manoel, veja bem: um amigo meu, de sacanagem, no dia 7/ 09/ 2009, desfraldou uma bandeira brasileira à frente de sua loja de serviços fotográficos. Na verdade, o cara é alemão, e pra lá de consciente, alemão nacionalista, sabe como é isso, né? Pois acredite se quiser: entrava gente na loja para perguntar se ia haver jogo do Brasil...”, e os dois amigos explodiram em gargalhadas, aquela explosão deliciosa dos que sabem do que riem, dos que conhecem os valores desse mundo perdido e de repente encontram uma deixa pra soltar seu humor esmagado no peito por esses dias atrozes de corrupção e perversidade soltas... Enter final.
“Bem, vejamos o que sai das quatro linhas amanhã. Abstraiamos a fauna vuvuzelesca e fútil e tentemos enxergar o conteúdo verdadeiro de tudo. O melhor é assistir sem som, para não corromper a competição pela parcialidade de nossos locutores e comentaristas”, propõe o amigo de Manoel. E não deixa de comentar com seu amigo luso a estupidez que avança contra nosso idioma: "A Veja – ou a Isto É, sei lá – estampou matéria de capa falando sobre a rejeição agora internacionalizada em relação ao bobalhaço Galvão. E a manchete é: ‘Cala boca Galvão!’, sem aspas, sem o artigo e sem a vírgula. O mundo vai se acabando, querido Manoel! Nosso idioma anda na boca de cachorros!”, e Manoel e Maria se entreolham pensativos, sacando o horror. “Nosso idioma vai pro saco, ó Maria! Não há mais o que segure esse horror!”. E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, babes!
Ah! Vale lembrar que estamos sob censura desde 11/04/08, a restrição já vai totalizando 795 dias. Abraço pra turma do Estadão, que também atura isso há 333 dias...