sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Manoel e o aniversário do Arraial das Bagas

Frederico Mendonça de Oliveira

O Arraial das Bagas, onde reside Manoel há exatos 25 anos e dois dias, fica nas montanhas do Sul de Minas e hoje é exemplo de corrupção institucional em todas as instâncias de poder e degenerescência social e humana. Mas a panguazada vive normal, até festeja aniversário, como em qualquer outro arraial ou como fazem todas as criaturas neste planeta nunca tão ao feitio de planeta dos macacos. Pois mesmo distante dos “festejos” e apenas tendo deles impressões de passagem em horas de intervalo de funções e porque recebendo depoimentos de amigos devidamente acachapado com o que viram, Manoel resolveu dar aqui seu relato sobre essa patacoada mais semelhante a coisas do outros mundos, que só iniciados sacam. Enter.
Passando pela praça da Matriz exatamente às 21h de quarta-feira, portanto minutos antes de se apresentar o galã brega Fábio Júnior, já nos perigalhos e sem nada de verdadeiramente atraente nesses dias de tira-gosto para o começo do Apocalipse, Manoel viu de perto cenas dos abismos. A praça estava lotada de seres que pareciam saídos de cavernas e covis, palrando um idioma dantesco aliás aludindo a caganifâncias quase insondáveis. “Dava medo ver aquelas criaturas!”, disse nosso herói ao amigo músico também exilado nas Bagas. “A impressão que davam é que poderiam atacar-nos por estranhar nossa vibração tão diversa!...”. Pois muito bem. Manoel escafedeu-se cosido às paredes em meio à noite carregada de tragicidade em sua escuridão enigmática e carregada de um negrume ameaçador. Foi tomar um chopete no único endereço que ele de leve frequenta no arraial; um só chopete, e logo tomaria o busa para voltar à companhia de sua amada Maria no aconchego do lar que respira cultura, arte e amor. Enter.
No dia seguinte aconteceria a “parada” pela manhã, e Manoel até ouviu sinais dela vindos lá do centro. Pois eis que lhe ligou um amigo e deu notícias de várias coisas relacionadas aos “festejos”. Esse amigo é um tipo de pessoa meio pra santo, simples, músico – toca viola de sinfônica – e que São Pedro não deve ter pressa de receber lá em cima, pois já o conhece de sobejo. O amigo então relatou o que viu no show do sessentão Fábio Jr. e da “parada” de aniversário. Falou também do que ocorreu no primeiro show de um cantor gospel para o poviléu. O tipo atende por Régis Danese. E a estupefação se manifestou, mesmo que estando nosso herói mais que calejado com a teratologia que assola a aldeia irreversivelmente degenerada. A isso. Enter.
O cantor gospel, que já comprou até fazenda por conta do primeiro sucesso que emplacou em âmbito “nacional” – como nacional, se não somos mação, mas colônia dos EUA e do Império? –, teria produzido um milagre em seu “show”: um tipo em cadeira de rodas se teria levantado e andado, segundo foi “testemunhado” pela gentuça presente. Manoel consigo pensou: “Esse cara deve acompanhar a equipe do show do cantor e ganhar um cachezinho pra que se realize o milagre”. Pois muito bem: o cara cantou rapidinho e se esgueirou fora, com o gordo cachê no bolso. Já quanto a Fábio Jr, o galã brega que abiscoita a rebarba do Robertão (Carlos), soube-se que cantou durante 25 minutos, deu “Boa noite, Bagas!” e azulou como um risco. Na verdade, segundo relatos, nem cantou: ele e seus músicos fizeram mímica apoiados por um BG (fundo musical gravado) e “sartaram” fora, também com a bolada do bolso. Manoel não teve notícias sobre a reação da macacada, que talvez esperasse uma linda performance desse ídolo de fãs com faces enrugadas... Mas o mais chapante ficou por conta do desfile de aniversário do arraial, e isso merece um enter. Pois que seja. Enter.
O amigo de Manoel relatou que o desfile foi um vexame, um espetáculo de mediocridade, sem energia, sem liga, sem nada: um fracasso como evento. Entre outras coisas, desfilou um carro “alegórico” do centro de ensino musical, aliás enxovalhado por ter o nome de uma criatura absolutamente indigna de qualquer merecimento: teria sido, segundo soube Manoel, um tremendo flagelo para quem “estudou” piano com ela, uma criatura de gestos aparentados aos de rinocerontes ou coisa por aí. Pois ocorreu de rolar uma caminhonete com instrumentos, um baterista batucando lá e o diretor posando de não se sabe que significado. Não que isso esteja errado, mas não foi absolutamente entendido do público o que aquilo pretendia, porque a produção do desfile, segundo voz geral, foi de uma pobreza jamais vista no arraial. Enter.
Bem, depois de saber de ter rolado “milagre”, de ter rolado show de 25 minutos de Fábio Jr. e de desfile completamente frio e sem qualquer entusiasmo ou fundamento, já que o populismo do atual governo acaba que não funciona junto à população, cética em relação a política ou poderes públicos em qualquer dimensão, Manoel soube que o prefeito, em discurso longo para um público bovinizado em que se misturavam infiltrados estrategicamente membros do Executivo, citou a pessoa cujo nome foi dado ao centro musical comparando o que ele “entende” por talento musical dela ao gênio de Villa Lobos. A comparação bateu como petardo de canhonaço no meio musical do arraial, e Manoel pôde ouvir as críticas das pessoas ligadas a música, e todos concordavam em que trata-se de estado de demência instalada no Executivo. Enter final.
E nosso herói passou o resto do feriado churrasqueando feliz com sua amada, embora de coração doído pelo que andam fazendo, com seus tão queridos gatos, monstros da vizinhança. O último sumiu há uma semana, e dói na casa a ausência daquelas maravilhas que tanto alegram nosso herói e que tanto se identificam com a linda Maria, tão apaixonada e ligada a eles. Agora é tentar outros bichanos, e nosso herói e sua amada poderão pelo menos conviver com novo felino enquanto ele for filhote e puder ser mantido dentro dos muros da casa. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
ATENÇÃO: JÁ ESTAMOS CENSURADOS HÁ 553 DIAS. A CENSURA A O ESTADO DE SÃO PAULO JÁ ESTÁ CONDENADA ATÉ EM ÂMBITO MUNDIAL. QUANTO A NÓS...