sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ah!, que saudades de Lisboa!

Frederico Mendonça de Oliveira

Manoel realmente anda considerando a possibilidade de voltar a Lisboa, ou À Lisboa, como escrevem a torto e a direito os montanheses do arraialito e os bugres que infestam tudo no Brasil estupidificado pela mídia devastadora. Mas a completa falta de conteúdos na vida brasileira vai levando nosso herói ao completo desalento, e a saída mais natural seria o retorno às origens. Lisboa, por que não? Pois é. Os últimos acontecimentos no arraial andam pesando na vida de um lusitano que não está na face deste planeta para se transformar, depois de nascer homem, em macaco sem rabo, que anseia por voltar às árvores ou às cavernas, fazendo de novo do tacape a arma comum sempre à mão; afinal, se já saímos da pré-história, por que voltar a ela? Enter.
Pois o arraialito anda apresentando sinais de assunção da barbárie, e a pracita construída por uma autoridade começou um processo de degenerescência que anda pra lá de duro de engolir. Ocorreu, por exemplo, que tomou posse a nova Câmara, os novos vereadores eleitos no último pleito. Ao contrário da anterior, esta câmara apresenta perspectivas de enfrentamento do autoritarismo petista, que no arraial costuma usar de truculência para resolver tudo que lhe pareça incômodo. Assim, consta que foi destinada uma verba a um vereador da gestão anterior para deitar porrada em manifestações de campanha em oposição ao governo. Parece que foi coisa de R$500 para distribuir aos porradeiros arregimentados nas periferias. Pois eis que na posse da nova Câmara, enquanto decorria a cerimônia no plenário, um cidadão fazia protesto contra a falta de decoro na ação do Judiciário, que teria deixado passar um crime eleitoral gritante. O cara estava pacificamente postado à entrada do prédio, ao lado do portão, tendo pendurado no peito um banner com os dizeres: “Socorro! Nosso arraial está sem lei eleitoral!”, coisa assim. Ele não gritava nem abordava ninguém, apenas se deixava ficar expondo aqueles dizeres e tinha um chapéu ao pé da árvore com os dizeres “Para ir À Brasília”, e a turma deixava moedas lá, simbolicamente. Fora a crase imprópria, típica desse arraial, tudo estava leve e pacífico. Até que, inesperadamente, chegam dois macacos sem rabo numa moto, e um dos monstrinhos parte pra cima do manifestante com um canivete, e lá vem pancadaria, e o manifestante se defende dando porrada com o próprio pau que estica o banner, e tome corre-corre, e um jornalista que estava perto fotografou o agressor e o outro bugre, que ficara esperando na moto. Enter.
Barbárie seria um termo para definir a política atualmente em voga no arraial. A quem interessaria descer porrada em quem manifesta publicamente sua posição? Aos responsáveis pelo descalabro que reina solto no arraial? Pode ser; aliás, DEVE ser. Mas ficamos apenas na suposição, por não haver provas. De qualquer forma, manifestações públicas de posição política não são do feitio da mineirada, que trabalha em silêncio, na encolha, na malandragem, quando não na tocaia e na traição. Para os mineiros, existe o posicionamento expresso pelo ditado “Quem fala além da conta acaba dando bom dia a cavalo”. Mas isso não corresponde ao estilo político usual nas Minas: a coisa aqui é outra, é falar pouco e agir na encolha. Quanto a falar, o importante é sempre falar com segundas e terceiras intenções, nada disso de ser claro, direto, aberto e honesto, coisa mais pra carioca e baiano, ambos influenciados por portugueses. Então, pra mineiro até bom dia dá jogo político. E a coisa da mão mole no cumprimento é típica do espírito pouco sincero evidenciado no dia-a-dia. O mais interessante é que eles se orgulham de tudo isso, basta ver aquele texto “Ser mineiro”. Procure na internet. Enter.
Pois se na posse dos novos vereadores teve o evento paralelo da porrada no manifestante, na pracita perto da casa de Manoel a merda anda a mil. Agora é festa todo dia, porque a macacada ainda está de férias, e a descoberta de um espaço novo para descarregar burrice virou atração e coqueluche. É só propor uma porcaria sem valor como atividade e todos acorrem, especialmente se for algo fora da lei. Pois dias atrás reuniu-se uma imensa turma para desfrutar do lazer na pracita ilegal, teve desde criançada gritando e correndo enlouquecida até velhos pafúncios ridículos jogando bola, enquanto suas marocas e peruas fofocavam ou trocavam falas estúpidas fazendo pose de dondocas nos bancos. Manoel, que já sente náuseas dessas reuniões quando são pouco numerosas, quase vomitou de asco dessa multitudinária ralé entupida de rede globo até a medula. Seguramente encerraram a reunião para encher o bucho de comida, sentar o bufante na poltrona e assistir à sessão cavalar de merda global, começando pelo noticiário das oito e terminando no BBB. Saciados de bosta até o topo da faringe, desabam estupidamente no catre, e uma queca ocasional pode até saciar a bestialidade dos tipos, descarregando fisiologia. Pois Manoel “queimou no gorpe”, como dizem os arraialeiros, e pensa em inverter essa escatologia. Enter final.
Por exemplo: distribuir na cidade uma volante (ou um flyer?) convocando os arraialeiros para se reunir na pracita, onde se pode jogar futebol, gritar o mais possível, trepar na grama, fazer piquenique, descarregar estupidez. E, como falou uma “chita”, a praça é “púbrica”, mas é também iniciativa de particulares, então Manoel pensa em afixar em uma árvore uma “praça” com os dizeres: “Espaço de lazer púbrico-privada”. E que venham todos descarregar sua irracionalidade lúdica na pracita, que foi transformada em cenário de exibição da bestialidade. Fica mais uma vez demonstrado que no Brasil a corrupção é bem vinda e festejada. É o caso de pensar em voltar para Lisboa... onde ainda existe algum decoro. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!