sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Manoel, catarata, Iguatama e Formiga

Frederico Mendonça de Oliveira

Incomodado por severa catarata que lhe toldou a visão do olho esquerdo, Manoel se viu em apuros quando, não podendo operar usando seus próprios recursos, viu que o SUS não tinha data previsível de operação, agravado isto por desmandos do atual Executivo municipal, o que mais ainda fechou caminhos. Foi quando um amigo de Formiga, Manoel Gandra Fonseca, proeminente figura na cidade e região, sugeriu-lhe que fizesse a cirurgia em município próximo daquele, Iguatama, em clínica especializada e a preço popular. Pois deu certo, e lá foi Manoel e sua amada Maria para a tal região, seguros da eficiência da coisa, pois a clínica especializada em catarata é referência internacional. Inclusive, o projeto foi engendrado e realizado por cubanos, o que para nosso herói já cheirou muito bem. Enter.
Chegando a Formiga, eis que foram recebidos, Manoel, Maria e outro casal que embarcou no lance para operar também, pelo amicíssimo Gandra, vendo descortinar-se a sua frente um cenário social e humano em tudo oposto ao caos dramático por eles vivido no já terminal Arraial das Bagas, lixo geopolítico sem salvação. E tome conversa, tome discussões várias, e coisas admiráveis foram aflorando. Enter.
Primeiro, ver que Formiga tem vida própria e um forte trabalho interno, comércio vivo e dinâmico, vários jornais – sendo o do amigo de Manoel um dos poucos jornais diários de Minas fora da capital –, emissoras de rádio, emissora de TV, tudo em radical oposição ao decrépito e degenerado Arraial das Bagas, completamente manietado por uma política de obscurantismo e de retrocesso por pura ignorância e obsessiva tacanhez, sem contar que a corrupção reina absoluta. “No Arraial das Bagas o que vigora é a ignorância aliada à arrogância, vestígios de um coronelismo cafeeiro colonialóide!”, denuncia Manoel ante a vitalidade da operosa Formiga. Enter.
E Gandra não para de enumerar coisas como o fato de Dona Beja ter nascido ali, de naquele município ter sido decretada a última execução de um condenado no Brasil, de a cidade bater recordes e mais recordes em várias direções. Mas operar era preciso, e lá foi Manoel pra Iguatama visando recuperar sua visão pelas mãos de verdadeiros missionários. Enter.
Sem nenhum glamour: nada de granitos, vidros plexiglass, ar condicionado, parafernálias. A clínica lembrou a Manoel o estilo cubano, ou seja: o continente é simples e despojado, mas o conteúdo é sofisticado e de rara eficiência tecnológica e humana. Atendentes solícitos e trabalhando como guerreiros; um rush de consultas, avaliações e cirurgias. Um grande congraçamento entre os pacientes, todos unidos pela beleza de voltar a ver; e, o mais importante de tudo: um verdadeiro boom de humanismo e gratificação combinados, um cotidiano puxado de realização em alto estilo. Tudo isso em ritmo de multidão, todos se roçando, todos se comunicando, e tudo isso regido pela mais admirável harmonia de todos os atendentes. Enter.
Pois rolou a cirurgia, e Manoel encarou tudo simplesmente perplexo.Na enfermaria, aguardando o ato cirúrgico, nosso herói conviveu por horas com gente simples e idosa, todos expondo suas idéias, todos considerando o viver, e chegava um operado de curativo no olho, e chamavam outro, e Manoel acabou trocando considerações espirituosas com um paciente de leito próximo, que o divertiu muito com falas finas. Era o José Soares Ferreira, o Zé do Caldas, que revelou ter três filhos cujos “nomes” causaram curiosidade: Galinha, Criminoso e Caipira. Manoel ficou de língua coçando por perguntar por que tais nomes, mas o próprio Zé foi logo revelando. O primeiro, porque, ao roubar uma galinha na cidade, esporte do pessoal de lá, foi flagrado pelo dono da festa que rolava na casa, e foi obrigado a passar com a galinha pelo meio dos convidados: virou o “Galinha”; o segundo virou Criminoso por se parecer muito com um vilão de um filme que fez muito sucesso na década de 80; e o terceiro virou Caipira por gostar muito de uma caipirinha. E os comentários eram imperdíveis, até por se tratar de gente sem instrução mas de muita filosofia e experiência. Manoel era o único letrado ali. Enter.
Pois rolou a operação, e Manoel saiu meio grogue pela ação da anestesia, e sua Maria, solícita e amorosa, fornecia uma logística muito especial a nosso herói. Enter final.
Rolou a cirurgia, veio a avaliação no dia seguinte, o rush na clínica era renovado por outros beneficiados pela ação missionária daquela gente admirável. Terminada a primeira avaliação, Manoel já podia ver com o olho operado e seguiu-se a isso um lauto almoço mineiro na deliciosa residência do irrepreensível anfitrião Gandra Fonseca. E começou a contagem regressiva para o regresso ao rebaixado Arraial das Bagas. E da suíte em que ficaram hospedados, dotada de deslumbrante vista, Manoel já nostálgico dessa magnífica experiência alinhavou estas linhas. Agora é retornar ao enfrentamento com os bugres e retomar a faina e os embates. Mas uma coisa ficou certa: nem tudo está perdido nessa Pindorama. E viva Santo Expedito! Oremos. Até pra semana, babes!
P.S.: Manoel e Maria ficaram maravilhados com a clínica, simples e eficiente e... sem NENHUM APARELHO MALDITO DE TV CORROMPENDO MENTES E EMPORCALHANDO O AMBIENTE COM IMAGENS DELETÉRIAS DE VIOLÊNCIA E SOM MISERÁVEL NAQUELES TEXTOS CARREGADOS DE VIOLÊNCIA E MONSTRUOSIDADE!

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ATENÇÃO: JÁ ESTAMOS CENSURADOS HÁ 642 DIAS. A CENSURA A O ESTADO DE SÃO PAULO, VERGONHA QUE SOMA 165 DIAS E QUE FOI MANTIDA EM RECENTE VOTAÇÃO NO SUPREMO, ESTÁ CONDENADA ATÉ EM ÂMBITO MUNDIAL. QUANTO A NÓS..., FOI MANTIDA PELO MINISTRO PRESIDENTE DO STF, GILMAR MENDES. E CONTINUAMOS AMORDAÇADOS BONITINHO!