Frederico Mendonça de Oliveira
Sob alegação cínica e canalha de geração de empregos temporários e/ou de arrecadação para comércios locais, vai se alastrando nessa Pindorama fadada à desgraça a praga cancerosa das micaretas, ou carnavais temporões. O poviléu, ignorantizado, bovinizado, adere como sob o berrante do vaqueiro ou o tinir da vara de ferrão. São as legiões de objetos vestidos em panos patéticos, ostentando bonés que não passam de coroas para a estupidez assumida; são as legiões dos obedientes ao “pensamento unificado” imposto pela mídia dos globalizadores. “Pensamento unificado” é tão possível quanto “burrice criadora”, ou “boçalidade fecunda”: um paradoxo. Trata-se de um “não pensamento”, algo absolutamente igual ao estado mental de um amontoado de larvas numa bicheira ou de ninfas de percevejo expostas ao mundo sobre a folha de uma planta (ou “pranta”, como dizem os bugres nas montanhas sul-mineiras). Cérebros? Não passam de um monte de aparelhos rudimentares de operação de instintos e desejos, nada mais que isso reagindo em conjunto, sendo a individualidade algo relativíssimo, até proibitivo. Pois então lá vêm os carnavais temporões, em que uma alegria postiça é manifestada como forma de desobediência estúpida a um vago “poder constituído”, postura desobediente que normalmente envereda pela bestialidade em todos os possíveis matizes: porrada acionada por álcool e outras drogas, sexo degenerado em estado orgíaco animalesco, alegria calhorda porque sem apoio em qualquer fundamento prático ou tradição. Contemplando comiseradamente esse quadro dantesco entrevemos os cornos malignos dos títeres dos globalizadores a serviço de comandantes ocultos em valhacoutos de onde emanam a perdição e a prostituição que encaminham e pavimentam o grande golpe de Estado internacional já iminente. Enter.
Esta é uma faceta do horror institucionalizado neste país-lugar hoje ermo de melodia e beleza, coisas que nos embalaram até 1964, embora hienas, chacais, serpentes e todo tipo de pragas já viessem corrompendo nossa vida coletiva desde Cabral – que trouxe em sua esquadra um certo Gaspar da Gama, monstrinho achado em Goa por Vasco da Gama em 1498. Depois de meter o calabrote no animalzinho, Vasco da Gama acabou iludido por uma suposta sabedoria sobre as Índias exibida por esse rato, e que muito agradaria a Dom Manuel, o Venturoso. O nome verdadeiro do pulhazinho de nariz adunco e curvado sobre uma pequena boca de lábios sensuais ninguém sabe, nem mesmo Solidônio Leite Filho, que o detectou na História chegando em pequena embarcação ao costado da nau São Gabriel, capitânea da frota de Vasco da Gama, ancorada em enseada no Índico. Mas o horror definitivo, a força-tarefa para nosso desmantelamento irreversível, começou com a entrada nefasta da Rede Globo no ar, como atesta o vídeo Beyond Citizen Kane, acurada análise sobre a ação do plim-plim contra a identidade sócio-política da população brasileira. Enter.
Rodamos o botão do dial no rádio e só sintonizamos miséria sonora e som de grunhidos de debilóides de todas as laias. Se o rádio, tão logo inventado, já começou sendo desvirtuado para desarticular a ação das mentes, hoje é usado como instrumento de neurotização coletiva, ou de coletivização de neurose, como você preferir. Lá pelos anos 50 instituíram a radionovela, uma desgraça que precedeu a telenovela, desgraça à enésima potência. Era a turma do Gaspar da Gama agindo lá, transformando o rádio, como disse o filósofo do neoliberalismo Cazuza, “num puteiro – porque assim se ganha mais dinheiro”. E também foi então que criaram os programas de auditório, em que se juntavam, aos guinchos, adolescentes apedeutas adoradoras de ídolos do microfone e do disco. Nestor de Holanda apelidou as infelizes de “macacas de auditório”, o que lhe renderia hoje, nestes dias de cinismo, processos por crime de racismo ou discriminação, como você quiser. E o interessante é que o nome terá sido postergado, mas as tais “macacas de auditório” de Holanda parece que são hoje quase toda a população feminina jovem do Brasil, ganindo junto com chapeludos, botinudos e fiveludos que infestam os palcos dessa cloaca entre Oiapoque e Chuí em que nos vemos metidos e confinados sem qualquer vislumbre de escapatória. Enter.
Bem pior que o rádio, a TV só mostra porcaria grossa, e exibe um verdadeiro massacre de comerciais, hoje beirando o mais primário e apelativo, sem qualquer poesia – não como até há poucos anos, quando os comerciais eram inteligentes e muito acima da quase totalidade da programação geral. Os comerciais da Brastemp, da Cofap (do cachorrinho dachshund), de Bom Brill e outros tantos eram geniais. Ultimamente, só um de um plano de saúde aí incluindo dentista deu pra curtir. O resto são enredos estúpidos e fantasiosos, como a do lagartão que reencontra seu algoz na meninice. A bosta rala é a lei na programação e nos intervalos comerciais. Só se salvam a Rede Minas e a Cultura de São Paulo. A primeira exibe uma programação visual de muito bom gosto, embora cheia de erros de Português; a segunda, mesmo sendo um patrimônio admirável, vem caindo o nível de forma assustadora, como já visto aqui. Mas, vez por outra, dá pra ver uma ou outra apresentação de sinfônica, como os concertos da OSESP – ainda que passando constrangimentos, como ter de aturar a conduta afetada e infantil da apresentadora Estela Ribeiro, absolutamente imprópria para programas de música erudita e coisas envolvidas com isso. Enter final.
Bem que Henry Kissinger, aquele degenerado secretário dos globalizadores, declarou, lá pros anos 60, a respeito do “Brizêu”: “Não queremos um tigre asiático abaixo do Equador”. Dito e feito: transformaram o Brasil num puteiro, como disse Cazuza, e numa cloaca, também num inferno. Ainda bem que não tenho mais toda uma vida nesta terra desgraçada. Ai dos que ainda estão no começo das suas... pois esse inferno vai arder todo, logo, loguinho. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!