sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Civilização Brasileira acabou-se

Frederico Mendonça de Oliveira

Não, não é o que vocês estão pensando: refiro-me à EDITORA Civilização Brasileira. daí as maiúsculas. Pois é: outro dia li, para não perder um amigo, um artigo da Folha – que os comunistas do extinto MR8 e hoje editores do jornal Hora do Povo chamam de “a cloaca da Barão de Limeira – assinado pela Bárbara Gancia, por sinal glamurizada, pela multidão de lacaiso dos globalizadores, como grande e sensata pensadora em meio a esta barafunda letal que enfrentamos. De cara ela deu uma tropeçada no penico, esparramou mijo no soalho: ela acredita na “mentira do século”, está por fora da mais importante realidade de nossos tempos desde 1945. E fala da coisa com a emoção da indignação de quem sabe o que aconteceu em Acosta Ñu. Pois ela começou falando já estar se achando meio velha, porque não acredita mais na civilização, coisa que em outros tempos a gente achava que um belo dia ia encontrar ali na esquina. Ela pode estar ficando velha sim, como todos nós, se não morrermos prematuramente, ficaremos, estamos ficando ou já ficamos. E a civilização já acabou sim, dona Gancia, trata-se de um fato, mesmo que a senhora seja colunista da tal “cloaca” também glamurizada como sendo um oásis em meio ao despedaçamento final. Puxa, vamos em frente, senão isso vira nariz-de-cera... Enter.
Mas a Civilização Brasileira acabou, e isto é trágico. Perdemos tudo neste país, e este é um feio sinal. Quando cursei Letras na Universidade do Estado da Guanabara, hoje UERJ, a Civilização publicava livros aos caminhões, numa qualidade jamais vista, e em todos os aspectos, desde as capas do Eugênio Hirsh até a participação profusa de pensadores em simplesmente todos os aspectos. Nessa época, a Eldorado Tijuca, uma das maiores livrarias do País, não tinha espaço nem prateleiras pra abrigar tamanha produção editorial: ficavam pelo chão pilhas e mais pilhas de livros recém-chegados, tudo cheirando a novo: as livrarias teriam de dobrar de tamanho para comportar tamanha demanda. Hoje, ora, “hoje”!... “Hoje” é a merda! As livrarias só têm porcariada, os tais dos best-sellers dos globalizadores ocupam quase todo o espaço, além da enxurrada de produção de auto-ajuda, sem contar o paulocoelhismo escatológico balizando os parâmetros da ignorância global generalizada. Enter.
“Hoje” é a merda. Estive no Rio tempos atrás e fui a todos os grandes sebos da “cidade maravilhosa” hoje cidade pavorosa, não precisa dizer por quê. Em nenhum deles achei um Iracema (!!!). Do Guimarães Rosa, só um Sagarana, que adquiri, claro. Do Campos de Carvalho, neca. Aliás, ninguém dos sebos sequer o conhecia. E o Campos de Carvalho foi publicado completo pela Civilização, com capas memorabilíssimas do já citado Hirsh: A Lua Vem da Ásia, Chuva Imóvel, Vaca de Nariz Sutil, O Púcaro Búlgaro eram livros do Brasil ainda brasileiro, com um belo contraponto na obra de João Antônio, também publicada pela Civilização, inclusive o Malagueta, Perus e Bacanaço. Eram tempos, não essa merda desse “hoje”. É carma coletivo, claro, e carma brabo, hem?! Que diabos andamos fazendo no passado para viver uma condenação dessas, caraco?? Será que fomos nós que afundamos a Atlântida e condenamos os atlanteanos a morrer afogados e devorados por predadores marinhos, a maioria dos infelizes habitantes do continente perdido boiando e tentando salvar mulheres e crianças da voracidade de dragões marinhos, polvos gigantes, tubarões e orcas? Enter final.
A Civilização acabou, porque aliás acabou a civilização. Resta-nos as degustações das boas coisas que alegram os que não morreram mentalmente sob a Grobo, resta estudar e progredir em meio ao caos, resta pedir a Deus pelos desvalidos. ’Tá russo, também ’tá ruço! E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!