sexta-feira, 29 de abril de 2011

Bullying, violência na TV e Neuzinha

Frederico Mendonça de Oliveira

Um velho amigo ligou para mim ontem à noite para dar a notícia: a Neuzinha Brizola deixara este mundo. Ele sabia ter havido algo entre mim e ela, mas por alto. Não relatei nada por telefone ali. Mas aqui revelo o que se passou: fomos namorados por pouco tempo. E, como não poderia deixar de ser em se tratando da explosiva e descontrolada Neuzinha, foi tudo pelos ares logo. Ela não parava com a coisa da cocaína, e eu estava completamente em outra. Não iríamos longe. Mas fomos muito felizes no que pudemos viver. Posso dizer que mudamos para melhor a vida um do outro sim. O problema para ela é que ter crescido a partir da relação intensificou seu dilema pessoal. E quanto a mim me fez mudar o enredo falseado que eu vinha vivendo, acompanhando cantor de sucesso e pendurado num casamento furado e frio. Pois Neuzinha enveredou pelas drogas mais ainda depois de vivermos um cintilante affair. E eu abandonei o Rio que já ingressava na irremediável desgraça civil que hoje verificamos aterrados. Ela acabou até presa, andou metida com aquele Buscetta, foi envolvida na venda de um quilo de coca para um italiano, o diabo. Da última vez que a vi, em Porto Alegre, nos topamos quando hospedados em um mesmo hotel, Continental. Ela estava linda como sempre, mas transtornada, parecia cheirada. Estava com uma amiga fazendo não sei o que na capital gaúcha; eu estava de molho hospedado lá com os colegas músicos esperando o Gonzaga voltar de Rio ou São Paulo para terminar a temporada gaúcha. E lá estava a minha garota linda, que recentemente, pouco mais de um ano, me fizera mudar os rumos de minha vida para sempre. Ainda tínhamos um ao outro no fundo, mas o abismo que nos separava era mais que intransponível. Era mortal. Enter.
E hoje estou aqui falando daqueles dias enquanto o corpo da linda Neuznha é velado no Rio, antes de ir para São Borja, onde repousam os restos mortais dessa família tão valorosa. Estou lá, ao lado dela, ela sabe disso. Aliás, nossa separação foi apenas material. Ganhamos um ao outro para sempre a partir dos poucos momentos que tivemos de doação mútua. Descanse em paz desta vida por um tempo, linda. Possivelmente nos vejamos no limbo, antes de voltarmos a outra passagem por outros corpos que nos serão dados. E todos nós, que estivemos nessa peleja maluca, nos veremos adiante. Já não é segredo para qualquer sessentão que a cada dia fica mais próxima aquela placa na porta de certos cemitérios: “Nós, que aqui estamos, por vós esperamos”. E dá pra lembrar aquele samba de carnaval dos anos 50: “”Vai, vai, amor; vai, que depois eu vou!”. E vamos em frente, coração amassado. Enter.
E, ainda atordoado pela notícia da morte de minha linda menina dos idos de 1982, eis que abro a primeira página de um jornalão e dou de cara com outra loucura: morreu a Luciana de Moraes, filha do Vinícius e da Lila Bôscoli. Bem, por mais que chape, não é algo impensável; pelo contrário: entre Neuznha e Luciana existiu um nexo muito forte. Ambas eram da loucura sem limites, da pauleira transgressiva, da coisa de romper, romper, violar tudo. Convivi com Luciana também, nos tempos em que estive entre os baianos. Nunca chegamos a trocar uma palavra, mas sabíamos um do outro, em respeitável paralelo. Nunca entramos em série. Eu guardava distância cuidadosa. Nas festanças do Guilherme Araújo, naquele apê de gloriosa/impublicável memória na Lagoa, Luciana era estelar, sempre puxando pro quebra-pau, botando o carro pra cantar pneu na curva. Saiu ao pai, isso é quase lei. Da mãe só posso dizer que era linda, deslumbrante. Luciana não veio tão magnífica: tinha uma jeitão de índia puxado de não sei quem. A foto dela ao lado do Lula recebendo o diploma de embaixador disso ou daquilo do Brasil concedido ao pai já a revela inchada, empapuçada. Não sei se já estava longe das agulhas, fileiras e canudos, como La Brizola dizia ultimamente, que drogas eram “coisa do passado”. Hmmm... Mas então é isso: agora é considerar que com essas duas perdas concomitantes o Brasil se despede de duas lendas: a cultura, que morreu praticamente junto com Vinícius; e a política real, o nacionalismo, que morreu com Brizola. Por aí. Pelo menos vale dar uma associada nessas coisas. Enter.
E sobre essa pinóia de “bullying”, que os lacaios dos macacos vestidos devoradores do erário agora dizem ser causa para horrores como o massacre de Realengo, tenho a perguntar: e a TV matinal para crianças de 30 anos pra cá, estúpidos? Vocês vivem de esconder a verdade: agora querem inventar um vilão que desvie a atenção daquilo de que vocês participam há décadas, cães! Olhem só: uma pesquisa sobre programação na TV sugere um quadro. “Escolas do crime” é o nome de um artigo publicado no Correio do Povo (Porto Alegre) no dia 10/02/92, na coluna de seu diretor, jornalista José Barrionuevo. Olhem só a gracinha: “Pesquisadores permaneceram 114 horas e 33 minutos (em torno de cinco dias!) diante da TV, acompanhando programas da Globo que são divulgados no estado pela retransmissora local. O resultado: naquela semana, a Globo exibiu 224 homicídios, tentados ou consumados; 397 agressões; 190 ameaças; 11 sequestros; cinco crimes sexuais com violência ou ameaça; 26 crimes sexuais de sedução; 60 casos de condução de veículos com perigo para terceiros ou sob efeito de drogas; 12 casos de tráfico ou uso de drogas; 50 de formação de quadrilhas; 14 roubos; 11 furtos; cinco estelionatos e mais 137 outros, entre os quais torturas (12), corrupção (quatro) crimes ambientais (três), apologia do crime (dois) e até mesmo suicídios (três)”. Belezinha, hem? E não ficamos só nisso, claro: já se vão quase 20 anos desde a realização da pesquisa. Enter final.
Bullying é o cacete, cães! Não agravem o quadro vendendo esse peixe podre para a população indefesa! Atenção, monstros! E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 1081 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 637 dias também sob mordaça..