sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Pindorama, reino da pilantragem e dos cães em geral
Frederico Mendonça de Oliveira
Você nem deve ter ideia do que significa Pindorama. Essas coisas são privilégio de um passado que incluía perspectivas históricas. Falei meio bonito, meio complicado, mas explico: os brasileiros, até 1964, sonhavam o Brasil crescido e emancipado, e tinham razões para isso. Pindorama significa, em tupi-guarani, “terra das palmeiras”. Falando meio difícil de novo, trata-se do nome que os ando-peruanos e populações indígenas pampianas dão ao Brasil. E isso era tema de estudo para o verdadeiro nome Brasil, que, em síntese, seria “terra prometida”. Bonito. Isso pra você pode parecer nariz de cera – introdução desnecessária e palavrosa a qualquer texto jornalístico – ou blablablá de sessentão nostálgico. Não é nariz de cera, mas saiba que qualquer sessentão dotado de sensibilidade será, obrigatoriamente um nostálgico. Quer saber por quê? Então arrisque-se a ler o que se segue. Você pode se arrepender, mas a tentativa é válida. Enter.
Em 1958 vivemos várias experiências magníficas. Pra começar pelo menos consistente, em 29 de junho conquistamos a Copa do Mundo com o mais espetacular elenco de esportistas já reunido até então. O mundo se curvou. “Aplaudidos por toda a platéia, que celebrava como se fosse a Suécia a campeã, nossos craques desfilaram pelo gramado do Rasunda carregando um estandarte do país-sede. O rei Gustavo VI estava lá, mas a verdadeira majestade era o futebol do Brasil”. Pois dias depois, exatamente em 10 de julho, João e Tom gravavam Chega de Saudade, inaugurando a Bossa Nova, e o mundo se curvou perplexo ante a maravilha brasileira. Mais: tínhamos a melhor arte do mundo, pintura, literatura, até cinema. E o mais importante centro mundial de pesquisa científica, em Washington, era dirigido por um brasileiro, César Lates. Nós éramos felizes, e sabíamos. Naqueles dias ditosos, os bandidos famosos e crimes hediondos causavam espanto, porque isso era exceção à regra do equilíbrio social e do Brasil que se mostrava admirável. Enter.
E hoje? Bem, hoje nos resta viver administrando um vexame, quando não sucumbindo ao desastre social generalizado. Desastre? Pode-se dizer desgraça... A seleção de futebol não tem praticamente mais brasileiros, tem profissionais globais e mercenários. A canção não é mais nossa, é um lixo sem contornos sonoros protagonizado por uma fauna canora com hábitos e estética assemelhados às leis da selva, das cavernas... Não temos mais artes, temos consumo neurótico e patológico de descartáveis, temos uma mídia prostituidora devastando o dia a dia do cidadão. E temos uma classe ainda considerada política e que opera a contrapelo da História, da governabilidade, da moral, da probidade, da eficiência, até de uma estética humana – já que todos são uns bonecos empacotados em panos caros ostentando fisionomias grotescas e estranháveis, e, com raríssimas exceções, agem abertamente como pulhas. Tudo isso temperado com balas perdidas, arrastões, desastres ecológicos aterradores – deslizamentos, enchentes, incêndios –, e temos de viver misturados à “classe dissidente”, a bandidagem hoje instituída como sendo um componente normal do que ainda chamamos de comunidade social brasileira. Quer mais? Ligue a TV. Você verá o que há de mais sórdido e mais reles desfilando 24 horas por dia ante nossos narizes. Diante do massacre televisivo, não há Educação que resista: ingressamos irremediavelmente na era do “nós vai”, do “pode vim”, essa podridão canalha e obscena que chegou a ser avalizada pelo ministério da Educação. Educação? Ora, todos os ministérios são redutos de conchavo político. Quer ver? Enter.
Peça ao ministro da Defesa para explicar a diferença entre um rifle e uma carabina. Ele não saberá. Peça a ele para falar sobre a função de uma corveta e a de uma fragata. Ele não saberá. Peça a ele para dar uma instrução de tiro a soldados das três armas, explicando o funcionamento dos equipamentos adequados para cada contingente. Nem pensar... Mas esse cara comanda nossa mais cara e mais preciosa instituição, a que nos defende e defenderá em caso de guerra ou qualquer transtorno. Pode? Ou somos palhaços? Ou é um palhaço o paisano sem caráter, descarado reles que se permite a desfaçatez de ter sob suas ordens de leigo profissionais especializados competentes, com vidas dedicadas à função militar? E o ministério da Pesca? Será que o ministro saberá a diferença entre um pacu e um matrinchã? Será que saberá botar uma minhoca num anzol? Não: é tudo barganha “política”; para que o presidente possa “continuar governando”, tem de premiar os pulhas. E você quer que isso funcione? Não: o negócio é acochambrar e dilapidar o erário. Enter.
Você viu a canalhice: Jaqueline Roriz, há algum tempo flagrada recebendo dinheiro escuso para sua caixa dois, acaba de ser absolvida sob a alegação porca e cínica de que cometeu o delito antes da atual legislatura. Mais cínico só o Tiririca dizer que “dei sorte” quando soube do aumento canalha concedido pelos pulhas do Congresso a eles mesmos, caso escandaloso da prostituição de nossas instituições. Pois as lindezas engravatadas, agindo como cães organizados em matilha de predadores, votaram secretamente inocentando a Jáqui Roriz, alegando terem todos espírito de corpo. Inverta as sílabas do termo em negrito, aí você entenderá. “A política de ‘premiar quem é ruim e punir quem é bom continuará”. Eu mesmo estou sob censura há anos por denunciar corrupção. “Os bons parlamentares continuarão à mercê dos ruins. Os presidentes à mercê do ‘péssimo clero congressual’. A sociedade à mercê dos espertos. Todos nós com a alma no balcão”. Enter final.
Enquanto a matilha no Congresso premia os corruptos notórios, no bairro onde vivo os cães ladram em desespero 24 horas por dia. Um inferno... Os donos nem estão aí: deve ser a música aprazível para eles. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes...
Ah! Lembramos que estamos sob censura desde 11/04/08. A restrição vai totalizando 2106 dias. O Estado de São Paulo já se livrou desse absurdo, aliás, inconstitucional. O advogado Gerardo Xavier Santiago, RJ, lembra que o artigo 5 da Constituição Federal garante a liberdade de expressão e de manifestação em local público! Abaixo a censura!
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