sexta-feira, 22 de agosto de 2008

“Rapsódia em brulho”

Frederico Mendonça de Oliveira

Acredito que algum dentre meus possíveis leitores conheça Rapsody in Blue, célebre composição de George Gershwin, por sinal amigo de Ravel, de quem ele tirou muitas idéias musicais para várias de suas composições – que são digamos respeitáveis, mas que sempre ficarão à margem do verdadeiro mundo erudito, talvez porque... porque... digamos a verdade: porque não eram verdadeiramente canônicas. Na mesma época, Villa Lobos embasbacava o mundo, e era considerado gênio pelos mais importantes nomes do erudito mundial, sendo copiado descaradamente por Stravinsky, só pra citar um exemplo cavalar. Mas Gershwin, se tinha algum talento para orquestrar, se tinha suas idéias para a constituição de um material americano que o mundo aceitasse, na verdade ficava aquém do patamar necessário para sua inclusão entre os mestres. Não alcançava nem mesmo gente como Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, que dirá o Villa. Bem, mas a que vem esse gringo neste texto? Enter.
É que a tão famosa – à custa de muita promoção dos meios de comunicação controlados pelos congêneres de Gershwin – Rapsody in Blue anda sendo promovida no Brasil, aliás Brisêu, ou Brizêu, justamente por um de nossos redutos de erudito, a Petrobras Sinfônica, orquestra criada pelas mesmas mãos responsáveis pelo naufrágio da P36 e por vários outros “acidentes” ocorridos na Petrobras (mais acidentes que em toda a história da empresa somados) quando da gestão inexplicável de um certo Henry Philip Reischtul, gringo que não poderia ser presidente da empresa mas que foi, porque, para a consecução de tal fato, mudou-se o primeiro estatuto da empresa, que rezava que o presidente da Petrobras só poderia ser um brasileiro nato. O tipo citado era naturalizado. O que fica sem resposta é por que tinha de ser ele o presidente, por determinação inarredável do teratológico FHC, a quem o povo brasileiro agradece pelo câncer que se instalou definitivamente sobre nós. Enter.
E pela segunda vez, pelo menos que o velhote aqui saiba, a Petrobras Sinfonica toca o tal gringo Gershwin: uma, parece que para sua inauguração e apresentação ao público – ou púbrico, como dizem nas montanhas de que desceu o “maestro” Wagner Tiso, que “regeu” o concerto de apresentação do conjunto, com Gershwin no repertório. A turma ficou sem entender que patacoada era essa: por que não executar Villa Lobos ou outro de nossos gênios sob a regência de um maestro legítimo? Por que tal factóide? Bem, a orquestra foi iniciativa do tal Reischtul ou coisa que tal – não sei o que sabe ele de música ou de orquestra –, e o factóide musical WT era então entronizado nessa “boquinha” para fazer música popular brasileira. Ué... então por que Gershwin? Mas o Brizêu é isso mesmo: surrealismo. Enter.
Pois nestes últimos dias eis que o “maestro” atacou de pianista e cometeu, sob a batuta de Isaac Karabchewsk (nossa, quanta consoante!), a mesma Rapsody in Blue, para delícia de... quem mesmo? A quem interessa isso de a Petrobras Sinfônica ficar tocando Gershwin? Alguém se habilita a explicar? Pois rolou a coisa, para espanto de muitos, especialmente dos músicos da orquestra, que saíram da folia globalizada comentando entre eles, à boca solta, que aquilo não foi Rapsody in Blue, mas Rapsódia em brulho, tal a embrulhada cometida pelos inábeis dedos do “maestro” pop eruditóide ao pianol. Enter final.
Isso é Brasil, gente: tantos maestros aí – inclusive com admirável material de composição –, afiadíssimos e aptos para ocupar cargo de maestro e regente da máquina em questão, e a turma aturando patacoadas... E viva Santo Expedito! Oremos. Inté!