sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Mensalão e Cachoeira: o retrato da Banânia
De cima de minhas tamancas de pinho vulgar posso dizer que os letrados vão morrendo aos poucos, enquanto a legião de seres atrasados cresce em progressão geométrica incontrolável. É a turma da porcariada, que hoje entope lojas e ruas dos centros de capitais e cidades em geral procurando consumir caganifâncias ilusórias, compensando frustrações da infância como pedir um brinquedo e os pais não poderem dar, ao passo que outras crianças exibiam suas prendas humilhando os descamisados. Enquanto cresce assustadoramente uma população que jamais alcançará educação e cultura e por isso seja condenada a viver à margem do que seria vida decente, diminuem os que falam o infinitivo do verbo VIR. A turma do “pode vim”, do “vai vim” e do “vô vim” vai consagrando sua escatologia mental e espiritual, e corromper o idioma é uma vingança natural. Os desgraçados do infinitivo “vim” entendem que a desgraça é o normal, e tratam de difundi-la. O Cazuza, segundo me contaram pessoas próximas dele, quando já sabendo estar com Aids, ia pra casas de surubas gay em São Paulo pra transmitir o vírus. Parece inacreditável, mas tem gente que garante que foi assim. E que fazer? Cantar um tango argentino? Enter.
Os patifes do mensalão, os engravatados que o farsante asqueroso classificou de picaretas durante os anos noventa, estão em apuros, isto porque Deus mandou um fiat justitia em cima dessa corja, e agora assistimos ao que sempre deveria ter rolado: pau nos vagabundos safados que não se vexam de viver às nossas custas para fazerem porra nenhuma. Então foi preciso aparecer um escureba irado para com o nhenhenhém dos togados do Supremo, com seus divinizados ministros sempre bostejando em juridiquês isso e aquilo, e nada acontecendo. O Barbosão praticamente chamou aqueles moluscos às falas, como quem diz: “Vamos parar de mariquices e pegar no pesado, seus molengas da pá virada!”. Pá virada significa inutilidade, gente que se encosta na vida e não batalha, não trabalha, não busca. Assim é Brasília, a terra da pá virada, dos pás viradas, e o Barbosão não assumiu aquela toga pra viver de posar sorrindo pra fotos gentis como o recém-aposentado César Peluso, que se derrete perante câmeras. E, ironia da vida, ele virou a estrela naquela boca até há pouco tempo duvidosa como instituição viva e operante. O STF mais parecia um espaço acima dos mortais – e não é pra duvidar de uma suprema corte que tenha um Nelson Jobim, pilantra entreguista e descarado, como presidente??? –, um ninho de seres ungidos por Deus e de costas viradas para as vicissitudes humanas. Pô nenhuma, irmão! O Barbosão “sacudiu as purga” no pedaço, e sacudiu o Brasil com um peidaço que há muito queríamos ver liberado daquelas entranhas. Enter.
Enquanto isso, o Cachoeira vai se desguiando, se escafedendo, com a CPI esvaziada, quase esquecida, se é que não vai ser mesmo engavetada nas suas e minhas fuças. O esquema do bandidão é conhecido de todos, mas o caldo tende a esfriar, uma vez que o ET Demóstenes Torres foi devidamente defenestrado, fazendo um papel que não queria para si jamais: boi de piranha. E assim vai a Banânia se desmilingüindo, aos poucos, considerando que sair do desconcerto histórico em que nos meteram não ocorrerá jamais. Você acha que o samba volta? Que o breganejo e o pagode esmerdeador e o axé vão ser extintos em nome de nossa grandeza? Você acha que o funk vai sair do Rio, que a beleza cultural e artística vai ser reativada? Bem, há quem creia em milagres, mas isso não vai rolar mais: o que ocorrerá é a degenerescência programada pelas mãos invisíveis avançando a conta gotas, dando uma pioradinha a cada segundo, a cada minuto, cada hora, de forma inexorável e sem possibilidade de reversão. Enter.
Até me buzinou a cuca sobre essa coisa do mensalão: esse julgamento está sendo oferecido ao povão para desagravá-lo e, de repente, mais uma vez tapeá-lo. Coisas muito mais graves vão avançando sem que nem saibamos dela, tudo ocultado que está de nossas vistas. Cadê, por exemplo, os responsáveis pela explosão de Alcântara? Cadê, outrossim (cacete, que palavra!), o pinguço, que deveria estar enquadrado nos crimes agora julgados no STF? Cadê os responsáveis pela morte do Toninho do PT e do Celso Daniel? Cadê nosso nióbio? Cadê nossa metalurgia, que não aparece nunca? E cadê nossa tecnologia, já que, só pra exemplificar, não temos celulares com tecnologia nacional? E por que a Embraer não fabrica os caças de que necessitamos, acabando com essa merda de comprar jatos estrangeiros, se somos a terceira potência mundial em tecnologia aeroespacial? Quer dizer: botar canalhas na cadeia é obrigação mais elementar da nossa Justiça. Então o julgamento dos mensaleiros acontece de repente, mas chega tarde e só faz punir um punhadinho... e as mazelas da Banânia continuam aí, e prosseguimos chupando dedo. Enter final.
O Christovam Buarque veio ao arraial em que me acoito há quase três décadas e proferiu uma palestra sobre seu projeto de Educação para o Brasil; antes de começar o lero, foi tocado o Hino Nacional no PA da sala de palestras, e todos se levantaram pra, no máximo, murmurar aquela inana. Pois não me levantei. Não prestigio ondas furadas. Se não há mais nação, por que iria eu reverenciar aqueles versos barrocos e fantasiosos? É como ver crucifixos em paredes de bancos: os vendilhões operando nosso rico dinheirinho sob a égide do Cristo??? Ora, essa não! Comigo não, violão! Ah!, e a palestra? Lá vai: uma fala coerente mas utópica. Os intervencionistas infiltrados em tudo na Banânia jamais permitirão nossa emancipação. É até melancólico achar que vamos um dia renascer dessa desgraça programada pelos algozes da Humanidade. Mas o senador tem que ganhar seu troco, se manter nas cabeças, prosseguir em sua estratosfera, que ninguém é de ferro. É um vidão, o que ele enfrenta: viajar por aí expondo suas idéias e com isso perenizar sua presença nas cabeças. E viva Santo Expedito! Oremos. Ciao, babes!
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