Frederico Mendonça de Oliveira
Um supermercado faz promoção em dois dias seguidos na semana e põe,
entre outras “atrações” típicas de macacos sem rabo, um
”músico tocando e cantando” num espaço entre duas prateleiras de
bagulhos. Boçalíssimo. O pobre tem teclado que faz tudo, ele só
coloca voz naquela tarefa de cantar sucessos para ninguém. E os
seres-objetos vestidos vão comprando, sem sequer se dar conta de que um
pobre diabo canta para “alegrar”, para “animar”, produzindo uma
”música ao vivo” que poderia ser chamada de “música à morte”,
”música moribunda”, “música terminal”. É como o cego tocando
saxofone velho na calçada, e completamente esquecido de quem passa
atrás de suas vidas. Miséria típica de uma sociedade cínica e
depravada que exclui, deforma, transgride, massacra, concentra, tudo
isso e muito mais. Nossos parabéns aos demônios que operam o golpe de
Estado internacional, nossos parabéns a Roberto Marinho lá no outro
lado, e a seus substitutos, seguidores e a sua legião de mais de
centena e meia de milhões de lacaios cultivadores de hemorróidas e
estupidez e que apodrecem sob o plimplim maligno e devastador, esquecidos de si e da vida concreta que Deus lhes deu. Enter.
O músico hoje é um desgraçado consciente. Para tocar seu instrumento,
tem de suportar a exploração criminosa, canalha, sórdida, imunda, dos
donos de “casas noturnas”, antros de estupidez, futilidade (ou
”putilidade”?), exibição e consumo de ignorância assumida em
mesas de alegria parecida com a de hienas, encheção de rabo com
comidas e bebidas, todos mastigando e ingerindo, ninguém ou quase
ninguém se dando conta do que estaria sendo tocado pelos menestréis
de merda de hoje, “animadores” da estupidez assumida e coletivizada
em buracos usados por gente sem rumo e sem pátria, tudo para amenizar a generalizada boçalidade assumida e trazer a público o estrago feito pelos “meios de comunicação”. Enter.
Os donos desses antros de estupidez manifestada onde se apinham seres de mente oca e alegria falsa comendo e bebendo são gângsteres sem máscara. A instituição do “couvert artístico” (que muitos chamam de “covér”), invenção de outros tempos para pagar músicos mas que hoje assume a dimensão do contrato de prostituição e da mais deletéria caftinagem, fez do músico uma excrecência viva, comparável ao mais baixo nível de prostituição. Primeiro, os festivais desde a década de 50 deram às platéias de leigos o direito de opinar sobre canção e mesmo música – neste caso, para providenciar a eliminação da instituição musical em prol de promover somente a canção de mercado –, e o resultado disso foi a fase de emepebê e a posterior instituição do império da merda musical, iniciada pela lambada de Luís Caldas e pelo breganejo urbanizado dos asiáticos Chitãozinho e Xororó, além da invenção do pagode pasteurizado, tudo gêneros cancionísticos festivos e alienantes, patogênicos e regressivos, tudo para transformar o ouvinte brasileiro em imbecil consumidor de merda sonora. Depois, detonada e eliminada a música, veio a fase do músico medíocre usando voz e violão em casas noturnas para cantar miseravelmente “sucessos” desse mercado de excrescência cancionística desde décadas para cá. E eis criada a maligna e miserável “música ao vivo”, caracterização do crime contra a música e da consagração da boçalidade em relação promíscua entre leigos cantantes e repertórios chinfrins e público de cavalgaduras alheias a qualquer tipo de valor musical – que dirá artístico. Enter final.
Os donos de casas noturnas, quase sempre piratas safados e deformados cientes de sua criminosa pilhagem contra os músicos, enriquecem às custas destes. Por exemplo: cobram R$ 5 por cabeça de freguês, e não raro passa dos 200 pagantes de couvert (ou “covér”). Dá uns mil por noite, fácil extremamente fácil. Pois o canalha paga R$ 250 ou, em certos casos raros, até R$ 300 aos músicos – e embolsa criminosa e cinicamente o restante. Usurpação clara, crime frio e premeditado. E na cara de pau: se houver protesto, a substituição é imediata, pois não falta quem queira assumir a vaga, e assim despencam os valores da noite, e o músico descontente ainda sofre discriminação em outras casas, tendo até de mudar de cidade se quiser prosseguir músico. O crime compensa na atividade puteada da “música ao vivo”. Voltaremos a isso. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!