sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Manoel e os patéticos tempos eleitorais

Frederico Mendonça de Oliveira

Maria examina cuidadosa e carinhosamente as roupas que vão para a corda depois de lavadas por ela e sua querida “Dona Maria”, a máquina de lavar com quem tem uma parceria tão perfeita como as de Tom Jobim & Vinícius de Moraes, Ary Barroso & Luís Peixoto, Rita & Roberto. Ela está na área de serviço, na parte traseira da casa, enquanto Manoel, feliz, prepara um delicioso guisado para o almoço do casal que jamais se separará, mesmo nas vidas vindouras. E o rádio toca música de boa qualidade, mesmo que, entre dez e onze da manhã, um usurpador da qualidade da emissora educativa invada a programação madura e de qualidade para enxovalhar o ar com suas/dele bostas sonoras com as quais, acredita o biltre, amealhe admiradores bobões e se projete entre os de sua classe. Passada a intervenção, volta a qualidade, depois de várias invectivas de Maria contra o lixo despejado pelo sacripanta. Mas chega o meio-dia, e aí vem a algaravia torpe dos pelintras em busca das tetas do poder, e o jeito é desligar o aparelho, que os ouvidos do casal não são penicos. Enter.
Maria já rodara sua baiana diante de uma fala dos peemedebistas, mesmo tendo ela se enganado julgando tratar-se da voz do jubado Hélio Costa, hoje mais podado mas mantendo, nas fotos de campanha, aquela carantonha de senhora irascível se fazendo sorridente, talvez para engabelar trouxas. Depois de uma diatribe quase furiosa contra a história de solicitar voto em troca de baratear contas de água, gás e luz, Maria admitiu perante seu Manoel ter atirado meio no escuro, mas de forma nenhuma retirou sua indignação perante a miséria visual e verbal apresentada pelos hoje desacreditados candidatos, uma pantomima de escrotidão jamais vista naquilo que Lula, o chulo, chama de “efte paíf”. E agora Maria de novo roda a baiana, depois de carinhosamente pendurar a roupa lavada com amor pela parceria “Maria & Dona Maria”. É que agora a intelectualidade, a intelligentsia de São Paulo e Rio se levantam contra os desmandos exagerados desse gaiato eleito por um povo abestalhado que, na verdade, só queria era varrer para sempre do cenário “defte paíf” as figuras abjetas de FHC, o sinistro e tanático Gallochmouth, e de Serra, que o Macaco Simão impagavelmente apelidou de “vampiro anêmico”. Claro: quem viu Nosferatu, o Vampiro, de Werner Herzog, verá em Serra imagem semelhante à do Nosferatu representado por Klaus Kinski – embora este seja bem mais bonito, sem a boca de chupa-ovo do tucano. Enter.
Mas eis que ascendeu ao poder o metalúrgico, o homem do povo, a promessa de ética e transformação política. E logo foi tudo miraculosamente transformado em fisiologismo, brotando, de um suposto e até acreditado líder popular consolidado por 25 anos de militância contra um regime escroto e deformado, outro reles mamador – e, pior, o cara se converte em histrião tagarela esparolado, transformando o anterior discurso radical pela legalidade e pela justiça social emitido por mais de duas décadas em palavrório de boçais, típico de pinguços míseros. Enter.
“Um casquilho embrulhado em ternos Armani escondendo um jagodes!”, metralha indignada Maria sob o terno olhar de Manoel, que sorve em delícia a pele de lírio de sua amada revolta (ô) como lindas ondas de ressaca vespertina. “E ainda por cima encarapitado no topo de uma quadrilha piramidal, mesnada de peralvilhos assumidos, escandalosa caterva, todos conscientes – e ele ainda diz que de nada sabia, e tudo vai na mesma, tendo alguns dos celerados apenas perdido sua ‘boca’ oficial, mas nenhum deles vendo hoje o sol nascer quadrado!”, conclui Maria em sua ira santa. “E só agora o pessoal da intelligentsia brasilis se coça diante de tanto descalabro, é um traque de pruridos tardios solto por juristas provectos e outros representantes de instituições glandulares, como se não vivêssemos desde 2002 à beira de um colapso descomunal, ameaçador, não fosse a simples e trágica inversão de postura do primeiro mandatário motivo para imediata sublevação dos setores responsáveis por preservar nossos mais caros valores!... Foi preciso ameaçar a ‘imprensa’ para a macacada tida como reserva moral do País soltar esse traque?” Enter.
Pois agora Maria e Manoel estão mais enojados ainda, envolvidos pela enxurrada de sorrisos calhordas e estudados de centenas de bonecos, os já sabidamente dados a pilantragem política por décadas e os que ora chegam para o desfrute do poder em que a empulhação é o parâmetro e o fisiologismo é a conduta paradigmática. “Uma récua de salafrários: uns, ‘consagrados’ pelos anos e anos de pilantragem; outros, estreantes, exibindo dentes perfeitos em sorrisos estudados, ensaiados para a grande farsa, o grande ludíbrio regiamente pago pelos trabalhadores suados e quase mijados e cagados de tanto labutar!”, exclama a ruborizada Maria assomando à porta da copa-cozinha, o gato trançando entre seus passos firmes e elegantes. O guisado de Manoel perfumou a casa, convida à degustação, e para tanto o casal se despoja de armas e armaduras, sentando pacificamente à mesa sempre atraente e religiosa, sem salamaleques de orações maquinais, apenas a gratidão a Deus permeando um prazer sem lascívia, uma sessão de degustação em que só a pimenta de Manoel mostra algum sinal de sensualidade. O rádio está lá, calado sobre a geladeira. Manoel não quis outro fundo musical para o almoço. Ouvem-se apenas os ruídos eventuais que vêm da pracita hoje menos cotada mas ainda criminosa em sua criminosa essência. Mas um sabiá, que diariamente vem bicar bananas amorosamente jogadas pelo casal para pássaros frugívoros que se acercam da casa, encanta o meio-dia com sua melodia variada, vertical, algo chorosa. Enter.
“Deus é misericordioso, mas nos cabe lutar contra o infortúnio – vide Laocoonte –, e o infortúnio nos ameaça a cada segundo, mergulhados que estamos no crime invisível mas opressivo que preside simplesmente todos os conteúdos do que chamamos de cotidiano social. E pode-se dizer que o crime hoje é o Sistema!”, considera Manoel, feliz depois de ser informado por telefone da chegada de um livro precioso que o casal encomendara. Enter final.
“O malfadado 3 de outubro dará prosseguimento à farsa abjeta que se estende por mais de 40 anos. Não importa quem entre ou saia, é putaria grossa, o poder é imundo e corrompido, aliás, mais que isso, é apoiado é no crime, e quem não enxerga isso não passa de otário de carteirinha. Mas que venha essa data porca, data digna de heteras engravatadas: pelo menos ficaremos livres dessa propaganda diarreica (é) e fétida, digna de gente corruptível, que gosta de chafurdar no pântano podre do Sistema movido a crime. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Manoel e a ira santa de Maria

Frederico Mendonça de Oliveira

O candidato Hélio Costa, aquele que já foi repórter global, ostenta uma juba quase branca e que o faz parecer uma velha senhora intolerante, carrancuda, foi ouvido en passant por Maria quando eructava uma pergunta cínica em programa eleitoral. Não era aquele horror gratuito de uma hora, que obriga pessoas decentes a desligar o rádio: era uma vinheta de propaganda metida no meio da programação da emissora que o casal ouve constantemente, embora a cada dia menos e menos. Pois Maria se retou diante da fala do senhor (a?) candidato (que parece candidata véia e mal encarada), que era mais ou menos isso: “Você gostaria que suas contas de água, luz e gás fossem mais baratas?”, e argumentou expondo algo do tipo “vote em mim”. Maria perdeu as estribeiras com o rádio, parecia brigar feio com o aparelho, o que teatral ou cinematograficamente daria uma cena e tanto – dependendo do diretor, óbvio. E desembestou numa fala indignada, perante o que Manoel, que sempre almoça mais demoradamente que ela, não sabia se mastigava ou se ria, tanto divertia a nosso herói aquela inusual “performance”. Ela imprecava com verve: “Mas o que quer esse sujeito?? Ele pergunta a macaco se quer banana??? Que diabo de cinismo e cara-de-pau é isso?? Então ele vai minorar a conta de água, luz e gás, terá poder para isso, se eleito?? Ora, com mil tanques de roupa, vá blefar assim em mesa de pôquer de púberes aos buços!! “, e Manoel quase gargalhava ao ver sua deusa cuspindo marimbondos por todos os orifícios visíveis e teve de se virar para contemplar o semblante dela, a deusa irada diante da ignomínia instituída. Enter.
E Maria, às voltas com vassoura e outros petrechos e pequenas arrumadas aqui e ali, volta à carga, veemente, ardente em sua ira santa: “Queria ver se esse ardilão aparecesse por aqui à caça de votos, que fosse lá na Universidade, e vertesse essa gosma peganhenta de diminuir custo de água, luz e gás! Ele me teria pela frente perguntando sem nenhum salamaleque se ele, regiamente pago por nós, por nosso suor, diminuiria seu salário ao patamar dos membros do parlamento inglês – que não dispõem de verba de ajuda nenhuma, apenas de um salário simbólico –, para ver o que esse alambicado jubado responderia. Mais: gostaria de contemplar o abismo entre um boneco do poder em busca de ascensão e os pisoteados seres comuns que no íntimo gostariam mesmo é de poder linchar o cara e, na verdade, todos os assemelhados a ele! Isso não ocorre porque no fundo somos todos cristãos, embora os que engendrem tudo isso nos chamem de cordeiros...”. Enter.
A programação da emissora que pôs no ar a fala melíflua e farsesca, emissora dita educativa, embora decaindo em todos os níveis – apresentando essa fala e outras desviadas feias –, vai sendo corrompida dia após dia pela inclusão de submúsica, sucumbindo ao soul e porcarias, tudo porque a ignorância musical impera geral. Trata-se de problema hoje de alcance nacional, e os bons profissionais da emissora vão sendo preteridos por uma intervenção. O câncer, se não vem de fora através de imposições do Estado, que regula esse tipo de mídia, “educativa” mas na verdade instrumento do poder, acaba vindo de dentro. Digamos que por se incluir gente não despreparada – antes fosse! –, mas mal intencionada, que usa a emissora para seus interesses pessoais combinados a uma intervenção visando baixar o nível cultural geral. E agora nossos heróis relutam em sintonizar – antes era o tempo todo, só escapando de canseiras eruditas mal programadas –, de forma crescente vão fugindo para o silêncio, para não poluir a casa com massamordas sonoras burras, tudo agravado pela chegada torpe das falas dos sudras que sonham ascender ou continuar poderosos, ansiosos por ver chegar a seus lábios infames os úberes tumescentes do poder. Enter.
“E essas bestas do arraial, essas malas sem alça que integram esse cancro que dizem ser comunidade mas que não passa de um ajuntamento de deformidades assumidas, ainda têm, Manoel, a audácia solerte de dizer que agora falo como você... e há que considerar a falta de educação dos bugres dessas montanhas, que simplesmente ignoram e mesmo no fundo reprimem a fala da mulher quando estão em reunião em que ela é minoria e “ousa” se manifestar sobre os assuntos que rolam. É “cultura” nessas montanhas calar a mulher... até porque a mulher pensante aqui é coisa muitíssimo rara, e as que ousam abrir seu discurso são normalmente araras boçais ou as que calçam números maiores... Enfim, os brasileiros e seus políticos se merecem, se considerarmos a estética da deformidade reinante na Pindorama...”, conclui Maria com olhar entre incisivo e afetuoso fixando a parede quase no teto, onde acaba de pousar e se acalmar uma imensa e linda mariposa que veio de fora. E, dando uma estudada no calendário afixado na parede da copa-cozinha para saber se já entrara a lua crescente, Maria dá de cara com o destaque no alto da folha de setembro: “7 – Independência do Brasil”. E logo se encrespa com a desfaçatez que aflora de tudo:
“’Independência do Brasil??’ O 7 de Setembro marca apenas o desligamento de Portugal para passarmos a depender da Inglaterra, depois dos EUA, hoje do Império, nunca houve Brasil independente nenhum! Ou seria independente um lugar como esse, onde uma quadrilha instalada no poder governa outra quadrilha que sonha ascender a postos de poder e desfrute, onde o crime em todas as dimensões é instituição dominante? E onde a estupidez é a moeda corrente entre objetos vestidos manipulados para alimentar a degenerescência instituída, onde os estúpidos e safados mandam e os conscientes e inteligentes vivem em exílio para escapar da barbárie miserável que grassa como epidemia devastadora???”, e Manoel se deslumbra com a radicalização apresentada por sua sempre elegantemente contida Maria, que agora apresenta uma outra beleza, nova, a beleza aflorada, não a beleza em botão que sempre fora... Enter final.
“Ó Maria, tu saíste da lata!!!”, exulta Manoel com rosto radiante, maçãs do rosto brilhantes, lembrando o comercial do azeite Maria de seus tempos de menino, que dizia, em lusitanês: “Ó M’ria! Sai da lata!”, e que fazia sucesso a ponto de o produto ser ícone de mercado. Hoje o azeite Maria é misturado a óleo de soja, perdeu aquela condição estelar dos anos 50. Manoel se esbugalha de ver uma nova aura em sua deusa amada, vê-la mais lépida, mais brilhante em tudo, mais concentrada, e a felicidade se intensifica no lar onde a verdade bate de frente com a corrupção em derredor. “Por São Sebastião, o que será desses pobres infantes que “já nascem” ignorantes de pai e mãe e ainda são deformados pelos pais, que os levam a praticar perseguição a gente decente dissidente da corrupção local, guris que já na flor da infância estão envolvidos na podridão, apoiando ilícitos públicos??”, pergunta Maria a seu Manoel embevecido. Corta para uma tentativa de ouvir boa música na rádio. Em vão. E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, queridos!
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Manoel, Alcorão, World Trade e o Brasil burro

Frederico Mendonça de Oliveira

“Bem, até hoje não houve uma definição por parte do governo americano quanto a quem terá derrubado aquelas torres estúpidas, símbolos da decadência da tão sonhada civilização. Isso não é novidade: não ficou dito quem matou Kennedy (o Lee Oswald não foi, claro, era uma besta desequilibrada e um instrumento nas mãos dos verdadeiros assassinos), não se teve explicação sobre a morte do Bob Kennedy, sobre a morte de Martin Luther King ou de Malcolm X, tudo fica nebuloso, perdido no ar, e o tempo acaba sepultando as perguntas que antes vibravam em mentes e espíritos sequiosos de ter a verdade. Shakespeare estava certo em seus nobres e iluminados escritos: “Há muito mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia”. E eis o que vivemos: a ditadura da mentira deslavada, cínica, descarada, despudorada, e a grande maioria dos chamados seres humanos está aí perdidona, enquanto a Natureza vai reagindo aos maus tratos dos que querem lucro a qualquer custo. Agora chega um maluquete na Flórida, um pastorzeco de nome Terry Jones, propondo a queima de centenas de exemplares do Alcorão, e o mundo é sacudido pelo temor de uma conflagração prematura de uma guerra mundial que já se concretiza e eclode tanto pontual como linearmente desde que a tribo de Israel invadiu a Palestina. Um certo Marcos Guterman aí, que escrevinha no Estadão, deu contornos até nítidos do problema, só que o cerne da coisa ficou – como seeeeeeeeeeeeeeempre! – “esquecido”, a verdade que sempre é contornada e ocultada mas cujo fedor nos invade as vidas sem dó desde tempos imemoriais”, falou Manoel. Enter.
Fox considera os fatos trazidos por seu velho amigo, silencioso e mergulhado em reflexão, e acaba que lembra: “E nós, quando saberemos o que houve em Alcântara, o que houve com a P36, como o voo (ôo) 1904 – aquela ‘colisão’ foi de amargar, hem, Manoel!... –, com o voo (ôo) 3054 (outro enigma!), com o voo (ôo) 402, com tantas outras coisas ocorridas na Pindorama e que ficam sem explicação e são jogadas na lixeira do tempo? Parece que o Brasil não difere do resto desse mundo estúpido e cancerificado...”. Manoel olha para as rugas de velhice que vão dominando a pele de seu braço esquerdo – ele olhava para o cronógrafo Citizen automático adquirido em 1977 para sacar as horas –, verificando ainda que o envelhecimento de sua pele é bem mais visível que o do relógio, e uma certa nostalgia o assalta, chega mais constantemente, de um tempo para cá, a conscientização do momento crucial de que ninguém escapa. “Gauguin fez um quadro a que deu o nome de ‘Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?’, e eis que a pergunta tríplice está a cada dia mais procedente, vindo dos primórdios dos tempos, desde que estabelecida a consciência do ser ‘criado à imagem e semelhança de Deus’... Afinal, quem somos, ó Fox?? Veja só: considerando a lei de ação e reação, fica mais do que evidente que ninguém conhece seu passado, ou seja, o que fez em outras vidas, o que mostra que até o último instante desta encarnação que vivemos estamos sujeitos a pagamentos de dívidas... não importa idade, condição social, religião, nada!!! Na verdade, a verdade não nos pertence: dela temos apenas vislumbres ou a certeza de que existe. Basta dizer que não coube a nós a existência de um só fio de cabelo que tenhamos... Quem somos, então?”, propõe Manoel para um Fox com semblante meditativo, viajante. Enter.
“Agora, depois de toda essa cambulhada de besteiras sobre a derrubada e desabamento – na verdade, aquilo foi implosão – das torres, missão seguramente realizada pelos próprios americanos e, mais ainda, pelo próprio governo americano!, depois de atribuírem a gente do Bin Laden a autoria da maluquice maior de todos os tempos em termos de “atentado” e de falarem até em carro abandonado no aeroporto de Nova York tendo em seu interior manual de pilotagem em árabe, além de outras loucuras, vem outro curuquerê. Só faltava essa: um pastor sai do nada e ganha as primeiras páginas da imprensa mundial através de resolver homenagear as vítimas daquela loucura queimando exemplares do Alcorão em cerimônia no Marco Zero, causando um sismo planetário, mobilizando os mandachuvas do Ocidente e fustigando a turma dos camelos, do quibe e das mesquitas, e eis que se instala uma bosta mundial através de uma simples ameaça de protesto de um zé-ninguém da Flórida. Na verdade, a barafunda é geral: o 11 de Setembro é um embuste, e uma ameaça de um pastor maluquete põe em risco o equilíbrio mundial a ponto de se vislumbrar a eclosão da Terceira Guerra, que mobilizará os ‘aliados’ de sempre, só que agora contra o mundo árabe – o que em verdade já vem acontecendo desde 1948, com a imposição do estado de Israel –, que já é o ‘novo vilão mundial’, a nova ‘ameaça ao Ocidente’, ficando a jeremiada contra Hitler, ufa!, afinal, em segundo plano. Veja a fragilidade da situação mundial, amigo Fox! E o pior é que estamos nessa muvuca também, porque o mundo todo está submetido pela ditadura desses ‘aliados’, caramba! Basta lembrar a famigerada Tríplice Aliança, os aliados sul-americanos organizados pelos banqueiros europeus – com sobrenomes ‘exóticos’... – contra o Paraguai. Os agressores são sempre os mesmos, e quem os peita vira bandido, vilão, inimigo da Humanidade, como se a Humanidade pertencesse a essa minoria maligna e a ela coubesse decidir sobre o que é bem e o que é mal. Puxa, estou parecendo boneco falante reequipado com pilha alcalina...”, considera Manoel diante do semblante divertido e atento do amigo Fox. Enter.
Bem, nosso herói tocou na ferida maior da História, e Fox assina embaixo e abre outra questão, que parte de uma distorção no mínimo ridícula, na verdade trágica. “Manoel, ‘saca’ essa: o Brasil ingressa na vanguarda da estupidez consentida, assumida e até exibida e glorificada. Um presidente apedeuta que se orgulha de sua ignorância mas que não passa de um bonifrate do Império encabeça uma horda de pelintras que vai transformando o País numa pústula em todos os sentidos e direções. A reforma ortográfica é uma cagada federal: chega a incluir as letras k, y e w no alfabeto, mesmo que elas não tenham utilidade qualquer. Tiram o acento dos ditongos abertos em éia e óia, mas mantêm esses acentos em dói, herói, causando uma assimetria no conjunto de regras que obrigatória e fatalmente levará a mais erros e mais ignorância por escolha, já que os objetos vestidos virarão as costas para essa confusão. Os dicionários agora têm de apontar a pronúncia, se aberta, nesses casos. E os brasileiros ainda contam piadas de portugueses... Convenhamos: caberia chamar a atenção dos seus patrícios para essa estupidez, para virarmos piadas por lá!...”, conclui o amigo de nosso herói, que apoia (ói) a fala e acrescenta: “O que podemos esperar de um país em que crianças são usadas e deformadas para dar apoio a obras criminosas e ilícitas?”, e chega Maria com Alfa, mulher do Fox, e corta para a próxima. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Manoel e a mixórdia no arraial e na Pindorama

Frederico Mendonça de Oliveira

“Foi-se o encanto de tudo/ quem sou eu? Quem é você?”, cantava Miltinho com aquela voz nasal de doer, no fim da década de 50. “Puta merda, era um mau gosto sem freio!”, comenta Manoel com seu amigo Fox, sob o olhar cúmplice e encantado de Maria, que deixa de lado seus estudos e assimila os conteúdos da conversa de dois lobos do mar da pesada, dois experimentados nautas na travessia dessas décadas, dizíveis como “esses anos de merda”, quando, depois da chegada da Bossa Nova e da conquista da taça Jules Rimet (devidamente roubada por brasileiros à margem da História e a quem só interessa os quilinhos de ouro do troféu, sabe-se lá pra trocar por quê...), o Brasil sofreu a intervenção que selou o começo do fim, fim, aliás, já presente e visível no ar, nas ruas, nas fuças dos pobres diabos vestidos de gente e misturados e fundidos com carros, nesses dias de absoluta feiúra, feiúra, feiúra, dias que comprovam que “foi-se o encanto de tudo!” Enter.
Começa com as crianças. “Se nos doía desde nossos tempos de meninos ver crianças no colo de miseráveis e já vivendo a miséria como aprendizado de um caminho a eles imposto desde o berço, hoje é pior, muito pior: vemos os pirralhos classemé(r)dias transformados em cínicos desde a mais tenra infância. Se não lhes faltam condições materiais, o comer e o vestir, além do consumir – claro, isso de consumir é religião desde o útero! –, faltam-lhes rumos, parâmetros, referências, falta-lhes o peso benigno das instituições. Esses fedelhos hoje são cínicos em tudo, até nos ‘direitos adquiridos’, herança da era de corrupção de que são depositários. Andam como maluquetes desvairados se achando lindos mas sentindo, no íntimo (?), a pressão de uma vacuidade que lhes molesta de forma horrenda e ameaçadora a essência da alma... e ei-los marchando em passos de gigante a caminho do crack, do crime, porque desenredados dos valores da vida e envolvidos por uma política torpe que lhes desenha e prepara a desgraça para pouco tempo adiante. Eles serão milhares, mesmo centenas de milhares de Rafaéis Bussamra e Gabriéis Henrique Ribeiro (26 e 19 anos), que fria ou estupidamente cometeram homicídio doloso pelo atropelamento de Rafael Mascarenhas, 18 anos, filho da atriz Cissa Guimarães, no dia 20 de julho passado. Eles serão como os que, frustrados ante a derrota de seu clube no último campeonato brasileiro e encharcados de crack, apedrejarão a tijoladas a casa de um vizinho e o ameaçarão de morte porque ele torcia por time outro, que se sagrou campeão. Eles serão os que, em talvez menos de uma década, jogarão filhos pela janela do apartamento, assassinarão pais a golpes de barras de ferro e depois irão para motel e ainda chorarão no dia seguinte, teatralmente, no enterro de suas vítimas, mortas fria e monstruosamente. Eles engrossarão o exército do tráfico, dos viciados em crack e outras drogas letais, furtarão, roubarão e matarão para conseguir uma ‘pedra’, ganharão notoriedade não na mídia dos famosos, mas nas páginas policiais do Oiapoque ao Chuí!”, perora sereno Manoel para Fox e Maria, ambos atentos e curtindo a oratória contundente de nosso herói, que se manifesta entre veemente e contristado. Enter.
Fox hesita em se manifestar também, mas, de tal forma tem verificado sua impotência diante do cinismo e da deformidade demonstradas diuturnamente pela vizinhança que o persegue por puro sadismo e compensação de frustrações profundas, que apenas sorri um sorriso um tanto triste indicativo de comiseração diante do pior. Mas logo muda seu súbito mas passageiro estado de humor, em que sobressai uma visível dose de piedade, e ei-lo criticando com elegância o estado mental dessa vizinhança conduzida pelo poder corrupto e corruptor a um estado de decadência patética: “Eles são todos como frangos de granja, desmiolados e enclausurados em suas gaiolas em que lhes ministram ração cheia de anabolizantes, vivem totalmente à mercê do que interessa a seus donos. Como cães, ou ainda mais submissamente que esses animais abestalhados, curvam-se ante as ordens de corruptos com a felicidade de quem recebe um afago, como uma dádiva... e mergulham ávidos nessa insanidade e envolvem também crianças, fazendo-as desde cedo participar politicamente de um crime descarado, com isso potencializando o alastramento do câncer da corrupção ativa e deslavada...”, e Manoel e sua Maria exultam ante o desabafo de seu grande amigo: “Não fosse tão cedo e não tivéssemos tanto por fazer ainda, era o caso de brindarmos com uma loura geladézima, não pela podridão que avança tão feiamente, mas pela verve de nosso amigo músico, que só em momentos especiais abre seu coração transformando tanta miséria em fala tão fecunda!”, festeja Manoel com sua Maria, toda sorrisos, divertindo-se com o fato de o músico ter consistente formação literária e artística em diversas direções, coisa raríssima na esfera da música, especialmente na praia do popular. E o trio acaba que inaugura a participação de Maria como proponente crítica: “O que mais abestalha é considerar o mau gosto dessas vidas, especialmente o inferno em que se debatem, obstados de lucidez e compreensão porque voltados para desejos e matéria. E, o que sobressai como a maior das contradições, querem suprir seu vazio existencial decorrente da conversão à matéria com quê? Pasmemos: com mais matéria ainda!”, e todos se riem gostosamente, evitando gargalhar – porque gargalhadas são arriscadas, espiritual ou intestinalmente... Enter.
“O que afinal está acontecendo com o Brasil? Como conseguimos involuir tanto politicamente depois de quase duas décadas lutando pela democracia? Como pode o Brasil, em pleno século XXI, cair na armadilha já tão velha do populismo barato e abjeto que acabou com a Argentina, que amarrou o México por tantas décadas? Como pode cair na armadilha do ‘salvador da pátria’, do ‘pai dos pobres’, etc.? Não amadurecemos nada nesses anos todos? Esquecemos tudo o que a História já cansou de nos ensinar? Teremos tempos melancólicos pela frente”, escreveu um leitor de um texto do Nelsinho Mota num jornalão aí. Certo, até irrespondível. Claro, a fala do Nelsinho cai meio que bandeirosa no ideário do Império, tem a estética desfaçada e hipócrita dos “valores” do Império, tem até mesmo o ponto de vista e a clivagem do Império. Mas o garotão que apoiou o Nelsinho falou de forma neutra, levou pra onde devia. Enter final.
E o trio prossegue se divertindo, trocando impressões sobre as roupas das dondocas que frequentam a pracita malignizada, parecem umas malucas nas malhas de classemédias ideologicamente radicais, parecem iscas de ginástica paga em academias, são vulgares, empetecadas, produzidas, enfim: RIDÍCULAS! “Basta pensarmos no que vai naquelas cachimônias para que nossos fígados se desopilem à farta!”, fala Maria com graça, elegante em suas vestes soltas caindo harmonicamente sobre suas grandiosas formas gregas, e o trio se harmoniza em risos e alegria, considerando o desastre que avança ameaçador sobre os seres transformados por si mesmos em coisas, em objetos. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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