O sintoma que mais define o fim de qualquer coisa para nós
cara é um decair de interesse por ela ou, de outra forma, o desinteresse
repentino. Você vai constatando gradativamente que a coisa se estraga, e acaba
que você não tem outra alternativa que não a de dar de ombros e virar as costas.
Assim, vendo a nova cara do PT – ou a verdadeira, que era ocultada por uma
proposta falsa, a pele de cordeiro no lombo do lobo –, eu me incompatibilizei com
a linha do partido e depois o fui esquecendo por descartamento escatológico:
merda não interessa. A menos que para adubar a terra, e olhe lá. Mas acontece
que o Lobão, que você deve conhecer, lançou um livro aí. E ele mete o pau em
todo mundo, parece que ninguém escapa da “metralhadora giratória” do cara. As
aspas revelam não ser bem isso. Vi, até onde deu, uma entrevista desse roqueiro
meio falastrão e confesso que o nível tende ao rasteiro. Gosto de coisas dele,
admiro a musicalidade e tal, mas fico por aí. Meu estômago rejeitou o
falatório, um Português vazio, uma visão superficial e até meio emocional de
tudo. Mas o Reinaldo Azevedo comprou a briga pró-Lobão por detectar, lá com
seus botões, um patrulhamento petralha sujo sobre o cara. Bem, o Lobão deixa
claro que está tudo perdido, que não tem mais jeito. E vejo que nesse ponto
concordamos. Enter.
Diz o Reinaldo: “Eu sei a patrulha de que fui alvo quando
afirmei que Niemeyer era metade gênio (o arquiteto) e metade idiota (o
comunista de butique). E olhem que alguns amigos meus protestaram. Há quem
considere o arquiteto ainda pior do que o “pensador” porque preso a uma visão
stalinista do homem, da cultura e da arquitetura. Parecia que eu tinha roubado
o pirulito da boca de uma criança pobre…” Bem, o Niemeyer, como cansei de dizer
aqui, só criou monstrengos, especialmente aquela Brasília insuportável, fria e
irreal que acabou sendo a sede da maior quadrilha já conhecida na história
“defte paíf”, como diz o safardana rei da petezada. “Lobão tem coragem de remar
contra a maré vermelha, ao contrário da esquerda caviar, a turma radical chic
descrita por Tom Wolfe, que vive em coberturas caríssimas, enxerga-se como
moralmente superior e defende o que há de pior na Humanidade. No tempo de Wolfe
eram os criminosos racistas dos Panteras Negras os alvos de elogios; hoje são
os invasores do MST, os corruptos do PT ou ditadores sanguinários comunistas”.
Pois é: remar contra a maré vermelha é banal; aliás, obrigatório, se
considerado o nível de miséria intelectual e moral dessa corja desprezível. E
vemos que Lobão, despreparado em quase tudo, até no falar, bota suas cartas na
mesa sem medo, ao passo que Chico Buarque, um esquerdóide milionário – um dia
eu descrevo aqui a casa dele no Jardim Botânico, Rio –, cala – e consente,
então – sobre a explosão do descalabro petista, quando deveria vir a público
manifestar sua desaprovação para com isso tudo. Mas não faz: fica por aí
desfilando a “nova cara”, um maracujá de gaveta em que ainda brilham,
desamparados e destoantes, aqueles olhos que causaram tantos suspiros nas
malamadas de plantão – e um nariz que vai indo firme em direção a parecer uma
berinjela (ou beringela, com g, como quiserem). A propósito, considerando a
quase beringela nasal do menestrel das esquerdas tupiniquins, procurei a origem
do termo e vi que não há registro dele no Houaiss. O nome científico,
entretanto, é Solanum Melongena, e acredito que beringela derive do segundo
nome, como carrot vem de Daucus
Carota; letuce, de Lactuca Sativa; e arroz, de Oriza Sativa, só para dar
alguns exemplos. Tem mais. Enter.
“Compare isso às letras de Chico Buarque, ícone dessa
esquerda festiva, sempre enaltecendo os humildes: o pivete, a prostituta, os
sem-terra. A retórica sensacionalista, a preocupação com a imagem perante o
grande público, a sensação de pertencer ao seleto grupo da beautiful people são mais importantes, para essas pessoas, do que
os resultados concretos de suas idéias”. Vá lá. Mas que o Chico é um talento de lei não há negar sem incorrer em grave distúrbio de obtusidade e miopia.
O samba Pivete é admirável, poema imperdível, tanto quanto Apesar de Você
figura entre os mais importantes sambas de todos os tempos, ao lado de
Construção. Mas o pessoal não enxerga valores musicais NUNCA, isso é uma deficiência
irremediável entre nós. Somos, os músicos, uma casta em extinção, pois a
intervenção internacional conseguiu transformar um país musicalmente gigantesco
num deserto sobre cujas areias soam emissões vocais obscenas de imbecis
ganibundos liberando guais e melodias e palavras entre o miserável
indescritível e o chulo asqueroso. Quanto à postura política do Chico, para mim
é problema dele. Eu me garanto com a minha, e devo dizer que até me bate alguma
pena desse cara – que tinha por hábito não pagar os músicos que o
acompanhavam... Entendeu, ô meu? Então... Enter final.
Desisto de vez. Vejo uma turba de azumbizados entupindo ruas
e lojas com suas vestes de espantalho, uma gentuça multitudinária zanzando
pelas ruas mais perdida que charuto em boca de bêbado. Eles vagam pespontados
por skates e “bicicretas”, tudo misturado como um novo caos obrigatório e para
eles natural e até prazenteiro. O meio dos vermes é o pus. E não tem mais
jeito. Se destruíram nossa música e nossa cultura, destruíram o Brasil. E as
novas gerações, excluindo uma turminha que ainda evolui, mergulham nas trevas
da miséria intelectual e moral. Lobão tenta alcançar isso, mas o livro dele –
que não li, mas adivinho – é um monte de críticas pessoais a tudo que o
desagrada. Não tenho tempo a perder com isso. E a entrevista dele ao Gentili
mostra o nível de forma inegável: é rasteiro, emocional e egocêntrico. Ele não
investe contra os valores que estão aí, apenas critica pessoas e condutas. Não
dá. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!...