sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Fatos contundentes oprimem um lusitano nas Alterosas

Frederico Mendonça de Oliveira

Desengano talvez não seja o termo preciso, mas é por aí. Não se pode minimizar os impactos sucessivos sofridos por Manoel nas montanhas sul-mineiras, e o fato de eles serem seguidos e fortes realmente faz com que levemos a sério este tão duro percurso. Dá-se que nosso herói não é lá muito apaixonado, a esta altura da vida, por putinhos alheios, especialmente porque os cinco rebentos que ele botou neste mundo já vivem suas vidas pra lá, já existe até uma netinha linda, filha do primeirão, que, sem intenção de rima, vive no Japão. Manoel aboletou-se nas montanhas para poder dar vazão a seus talentos, que ele manteve em suspensão para se dedicar por anos a formar a cuca da turma, preocupado com os “valores” da família de sua ex, do que tomou consciência ao longo do viver conjugal que se deteriorou de forma inevitável. Hoje são águas passadas, e os putos viraram adultos, e, incrível, o sacrifício de Manoel não vingou: os filhos foram “moldados” naqueles “valores” – mas Manoel tem a consciência tranqüila de ter batalhado duro, e considera serem águas passadas, e foi em frente, pois atrás vinha gente. Enter.
A tal pracita toma hoje muito do tempo de Manoel: sem que ele quisesse, a bosta virou uma queda de braço. Alguns mineiros cínicos perguntam, com hipocrisia típica, por que ele estaria brigando com os figurões que fizeram a coisa. Manoel, já emputecido, os manda à merda entre dentes, enquanto responde claramente que não é ele que está brigando contra porra nenhuma, o que acontece é que invadiram-lhe a casa. Os interlocutores safados calam, sem argumento, mas a pergunta de canalhas fica no ar, e a fisionomia dos estúpidos mantém a pergunta, como se a resposta de nada valesse como esclarecimento. Picardia de pilantras, jogo de cínicos, a que o sangue lusitano não se adapta NUNCA! E a degenerescência prossegue, com a vizinhança adaptada ao crime como vermes juntinhos na bicheira, aquele asco. O coração de nosso herói é forte, mas mesmo sem sinais de risco Manoel começa a temer o infarto ou o AVC, tanto lhe sobe o sangue à cabeça. O último incidente foi escrotíssimo. Enter.
Nesta fase de águas dezembrinas, as dondocas que se reúnem com seus putinhos na pracita batiam em retirada para casa com crianças, carrinhos e tudo quando cruzaram com Manoel e o morador mais perseguido na história. Eles chegavam do centro, e a chuva ameaçava cair pesado. Viu que o morador observou feliz a saída daqueles seres, as mães e babás por serem consolidadoras do ilícito ao freqüentar religiosamente o espaço em litígio; os putinhos, por serem instrumentos de uma perseguição torpe e de uma adesão a um crime depravado. Pois uma das dondocas, mais saída, provocou o morador, falando para seu putinho: “Pula, pula! Faz barulho! Faz barulho!”. A revolta subiu à cabeça de Manoel quando viu o morador ser insultado assim, mas não pelo insulto em si: pela deformidade da índole daquela mocréia (embora jovem e até, vá lá, bela), que não hesita em usar seu putinho para causar mal estar ao já idoso morador decente, um legalista que acabou sozinho contra os safados que desfrutam do crime. O pobre-diabinho já é instrumento para os instintos deformados daquela alma desnaturada, usado para causar mal estar contra alguém que não faz mal a ninguém, apenas discorda do ilícito de que a maluca faz uso com cinismo e acinte assumidos! A que ponto chega a estupidez malsã dessa “gente”! “Puta que pariu!”, como disse Graciliano Ramos à página 51 do seu Angústia, edição de 1953, que Manoel leu em Coimbra. Indignado, Manoel verificou a consternação batendo no espírito humanista do amigo, que quedava abestalhado. Enter.
“Terei cervejas no congelador??”, pergunta-se Manoel já preocupado com fazer descer pela goela, com a ajuda de uma geladézima, a afronta daquela criatura de caráter tão deformado. “Ah, tem aquelas que sobraram de domingo!, claro!”, e Manoel se despede do meio esverdeado amigo, cuja coloração se deverá à bile que lhe subiu aos miolos depois da afronta fútil e escrota. E, já em sua copa, a cerveja branca de neve salta para a mesa, e eis nosso herói socando goles goela abaixo, para diluir a estupefação que se transformou em pedra em sua garganta. Enter final.
“Posso ajudar em alguma coisa?”, pergunta a sirigaita a Manoel, que passa os olhos pelas prateleiras de uma loja em busca de uma porcaria de que está precisando. “SIM! PODE! VÁ PRO DIABO QUE A CARREGUE! AJUDAR DIABO DE MERDA NENHUMA! ESTOU A OLHAIRE E SEI O QUE QUERO!! MERDA! PORRA!”, pensa Manoel olhado para a pobre coitada. “Os brasileiros endoidaram de vez!”, resmunga consigo. E viva Santo Expedito! Oremos. “Posso ajudaire em alguma coisa?”