sábado, 10 de janeiro de 2009

Manoel perde o rumo nas Alterosas

Frederico Mendonça de Oliveira

Ê, Manoel danado! Depois de verificar tanta maluquice no Brasil, não sabe se volta pra Portugal ou se acha uma ilha no meio do Atlântico onde se isole desse mundo maluco! Mas a pracita continua lá, com putinhos irritantes que as mães mandam gritar e fazer barulho pra irritar o morador legalista, o que está até censurado pela Justiça pra não poder denunciar a “otoridade” do arraial que realizou a obra ilícita. Bom, a pracita tem seus dias contados, vai tudo voltar ao que era antes, mas o morador sacaneado pelos maratimbas sem cérebro anda sacaneando também: mete som alto, daqueles bem malucos – música contemporânea, aquelas sonoridades feias, gritantes, com estrondos, ruídos esquisitos – e sem melodia, harmonia e nem ritmo, e a caipirada sem miolos debanda geral. Enter.
E dizem que português é burro... pois chega um poderoso chefão que nem do arraial é, dá a ordem pro prefeito e pra Câmara pra fazer obra ilegal e tudo é feito sem nenhum senão! Que burrada! A Justiça é cega, surda e muda, mas um dia a casa cai, e o prefeito vai ter de responder por que fez a obra ilegal, e não é possível que ele ignorasse que incorria em crime de responsabilidade e improbidade administrativa, sem contar que ele e a outra “otoridade” também incorriam em crime de prevaricação! Se um cara de peito parte pra denunciar e pra acionar os canais da legalidade contra essa canalhice, o prefeito, pelo menos, cai da cavalgadura!... Ê brasileirada burra! E além dos malucos que fizeram a obra ilegal ainda tem o monte de bestas ignaras e/ou safadas que dão apoio à irregularidade, violando com isso as leis que protegem a eles mesmos! São os portugueses os burros? Hem?? Ou os brasileiros gostam de cagar na própria sorte? Enter.
Oito da noite, horário nobre, quando a brasileirada estúpida senta o bundão no sofá e liga a TV pra mais uma sessão de entrega da alma ao diabo.Diante dessa estupidez coletiva, a cachorrada, que os brasileiros querem ter pra cagar no quintal e latir estupidamente – parece que assim seus donos se dão conta de que estão vivos, mesmo estando apenas vegetando boçalmente –, entra em cadeia no bairro. São centenas de cães latindo uns para os outros numa comunicação paralela à descomunicação da rede de bestuntos em cadeia com os cornos na telinha da máquina de fazer imbecis. E o bairro entra em estado de inferno, justo como o diabo gosta, e a vida que se fornique, o que importa é ver carinhas de atores naquelas novelas que são as mesmas desde há 40 anos... Enter.
Manoel toma uma gelada à oito, quando gostaria de começar às nove, mas a cachorrada em cadeia não o deixa pensar, então a gelada ajuda. O morador perseguido deve fazer o mesmo, e deve ficar meio maluco ouvindo essa zoeira que é o reflexo da burrice geral, e ele, que é intelectual e pessoa pra lá de sensível, deve, nessa hora de horror sonoro e de manifestação de infelicidade coletiva, incluindo participação especial dos cães desassistidos, meter um fone de ouvido pra não morrer de desespero perante a irracionalidade malsã da macacada do arraial! “Haja fralda limpa!”, dizia minha avó quando via a garotada começando a chorar, e Manoel adapta a frase para sua nova situação: “Haja penico disponível!”, referindo-se a seus ouvidos, que vivem aturando merda o tempo inteiro, seja putinhos gritando, seja adolescentes fazendo altas zoeiras, seja cachorrada latindo loucamente... Enter final.
A coisa vai tão mal que Manoel até desenvolve uma esperança: não é possível que tanta maluquice possa prosseguir! “Algo vai mudar, porra!”, resmunga ele, e tudo se clareia quando se verifica uma reação da legalidade contra o prefeito aloprado, reação que pode valer ao maluquete um empichamento beleza. Quem partiu pra cima do cara já foi autoridade em gestões anteriores, conhece as manhas do poder, e lá veio um processo feio cortar a mesmice de deformidade vivida nestes últimos dois anos. Quem entrou conhece quem é quem, e sabe brigar bonito, atira no alvo certo, não dá bobeira e não engole sapo nem enrolação. “Vem merda na ventoinha!”, exulta Manoel, olhando para o ventilador que em Portugal é isso mesmo, ventoinha, e vai prelibando a hora da demolição da pracita, que vai deixar os aloprados e seus simpatizantes com cara de bunda pro resto da vida! “Brasileiros burros!!”, rosna Manoel, “Mas os inteligentes começaram a se mexer!”. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!