quinta-feira, 31 de março de 2011

Bolsonaro, crack e o ladrão gago

Frederico Mendonça de Oliveira

Faltou acrescentar ao título que o Português vai pro saco justamente por onde ele é normalmente mais difundido para o grande público: pela imprensa. Veremos adiante. Por agora, resta quedarmos enojados diante da vil hipocrisia de uma sociedade que não é senão um simulacro, e pra lá de grotesco e degenerado, de uma sociedade mesmo. Uma sociedade esfarrapada, desmantelada em sua essência e em todas as suas manifestações, desarticulada e inoperante em sua gênese e em todas as suas manifestações. Pois estamos diante de mais um episódio de grosseria associada a cinismo, de imediatismo estúpido associado a inconsistência social aguda. Enter.
O esparolado deputado Jair Bolsonaro volta, a partir de mais um de seus arroubos verbais, às manchetes dos lixos impressos e eletrônicos de que dispomos para tentar nos inteirar do que se passa na Pindorama Desvairada. Em entrevista ao CQC, programa que prioriza a polêmica e que desafia os limites normais da imprensa amestrada, não deixando de ser, em essência, amestrado também, o deputado atacou de responder na lata a “perguntas-isca”, e o resultado foi muito além do previsível. Indagado pela Preta Gil sobre como se sentiria o nobre parlamentar se o filho dele se apaixonasse por alguém como ela, o mais inábil que insensato deputado acabou se enredando com o que há de mais muquirana em nosso aglomerado social – ou chamaríamos isso de população? – e detonou uma grita dos militantes da imposição de diversidades e de diferenciações presentes em nossa sociedade. Quem grita enfurecido nisso? Claro, a turma dos “bafo no cangote”/”morde a fronha”, como dizem os não diversos, os que vivem no padrão adão/eva, que gostam mesmo é de combinar prazenteiramente os aparelhos dos quais costumam sair nenéns, a turma “falo na vulva e não abro”. Desinteressados de conteúdos que não os ortodoxos, dos quais deriva a macacada hoje deambulando na superfície, subterrâneos e espaço aéreo nesta bola enlouquecida, os “convencionais da coisa com coisa” dão de ombros para a celeuma histérica gerada pelo deputado ex-capitão e em muitos casos até concorda com ele em vários aspectos. Enter.
Bem, Jair Bolsonaro prima pela radicalidade, o que em nada seria condenável senão perante os que praticam o meiocampismo vaselinoso ou o sobremuro cínico nestes dias de opróbrio e escatologia. Os mais chegados a visão científica o consideram até rígido demais, por não transigir com o que os sociólogos como Gilberto Velho classificavam, no fim dos anos 70, como “comportamentos desviantes”. Avesso às assimetrias desse mundo a cada dia mais sodomizado a força (não, não tem crase: o correspondente masculino é “sodomizado a porrete”, por exemplo), o sincero e volta e meia destemperado Bolsonaro chama sem papas na língua os bois pelo nome e não raro expressa sua postura defecando e deambulando para o que seus opositores pensem ou façam. E sempre exibindo um tom emocional, indignado, irado, absolutamente descontente com o quadro enlameado em que todos chafurdamos, uns achando lindo maravilhoso, outros sem ação, outros putos da vida. Bolsonaro se enquadra no terceiro caso, e não mede muito as palavras nem se preocupa com como serão recebidas suas declarações. Enter.
Pois, desta vez, indagado pela Preta Gil sobre se ele gostaria de ver o filho apaixonado por alguém como ela, deu-se o curto-circuito: ele soltou os cachorros como que indignado, exprimindo que tem asco da conduta de gente como ela, que terá até relatado em público, segundo saiu no Globo de 30/01 passado, ter ido para a cama com um magote de gente. A possibilidade de pessoas de vida sem muitos acidentes se indignar com ver essa permissividade toda comendo solta é grande. E, se o cara se destemperou e gerou uma celeuma de defensores dos direitos dos filhos da diversidade e dos guardiães dos direitos dos fracos e oprimidos, vá lá: todos salvarão a moralidade, o direito de virar tudo pelo avesso e será crucificado o pobre destemperado por ter manifestado sua repulsa por toda essa degenerescência que assola a Pindorama Degenerada. Enter.
Meu Deus, vão procurar o que fazer, criaturas perdidas! Vão ler, estudar, “fazer algo por vocês acima!”, como dizia minha avó. Se a OAB, as entidades de direitos disso ou daquilo e toda essa gente que lucra com o escândalo conseguirem algo, será apenas arranhar de forma inócua a imagem do Bolsonaro, que já goza de desprestígio amplo entre todos os que se adaptam a viver na mentira e na gandaia da inversão total de valores. O Bolsonaro grita contra essa monstruosa inversão baphometiana de valores, só isso. Se ele não gosta de homem, não só é direito legítimo dele como é natural que estranhe quem gosta de homem. Ele é do tipo que professa o amor entre opostos que se atraem, o amor de que vêm frutos. O resto é escarcéu da galera “sensibilizada”, que faz barulho para aparecer na mídia. Enter.
E teve o fortuito caso do gago que assaltou em Limeira, SP, mostrando um papel em que estaria escrito: “É UM ASSALTO”, numa folha de caderno escolar e com letra de forma a mão. Acabou em cana logo, e o assunto correu o país causando hilaridade. Os que assaltam o erário e o dinheiro público em todos os âmbitos fazem diferente: não comunicam o assalto, fazem-no sem alarde, sem barulho, “que barulho nada resolve”, como disse Drummond n’A Morte do Leiteiro... E nosso herói às avessas, que temeu talvez não intimidar de verdade balbuciando que aquilo era um “a –ssa – ssal – to”, teve o cuidado de anunciar o delito por escrito, na verdade comovendo todo o País. E levou apenas R$ 380, segundo a imprensa carioca. E logo depois foi preso, está em cana, e não duvidamos que isso dará ibope no Kibeloco ou alhures, se é que não sai entrevista dele no YouTube e até no Jô... Quanto absurdo!, quanta loucura!... Enter final.
Bem, o Bolsonaro está tentando se safar da sanha dos defensores da moral pública e dos “bons costumes”, da arremetida das milícias da defesa do politicamente correto. Isso esfriará, acabará em audiência sem imprensa numa futura tarde remota alguns dez anos à frente. Nada vai mudar para ele, para a Preta, para ninguém. O advogado de sobrenome de forâneo ganhará uma gorda paga, e outras patacoadas roubarão a cena, e valeu sabermos que a Preta chorou muito, sentida por se sentir discriminada, oh!. Choramos por ela, que exibe um perfil tão duvidoso na mídia, especialmente sem mostrar nada muito além do corpão que lembra a mãe, Sandra, e uma preocupação muito além do normal com manter-se visível, aparecer, aparecer... perfilando-se a nomes como Galisteu, Hickman, Winitz, Carla Peres, Sangalo, por aí. O que ela não sabe é que este que vos escreve praticamente a viu nascer, e socorreu a mãe dela em Itapoã, 1974, quando apareceram dores abdominais a poucas semanas do parto. A mãe da Preta é a Sandra Gadelha, a quem a turma chamava de Sandrão, depois Drão. Beijão, queridas. Muita paz! E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!