quinta-feira, 25 de março de 2010

Manoel e a medalha Santos Dumont

Frederico Mendonça de Oliveira

A “primeira-dama” recebeu medalha de mérito Santos Dumont, causando estupefação em toda a banda saudável da sociedade brasileira e repercutindo feiamente nos meios aeronáuticos do Brasil e do exterior, especialmente na França, que tem no inventor brasileiro um símbolo de grandeza – Santos Dumont voou, pela primeira vez na história da Humanidade, em Paris – que os brasileiros em geral sequer sonham existir. Nossa gloriosa Aeronáutica, reduto de brasileiros digníssimos, de heróis, de desbravadores e de defensores (do que resta) da pátria, faz posição de sentido para que Marisão, mulher sem qualquer talento que não suportar a presença incômoda de um álacre imbecil 24 horas por dia, terá recebido a condecoração alegadamente por “serviços prestados à Força Aérea Brasileira”. Que diabos de “serviços”??? Viver direto e reto no Super 51 acompanhando o apedeuta biriteiro em 102 viagens ao mundo (ou mais de duas por mês, tal como semana sim, semana não) nos 40 meses de desfrute da presidência??. Sem contar, ora pois, as até aqui 283 viagens pelo Brasil, claro... Seria isso o que levou a Presidência a condecorar a ex-dulcorete primeira-dama envolvendo a Aeronáutica em patacoada vexaminosa jamais imposta a esta instituição gloriosa? Enter.
“Pois sim: as imagens que me remeteram são de um grotesco inimaginável, só vendo é que acreditamos!”, considera Manoel analisando os momentos de constrangimento enfrentados pelos oficiais e homens do ar envolvidos nesse absurdo. “É muita humilhação, verdadeira grosseria isso de fazer oficiais e soldados do ar render reverência militar a uma criatura desprovida de qualquer valor que não o simples fato de ser mulher do boneco alçado por forças ocultas à presidência da “república das bananas”!..., conjetura Manoel, apaixonado por aviões desde criancinha e homem reverente diante dos aeronautas, a quem dedica profundo respeito e admiração. “Mesmo tendo havido um homem como o brigadeiro João Paulo Penido Burnier, que ousou tentar manchar o nome da instituição forçando oficiais do Parasar (reduto de heróis, serviço de busca e salvamento da FAB) a praticar terrorismo de Estado mas foi brecado pelo duplamente herói capitão Sérgio “Macaco” Miranda, que se negou a praticar atentados, a Aeronáutica é uma das referências de grandiosidade em nossa história”. Mas Manoel já começa a tornar abrangente a visão que vinha abrigando em seu peito quanto a degenerescência política: “Pelo que tenho visto por aí, amada Maria, não é só aqui o país do desvio de significados essenciais: a Itália de Berlusconi, a França de Sarkozi, os EUA de tantos bonecos obedientes às forças ocultas, a Rússia sempre misteriosa mas sempre adversa, a Inglaterra de Blair e outras incógnitas, a Alemanha amordaçada desde 1945, tudo isso me parece que já era: apenas por lá as instituições ainda são mais estáveis”, define com perspicácia nosso herói, olhando ternamente para o carinho com que o gato mais novo trata sua linda Maria, uma cena comovente de constatação de afeto vinda de um lindo felino. Enter.
“Talvez a medalha tenha sido pelo número de horas voadas pelo mundo acompanhando o molusco”, disparou um brasileiro indignado com tanto descalabro e com tamanho surrealismo. Outro observador classifica a primeira-dama como sendo “primeira-anta” ou “primeira-inutilidade”. Pois, divertindo-se com tão monumental disparate, nosso herói até ironiza com sua amada, que o contempla com leve sorriso aquiescente: “Não, não sacaneiem tanto a pobre”, hilaria Manoel: “Afinal, não podemos esquecer que ela é mártir, basta considerar que... que... Oh, não seria elegante descer a certas cenas...”, e Maria e nosso herói trocam discretas mas gostosas risadas alegres, tendo o gato como fechamento de uma corrente de felicidade e comunhão de amor. E ele volta á carga, recondicionando o discurso de pilhéria: “Ele disse que ‘é homem muito capaz, que não brinca em serviço, pois, tão logo se casaram, a galega já foi ficando grávida!’...”, o molusco”. E Manoel não perde a oportunidade para lembrar a idiotice dessa grosseira fala; “Se ele acha que é muita coisa engravidar a mulher logo depois de casarem, o que ele diria das que são engravidadas antes de casar, hem? Hem?”, e a risada musical de Maria fecha uma linda cena com a presença do gato aninhado em seu colo delicioso. E vai se desenhando um ambiente de “rir para não chorar”, e o gato se harmoniza com a paz da lucidez serena do casal. Enter.
E Manoel discorre sobre a vida de Santos Dumont, um gênio que o Brasil não reverencia nem mesmo conhece – a não ser por logradouros que levam esse nome, como o aeroporto urbano carioca –, e se vê inflamado de entusiasmo relatando passagens da vida do grande brasileiro a sua pequena platéia luminosa de beleza: Maria e Téo, o jovem gato. E como que para completar a reunião de inteligência, beleza e amor, chega o soberano Zulu, o outro gato do casal, por sinal um gigante negro luzidio e cético, arredio por natureza, mas um rochedo de grandeza e beleza, mãe para o mais novo, e ei-lo já sentado majestosa e respeitosamente ao pé da linda e atraente Maria, que tem em seu colo o ainda menino Téo, de menos de um ano, e que combina um branco de algodão com um rajado alaranjado de rara beleza. Enter final.
E Manoel volta à carga: “Além do avião, Santos-Dumont inventou o dirigível, o relógio de pulso, o hangar e o ultraleve, a que ele deu o nome de Demoiselle, por sinal um desenho incomparável pela beleza e elegância!”, entusiasma-se nosso herói, sob os olhares de Maria, Téo e Zulu; Maria, atenta, toda bondade; Zulu e Téo observando a movimentação elétrica da fala de Manoel, que levanta o tom de voz tamanho o entusiasmo de falar sobre um ídolo que venera com deslumbramento. E, para Maria: “Que valor tem esse apedeuta que ocupa a presidência desse país para o qual só deu sua traição? Especialmente se comparando a um brasileiro como Santos Dumont, a insignificância e a miséria desse bugre é de causar náusea... e justamente a sua consorte também apedeuta se concede a medalha de mérito que leva o nome de um dos mais admiráveis brasileiros!” E um silêncio prenhe se sucede a esta fala, silêncio só cortado pelo vigoroso ronron do menino Téo. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

Nota
Faleceu na noite de 25/03/10 nosso amigão e irmão José Gileno Tiso Veiga, trespontano, um irredutível revoltado, homem de imenso coração, diferenciado radical entre os seus, pária por opção, sem outra opção que não se assumir um pária, paradoxalmente apaixonado pelo piano que lhe foi imposto desde criancinha, sublevado contra a sanha de o transformarem em gigante, conflito em pessoa, enfim: um exemplo de insubmissão à intenção de fazerem dele um cooptado.
Depois de décadas se arrebentando em protesto ao infortúnio inoculado, sucumbiu à autodestruição, enfrentando um vertiginoso declínio biológico marcado por duro sofrimento. A etapa final durou em torno de dois meses, tempo em que suas funções foram parando até sobrevir a instalação de um colapso generalizado.
Vá em paz, amigo. Na próxima, em que de novo conviveremos, Deus possivelmente dará a você um caminho de socorro ao próximo, aos sofredores, e a fantasia de grandeza que lhe impuseram nesta vida que você acaba de deixar não atormentará sua nova etapa.

Manoel, Maria e todos os amigos do casal, que o tinha em alta estima e resguardará sua memória