sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Podridão pouca é bobagem

Podridão pouca é bobagem

Frederico Mendonça de Oliveira

A macacada sem rabo aceita numa nice a condição que os meios de “comunicação” lhe impuseram a partir de 1964. Quando empreendi meu deslocamento para o Sul de Minas, a música começava a morrer em definitivo nas capitais. Entravam em cena os tais “projetos”, que os músicos não alcançavam entender o que vinham a ser. Muito bem. Ou, melhor, muito mal. Aos poucos, na esteira do lançamento da Xuxa como cantora de música infantil – articulação muito bem realizada pelos profissionais a serviço dos interesses do Império – vieram os horrores que devastaram nossa cultura musical: primeiro, a lambada, sob a voz achamboada de Luís Caldas, aquele pobre imbecil. Decorreu disso o deletério axé, com sua atual “musa”, Ivete Sangalo, que não canta, fala entoado; em articulação com essa desgraça, veio o breganojo se insinuando no cenário da “nova canção”, consagrando como artistas os asiáticos Chitãozinho e Xororó, os tomateiros Leandro e Leonardo, os patéticos Zezé di Camargo e Luciano, estes últimos produzidos por um certo Franco Scornavacca, responsável por transformar o público deles em gado vacum, que este Franco realmente fez escornar para sempre; e na esteira dessas três “dupras”, veio uma legião de outras, cada uma pior que a outra; para completar o quadro dantesco desta trágica involução, veio o pagode pasteurizado, que lançou na ribalta a horda de Netinhos, Alexandres Pires, Belos e figuras patibulares afins. É realmente abestalhante a constatação: impuseram-nos o abismo, e todos pularam nele como se em piscina de águas termais. Enter.
E pensar que éramos o país de Tom Jobim, de Villa Lobos, de João Gilberto, gente que nos fez ver a Europa e os EUA se curvando diante de nossa música e de nossa capacidade cultural, artística e até científica. Considerando tamanha inversão, tamanho empobrecimento, há que admitir duas coisas: primeiro, os caras trabalharam pra arrebentar – e arrebentaram!; segundo, não houve resistência nenhuma vindo de setor nenhum! O Estado, gradualmente feito em frangalhos desde 64, não mais sequer enxergava cultura e arte. Claro, estávamos por 20 anos sob ação de gorilas moucos e míopes; depois, voltando o terno-e-gravata paisano desde 1985, vimos crescer ao absurdo essa matéria escatológica combinando corrupção e deterioração musical. Pois não bastando essa violenta queda, veio ainda o coice. Os intervencionistas não dispensaram o “acabamento” do processo de destruição: acabaram com o que poderia moral ou praticamente resistir por entre os escombros do que eles bombardearam: deram os microfones, através de sutil estratégia, aos curiosos de todos os matizes e categorias. Como curetagem definitiva, puseram em todos os espaços onde pessoas se reúnam para comer e beber e buscar o lazer burro, a ignóbil “música ao vivo”, que levou ao nível do rasteiro a imagem do boneco ao violão cantando “sucessos de público”. Eles não poderiam ter sido mais eficientes como devastadores... Enter.
Hoje, qualquer boneco ao violão “canta” coisas banais e normalmente as mais imediatistas canções da extinta emepebê. Extinta depois de criada e explorada à exaustão pelos mesmos artífices da desmusicalização do Brasil hoje. Que fazer, senão chorar sob o cobertor? E, se não tiver cobertor, vai papelão mesmo, como o pessoal de rua... Não é tão bonito isso tudo? Pois os bonecos ao violão enriqueceram os donos de casas noturnas e restaurantes, como ocorreu com um mafioso no Sul de Minas: ele cobrava couvert artístico de cada cadeira no restaurante, com isso arrecadandoatravés do couvert – que os macacos sem rabo chamam de “covér” – somas acima de mil reais por fim de semana – e tinha a cara-de-pau criminosa de pagar um fixo irrisório ao boneco ao violão. Embolsava o grosso que os macacos sem rabo pagavam pela “música ao vivo” e dava uma ninharia pro boneco ao violão. Muito esperto... E tinha mais: se o boneco não quisesse trabalhar por tão pouco, outro quereria sem qualquer objeção: era pegar ou largar. E os macacos sem rabo comendo e bebendo alheios a esse crime, à música de merda que eles abafavam falando escatologicamente mais alto que ela e a si mesmos, porque não passam de midiotas cooptados pelos globalizadores. Enter.
Numa capital como Belo Horizonte, por exemplo, os grandes músicos têm de se sujeitar a ganhar ninharias de R$50 por noite se quiserem tocar nos restritos espaços que usam música, e o público decai de qualidade dia após dia, emburrecido pela vida estúpida que levamos e pela submissão acrítica à hegemonia, verdeadeiro jugo da TV sobre as mentes. Mentes? Digamos... penicos! Fica melhor, não? Ou que outro nome mais “caseiro” dar a um recipiente para matéria fecal, que é o que a TV despeja diária e diuturnamente em câmaras ósseas onde estariam alojados os tais de cérebros? Você pode experimentar: andando pela rua, tente ver, no lugar de cada cabeça, um penico feito de qualquer material. Não fica no jeito? E olhando para os auditórios de TV, com aquelas criaturas gritando histericamente diante de chapeludos, botinudos e fiveludos? É só visualizar penicos no lugar das cabeças. Enter final.
E ficamos assim, quase não precisa dizer mais nada por hoje, a não ser que essa mesma mídia que transforma nossas mentes em penicos nos impede de saber o que realmente se passa na Venezuela. A mídia hegemônica só quer que você odeie a Venezuela e seu líder Chávez. Não há uma voz na grande imprensa e na TV que honesta e imparcialmente mostre o que ocorre de progresso social no país de Simon Bolívar. E essa mesma mídia infernal só quer que você grite histericamente ante os patéticos breganojos com seus guais lancinantes e vazios. E ainda vêm dizer que é “gosto popular”... Vão pro inferno, demônios da mídia! O lugar de vocês é lá, não aqui, onde mourejam seres inocentes! E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, queridos!