quarta-feira, 23 de março de 2011

Obama e o mago dos objetos vestidos

Frederico Mendonça de Oliveira

Admira-nos que Paulo Coelho seja conhecido desse presidente meio laranja meio sapoti. E que seja citado por ele, depois que, encantando um Municipal cheio de babosos famosos, falou de nossas prendas femininas. Saudou "cariacas", "palistas", "baianas" e "minerras". E as “gueúchas”, ô distinto? E as “pernimbequenas”? Pois o tipo, mesmo com a cor de nossos índios, é um gringo, de boa. Nasceu no Haway, mas acabou presidente dos EUA sem usar na posse – ou usou? – aqueles colares de flores com que a turma da ilha recebe os caras-pálidas naquelas lonjuras em que o mundo parece que acaba. Pois veio o “homem mais poderoso do mundo” visitar a brazuca estraçalhada e fedorenta e fechou a visita, aliás uma sequência de micos e de cerimônias anódinas, citando Paulo Coelho, lixo lançado na ABI para acabar de desgraçar nossas bases culturais. Marcelo Migliaccio – que as bestas brasilis chamam de Marcelo Miguliácio, pois não sabem que o nome é italiano e que gl na língua de Dante corresponde a lh aqui, e que dois cc correspondem a tch – foi preciso em sua coluna do JBOnline: “No texto logo aí abaixo, uma leitora me chamou de preconceituoso porque critiquei o fato de Obama ter citado o escritor Paulo Coelho num país que tem Machado de Assis, Aloisio Azevedo, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, além de poetas como Carlos Drummond, Mario Quintana, João Cabral de Melo Neto...” Eu eliminaria Jorge Amado, que é nada mais que o definido por Oswald de Andrade: “macumba pra turista”. Mas o resto é na mosca. E ele prossegue mostrando seu valor: “Não sou preconceituoso, li três livros de Paulo Coelho. As Walkírias e Diário de um Mago (esses dois com certeza) e Monte Cinco (se não me engano). Achei-os repletos de boas intenções, mas também de erros de português constrangedores. O estilo do escritor, pelo menos nos livros que li, era pobre, sem muitos recursos (aliás, sem nenhum recurso), o que torna a leitura fácil para quem não tem o costume de ler. Há uma diferença entre a escrita simples e direta e a escrita ruim. Ambas podem atingir um grande público, mas só a primeira tem valor relevante para a cultura. Também dizem que ele compila e adapta trechos de livros religiosos, escrituras, muitas vezes sem dar crédito. Enfim, para muitos trata-se de um místico de resultado, um mago fisiológico, um guru sublimado pela ignorância geral planetária”. Ou, diríamos nós daqui, um factóide que se encaixou nesse mundo factóide em que vivemos hoje. Enter.
Depois de matar a cobra e mostrar o pau (êpa!), o colunista retoma em outro round: “E pensar que Paulo Coelho entrou para a Academia Brasileira de Letras, abrindo assim mais um precedente perigoso... Basta ver os candidatos atuais, entre eles, por exemplo, um jornalista medíocre que nunca escreveu nada além daqueles textos intragáveis a serviço da desinformação”. E, perguntamos daqui: o que dizer de José Sarney? E o que dizer de Ivo Pitanguy? E o que dizer de Roberto Marinho? Jô Soares sonha com uma cadeira entre os imortais. Por ser o autor de duas porcarias que nada acrescentam a nossas letras? Quem sabe, na sequência, a Academia ainda admite o palhaço Tiririca? Pois o desassombrado colunista prossegue: “Entrevistei Paulo Coelho uma vez, quando ele ainda estava num estágio entre ilustre desconhecido e revelação do momento. O mago, naquela época, morava num escuro apartamento térreo em Copacabana. Foi ali, com aquele caos urbano do lado de fora, que ele cometeu suas primeiras obras ditas transcendentais. A entrevista que me deu foi boa, ele é um bom papo. A certa altura, parou para atender um telefonema e passou meia hora dando conselhos existenciais a uma leitora que ligava do interior de São Paulo. Além de iluminar o caminho da moça, o nosso mago também foi comedidamente galanteador. Sabe das coisas...”, e vemos que o cara pode ser um mago, mas se liga num afago... e esse “mago” hoje tem a seus pés um harém, se quiser. Olhem o que diz Migliaccio: “Hoje, o mago vive num palácio na Europa. O filão que ele descobriu acertou em cheio nos milhares de desorientados que vagam pelo planeta à procura de uma palavra qualquer. Se você não quer ser evangélico, tem a opção de ler Paulo Coelho”. É, o descaminho é o mesmo. Quem não quer Edir, caça com Coelho. Enter.
Corta para a visita de Obama, pois caca pouca é bobagem. O ilustre sucessor de Bush filho, O Imbecil, ordenou daqui o ataque à Líbia. O que significa dizer que nos envolveu nessa. E teve muitas outras besteiras: o mesmo colunista comenta que “A comunidade internacional recrimina os Estados Unidos e seus aliados europeus mais fiéis pelos bombardeios à Líbia. Até o papa Bento 16 admitiu que a população civil está na linha de tiro daqueles que se julgam a Polícia Militar do planeta”. Gozado: por que o Obama veio aqui dizer que o Brasil é exemplo de democracia em relação ao mundo árabe e ordenou o ataque daqui? Para nos cooptar? Bem, se é exemplo de democracia a plutocracia monstruosa encravada no lupanar político torpe que é Brasília, ora, vá se catar, ô gringo! Se é exemplo de democracia a guerra civil monstruosa que torna de forma incontornável o cidadão uma vítima potencial da violência em qualquer lugar, hora ou situação, estamos maravilhados! Na Líbia não tem disso não. E a cancerificação que avança no mundo árabe através da ação de Israel e dos reféns da economia do Império está tentando derrubar o governo líbio depois de perder feio um país a eles submisso, que era o Egito. E prossegue Migliaccio: “Kadafi é um ditador? Ok, mas seu povo é que deve tirá-lo do poder, se quiser. Como fizeram os egípcios com Mubarak. Aliás, nunca vi uma rebelião popular em que os ‘rebeldes’ atacam com tanques de guerra, como ocorreu na Líbia. Agora, os tanques dos sem culote têm a ajuda do Tio Sam. E a bandeira que os revoltosos ostentam é a da extinta monarquia líbia... (submissa a Washington, N.R.) E nem assim Kadafi caiu”. Enter final.
“No Teatro Municipal do Rio, um afável e articulado Barack Obama fez um discurso cuidadosamente elaborado por seus melhores brasilianistas. Começou falando do jogo Vasco e Botafogo, imaginem! Obama nos bajulou até não poder mais. Nos colocou, inclusive, como "parceiro sênior". Logo nós, que tantas vezes tivemos nossas exportações barradas pelo protecionismo norte-americano. Falou também em desenvolvimento sustentável para salvar o planeta. Logo ele, cujo país se recusou a assinar o protocolo de Kioto contra a emissão de gases que geram o efeito estufa. Saudou nossa luta contra a ditadura, que era sustentada pelos Estados Unidos. E enalteceu o fato de um opérário que nasceu pobre em Pernambuco ter chegado à presidência.
Para mim, a fala de Obama só reforçou que o Brasil será o país mais poderoso do mundo em breve, se quiser. Temos petróleo a rodo na camada do pré-sal. E a maior bacia hidrográfica do mundo num tempo em que a água potável já o bem mais precioso. Livres de terremotos, exercendo a democracia, reduzindo a miséria, estamos com a faca e o queijo na mão”. Só que a reforma interna, que seria a retomada da Educação e da Cultura, isso jamais se operará. Aposto minhas guitarras, mais o amp de quebra. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes...
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 1039 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 595 dias também sob mordaça...