quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Manoel e o direito de ir e “vim”

Frederico Mendonça de Oliveira

Nosso herói sempre compreendeu a frivolidade dos brasileiros em diversos aspectos, e sempre soube relevar isso. Até porque, considerando o que se faz com o povo, um verdadeiro massacre, todos os desvios são admissíveis. As piadas sobre portugueses, algumas de fino humor e manifestando um sentimento oculto de amor e até veneração, Manoel considera não passarem de um exercício amigável de fraternidade lúdica. E sabe perfeitamente distinguir a diferença entre isso e os sentimentos entre brasileiros mesmo, como sulistas debocharem de baianos com uma ponta de hostilidade e desprezo, tanto quanto os baianos considerarem os sulistas uns bichos de goiaba, uns branquelos meio chucrutões e quadradões. E nosso herói queda penalizado com ver a completa falta de higiene vocabular que vai invadindo o linguajar do povão, sem contar que o Português anda em baixa mesmo nas elites, espaço onde deveria imperar um maior cuidado com o palavreado, já que as elites são o front de contato com o primeiro mundo. Pois é: vai tudo se deteriorando... então tá. Enter.
Falar desse presidente aí é até covardia. Basta deixá-lo abrir o falador, e tudo se manifesta. Como disse o Frei Beto, por sinal meio que desinformado – ou temeroso em relação aos globalizadores –, “Nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como esse núcleo petista fez em tão pouco tempo. Na ditadura, apesar de todo o sofrimento, perseguições, prisões, assassinatos, saímos de cabeça erguida e certos de que tínhamos contribuído para a redemocratização do país. Agora, não. Esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira.” (Frei Betto, amigo histórico de Lula, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 24/8/2005). Precisam de mais alguma fala? Pois é: pois Manoel teve também de corrigir o texto do “amigo histórico” do histriônico Lula. Aliás, só um bobalhão seria amigo desse factóide por anos a fio e não enxergaria quem é ele e quem é quem nessa “organização”, duvidosa desde sua fundação e cheia de “gatos” desde sua origem. Enter.
Mas outro dia Manoel conversava com o motorista do ônibus que faz o seu bairro. O rapaz é um líder por natureza, embora com pouca instrução. Além de ser lúcido para com a problemática visível no dia-a-dia do Arraial das Bagas, o rapaz ainda puxa considerações de cunho jurídico, cita leis, denuncia políticos corruptos, é um dirigente popular inato. E falando da formidável burrice que foi a reforma do terminal rodoviário de transporte urbano, ele criticou o prefeito, que ainda por cima quer impedir que os motoristas uniformizados da companhia que atende ao transporte no arraial entrem no prédio do terminal, destinado a passageiros. “Proibição estúpida!”, concorda Manoel: “E se chover, os motoristas vão se abrigar onde?”, ao que o rapaz voltou à carga: “Pois é: isso atenta contra o direito de ir e... e... vim”, concluiu ele com relutância em pronunciar o verbo final, que pareceu que não encaixava na expressão. Enter.
“Os brasileiros estão matando a si mesmos com isso de depredar o idioma!’, considera abismado Manoel. Não se ouve MAIS NINGUÉM pronunciando o infinitivo do verbo “vir”! Os brasileiros hoje só falam “pode vim”, “vai vim”, “vou vim”, numa demonstração clara de um desleixo estúpido. “Parece uma forma de se odiarem, de se fazerem desprezíveis isso de falar como débeis mentais, sem reflexão nem culto estético à língua!”, considera Manoel, que se sentiu até um tanto confortável quando verificou a hesitação do motorista, que sentiu que o “vim”, no mínimo, não RIMAVA com “ir”. “Meno male”, considerou nosso herói: “Vê-se que o rapaz tem uma sensibilidade diferente da grande maioria”. Enter.
Pois em tempos idos, quando a TV ainda era vez por outra ligada na casa de Manoel, ele assistiu a um começo de programa de tarde de sábado em que o apresentador disse a um calouro: “Pode vim”. Simplesmente porco, isso, porque uma emissora de TV ou qualquer meio de comunicação deve primar por falas corretas. Pois outra criatura, uma doidivanas que apresenta programa de variedades vespertino, diariamente fala com telespectadores que supostamente ligam pra ela. E ela diariamente pergunta: “Você tá falando DAONDE?”, e assim vai se formando um desidioma brasileiro, em que a ignorância avança contra o conhecimento de forma cavalar, treinando os brasileiros para serem amputados de senso de preservação de si mesmos. Enter final.
E os brasileiros têm introjetado como referência o conceito de que os portugueses são burros. “Deviam gravar suas falas e vozes, para se darem o direito de uma autocrítica saudável. Aliás, no Arraial das Bagas e no Brasil, especialmente em Brasília, a burrice não está só no trato do idioma: está na maneira como se depredam instituições, leis, natureza, a vida urbana, e tudo isso nada mais é que uma burrice córnea, que é a marca desse país tão adorável e tão destruído em tudo por seus próprios habitantes!”, reflete Manoel com coração sofrido. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
ATENÇÃO: JÁ ESTAMOS CENSURADOS HÁ 616 DIAS. A CENSURA A O ESTADO DE SÃO PAULO, VERGONHA QUE SOMA 139 DIAS E QUE FOI MANTIDA EM RECENTE VOTAÇÃO NO SUPREMO, ESTÁ CONDENADA ATÉ EM ÂMBITO MUNDIAL. QUANTO A NÓS..., FOI MANTIDA PELO MINISTRO PRESIDENTE DO STF, GILMAR MENDES. E CONTINUAMOS AMORDAÇADOS BONITINHO!