sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Manoel e o ódio racial doentio

Frederico Mendonça de Oliveira

O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad esteve entre nós nesta semana de merda como outra qualquer – os tempos são de merda, qualquer dia ou semana ou mês são de merda, claro –, e a imprensa, nas mãos dos globalizadores, deu cobertura de merda à presença do líder iraniano no Brasil petista. Claro, isso se explica: o Irã não beija os pés dos mandões do Império, e o fato de estar em tarefa de produção da bomba atômica bota os donos do mundo em polvorosa. Para esses tipos monstruosos, Israel pode e tem que ter 400 ogivas nucleares, tudo certo; no entanto, acusaram o Iraque, país praticamente desarmado de tudo, de ter “armas de destruição em massa”, ordenaram inspeções a que se opôs o brasileiro chefe da APAQ Alexandre Bustani – que acabou destituído do cargo por pressão dos gringos yankees, mesmo sendo ele inamovível em seu cargo – e, contrariando todos os princípios internacionais de soberania, tomaram o país simplesmente para manter a hegemonia de Israel no Oriente Médio. Naqueles tempos a imprensa ainda tinha bolsões de resistência, e houve denúncias e gritas. “Hoje, rá rá rá, só existem papéis limpacu a serviço dos depravados de sarda nas costas das mãos!”, reflete Manoel, enojado com a MERDIOCRIDADE estabelecida como padrão no sistema político dominante. “Eles odeiam o Cristo, que não é um deles!”. Enter.
E a mídia fez seu serviço porco já esperado: tentou obscurecer a presença de um dos mais importantes presidentes do planeta hoje, simplesmente obedecendo à ordem de não falar sobre o assunto, ordem dada pelos globalizadores descarados, que mandam e desmandam em todos os países do mundo, com exceção de resistentes como Cuba, Venezuela, Coréia do Norte, Paquistão e Irã. E como o assunto é Ahmadinejad no Brasil. Manoel se concentra na resistência iraniana aos yankees imundos, enquanto contempla a boçalidade brasileira em relação à visita do líder a “nosso país”. Ou “nofo paíf”, como diz o bobo pinguço depravado, e aliás porque vale considerar que “não existe mais porra de país nenhum entre o Oiapoque e o Chuí!”, como rosna Manoel, cuja reflexão nos é muito cara sobre assuntos de uma colônia rebaixada ao âmbito da miséria mais miserável que se possa imaginar. Enter.
Pois Manoel abriu a Folha em busca de indícios para ele importantes e deu com um artigo de um sujeito de sobrenome um tanto pouco brasileiro e que ostentava um título um tanto agressivo. O escrevinhante do artigo era um tal de Sérgio Malbergier, e o artigo era intitulado “ O pária entre nós”. Pra começo de conversa, vamos ao significado de “pária”: no Houaiss, na segunda acepção do termo, está “pessoa mantida à margem da sociedade ou excluída do convívio social”. A primeira acepção é de caráter histórico, baseada em princípios políticos da Índia, não nos serve. Abrindo o artigo por curiosidade para ver do que se tratava, interessado em saber quem era o pária em questão, Manoel topou com um absurdo. Pensou que poderia ser o George W. Bush, o Idi Amin Dada, algum idiota da mídia internacional, gente dessa dimensão miserável. Pois a suspeita despertada pelo sobrenome meio agringalhado Malbergier se mostrou relevante: o “pária” em questão é simplesmente um homem amado por seu povo, representante digníssimo de toda uma comunidade envolvida com aperfeiçoamento humano, criatura iluminada pelo fato de representar os mais altos ideais de um país e da Humanidade como espécie criada à imagem e semelhança de Deus e que se obriga a evoluir por ter recebido o dom de reflexão sobre seu destino. “Pária, Ahmadinejad?? Esse colunista é um doente!!”, considera abismado Manoel, que se dispôs, diante de tal disparate, a dar uma passada de olhos no artigo. E lá está o motivo de considerar o presidente iraniano um “pária”: é que ele nega o tão promovido holocausto, grafado por toda a mídia do Império com maiúscula, e que não pode ser questionado, porque as vítimas disso seriam o “povo eleito”. Manoel, cristão convicto, acata as palavras do Cristo: “Todos são iguais perante Deus”, postura que levou o Filho de Deus à cruz, execução levada a cabo pelos soldados romanos mas a partir de condenação à morte determinada pelo sinédrio, tribunal dos fariseus que nos consideram “sementes de animal”. Enter final.
Bem, esse escrevinhador pago pela “cloaca da Barão de Limeira”, como se referem á Folha os inimigos do Império, não passa de um idiota a serviço de uma causa que ameaça o mundo. É um soldadinho de merda. Perto do presidente iraniano, não passa de titica de pulga. E eis que o líder que veio aqui articular coisas para o bem da Humanidade encontrou boa acolhida, e não adianta os cães ladrarem à sua passagem: a grande caravana ignora latidos de entidades inferiores. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye!
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Manoel e as crianças do Brasil hoje

Frederico Mendonça de Oliveira

Simplesmente perplexo pelo fato de constatar que uma obra criminosa realizada por autoridades deformadas atingindo a residência e mesmo a vida e a paz de seu amigo músico teve como “apoio” para que ficasse “legal” a convocação das crianças do entorno para “frequentá-la”, Manoel começou a considerar as crianças como vítimas diretas e desgraçadas pela ação dos adultos, seres simplesmente sem qualquer vestígio de humanismo ou mesmo escrúpulo mínimo em suas almas. Almas penadas, diga-se muito claramente: a estupidez, a tacanhez e mesmo a ignorância podem ser admissíveis em geral. Mas a deformidade de espírito e a completa falta de sentido de humanidade levarem a atitudes de conveniência através de deformar crianças, especialmente os próprios filhos, isso é de causar engulhos, revolta! E, vendo-se todos impotentes diante de tudo como todos se vêm, trata-se da materialização da imagem do horror. Enter.
Pois Manoel tem visto as crianças, a partir dessa podridão e dessa deformidade inacreditáveis, como vítimas da escrotidão que se instala pra todo lado no Brasil (no mundo também?) e que parece irreversível. Acabrunhado com o simples fato de ver crianças alopradas pelas ruas, em lojas ou supermercados ou onde quer que estejam essas pequenas bestas fabricadas pelo sistema, nosso herói se indaga se já não estará ficando meio caduco. É que ele se surpreende tomado até de certo pânico ao deparar com essas criaturinhas a cada dia mais estupidificadas e exibindo um desequilíbrio inquietante em simplesmente tudo que fazem. As cenas envolvendo os pobres diabinhos onde quer que estejam revela uma deformação a eles imposta não se sabe se de forma programada pelo sistema, não se sabe se apenas pela degenerescência natural decorrente de toda essa empulhação que vemos explodir em todas as dimensões e instâncias de viver no geral e da área de poder. O arbítrio está mais claro e explícito do que nunca, e o mal acontece como sendo o normal – e todos se submetem e se adaptam a isso como sendo algo completamente natural! E as crianças vão acompanhando essa decomposição de tecido social “fazendo a sua parte”, envolvidas, arregimentadas, consoantes! A feiúra toma conta de tudo, e as crianças dão seu toque “mágico” a toda essa escatologia crescente e horrenda, e “que fazer??”, pergunta-se nosso herói diante de tanto horror! Enter.
Comprando suas necessidades básicas em supermercado, volta e meia Manoel contempla a miséria que é a presença de crianças no espaço do consumo. “Comprar é simplesmente adquirir o de que se necessita de acordo com nosso poder aquisitivo”, considera Manoel tomado do tédio filosófico em meio a produtos - que só significam, para ele, matéria para suprir necessidades. Pois os supermercados inventaram aqueles carrinhos em que os fedelhos vão alojados como que dirigindo um automóvel de brinquedo, sendo que o volante não interfere no rumo da geringonça, o que já faz dos rebentos dos consumidores uns idiotazinhos – pois ficam tentando operar o volante, e nada acontece. Recebem ali um múltiplo diploma de otários, porque, além de manipulados num treinamento para serem futuros consumistas crônicos e compulsivos, dá-se que não só aquilo não é carrinho como não obedece ao comando deles. Isto faz com que sejam também duplamente cooptados pelo adulto estúpido que os mete nessa patacoada. Enter.
Pois tem coisa pior: moleques correndo como zumbis adoidados pelos corredores, vindo como bólidos cegos em direção aos compradores, enquanto os boçais que os geraram e/ou pariram quedam inebriados no ato hoje religioso da compra, do consumo como atividade realizadora, gratificante, sagrada, catalisadora e mágica. Manoel se esquiva cuidadosamente desses maluquinhos perdidos, desses espectros da estupidez reinante, deixa-os passar como se fossem alimnárias desembestadas a serviço da loucura generalizada, imagens deprimentes dela. E a cada dia mais e mais se consolida na consciência de nosso herói a certeza da perdição imposta a essas pequenas cavalgaduras, projetos de boçais palradores, balantes e mugentes. Eles serão os personagens vivos e imagens móveis do futuro que já está aí, patético, esfarrapado, deformado, degringolado!... Enter final.
“Vinde a mim as criancinhas”, teria dito o Cristo em algum ponto dos Evangelhos. Pois o capeta intercedeu nisso: hoje as crianças são dele, do demônio que opera através da TV em filmes de animação carregados de violência gratuita e obsessiva, são reféns do mal instituído, contextualizam assustadoramente o inferno vivo que vamos suportando em direção ao despedaçamento final. E não há piedade nem humana nem divina que livre esses infelizes desse destino horrendo. E viva Santo Expedito! Oremos. E semana que vem falaremos mais disso. Bye!
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Manoel e seu novo amigo poeta

Frederico Mendonça de Oliveira

De repente o amigo músico de Manoel presenteou seu faixa lusitano com dois livros de um poeta de Aiuruoca, linda cidade do Sul de Minas já no limite da Zona da Mata. Dessa área saiu também o poeta magnífico Dantas Mota, ídolo deste novo e já muito amadurecido vate aiuruoquense. Trata-se de Gilberto Nable, aliás médico, aliás pessoa de profunda sensibilidade e inteligência. Pois foi Manoel abrir o primeiro dos dois livros e arregalar os olhos: “O que é isto???”, perguntou-se logo nosso herói ao deparar com o estro do bardo para ele um estreante. Ele dava de cara com o livro O Mago sem Pombos. Manoel abrira no terceiro poema, e a paulada cantou logo em sua fecunda cuca: “Desconsolado feito mago sem pombos/ a quem ninguém deu uma lição de calma/ procuro, ainda entre livros, alma e alento”. Em estrofe adiante Manoel leva outra lambada: “Mas outros rumos não pretendi de mim,/ avesso, seco, muitas vezes cansado,/ aparentado a becos, auroras, botequins”. Estes belíssimos versos, que fizeram Manoel parar considerando admirado sonoridade e teor, estão também na contracapa do livro, uma bela edição da 7Letras, editora carioca. Enter.
“O que foi feito da poesia não só no Brasil, mas mesmo em Portugal?”, considera Manoel ainda sob o impacto da poesia de O Mago sem Pombos. Politizado na marra, tendo lido até comunistas como
Trotsky e Lênin (Marx ele deixou pra lá, passou apenas os olhos no Manifesto, e aquilo não fechou com nada para ele), informado também pela experiência da vida, mas desde há 20 anos conhecedor da VERDADE através de obras ocultas a que poucos têm acesso em meio à azáfama destes tempos estúpidos, Manoel encontrou nas páginas do Mago uma revivificação de suas emoções da juventude no que topava com as obras de poetas brasileiros que produziam direto e difundiam encantamento, principalmente Cabral e Drummond. “Valia a pena morar no Brasil vendo aquele movimento editorial nos anos sessenta!”, dizia Manoel ao amigo músico em recente conversa, pois o amigo, mesmo músico, é da literatura, especialmente da poesia, e das artes plásticas, terreno em que produziu curiosas descobertas, como a pintura com cimento. “Pois agora tu me bateste no coração com a obra impressionante desse admirável Gilberto Nable!”, comenta com júbilo nosso herói ante a cara feliz do amigo. Enter.
E é sobre o amigo que Manoel pensa ao ler a primeira quadra do poema V do Mago: “Pouco importa o que digam.../ Mas como foste traído!/Com manha, ciúme e intriga/ Foram urdindo teu exílio.” Manoel até pensa consigo que esses versos são mesmo dirigidos, embora considere que “manha, ciúme e exílio”, no caso, seja pouco: valeria nisso um “ódio mortal doentio”, mas isso fica de fora destas luminosas linhas. E o poema avança: “Como se não os abrigasses,/ não um só, mas vários exílios,/ e desconhecesses a inveja/ e as mãos secas da usura”. E Manoel exulta, e um “Puta que pariu!” lhe escapa entre língua, dentes e lábios oclusivos surdos ao prosseguir na leitura do poema: “Mas ouso rir de vós, filisteus,/ratos-de-barrigas-brancas,/ tomando café com leite, de cuecas,/ contando cédulas, títulos e moedas”. E sob o impacto dos significados e da disposição musical de palavras, Manoel detecta a curiosa presença de rimas toantes: rimam as palavras ingênuos, cordeiro e dinheiro, rimam com filisteus, depois rimam cuecas com moedas, e lá vai Manoel viajando feliz nesse achado de nome Gilberto Nable. “Que felicidade poder expressar-se tão profunda e claramente!”, reflete nosso sensível ibero, e avança no desfecho lapidar do poema, que mija nos classemédias de merda: “É irrisório, sim, vosso patrimônio/ Vosso juntar de pedras feito lagostins/ Vossas cadelinhas, academias e soníferos/ Vossa piscina térmica com cascatas!”. Rolando os olhos a sua volta, Manoel considera a estupidez assumida da vizinhança porca e doentia que persegue por pura inveja – e por aflorar o ódio por se saberem medíocres e obtusos – o amigo músico, homem com a alegria simples dos eleitos da Musa, diletos de Santa Cecília, protegidos de Euterpe, sempre sob as graças de Eufrosina, Aglaê e Talia... e como poderiam ratazanas vestidas e cínicas enxergar tais valores? Vendo a plumagem do amigo, esses mulos zurram de despeito, sonham matar sua cor azul brilhante, babam de ódio vendo os olhos de Argos estampados na cauda aberta em leque quando o amigo simplesmente estuda sua guitarra e causa admiração em quem não se emporcalha nessa podridão! Enter final.
E fechemos: “Tem seu lado vegetal a morte./ No tecer de podres raízes,/ no modo como se conduz,/ ou como somos plantados” . E Manoel se deslumbra: “Chega por agora, meu novo amigo Gilberto Nable! Minha turma lá na Ibéria saberá de ti!”. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye!...
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Manoel reverencia Nando Fiúza

Frederico Mendonça de Oliveira

“Quem está vivo pra morrer não custa!”, disparava a avó de Manoel, Virgínia, por sinal uma lusitana que educou seus filhos na base da porrada grossa e dos ditados populares correntes na Ibéria. “Pra morrer basta estar vivo!”, dizia também a senhora em outras ocasiões, mas também em que o cheiro cavernoso das vestes da Indesejável e o entrever do gadanho letal ocorriam causando arrepios quando da passagem de alguém conhecido para o beleléu. Manoel ouvia tais frases fatais com o respeito de quem ouve uma sentença sobre o infalível, mas a força da vida sempre vibrou mais forte nele, e tais falas, embora lhe calando fundo, logo saíam de sua mente dando lugar ao brilho da chama alegre do existir simplesmente, de prosseguir, de amar, de sentir a gratidão pela existência que Deus concede aos Seus. Enter.
Pois eis que desta vez Manoel levou um pesado golpe no peito. Foi duro saber, embora este espectro já rondasse a vida de muitos há mais de 40 anos: o artista plástico, artista gráfico, fotógrafo e pensador Fernando Fiúza, anjo que iluminou nosso espaço artístico e cultural desde priscas eras neste lugar brasilis, afinal cedeu ao gadanho da Inimiga, à tesoura de Átropos, e eis que cruzou o Aqueronte, deixando-nos neste chão a cada dia mais árido, mais desfalcados de corações benignos. Manoel olha condoído para o céu, sabendo que numa próxima ida a BH não estará mais com seu amigo querido, bravo resistente pela causa da beleza e da vida, artista de fina têmpera que produziu profusa e lindamente até seu aceno de despedida a este mundo. Enter.
Manoel conheceu Nando Fiúza quando seu amigo músico ralava muito sofridamente o couro em Belo Horizonte em 87. O amigo tentava se reestruturar profissionalmente naqueles já então corrompidos tempos, em que o ar não apresentava mais a transparência de tempos outros e em que já se entrevia no cenário da vida um sombreamento estranho, um desbotar esquisito de coisas e fatos, um já indisfarçável odor de tetrametilenodiamina, sinal da existência de carniça. Mas o amigo lutava duro, e tinha com ele a mão de apoio de Mônica Sartori, anjo que Manoel admirava em silêncio prenhe de admiração. O amigo músico se esfolava numa busca de consolidação de um rumo nas artes plásticas, e Manoel via com alguma dúvida a possibilidade de aquilo vingar. A turma de BH recebia o cara muito bem, a Mônica era uma desdobrada e atenta madrinha, mas todos ficavam na expectativa de ver o cara voltar a empunhar sua guitarra lendária, e muitos até pensavam: “Quero é ouvir aquela música forte e pungente, isso é que é o cara!”. E eis que nessa batalha encarniçada contra o infortúnio aparece em cena o angelical Nando Fiúza, com aquela beleza de entidade pertencente às legiões do bem Quando Nando ouviu o som do amigo no disco solo, disco aliás que virou cult, arrepiou-se todo, e se converteu imediatamente ao trabalho do cara. E logo começaram a produzir juntos, e foi uma deslanchada bonita, que acabou em shows musicais que deixaram marcas indeléveis, unindo o amigo ao Nando para sempre. Nando fazia os cartazes com sua arte fina, fotografava com sensibilidade especial o amigo, acabou que ficaram irmãos inseparáveis nesta vida. Manoel, em suas constantes idas às Alterosas, coabitava esse conúbio de artistas febris em sua tarefa de busca, integrava os papos, as excursões pelas ruas contemplando a arquitetura art décco abundante na cidade, as idas a galerias e vernissages, as chopadas na noite belorizontina – e isso o ligou também profunda e fortemente ao adorável Nando Fiúza. Enter.
Manoel se grilava ao ver, naquelas noitadas, que Nando apresentava roxidão nos lábios e dedos quando a madrugada avançava. Um amigo comum, aliás médico e poeta de estro ardente, Gilberto Nable, um dia deu o serviço: Nando sofria de cardiopatia congênita, e os sinais eram aquela roxidão, as unhas de “vidro de relógio” e os dedos em formato de baquetas de tambor. Aflorado isso, Manoel logo percebeu que todos estavam ligados, e que todos viviam com o Nando aproveitando tempo, dias, horas, minutos que se apresentavam como dádiva de convívio com aquele homem que todos sabiam condenado. Isso rolava em 1987. E todos em silêncio pediam que Nando não se fosse logo, que ficasse mais, que resistisse, mas era chover no molhado: Nando amava tão apaixonadamente viver que, milagre!, reunia forças de enfrentamento da anomalia de forma cientificamente inexplicável. E lá ia Lachesis enrolando o fio da vida de Nando, e Átropos de tesoura na mão ficava sem entender por que o fio não lhe chegava logo à mordida fatal das suas lâminas. Talvez isso ocorresse porque Juno, que sofrera o golpe da morte de Argos, o gigante de cem olhos e que nunca dormia – olhos que ela botou no rabo do pavão em homenagem ao aliado cruelmente morto por Júpiter –, sentisse por Nando, semideus apóstolo do amor e da beleza, uma ternura especial, e com isso afastasse da tesoura da Parca da Morte o fio da vida dele. Enter final.
Pois Nando resistiu por mais de 40 anos, coisa inexplicável para caretas. Só Manoel e o amigo desfrutaram do viver encantado de Nando por belos 32 anos! E eis que em 2003 Manoel presenciou um belo reencontro de Nando com o amigo no Bar do DCE, e na ocasião Nando, que integrava como co-produtor o certame de que o amigo participava, deu a ele, com carinho efusivo, o livro Retratos da Música, em que uma das fotos era do amigo, e revelava o artista plástico, não o músico. A dedicatória, que Nando produziu em segundos, é outra obra de arte anexada ao livro. Depois disso, alguns encontros cheios de entusiasmo e encantamento, até que veio de lá para este infecto Arraial das Bagas a dura notícia. Nando se fora. E Manoel e o amigo, aturando a coisa quietos aqui, mal podiam emitir palavras: as lágrimas de ambos desciam, diante dos olhares consternados de Maria e da mulher do amigo, como pequenos cristais líquidos de uma alegria convertida em dor. E o peito de ambos doía em constrição pesada, e pronto: Deus chamara Nando Fiúza para Si. E Manoel disse para o amigo e para as duas amadas, falando sorrindo e vertendo lágrimas: “Só sei que quando nós chegarmos lá o Nando nos receberá bem na entrada, com aquele sorriso sempre encantado!” E viva Santo Expedito! Oremos. Bye...
ATENÇÃO: JÁ ESTAMOS CENSURADOS HÁ 574 DIAS. A CENSURA A O ESTADO DE SÃO PAULO, QUE SOMA 100 DIAS, JÁ ESTÁ CONDENADA ATÉ EM ÂMBITO MUNDIAL. QUANTO A NÓS...
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Postado por Frederico Mendonça de Oliveira - Fredera