Frederico Mendonça de Oliveira
Pois é, você viu: o dia da “independência”, patacoada que se repete pelo menos há mais de meio século, para festejar o que não é realmente o sentimento e a realidade dos brasileiros, acabou que nos trouxe uma surpresa. Tidos como bovinos assumidos, os brasileiros parece que acordaram para sua condição de seres capazes de intervir na História. E foram desafinar o coro dos poderosos contentes. Sim, os poderosos contentes que ocupam o poder nessa pinóia de Brasil e que deitam e rolam no dinheiro público sem mover uma palha pelo povo que, para todos os efeitos, representam. Foi uma lição e tanto para todos, tanto para os que querem gritar e não podem, como para os que chafurdam na podridão do poder, e ainda para os que já desiludidos de ver algo ser alterado nessa massamorda de vida que levamos a duras penas, parecendo conformistas pusilânimes. Enter.
No palanque, a impermeável e enigmática madame presidente. Com filha e netinho a tiracolo, muito família. Lacônica, a misteriosa primeira mandatária apareceu ostentando faixa com as cores de “nossas” matas – que vão virando desertos – e de “nosso” ouro – que já está devidamente confiscado e guardado em segurança em cofres de além-mar. Se La Roussef esperava “acontecer” ao pisar o palanque na condição de primeira mulher presidente nesse país hoje lupanar, saiu frustrada. Porque o que ela presidiu foi uma velha encenação vazia, em que o sentimento pátrio é tão furado e vago quanto o repertório do Roberto Carlos ou as letras de axé. Robertão fazia, concomitante e muito significativamente, uma aparição global em Israel, metaforizando sua condição de “apolítico” e acontecendo em luxuoso mico e aproveitando para ser o que sempre foi: mensageiro do nada em estado de mau gosto. Dessa vez o mico rolou em Jerusalém. Dilma estava lá, no palanque em Brasília, de branco e faixa assistindo ao desfile patético de forças militares totalmente debilitadas e desagregadas como instituição. Roberto no palco em Jerusalém cantando o hino da ocupação de parte da cidade, Jerusalém de Ouro, depois de aparecer no muro das lamentações ostentando quipá com os símbolos da bandeira de Israel. E, tão patacoada como o desfile em Brasília, Robertão encerrou seu “show” com aquela chocante “Jesus Cristo eu estou aqui”, brado de um ignorante alçado à condição de “rei” da canção de um país devastado. Devastado ele, também, um arauto do vazio espiritual e da vacuidade social que nos impingem. Enter.
Ficaremos sem saber por que o “rei” foi cantar suas besteiras em Israel. Seu repertório é musicalmente chulo, seus temas são odes à mediocridade, elogios da estupidez. O mais interessante é o fato de ele se emocionar com as titicas que faz, é ele transmitir suas emoções pessoais aos otários que pagam para ouvi-lo. Masoquistas, claro, os que se submetem a tamanha porcariada. Para seres lúcidos, as emoções do artista só interessam a ele, são intransferíveis. Para os lúcidos, o que traz emoção é a obra do artista. E aquele toleirão com aquela voz tão feia fica vertendo lágrimas diante de sua produção titica, reles, mísera, paupérrima, inócua. Talvez seja porque ele sabe da merda que produz. E chora de pena de quem acredita naquilo... mas parece que morreremos sem saber o que o Brasa foi fazer em Israel. Talvez a Dilma saiba... e não será motivo de estranhamento a criação de um novo ministério: ganha um pirulito azul quem inventar o nome de uma pasta para o embaixador de Jerusalém no “brasil”. Já pensaram o Roberto ser o embaixador da paz no Oriente Médio, “apaziguando” o Hamas e o Hezbolah? Enter.
Voltemos ao “brasil”. Você viu: rolou um saldo positivo nesse tão fajuto sete de setembro: os que já apostavam na inércia definitiva da população ganharam um presente. É, um presentão: foi rompida a inércia. Nós já estaríamos condenados a nossa inépcia histórica e social, já seríamos cornos assumidos e de carteirinha, não fosse a espetacular virada nesse dia da “independência”. A mídia fala em 25 mil protestando em Brasília contra a corrupção. Caras pintadas não acionados por nenhuma globo saíram no grito contra os corruptos nesse dia maior da hipocrisia nacional. Realmente fantástico: uma iniciativa espontânea, não puxada pelos agitadores de sempre, foi o que vimos acontecer de forma sensacional nesse dia furado, falso. E aí a coisa tomou rumo: de farsa instituída, impingimos aos safardanas o sinal do possível advento de uma era da participação política não encabrestada. Não teve marxista, não teve o dedo invisível da globo ou do sistema, não teve aquilo de agitadores fazendo a multidão pedir a libertação de Barrabás e a condenação do Cristo. A coisa partiu de dentro de nossos corações, e a passeata somou cinco vezes o público presente à “comemoração”. Pelo menos foi o que vimos na mídia. Enter final.
Você gostou disso? Ou preferia estar aplaudindo o “rei” da farofa musical em Israel? Você suspira pelo Roberto? Você gosta daquela mísera “Emoções”, tributo à boçalidade, ode à miséria da filosofia e da arte no país do Tiririca? Bem, tenho a acrescentar que no arraial onde estou recluso desde 1984 ocorreu algo interessante: a única fanfarra que participou da “parada”, ao chegar diante do palanque, parou de tocar e passou em silêncio diante das autoridades. Que “mensagi” eles quiseram passar eu não sei; mas o gesto chamou muito a atenção. Pois que signifique ou não o silêncio da fanfarra. Se me pedirem para interpretar o episódio, lá vai: acho que foi um protesto por causa da absolvição da boazuda e corrupta assumida Jaqueline Roriz, ocorrida semana passada. Vai ver que foi isso. Só não entendi por que pairou um silêncio sepulcral...a menos que fosse um minuto de silêncio pela morte da honestidade no Brizêu.. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes...
Ah! Lembramos que estamos sob censura desde 11/04/08. A restrição vai totalizando 2113 dias. O Estado de São Paulo já se livrou desse absurdo, aliás, inconstitucional. O advogado Gerardo Xavier Santiago, RJ, lembra que o artigo 5 da Constituição Federal garante a liberdade de expressão e de manifestação em local público! Abaixo a censura!