sexta-feira, 11 de março de 2011

E lá se foi mais um Carnaval...

Frederico Mendonça de Oliveira

E já foi tarde! Uma das alegrias que vivi nos quatro dias do “reinado de Momo”, alegria diferente da dos foliões envolvidos com os folguedos, foi ver a chuva caindo direto e reto, e considerar que no Arraial das Bagas, onde a mediocridade, a ignorância, a maledicência e a felonia são os predicados mais explicitados e praticamente obrigatórios, a alegria carnavalesca, aliás coisa que jamais existiu, foi posta de molho por São Pedro. Pretensa alegria, aliás. Não pode haver alegria onde não há um mínimo de inteligência coletivizada... Se houve mais uma vez a anual disposição de... de... de espírito (vá lá; valeria colocar aspas...) para cair na folia, isso foi devidamente frustrado, devolvendo ao arraial seu estado natural de dispepsia crônica, de arroto atravessado e encruado, incubado, coisa que se estampa nas fuças dos pobres imbecis que formigam a esmo pelos logradouros providos de calçadas mais apropriadas para quadrúpedes. E assim chegou a quarta das cinzas, por sinal mostrando bons momentos de um belíssimo céu azul... Enter.
E o País passou os quatro dias em estado de letargia ativa ou passiva. Ativa através dos letárgicos envolvidos com o tríduo momesco, gente que se entrega à convenção da alegria intransitiva, gente normalmente desprovida de senso crítico ou de inteligência ativa. São normalmente movidos a cerveja, ingerem e mijam em estado assemelhado a quadro maníaco. E disso promanou um novo problema ético filosófico shakespeariano: “mijar ou não mijar, eis a questão”. Ora, se esses letárgicos ativos ingerem um combustível líquido para gerar o quadro maníaco, eles obrigatoriamente terão de mijar, pois a cerveja tem ação diurética. E como farão centenas de milhares desses letárgicos para eliminar os líquidos que se armazenam na bexiga e começam a provocar dor pela plenitude do órgão? Pois houve no carnaval de 2011 essa discussão durante o tríduo, mas as toneladas de litros de mijo correram, lembrando a marchinha dos anos 50: “As águas vão rolar/garrafa cheia eu não quero ver sobrar...”, só que em 2011 essas águas foram dobradas, até triplicadas, porque “nunca antes nefte paíf” se mijou tanto. Enter.
E os letárgicos passivos trataram de encher o rabo de comida e calorias diante da TV, abestalhados diante da movimentação carnavalesca, frustrados como um certo bugre que vi se lamentando diante do aparelho de TV numa pizzaria em que eram mostradas imagens dos “famosos” chegando para o baile do sábado. Ele quase chorava por não estar lá, e explicitava isso. Um animal vestido, claro, porque seres conscientes não se lamentam por se sentirem inferiorizados a outros animais que estão na festa... Se ele fosse gente, trabalharia o ano inteiro por esse “momento de sonho” e estaria lá, pagaria para isso, se mexeria... Mas é que se queixar publicamente dá menos trabalho – e ainda comove outras bestas como ele. Então os letárgicos passivos se deixam quedar estupidamente diante da movimentação dos ativos, e nisso acaba o chamado carnaval. E como assumir estado letárgico hoje é obrigatório, já se inventam carnavais temporões, as horrendas micaretas, “festas” sem objetivo outro que não festejar pela falta de motivo concreto para festejar o que quer que seja. Os gays festejam sua condição, por exemplo, embora não se veja nada digno de festejo nisso de ser diverso, mas pelo menos eles apresentam uma razão para se reunirem anualmente e promover o deslumbramento para com sua condição. As micaretas não: reúnem por reunir, para congregar a estupidez sem perspectiva qualquer, para esfregar os objetos vestidos uns nos outros, para estabelecer a boçalidade orgíaca, para tentar materializar de alguma forma a vacuidade existencial do macaco sem rabo coisificado e reduzido à miséria do consumismo. Enter.
E aí os sites de esculhambação dos objetos vestidos mostram a miséria em seu lado risível, grotesco. O Kibeloco, por exemplo, faz uma piada com o “rei” Robertão (Carlos), piada pra lá de dura. Basta acessar e usar por um segundo o cérebro. Alguns entenderão a piada, que envolve até o Google. Mas quem sabe da condição física do “rei” entenderá por que eles corrigem de “pés” para “pé”. Tem até uma menção lateral, em que é lembrado que a Beija-Flor ganhou com um pé nas costas... e eis aí um momento em que o carnaval serviu para alguma coisa, isto é, para acionar o espírito crítico de alguém menos estúpido embora diluído num aglomerado amorfo de seres acéfalos. O macaco Simão deve estar deitando e rolando também, era o caso de comprar a Folha só pra ver a esculhambação caindo sobre os amebóides famosos acontecendo na Sapucaí e alhures, espaços da consagração da estupidez que congrega os digestores vestidos, seminus, nus ou fantasiados. E de tudo neste período de alegria falseada restaram cinzas, o que prenuncia outras cinzas que virão, as cinzas da civilização, que só fez trazer a imbecilização e a paralisia dos cérebros e dos espíritos. A convulsão já começa a se espalhar mundo afora, e em breve estaremos em estado de Babel, considerando que hoje isso já é algo concreto... Enter.
E agora chega o Bentão com seu novo livro dizendo o óbvio: que não foi o povo judeu o responsável pela crucificação do Cristo. É tão óbvio quanto dizer que não foi o povo romano o responsável também, embora tenham sido os soldados romanos que penduraram o Salvador no lenho. O povo não tem nada a ver com nada na história da Humanidade. Quem tem a responsabilidade pelos fatos da História são os detentores do poder, e povo nenhum jamais deteve poder momento nenhum desde que o mundo é mundo. Então o Bentão chove no molhado e mexe pauzinhos no sentido de minimizar o abismo que existe entre judeus e católicos/cristãos. Se os próprios judeus assumem não aceitar o Cristo como o Messias, não há mais o que discutir. E povo nenhum crucificou o Cristo. Enter final.
Demos de cara com essa notícia do Bentão lançando seu livro no que buscávamos notícias sobre coisas com que temos de nos preocupar. Por exemplo: a imagem do Robertão (Carlos) na avenida tem de fundo uma alegoria imensa, que parece o Cristo. Será que é menção estúpida àquela titica de funk “Jesus Cristo, eu estou aqui”, excretada pelo “rei” lá pelos anos 70? E será que o João Paulo II gostou de ouvir isso quando se arriscou nessas paragens em sua última vinda ao Brasil? E será que gostou de ouvir a “Ave Maria” cantada pela Fafá e do beijo que recebeu – talvez o único desferido por uma fiel em sua “santa face” em toda a sua vida apostólica? Bem, um beijo da Fafá é uma dádiva, mas na face de Sua Santidade... isso mostra que o carnaval está no sangue dos brasileiros até quando diante do papa. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 1032 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 588 dias também sob mordaça...