sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Adoniran e o desidioma da Banânia



Frederico Mendonça de Oliveira

Depois de oito anos ouvindo os petardos idiomáticos disparados pelo babalorixá da Banânia, o Çilva I, que aliás envergonha os cefalópodes teutóides, vulgarmente conhecidos como lulas, pela semelhança nominal com aqueles deliciosos frutos do mar, eis que nossos ouvidos se vão dando conta de que poucos seres nesta Pindorama fazem uso tão rasteiro do idioma como o tipo. Bostejou asneiras e solecismos combinados da forma a mais estúpida e escrota, aliás fazendo uma bela combinação disso com sua imagem desde há oito anos entendida como deletéria, deleterizada pelas aparições patéticas em público e pelos ditos carregados de estupidez e primarismo grosseiro. E ei-lo até recebendo diploma de doutor honoris causa de Coimbra – puxa, isso nos permite ampliar o repertório de piadas abordando a alegada burrice dos portugueses... –, ele, que não passa de um apedeuta salafrário ou de um salafrário apedeuta, como você quiser; ele, que foi até considerado estadista por incautos; ele, que até buscou se promover através de um estupidíssimo filme laudatório talvez inspirado naquela patacoada que decanta os dois filhos de Francisco, aquelas duas mulas palradeiras e emissoras de guais regressivos, dois irmãos grotescos, abissais em tudo, Mirosmar e Welson Davi, adorados, pelos milhões de boçais que os consomem, sob os pseudônimos Zezé di Camargo e Luciano. Çilva I é o retrato da terminalidade do Brasil, hoje rebaixado a Banânia, republiqueta continental degenerada ad infinitum sob uma corja de sevandijas e sudras, um lugar que não é mais país, mas um paraíso de bandidos de todos os estilos e de todas as nuances. Enter.
Quando você ouviu Adoniran Barbosa pela primeira vez, talvez via Demônios da Garoa lá pra 1965, naquele Trem das Onze – se é que ouviu, depende de sua idade e de sua mente – que comoveu geral como samba e como história do cotidiano dos humildes, deve ter pensado que o idioma ali estava a salvo das falas dos multitudinários malacos freqüentadores de estádios da paulicéia. Pois veio logo Saudosa Maloca, obra prima de cabeça e coração, poema encartando o falar do poviléu: “Peguemo todas nossas coisa/ e fumo pro meio da rua apreciar a demolição/ Que tristeza que nóis sentia! Cada tauba que caía doía no coração”. O Adoniran seria da rua, dos pobres, das personagens decaídas e esmagadas pela vida, e ele conseguia tirar poesia disso, até humor ele extraía da desgraça alheia... quando não da própria. “Os homi tá coa razão, nóis arranja outro lugar”. E aprofunda: “Só si conformemo quando o Joca falou: ‘Deus dá o frio conforme o cobertor’”. Curioso: o linguajar dos desgraçados e/ou miseráveis vinha, pelas composições do Adoniran, como forma de metaforizar os conteúdos da saga dessas personagens. Que, por sinal, se misturam entre a ficção e a vida de reais seres e fatos do universo desse mestre único do samba paulista. Só que neste caso temos um conteúdo literário, os solecismos aparecem como identificadores da desassistência, do desamparo, da carência, portanto enriquecendo com a pobreza que revelam. Neste caso, a pobreza do idioma é metáfora da pobreza esmagadora e do trágico dessas e nessas existências incógnitas comprimidas num gueto. Enter.
O linguajar da besta de Garanhuns é o oposto: é o emporcalhamento de todos os significados. É fazer da política, a mais nobre das artes do viver coletivo, um lamaçal. A fala desse impostor cínico é a verdadeira metáfora da podridão que ele abriga em sua vida miserável. É o retrato da traição e da imoralidade assumida e propalada. Quando começaram a querer pegar o Assange, havia a questão de uma mensagem, a que o boçal se referiu publicamente dizendo “mensagi”, mostrando sua constituição reles de homem sem estética e sem ética. A deprimente figura da “primeira dama”, mulher-coisa com seu sorriso sardônico vazio e sempre a tiracolo do estróina desclassificado, é a imagem ilustrativa do conteúdo de quadrilha que marca a dupla gestão petista, a tosca Marisa posando de loura e subserviente mulher do chefe dos traficantes no cenário do crime organizado. Çilva I é a estupidez e a velhacaria combinadas num energúmeno e instaladas na cadeira presidencial, realizando o projeto desconstrutivo do Brasil nação e sua condenação a ser terra sem lei e seara do crime institucionalizado. Os fedapê de plantão, lombrigas habitando a matéria fecal em que se aloja o poder, haverão de dizer que estou propalando teorias da conspiração. Será que quando os pais desses seres fecais se acasalaram também estavam praticando teoria da proliferação de bestas? Ou sexo anal? Enter final.
O Brasil do Adoniran está mais difundido que nunca. Os malacos alcançam os milhões, ocupando o espaço que caberia a uma juventude aspirante ao comando de nosso país. Hoje podemos dizer que a imagem do jovem é a imagem do malaco: bermudas extravagantes e de cores e desenhos berrantes; moleton incluindo capuz, usado ou não sobre o indispensável boné; camiseta sempre com dizeres e imagens preferencialmente deletérias; tênis acolchoado e incrementado o mais possível, do qual sobem dois caniços normalmente finos e morenos e que terminam na barra da bermuda, abaixo dos joelhos; andar gingado, sinuoso; fisionomia fugidia, mutante, sempre entre os buços e a barba mal definida. Hoje a fala dos heróis anônimos do Adoniran é a fala oficial da juventude miserabilizada, o idioma dos malacos. Eis o grande milagre da era Çilva I: nivelar o Brasil pela sua/dele própria miséria moral, pela dele estupidez consentida e assumida, pela vigência e oficialização da trapaça explícita – que nesse agosto sombrio invadiu o STF exibindo um espetáculo de malandragem puxado pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, traidor torpe, figura repulsiva, corrupto assumido e militante. Ficamos assim. A miséria que Adoniran transformava em poesia, puxando personagens do submundo que a sociedade via só de relance, foi transformada por Lula em realidade objetiva, em verdade instituída. Haja antiácido pra tanto horror! E viva Santo Expedito! Oremos. Have a sexy weekend, babes!