quinta-feira, 2 de abril de 2009

“Um panorama patético”, reflete Manoel

Frederico Mendonça de Oliveira

A propensão a participar da corrupção virou um conteúdo inerente aos brasileiros. Aqueles sujeitos que bostejaram suas posições políticas naquele encontro de artistas em apoio à reeleição de Lula chez Flora & Gil deixaram uma lição indelével. O tal de Paulo Betti dizendo que “Não dá para fazer política sem sujar as mãos, sem pegar na merda”; o tal do Wagner Tiso dizendo que nem está aí para ética e que o que vale é o jogo do poder; e ainda o José de Abreu pedindo salva de palmas para José Genoíno, José Dirceu e um outro dessa laia dos beneficiados pelo mensalão mostram que tudo se perdeu na Pindorama. Pedir palmas, diante de um “presidente” que diz nada saber, para aquele bando de pilantras envolvendo ainda Marcos Valério, Daniel Dantas, Silvio Land Rover Pereira, Duda Mendonça, essa corja de salafrários e escroques cinicamente deitando e rolando no poder, parece instalar o paradigma da postura dos cidadãos brasileiros de hoje. Basta um aceno para uma corrupçãozinha, lá estão todos abanando o rabo que nem cachorrinhos subservientes e desprovidos de senso ético, de princípios de moralidade, de consciência crítica. “Que fazer?”, pergunta-se Manoel, contemplando a degenerescência que o faz recordar Ovídio: “Vilia miratur vulgus” – o povo admira a vileza. Enter.
A tal pracita irregular no bairro de classe média em que Manoel reside mostra muito bem a deformação que vai dominando tudo e todos. Primeiro, uma praça ilegal projetada e realizada contra a lei pelo poder constituído, com apoio dos poderes do Município, rasgando a legislação que protege os cidadãos e ardorosamente apoiada por esses próprios simpatizantes, que não passam de seres assumidamente subservientes. Como pode a comunidade ajudar a destruir a legislação que a protege?? “Quem é burro peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue!”, lembra Manoel de sua avó Virgínia proferindo em altos brados este ditado tão descritivo da mentalidade dos brasileiros de classe média nesses dias sombrios, se não tétricos. Enter.
Manoel sente o coração oprimido ao considerar o massacre imposto ao único cidadão decente nessa pendenga, um sessentão egresso das áreas de arte e cultura e que se bandeou para estas montanhas para salvar um casamento com filhos e por não mais estar de acordo com a deformação imposta à área artística em que viveu e manteve atividade durante quase duas décadas. Pois o sujeito arrumou com muito sacrifício sua vida por aqui, lutando para dar uma formação moral decente a seus filhos – no que praticamente foi boicotado em tudo pela ex – e, depois de quase morrer de aturar toda sorte de maldades, conseguiu se ajeitar numa bela casita ao lado de uma área verde, casita que ele decorou com sua capacidade de homem das artes. Passaram-se bons sete anos até que a tragédia desabou sobre sua vida. O espaço ao lado de sua casa virou um pandemônio, com a participação ativa de uma vizinhança entupida de rede globo até as negras profundezas dos espaços intestinos. Enter.
E as retaliações ao único cidadão a invocar a lei chegaram ao inacreditável: crianças sendo usadas para gritar diabolicamente em frente ao jardim do coitado, bandos de malucos aprontadores realizando badernas indescritíveis, incluindo pancadarias, bebedeiras e sexo a céu aberto, bandos de adolescentes convocados para jogar futebol diante da casa do pobre, agressões inomináveis contra ele em seu portão, com injúrias, infâmias, tentativas de agressão, TUDO PORQUE O ÚNICO CIDADÃO CORRETO NESSA HISTÓRIA IMUNDA PLEITEOU PELO CUMPRIMENTO DA LEI!!!!!! Ninguém quer saber se ele está certo: querem apenas penalizá-lo, constrangê-lo, agredi-lo, sadicamente perseguir um cidadão que discordou do “desejo” da maioria. Enter final.
Enojado, Manoel emite um sonoro arroto, única atitude plausível diante de tamanha monstruosidade. Pois o mais torpe foi saber que o tal cidadão foi processado criminal e civelmente por denunciar o ilícito, não encontrou apoio de NENHUMA INSTÂNCIA de poder local, não recebeu oitiva da grande imprensa, que se esquivou miseravelmente de denunciar tamanho escândalo, e dá nojo e asco saber que os moradores “beneficiados” pelo ilícito prosseguem em sua tarefa de odiar, discriminar, perseguir, provocar e tentar transformar a vida do pobre legalista num inferno. Diante de tal teratologia manifestada, é fazer como o perseguido: viver recluso em sua bela casa tomando sua loura e produzindo arte para si mesmo ao lado de sua amada. “Faço o mesmo com minha Maria!”, exclama nosso herói em solidariedade a um simples homem honesto que destoa da miséria que o cerca e o vitima. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!