sexta-feira, 19 de agosto de 2011

“Nada a declarar”, corrupçao e censura

“Nada a declarar”, corrupçao e censura

Frederico Mendonça de Oliveira

Você não deve lembrar daqueles dias irrelembráveis da passagem de 1979/1980, quando uma canção besta do Gonzaguinha virou tema de novela na Globo, Feijão Maravilha. O tema tinha (tem) o mesmo nome. Quem interpretava a porcaria era o grupo Frenéticas – e o galã do São Carlos acabou pai de uma filha de uma delas, a Sandra Pera, irmã da Marília, esta, aquela manjada do teatro. A filha atende por Amora Pera, o que às vezes nos faz pensar que certos artistas não têm juízo pra dar nomes a seus filhos. Formemos um grupo de vozes desses rebentos e fica estranho: Moreno (Caetano), Preta (Gil), Amora Pera (Gonzaguinha e Sandra) e tem mais uma de quem gosto, mas que não cito aqui para não descer o nível citando o pai dela. Pois bem: depois dessa lembração de nomes escalafobéticos e outras besteiras, trago a este espaço uma questão que me fez pela primeira vez duvidar dos reais propósitos políticos do Gonzaguinha. É que, além de entrar em horário nobre da Globo com uma composição digamos, no mínimo, tola – o que contrariava radicalmente a linha política do cara –, ocorria que toda santa noite, depois da bendita novela bufa, vinha o Jornal da Globo, pelas onze e tal. E TODA NOITE uma repórter entrevistava o flatulento (como disse o Jabor) Sarney, que com aquele bigode farsesco e aquela facies tetânica era toda noite indagado sobre questões envolvendo a Câmara em que ele era investido pelos militares como “líder do ‘governo’”. Merda pouca é bobagem. E toda santa noite, indagado pela repórter sobre questões envolvendo entraves à democracia, ele respondia, cínico e abjeto, um “Nada a declarar”. Às vezes concluía com coisa como “O governo está estudando a questão, e em momento oportuno será dada alguma posição, se for o caso”, coisa por aí. O mais importante aqui é considerar que ainda ecoava em nossos ouvidos e cérebros e espíritos aquela marchinha tola do Gonzaga, e era impossível dissociar aquilo da fisionomia e das palavras sempre asquerosas daquele tipo – que por sinal é cadeira cativa no topo do poder, muito mais do que foi ACM. Enter.
Bem, você está feliz da vida, com limusine – as bestas dizem “limosine” –, casa com piscina, casa de praia e rancho na montanha, uma pro verão, outro pro inverno –, helicóptero, jatinho e tudo mais. Nem passa, claro, pela sua cabeça, isso de haver ou não corrupção no País. Se os bandidos engravatados que pululam no Congresso como vermes em festa passam a mão em nosso dinheiro, que é o dinheiro público, isso não atinge você, que paira acima das vicissitudes dos pobres mortais. Mas o fato é que já andamos vendo a constatação do caos e do descontrole institucional sobre a corrupção. Ela é fato, e para os otários não há quem concorde com isso fora das fronteiras do poder. Só que, na verdade, a coisa é muito outra: parece que a maioria dos brasileiros inveja os que nadam de braçada no dinheiro público, e não querem marchar contra nada, não! Gostariam é de estar no lugar dos vermes engravatados, mamando grosso como eles. E se lamentam de não poderem fazer o mesmo. E, se houver possibilidade de furtar dinheiro público, você sabe: é com eles mesmo! E isso nos remete a várias constatações. Uma: “Nihil humanum a me alienum puto”. Não, não é palavrão: “putare”, no Latim, é atribuir, considerar. E você já traduziu de cara, óbvio, conhecedor de Latim a fundo que é. Mas para algum incauto aí vale traduzir: “Nada do que é humano considero estranho”. E tem mais: “Video meliora proboque deteriora sequor”, que faz você rir gostosamente ao ler e saber de sobra o que significa. Mas traduzimos para os que não tiveram sua formação sólida em Latim: “Vejo o melhor mas sigo o pior”. É isso aí a “consciência” assumida do povo brasileiro. Então o negócio é chorar sob o cobertor, como disse o Sérgio Natureza na letra que pôs na canção do Tunai, aquela maravilhosa As aparências enganam, que a Elis transformou em obra prima antes de bater a caçoleta cheirando além da conta. Enter.
Pois é: constatei na pele essa de o povo gostar de corrupção e apoiá-la com unhas e dentes. Fui vítima das consequências de uma obra ilegal realizada ao lado de minha casa e que abalou totalmente o investimento de minha vida. Os responsáveis pela maravilha são os poderosos do pedaço, e um punhado de motivos escusos é apresentado pelos observadores do ilícito, coisa que vai desde lavagem de dinheiro até conchavo entre poderes para que seus representantes continuem como representantes daquilo que em verdade não representam de forma nenhuma. Até aí, nada de novo no país de Lula, Sarney, Aécio, FHC, esse monte de serviçais do poder internacional que não precisa fazer qualquer cerimônia para mandar e desmandar aqui dentro. O que causou espécie foi a podridão revelada pela adesão dos moradores não no que apoiaram o ilícito, mas no que passaram a perseguir covarde e torpemente os que denunciaram a irregularidade – que derruba as leis que protegem esses mesmos que aderiram com unhas e dentes ao negócio escuso. O que impressiona é que a adesão se deu de forma feroz, assanhada, os lacaios do poder se mostraram soldados aguerridos da “causa”, e a vizinhança virou um penico cheio de matéria asquerosa, e ninguém mais falou nisso, e a obra está lá, sob o olhar de paisagem de todos. Isso é Brasil. E o mundo não vai diferente: berlusconis, bushes, obamas, baraks, é tudo farinha do mesmo saco. O jeito é se encolher e calar o bico, enquanto o mundo vai caminhando para o abismo, atraindo erupções vulcânicas e tsunamis. Enter final.
Deus não dorme, e o tempo da Justiça é Dele. A justiça dos homens esbarra nos próprios homens, então a gente entrega a Deus. E assim caminha aquilo que um dia pensamos que evoluiria: a Humanidade... E viva Santo Expedito! Oremos. ’Té a próxima, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 2092 dias. Abraço pra turma do Estadão, que se livrou dessa maldição! E não custa citar: o advogado Gerardo Xavier Santiago, RJ, lembra que o artigo 5 da Constituição Federal garante a liberdade de expressão e de manifestação em local público! Então por que prosseguimos censurados??